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1 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO POR PLATAFORMAS DIGITAIS E DESAFIOS À ORGANIZA ÇÃO COLETIVA E SINDICAL

O INDIVIDUAL E O COLETIVO NO TRABALHO POR PLATA FORMAS DIGITAIS: POSSIBILIDADES DE COMPREENSÃO

1 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO POR PLATAFORMAS DIGITAIS E DESAFIOS À ORGANIZA ÇÃO COLETIVA E SINDICAL

Diversas expressões têm sido utilizadas para designar o trabalho prestado por plata- formas digitais. Entre elas, temos gig-economy, platform economy, sharing economy,

crowdsourcing, on-demand economy, uberização, crowdwork, trabalho digital. Essa nomen-

clatura diz respeito a formas de trabalho que possuem características comuns, como o esta- belecimento de contatos on-line, por meio de aplicativos ou plataformas digitais, entre traba- lhadores e empresas e produtores e consumidores; o uso de tecnologias digitais para a orga- nização e a gestão das atividades assim prestadas; e relações firmadas por demanda.5

2 Ver ZAGREBELSKY, Gustavo. Historia y constitución. Tradução de Miguel Carbonell. Madrid: Minima Trotta,

2005, p. 81-82.

3 Cf. ZAGREBELSKY, Gustavo. Historia y constitución. Tradução de Miguel Carbonell. Madrid: Minima Trotta, 2005,

p. 89.

4 Ver CARVALHO NETTO, Menelick. “A hermenêutica constitucional e os desafios postos aos direitos fundamen-

tais”. SAMPAIO, José Adércio Leite (Org.). Jurisdição Constitucional e Direitos Fundamentais. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 141-163 (p. 154).

5 Ver ANTUNES, Ricardo; FILGUEIRAS, Vitor. “Plataformas digitais, Uberização do trabalho e regulação no Capita-

O Individual e o Coletivo no trabalho por plataformas digitais: possibilidades de compreensão da Constituição a partir da experiência do “breque dos apps”

Contudo, as plataformas digitais (e os trabalhos realizados por meio delas) não têm as mesmas características. Certas plataformas atuam como simples intermediárias, mediante a viabilização de contato entre trabalhadores e interessados em determinado serviço, sem que a plataforma estipule preço, qualidade, quantidade, condições, etc. Há, no entanto, pla- taformas que assumem o papel de protagonistas da relação e garantem a qualidade do serviço prestado, por meio da fixação de condições de execução das tarefas, definição de preço da atividade e remuneração da pessoa que realiza o serviço. Assim, quem consume o trabalho ofertado torna-se cliente da plataforma digital, e não da pessoa que executa a tarefa. No pri- meiro grupo, tem-se, por exemplo, o Mercado Livre; já no segundo, tem-se, entre outros, a Uber e o iFood.6

Oliveira, Carelli e Grillo propõem a seguinte conceituação para as plataformas digitais de trabalho:

modelos de negócio baseados em infraestruturas digitais que possibilitam a intera- ção de dois ou mais grupos tendo como objeto principal o trabalho intensivo, sempre considerando como plataforma não a natureza do serviço prestado pela empresa, mas sim o método, exclusivo ou conjugado, para a realização do negócio empresa- rial.7

A definição proposta acima tem a virtude de destacar que o aspecto decisivo não é a atividade em si oferecida pela plataforma (como o transporte ou a entrega), e, sim, a forma de exploração da empresa, fundada em tecnologias digitais para sua organização e gestão. Os autores sugerem classificar as plataformas em puras (aquelas que não efetuam “controle re- levante” sobre a interação entre os negociantes) e mistas ou híbridas (aquelas em que há uma mistura “entre mercado e hierarquia” e “a forma empresarial de plataforma serve à prestação final de um serviço que com ela não se confunde”).8

Ao desenvolver o conceito de uberização do trabalho, Ludmila Abílio também enfa- tiza que se trata de uma nova forma de gestão, organização e controle do labor. Lembra, po- rém, que se cuida do resultado de “processos globais em curso há décadas”.9

Para resgatar os exemplos mencionados, a Uber oferece o serviço em nome próprio, como se constata, entre outras evidências, pelo fato de que as opções de viagens “mais po- pulares” levam a marca da empresa, como a “UberX” e a “Uber Comfort”.10 Também o iFood se apresenta no mercado como o titular de um serviço, como consta de seu site, relativamente

6 Cf. CARELLI, Rodrigo. “O trabalho em plataformas e o vínculo de emprego: desfazendo mitos e mostrando a

nudez do rei”. CARELLI, Rodrigo de Lacerda; CAVALCANTI, Tiago Muniz; FONSECA, Vanessa Patriota da (org.).

Futuro do Trabalho: os efeitos da revolução digital na sociedade. Brasília, ESMPU, 2020), p. 65-83.

7 OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio; CARELLI, Rodrigo de Lacerda; GRILLO, Sayonara. “Conceito e crítica das

plataformas digitais de trabalho”. Revista Direito e Práxis. Rio de Janeiro, v. 11, n. 4, 2020, p. 2609-2634 (p. 2622).

8 OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio; CARELLI, Rodrigo de Lacerda; GRILLO, Sayonara. “Conceito e crítica das

plataformas digitais de trabalho”. Revista Direito e Práxis. Rio de Janeiro, v. 11, n. 4, 2020, p. 2609-2634 (p. 2622).

9 ABÍLIO, Ludmila Costhek. “Uberização: Do empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado”. Psico-

perspectivas, vol. 18, n. 3, novembro 2019, p. 1-11 (p. 2).

às entregas: “nunca foi tão fácil pedir comida japonesa”, por exemplo.11 Em ambos os casos, destacam-se a gestão e a organização de uma atividade empresarial por meio de tecnologia digital. Nas duas plataformas mencionadas, é possível identificar a característica apontada por Oliveira, Carelli e Grillo: a interação oferecida pela plataforma não é a sua finalidade, mas o meio para o oferecimento de um serviço (o transporte ou a entrega).

Para os fins desta pesquisa, é interessante, partindo dos conceitos acima, examinar o trabalho prestado por meio das plataformas digitais que se apresentam como titulares de um serviço específico (que não se confunde com a própria plataforma em si) e definem aos trabalhadores como esse serviço deve ser prestado – como é o caso, de modo exemplificativo, da Uber e do iFood.

O discurso das plataformas digitais é o de que os trabalhadores realizam as atividades quando querem e onde querem, pois não há um compromisso, formalizado, que garanta a continuidade do trabalho. Também afirmam a criação de um ambiente laboral mais atrativo, por meio de plataformas e aplicativos, para diferentes estilos de vida, “sem a rigidez dos em- pregos tradicionais”; ou, então, de que se trata de uma renda extra ou uma forma de obter dinheiro no tempo livre.12

O uso da tecnologia é, com frequência, apresentado como um motivo para que as atividades por plataformas digitais sejam tratadas como novas formas de trabalho, diferentes das demais existentes no mercado e, assim, seria inadequada sua regulação de acordo com os padrões do Direito, em particular do Direito do Trabalho. O pressuposto desse discurso é o de que as pessoas que trabalham por plataformas eletrônicas não teriam vínculo de emprego e, desse modo, não careceriam da proteção jurídica correspondente.13

A estratégia das plataformas digitais é a negação da relação de emprego e das garan- tias jurídicas respectivas. Essa estratégia empresarial é fundamental e tem a função de vender uma aparência de autonomia que permite às empresas ampliar o controle e a exploração so- bre o trabalho.14

A retórica comum é a de que seriam meras empresas de tecnologia ou de intermedi- ação tecnológica, mas não de organização de uma atividade, como transporte ou entrega de produtos.15 Entretanto, como apontado acima, é um argumento que não se sustenta quando

11 Disponível em https://www.ifood.com.br/ Acesso em 30.11.2020. Na página destinada aos “parceiros”, isto é,

restaurantes e mercados, vê-se que a garantia vem da própria plataforma digital: “venda mais com o iFood – clientes a um clique de distância e seu negócio vendendo como nunca” (Disponível em https://parcei- ros.ifood.com.br/ Acesso em 30.11.2020).

12 Cf ANTUNES, Ricardo; FILGUEIRAS, Vitor. “Plataformas digitais, Uberização do trabalho e regulação no Capita-

lismo contemporâneo”. Contracampo, Niterói, v. 39, n. 1, abr./jul. 2020, p. 27-43 (p. 31).

13 Ver DE STEFANO, Valerio. “Labour is not a technology – Reasserting the Declaration of Philadelphia in times of

platform-work and gig-economy”. IUSLabor 2/2017, p. 1-17 (p. 3).

14 Como observam Ricardo Antunes e Vitor Filgueiras: “a negação do assalariamento é elemento central da es-

tratégia empresarial, pois, sob a aparência de maior autonomia (eufemismo para burlar o assalariamento e efe- tivar a transferência dos riscos), o capital busca, de fato, ampliar o controle sobre o trabalho para recrudescer a exploração e sua sujeição” (ANTUNES, Ricardo; e FILGUEIRAS, Vitor. “Plataformas digitais, Uberização do traba- lho e regulação no Capitalismo contemporâneo”, p. 29).

15 Cf. CARDOSO, Ana Claudia Moreira; ARTUR, Karen; OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio. “O trabalho nas plata-

formas digitais: narrativas contrapostas de autonomia, subordinação, liberdade e dependência”. Revista Valore, Volta Redonda, 5, 2020, p. 206-230 (p. 209).

O Individual e o Coletivo no trabalho por plataformas digitais: possibilidades de compreensão da Constituição a partir da experiência do “breque dos apps”

se observa o fato de que se trata de uma forma específica de gestão e organização empresa- rial. Assim, as plataformas digitais não compreendem um novo e específico setor, mas se in- serem no mesmo ramo do serviço executado.16

Os instrumentos tecnológicos permitem ampliar as formas de controle sobre a força laboral, o que contraria o discurso de autonomia vendido aos trabalhadores pelas plataformas digitais. É aqui que se coloca um dos principais desafios ao Direito do Trabalho. Muitas vezes, a noção de subordinação jurídica (extraída da expressão “dependência”, do art. 3º da CLT) é aplicada de modo tão restritivo que não se concebe nenhum espaço de liberdade ao empre- gado, submetido, de modo praticamente absoluto, ao poder diretivo do empregador. Porém, com relação ao trabalho realizado por plataformas digitais, o poder de direção e gestão da empresa – e, portanto, a condição de subordinação/dependência do trabalhador – é enco- berto pelas tecnologias de comunicação e informação.17

O poder diretivo do empregador, na forma do art. 2º da CLT, se manifesta sobretudo por meio do sistema, do software, do aplicativo, do código-fonte ou do algoritmo que define a organização e o modo de oferecimento do serviço. As regras do negócio e da realização do trabalho são definidas pelo algoritmo, pelo código-fonte, pelo aplicativo, e não por meras cláusulas contratuais.18

Como apontam Ricardo Antunes e Vitor Filgueiras, a principal novidade presente na organização laboral por meio das novas tecnologias de informação e comunicação, a par de potencializar, de forma exponencial, os meios de obtenção de lucros e de extração da mais valia, é viabilizar às empresas a utilização desses instrumentos digitais para o controle da força de trabalho, como, por exemplo, o acompanhamento, em tempo real, da realização da tarefa, da velocidade, do local e do deslocamento realizados, das avaliações, etc. Todo esse controle é exercido pelo comando dos algoritmos.19

Segundo aqueles autores, o fetiche “do mundo tecnológico do capital” conduz à am- pliação de outro fetiche: o de que tudo é impulsionado por uma tecnologia neutra e autô- noma. Ocorre que o comando do algoritmo pertence à engenharia de informações do capital, que, por conseguinte, tem também o controle do trabalho individual (incluindo ritmo, tempo,

16 Ver OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio; CARELLI, Rodrigo de Lacerda; GRILLO, Sayonara. “Conceito e crítica

das plataformas digitais de trabalho”. Revista Direito e Práxis. Rio de Janeiro, v. 11, n. 4, 2020, p. 2609-2634 (p. 2622). Cf. também DE STEFANO, Valerio. “Labour is not a technology – Reasserting the Declaration of Philadel- phia in times of platform-work and gig-economy”. IUSLabor 2/2017.

17 Ver CHAVES JÚNIOR, José Eduardo de Resende. “O Direito do Trabalho e as Plataformas Eletrônicas”. MELO,

Raimundo Simão de; ROCHA, Cláudio Jannoti. Constitucionalismo, trabalho, seguridade social e as reformas tra-

balhista e previdenciária. São Paulo: LTr, 2017, p. 357-366.

18 Cf. CHAVES JÚNIOR, José Eduardo de Resende. “O Direito do Trabalho e as Plataformas Eletrônicas”. MELO,

Raimundo Simão de; ROCHA, Cláudio Jannoti. Constitucionalismo, trabalho, seguridade social e as reformas tra-

balhista e previdenciária. São Paulo: LTr, 2017. Ludmila Abílio aponta, ainda, como centrais para a constatação

da subordinação e do controle sobre o trabalho: “i) é a empresa que define para o consumidor o valor do serviço que o trabalhador oferece, assim como o quanto o trabalhador recebe e, não menos importante, ii) a empresa detém total controle sobre a distribuição do trabalho, assim como sobre a determinação e utilização das regras que definem essa distribuição” (ABÍLIO, Ludmila Costhek. “Uberização: Do empreendedorismo para o autoge- renciamento subordinado”. Psicoperspectivas, vol. 18, n. 3, novembro 2019, p. 3).

19 Ver ANTUNES, Ricardo; FILGUEIRAS, Vitor. “Plataformas digitais, Uberização do trabalho e regulação no Capi-

eficiência, produtividade).20 O que é defendido, pelas empresas, como liberdade e flexibili- dade corresponde, de fato, à transferência dos riscos da atividade econômica à força de tra- balho, e a contrapartida dessa transferência é o incremento do controle sobre os trabalhado- res. Afinal, a suposta liberdade corresponde à falta de garantia de um salário e ao aumento de custos fixos.21

A incerteza quanto às condições (em especial, quantidade e qualidade) de execução das atividades submete os trabalhadores a um sistema de gestão denominado gamificação, que vem da palavra em inglês game, como explica Ludmila Abílio:

Esse é um termo que expressa a operacionalidade de regras cambiantes que tornam o engajamento no trabalho arriscado e sem garantias. A produtividade é estimulada e conquistada por meio de regras que se apresentam como desafios para o trabalha- dor, que envolvem premiações e, principalmente, a incerteza de se alcançar o resul- tado perseguido.22

A gestão gamificada leva os trabalhadores a permanecerem disponíveis, em busca de corridas ou entregas, mas sem recebimento do tempo de espera, porque são chamados ape- nas quando necessário e remunerados de forma correspondente. A estipulação unilateral, pe- las plataformas digitais, dos valores dos serviços e a manipulação desses valores funcionam para dirigir e direcionar, por meio dos algoritmos, a conduta dos trabalhadores. As baixas re- munerações fazem com que um contingente expressivo de prestadores esteja continuamente pronto para o serviço, mesmo diante de valores reduzidos. Os trabalhadores se veem, então, num leilão invertido, que os coloca em condição de permanente competição entre si.23

A rejeição do status de trabalhador assalariado e das proteções jurídicas previstas no ordenamento leva a uma situação de precarização, marcada, entre outros aspectos, por lon- gas jornadas e baixas remunerações. É uma dinâmica que impulsiona a competitividade entre os trabalhadores. Trata-se de lógica coerente com o neoliberalismo e a imagem de que os trabalhadores seriam empreendedores,24 imagem essa que opera como técnica para a criação de subjetividades “assentadas no individualismo e na concorrência”.25

20 Cf. ANTUNES, Ricardo; FILGUEIRAS, Vitor. “Plataformas digitais, Uberização do trabalho e regulação no Capita-

lismo contemporâneo”. Contracampo, Niterói, v. 39, n. 1, abr./jul. 2020, p. 33.

21 Ver ANTUNES, Ricardo; FILGUEIRAS, Vitor. “Plataformas digitais, Uberização do trabalho e regulação no Capi-

talismo contemporâneo”. Contracampo, Niterói, v. 39, n. 1, abr./jul. 2020, p. 33.

22 ABÍLIO, Ludmila Costhek. “Uberização: Do empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado”. Psi-

coperspectivas, vol. 18, n. 3, novembro 2019, p. 1-11 (p. 3).

23 Cf. ANTUNES, Ricardo; FILGUEIRAS, Vitor. “Plataformas digitais, Uberização do trabalho e regulação no Capita-

lismo contemporâneo”. Contracampo, Niterói, v. 39, n. 1, abr./jul. 2020, p. 33-34.

24 Segundo Ludmila Abílio, “o empreendedorismo torna-se genericamente sinônimo de assumir riscos da própria

atividade. Opera aí um importante deslocamento do desemprego enquanto questão social para uma atribuição ao indivíduo da responsabilização por sua sobrevivência em um contexto de incerteza e precariedade” (ABÍLIO, Ludmila Costhek. “Uberização: Do empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado”. Psicoperspecti-

vas, vol. 18, n. 3, novembro 2019, p. 4).

25 OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio; CARELLI, Rodrigo de Lacerda; GRILLO, Sayonara. “Conceito e crítica das

O Individual e o Coletivo no trabalho por plataformas digitais: possibilidades de compreensão da Constituição a partir da experiência do “breque dos apps”

As plataformas digitais encerram “novas formas de dispersar o trabalho sem perder o controle sobre ele”.26 São modelos de estruturação do labor que reforçam a dimensão indi- vidual, estabelecem sistemas de competição entre os próprios trabalhadores e incentivam comportamentos de autoexploração. E contêm a marca do discurso neoliberal para o mercado de trabalho27 e das técnicas que servem à fabricação do “sujeito empresarial” e da “cultura da empresa”, como explicam Dardot e Laval:

(...) a racionalidade neoliberal produz o sujeito de que necessita ordenando os meios de governá-lo para que ele se conduza realmente como uma entidade em competi- ção e que, por isso, deve maximizar seus resultados, expondo-se a riscos e assu- mindo inteira responsabilidade por eventuais fracassos.

(...) a novidade consiste em promover uma “reação em cadeia”, produzindo “sujeitos empreendedores” que, por sua vez, reproduzirão, ampliarão e reforçarão as relações de competição entre eles, o que exigirá, segundo a lógica do processo autorrealiza- dor, que eles se adaptem subjetivamente às condições cada vez mais duras que eles mesmos produziram.28

Essa racionalidade se mostra mais acentuada no âmbito do labor por plataformas digitais, onde impera uma dinâmica contrária à ideia de solidariedade e de ação coletiva, que surge, por sua vez, como algo improvável, com dificuldades ainda maiores do que as identifi- cadas na gestão empresarial toyotista.29

As características acima permitem, portanto, evidenciar alguns desafios à organiza- ção coletiva e sindical dessa força de trabalho. É um dos motivos pelos quais a mobilização dos entregadores por aplicativos adquiriu uma dimensão tão relevante, como será visto a se- guir.

2 O “BREQUE DOS APPS” E OS DILEMAS DA MOBILIZAÇÃO COLETIVA DOS TRABALHADORES

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