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II. APRESENTAÇÃO DO CASO DE ESTUDO E O SEU PROJETO

2.3. Caracterização, Estado de Conservação do Edifício e Objetivos para a Obra

2.3.1 Caracterização

O edifício relativo ao caso de estudo desta dissertação localiza-se na rua de São Bento da Vitória na Freguesia da Vitória no Porto. É um edifício cujas características se enquadram nas casas burguesas do Porto e que mais tarde, em 1929, foi licenciado para ser também uma padaria (Padaria Aliança) conforme retrata a memória descritiva desse licenciamento, presente em anexos. Esta casa tem como características gerais: (i) está inserida num lote com 8m de largura por aproximadamente, 44m de profundidade, em forma retangular irregular; (ii) está implantada perpendicularmente ao declive do terreno, apresentando na frente de rua dois pisos e ganhando mais um no seu alçado posterior; (iii) a sua fachada tem então a dimensão da largura do lote com 8m, e uma profundidade de aproximadamente 25m; (iv) no seu interior a organização é feita através de uma escada central iluminada por uma claraboia retangular; (v) contém entradas independentes para a habitação e para a padaria; (vi) os materiais usados na sua construção são granito, madeira, argila e ferro; (vii) e por fim o sistema construtivo é em granito em todas as suas paredes estruturais a toda a altura e nas paredes do piso -1, as paredes interiores de tabique simples, estrutura do vigamento e da cobertura em madeira e o revestimento da cobertura em telha marselha.

Ainda um dado a reter é o facto de no ano de 1929 quando foram feitas as obras para a implantação da padaria (licenciamento e memória descritiva presentes em anexo), terem havido algumas alterações: (i) alteração da cota de parte do pavimento do R/C para aumento do pé direito das áreas posteriores do estabelecimento comercial existente neste piso; (ii) Demolição e reconstrução de algumas paredes estruturais na zona do forno e execução de algumas vigas e lajes de betão armado, na mesma zona e nas zonas húmidas (cozinhas e casas de banho); (iii) Alteração das escadas no piso 0 e piso 1; (iv) Reformulação da rede de saneamento. Em relação à organização funcional, apenas será possível estudar de forma precisa, o estado em que se encontrava após a construção da padaria, uma vez que não existem relatos anteriores a isso em termos de projeto. Desta forma a Arquiteta Diana Barros relata na memória descritiva do licenciamento do atual

projeto (presente em anexo) que no piso -1 se situavam algumas áreas de apoio à padaria. O piso 0 desenvolve-se ao longo de praticamente toda a área de implantação do edifício, desde a entrada na Rua São Bento da Vitória, até ao final da área ocupada pelo piso -1, funcionando parcialmente como terraço acessível (cobertura do piso -1). Este piso desenvolve-se em duas cotas diferentes. À cota inferior, correspondente à cota da Rua São Bento da Vitoria, existia a padaria que ocuparia igualmente os espaços do piso -1, e um corredor de acesso às restantes áreas do piso e à caixa de escadas do piso 1. Na zona mais elevada do piso 0 encontram-se os compartimentos da zona habitacional anteriormente existente, nomeadamente, quartos e (ou) salas, cozinha e instalações sanitárias. O piso 1, acessível através da caixa de escadas central, alberga igualmente compartimentos habitacionais, tais como, quartos e (ou) salas e instalações sanitárias.

Após o estudo feito no subcapítulo anterior, poder-se-ia dizer que o edifício deste caso de estudo tem características dos três estilos de casas burguesas. Começando por comparar o edifício com as casas burguesas mercantilistas, encontramos as seguintes características: (i) está inserida numa das áreas mais predominantes neste tipo de habitação, a Rua de São Bento da Vitória; (ii) a implantação do lote segue a forma medieval da muralha; (iii) tem uma implantação perpendicular ao declive do terreno o que faz com que ao nível da rua a casa apenas tenha o piso térreo e mais um e no alçado de tardoz ganhe mais um piso; (iv) tem três vãos abertos na fachada como acontecia em alguns casos de casas dos finais do século XVII, conforme se observa na figura 8. No entanto neste século ainda não eram frequente encontrar algumas características que o caso de estudo contém como o material ferro nas guardas; e principalmente o sistema construtivo da casa é toda em granito nas suas paredes estruturais, sendo que neste século o usual era ser em granito no piso térreo e o restante era em taipa.

Em relação a características das habitações do século XVIII encontradas neste caso de estudo estas são: (i) os 3 vãos de abertura na fachada como acontecia também nos finais do seculo passado; (ii) existência de logradouro na casa; (iii) neste século podia-se encontrar casas cuja frente poderia ir até os 7m de largura, sendo esta a medida que mais se aproxima do caso de estudo que tem 8m de largura; (iv) contém 3 pisos, sendo um deles uma semicave; (v) os materiais e sistemas construtivos do edifício, enquadram-se nos que segundo os relatos eram característicos deste século, (contrário do século passado as casas deste século eram construídas totalmente em granito nas suas paredes estruturais); (vi) a presença do ferro nas guardas das sacadas ou varandas, como de resto também se encontra no edifício em estudo, como demonstra a figura 9; e por fim (vii) a organização interior é distribuída por uma escada central iluminada por uma claraboia. Em algumas circunstâncias neste século também já apareciam casas com instalação sanitária na varanda, como acontece no caso de estudo.

Figura 9 - Ferro na sacada e parede de meação em granito.

As características encontradas que vão de encontro ao tipo de casa do século XIX são: (i) a característica mais forte é a presença de instalações sanitárias na varanda, no entanto em alguns casos esta solução já era adotada nos finais do século XVII; (ii) a existência de logradouro (característica que se afirmou em completo neste século); (iii) a porta de entrada localizada junto a uma parede de meação; (iv) a escada central também iluminada; e (v) a existência de um entrepiso. Porém nesta época as casas tinham um carácter monofuncional o que não acontece no caso de estudo assim como a fachada também não contém azulejo como era frequente nas casas liberais do século XIX.

No entanto, todas estas características, como dizem os autores referidos nos subcapítulos anteriores, são meramente indicativas, uma vez que há sempre exceções. E este edifício pode-se dizer que é um desses casos, uma vez que tem características de

todas as épocas o que torna difícil ser-se preciso quando se tenta tipifica-lo para determinar a que período remonta. No entanto, pode haver duas possíveis conclusões: a primeira é que o edifício foi construído no século XVII ou em séculos anteriores e foi sendo modificado com o passar do tempo absorvendo assim características típicas de cada século seguinte. A outra conclusão que pode ser tirada é que este edifício foi construído no século XVIII, substituindo um edifício existente anteriormente, uma vez que é o século que mais tem em comum com este caso de estudo, com a exceção da sua localização que vai mais de encontro com a do século anterior e a presença de instalações sanitárias que são uma característica mais comum das casas do século XIX (mesmo havendo registos de instalações sanitárias em algumas casas do século XVIII).