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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 CARACTERIZAÇÃO DA BACIA

A presente pesquisa foi desenvolvida na bacia do rio Gualaxo do Norte, situada no estado de Minas Gerais, entre o Quadrilátero Ferrífero e a Zona da Mata mineira, estando inserida na bacia hidrográfica do rio Doce, uma das principais bacias de MG. O rio Gualaxo do Norte nasce na cidade de Ouro Preto, tem sua parte média localizada no município de Mariana e deságua no rio do Carmo, em Barra Longa.

Dessa forma percebe-se que esta bacia está sob controle de três municípios. Os distritos e sub-distritos localizados na zona de influência da bacia do rio Gualaxo do Norte são: Antônio Pereira, no município de Ouro Preto; Águas Claras, Bento Rodrigues, Camargos, Campinas, Gama de Baixo, Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Paracatuzinho e Quebra Vara, no município de Mariana; e Gesteira, no município de Barra Longa, como ilustrado na Figura 6.

No que diz respeito à economia local, as atividades predominantes variam de acordo com a região da

bacia. As atividades socioeconômicas do município de Ouro Preto e Mariana são voltadas

essencialmente para a mineração; na bacia do rio Gualaxo do Norte encontram-se instaladas as minas de Timbopeba e Alegria, pertencentes à Vale, e o complexo minerário de Germano de responsabilidade da Samarco Mineração S.A. Dessa forma, as mineradoras, que realizam a exploração principalmente do minério de ferro, são as principais responsáveis pela geração e recolhimentos de impostos para os municípios (SOUZA et al., 2005).

Tendo em vista o crescimento da população e de todas as questões ligadas à produção de bens e consumo para o estilo de vida moderno, é previsto que as atividades extrativo-minerais também acompanhem esse crescimento na mesma intensidade. De acordo com Dorr et al., (1957) apud em Rodrigues 2012, a região do QF é considerada um dos locais de maior disponibilidade de minerais do mundo, sendo avaliada dessa forma, umas das mais importantes regiões para a atividade mineral do país (RODRIGUES, 2012).

Além da mineração de ferro, uma das atividades de maior destaque na região do QF é a extração de ouro, recorrente desde o século XVII. Na bacia do rio Gualaxo do Norte essa atividade ocorre especialmente no distrito de Antônio Pereira. O processo utiliza técnicas que vão de rudimentares a modernas com a utilização de bombas, dragas e do mercúrio para a amalgamação do ouro. Vale salientar que essa atividade possui determinadas peculiaridades, que podem ter como consequências algumas alterações ambientais. A queima do amálgama lança mercúrio na atmosfera e sua

precipitação com as chuvas tem o poder de contaminar extensas áreas, fazendo com que os riscos não se restrinjam somente às regiões de trabalho (RHODES, 2010).

Segundo Costa (2001) o rio Gualaxo do Norte percorre diversas unidades geológicas do QF, com destaque para as características das rochas localizadas no alto Gualaxo, principalmente pelo fato de que algumas dessas estruturas estão diretamente ligadas à elevação de íons bicarbonatos nas águas do rio, sendo introduzidos principalmente devido a processos de intemperismo, além da intervenção ocasionada pelo desenvolvimento das atividades minerárias, influenciando diretamente os níveis de alcalinidade e condutividade encontrados para as águas do rio Gualaxo.

Ainda na região do alto curso do rio Gualaxo do Norte, o solo pouco propício ao desenvolvimento de atividades agrícolas expressivas apresenta extensas plantações de eucalipto, com vistas à produção do carvão siderúrgico, utilizado amplamente nos altos-fornos das indústrias metalúrgicas das áreas adjacentes (COSTA, 2001). No seu médio curso, de Paracatu de Baixo até Barra Longa, é possível verificar a predominância da atividade de pecuária leiteira extensiva e, atrelada a esse processo, é observada a prevalência de áreas desmatadas para criação de animais, além da supressão de mata nativa para áreas de cultivo de subsistência.

O município de Barra Longa, por sua vez, faz parte da Zona da Mata mineira e apresenta como principais setores econômicos a prática do comércio e a agropecuária, baseada sobretudo na pecuária leiteira. Nesse sentido, a área rural do distrito de Gesteira é formada majoritariamente por propriedades de pequeno porte, onde predomina a agricultura familiar e a criação animal tradicional (PMBL, 2014).

De uma forma geral, na planície de inundação do rio Gualaxo do Norte, era praticada agricultura de subsistência, mas essa área foi devastada e soterrada pela lama de rejeitos oriunda do rompimento da barragem de Fundão (NASSAU, 2016). Nas áreas com altitudes mais elevadas é possível observar construções de residências próximas às encostas, bem como lançamentos de esgotos domésticos e presença de lixo nas margens e no leito do rio; a Figura 7 ilustra as principais atividades desenvolvidas na região. Dessa forma é possível inferir que tanto a atividade minerária quanto o crescimento populacional dos distritos e vilarejos localizados no seu entorno têm interferido negativamente sobre as condições naturais da área.

O distrito de Antônio Pereira possui o maior contingente populacional da bacia, produzindo uma média de 115,65 L/hab.dia de efluentes domésticos. Tem-se que a sede conta com uma estação de tratamento de água (ETA) e na área rural preponderam estruturas como nascentes e cisternas. Para o esgotamento sanitário Antônio Pereira não possui uma estação de tratamento de esgoto, sendo este

descartado diretamente nos corpos hídricos da região por meio de uma rede coletora, e a área rural conta com fossas sépticas (PMOP, 2013).

Um segundo núcleo populacional da bacia do rio Gualaxo do Norte são os subdistritos pertencentes ao município de Mariana. De acordo com o Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Piranga, o município de Mariana ainda não possui um sistema de tratamento de esgotos, de forma que os mesmos são lançados in natura no rio do Carmo e em seus afluentes, com uma carga orgânica de aproximadamente 2.416 kg DBO/dia. De acordo com as estimativas realizadas no Plano Municipal de Saneamento, Mariana produziu em 2016 uma média de 168,28 L/hab.dia de esgoto, não havendo dados disponíveis sobre a quantidade gerada em cada distrito (PMM, 2014).

Das localidades situadas em Mariana que pertencem à referida bacia, Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo foram completamente destruídas após o rompimento da barragem de Fundão. A população residente nestas localidades foi encaminhada para residências temporárias na sede do município, aguardando o desenrolar do processo de reconstrução dessas regiões. Apesar dos moradores já terem escolhido o local onde serão construídos o que está sendo chamado de “Novo Bento” e “Novo Paracatu”, não se sabe ao certo qual será o tempo demandado para tal (SAMARCO, 2017).

O último núcleo populacional às margens do rio Gualaxo do Norte é o distrito de Gesteira, que pertence ao município de Barra Longa. Com o desastre ambiental, todas as casas situadas às margens foram destruídas e seus moradores também se encontram em residências provisórias nos municípios de Mariana e Barra Longa, porém em uma parte mais alta ainda existem algumas famílias. O abastecimento de água em Barra Longa é de responsabilidade da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA); em Gesteira o abastecimento de água da população é realizado por meio de um poço artesiano e de uma nascente. Em relação ao tratamento de esgoto, existe um sistema de coleta que encaminha todos os efluentes para o rio Gualaxo, além de fossas sépticas na área rural (PMBL, 2014).

De maneira geral, percebe-se em toda a bacia uma grande deficiência nos serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto, que se agravam ainda mais na área rural. Mesmo nas localidades atendidas pelas prefeituras, por meio do Serviço de Abastecimento de Água e Esgoto (SAAE), em Mariana, e do Serviço Municipal de Água e Esgoto (SEMAE), em Ouro Preto, não existe a cobrança pelo consumo da água em suas residências. No município de Barra Longa, este serviço é prestado pela COPASA, que cobra uma taxa mensal pelo mesmo.

6.2 DESCARGA LÍQUIDA E PRECIPITAÇÃO

A Tabela 1 apresenta os dados de vazão calculados para as seções 1, 10, 11 e 27; essas representam respectivamente início e fim da área não afetada pelo desastre e início e fim da área afetada. Os meses julho, agosto, setembro e outubrose referem à estação seca e o mês de novembro representa a estação chuvosa, ambos realizados no ano de 2016.

Para uma melhor visualização dos valores encontrados para as vazões das respectivas seções apresenta-se a Figura 8. Dessa forma é possível inferir que as vazões se elevam de acordo com o curso do rio, fato esperado uma vez que as contribuições dos tributários aumentam no mesmo sentido. Uma observação relevante é que no período seco foram medidas as vazões máximas e para verificar tal fato foram analisados os dados de pluviosidade da região.

Figura 8 - Vazões das seções transversais 1, 10, 11 e 27, definidas ao longo do rio Gualaxo do Norte/MG. Jul: julho, Ago: agosto, Set: setembro, Out: outubro e Nov: novembro.

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 1 10 11 27 Vaz ão ( m ³/s ) Seções Jul Ago Set Out Nov

Tabela 1 - Cálculo das vazões das seções transversais 1, 10, 11 e 27, definidas ao longo do rio Gualaxo do Norte/MG.

ÁREA A MONTANTE DA BARRAGEM

Ponto Mês/2016 Velocidade (m/s) Largura (m) Profundidade (m) Área (m²) Vazão (m³/s) Vazão (L/s)

1 Julho 0,103 10,425 0,491 5,116 0,525 525,000 Agosto 0,225 9,600 0,495 4,755 1,071 1071,000 Setembro 0,145 10,250 0,210 2,148 1,100 311,000 Outubro 0,152 10,260 0,223 2,292 0,349 349,000 Novembro 0,241 10,545 0,221 2,328 0,561 561,000 10 Julho 0,422 8,700 0,319 2,775 1,170 1170,000 Agosto 0,480 8,700 0,359 3,125 1,500 1500,000 Setembro 0,360 8,675 0,135 1,174 0,423 423,000 Outubro 0,512 8,235 0,151 1,244 0,637 638,000 Novembro 0,805 7,960 0,161 1,281 1,031 1031,000

ÁREA A JUSANTE DA BARRAGEM

11 Julho 0,506 13,150 0,305 4,016 2,031 2031,000 Agosto 0,453 12,960 0,319 4,140 1,877 1877,000 Setembro 0,225 17,250 0,245 4,226 0,953 953,000 Outubro 0,755 13,475 0,109 1,472 1,112 1112,000 Novembro 0,866 12,500 0,172 2,155 1,867 1867,000 27 Julho 0,437 18,190 0,399 7,251 3,170 3170,000 Agosto 0,459 15,930 0,401 6,385 2,930 2930,000 Setembro 0,427 19,050 0,172 3,281 1,400 1400,000 Outubro 0,605 17,025 0,153 2,608 1,579 1579,000 Novembro 0,778 17,280 0,221 3,818 2,969 2969,000

Figura 9 - Dados de pluviosidade referentes à bacia hidrográfica do rio Gualaxo do Norte/MG referentes ao ano de 2016. Jul: julho, Ago: agosto, Set: setembro,

Out: outubro e Nov: novembro.

Examinando os dados de pluviosidade, indicados na Figura 9, nota-se que as maiores vazões não condizem com os meses de maior precipitação. A montante da seção 1 existem duas estruturas que podem funcionar como reguladoras de vazão, as barragens de Doutor e Natividade (Figura 10), pertencentes à Vale Mineração. Segundo informações da própria empresa, no período de estiagem ocorre uma maior produção e consequentemente maior volume de rejeito é transportado e mais água é vertida ao rio Gualaxo do Norte a partir do dreno de fundo da barragem.

Para as seções 11 e 27 atrela-se o fato de que nas medições de julho e agosto ainda havia fluxo de rejeito da barragem de Fundão, influenciando o volume de água do rio Gualaxo do Norte. A empresa responsável pela recuperação da área realizou a construção de diques para a contenção do volume de lama que ainda atingia o corpo hídrico (Figura 11). Os valores obtidos nos meses de novembro correspondem à influência das precipitações ocorridas na região, referentes ao início do período chuvoso. Ressalta-se que as medições das vazões não ocorreram em todos os meses devido a questões operacionais.

0 50 100 150 200 250 300 350 400

JUL AGO SET OUT NOV

C h u v a (m m /m ês ) Meses

Figura 10 - Estruturas reguladoras de vazão a montante da seção 1, definida próxima à nascente do rio Gualaxo do Norte/MG.

Fonte: Google Earth, 2017.

Figura 11 - Obras realizadas para a contenção do rejeito que ainda fluía da barragem de Fundão.

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