• Nenhum resultado encontrado

PARTE III – COMPONENTE EMPÍRICA

6.1 Caracterização da criança em estudo

Trata-se de uma criança, do sexo masculino, nascida a 24 -02-2011, no hospital de São João. Segundo a ficha de caracterização do aluno (Anexo 5), o agregado familiar do R é constituído pela mãe, o pai e a criança. A mãe nasceu em 1977 e é licenciada em direito. Já o pai nasceu em 1979 e tem o mestrado em engenharia e computadores, o que fez do mesmo engenheiro de sistemas. Importa referir também que a criança em questão não tem irmãos e que a gravidez da mesma foi planeada.

Vivem a dez minutos, de automóvel, do jardim-de-infância; numa habitação própria T2, onde o R tem um quarto só para si e tem a oportunidade de brincar no parque.

A mãe do R. teve uma gestação normal e tranquila, onde a mesma completou 40 semanas. O parto foi espontâneo e eutócico, pelo que o R chorou logo após o nascimento, não teve dificuldades de sucção e não foi submetido a intervenção cirúrgica após o parto.

O R teve um desenvolvimento normal na área motora, uma vez que, conseguiu sentar-se logo aos 6 meses, gatinhar aos 9 meses e principalmente andar aos 11 meses. As suas principais dificuldades caraterizavam-se sobretudo na comunicação e na integração social. Por este pressuposto, a informação clínica do R, revelou que o mesmo apresentava Perturbação do Espectro de Autismo e que necessitava de ser “orientado para Intervenção Precoce, com estimulação global e terapia de fala/terapia ocupacional, sendo essencial a estimulação através de estímulos do seu agrado e que favoreçam a sua autorregulação” (Anexo 6). A segunda informação clínica acrescentou que se trata “de uma perturbação do desenvolvimento com evolução crónica pelo que necessita de manter apoios de forma continuada no tempo, tendo em conta as suas limitações e dificuldades de adaptação” (Anexo 7).

Atualmente, percebemos que a criança é bastante feliz, pelo sorriso que sempre evidenciou e pela forma como vivência determinadas situações, pelo que a educadora atual afirma: “eu acho que é uma criança feliz” (Anexo 8). Importa referir que este

43

estado de espírito que a criança transmite foi sempre o principal objetivo da sua mãe (“Isso foi sempre o meu objetivo. Ele foi sempre muito feliz… Mesmo antes de eu saber que ele tinha a Perturbação do Espectro do Autismo, eu notei sempre que ele era feliz… Ele sorri muito, ri muito…Desde sempre, mesmo…” – Anexo 9). Outro aspeto bastante relevante é o facto de ser uma criança bastante doce e amável. Não se carateriza por ser uma criança desobediente, mas consegue ser um pouco agitada, uma vez que, está muitas vezes em constante movimento como forma de se autorregular (“a autorregulação dele na sala às vezes é complicada…ele costuma correr” – Anexo 8).

Perante todos os prossupostos anunciados, achamos pertinente caraterizar a criança em diferentes níveis (como: a comunicação e a linguagem; a interação social; a autonomia e o desenvolvimento cognitivo) de acordo com as observações obtidas, as entrevistas realizadas, as conversas informais efetuadas e o primeiro relatório de acompanhamento.

A nível da comunicação e da linguagem, podemos asseverar que o R quando tinha dois anos de idade apresentava um discurso que não era dirigido ao outro observava-se “a presença de ecolalia, tanto imediata como diferida, sendo o discurso espontâneo da criança ainda pouco reduzido (…). Ainda não apresenta gestos descritivos que acompanhem o seu discurso e revela dificuldade em utilizar gestos convencionais (ex. bater palmas) ou instrumentais (ex. apontar para comunicar)” (Anexo 10). Assim, apresentava dificuldade em expressar as suas necessidades ou a pedir ajuda quando se aleijava ou quando adoecia (“o R., com dois anos, não dizia… Ele chorava, queixava-se e parava. Ele parando está doente… Percebia que ele estava doente assim ou quando fazia febre” – Anexo 9). No entanto, agora com cinco anos de idade, é uma criança que “já procura o adulto, já procura ajuda quando alguma coisa não corre bem” (Anexo 11). Outro aspeto bastante notório é a atenção e a concentração que a criança demonstra durante leitura de histórias (Anexo 12 e 13) e após a hora do conto, uma vez que, depois é a própria a lê-las e a interpretar as imagens (Anexo 14). Assim, podemos afirmar que “uma coisa que tem desenvolvido muito, coisas feitas por iniciativa dele, é a leitura” (Anexo 9) como podemos comprovar no Anexo 15. Para além disso, demonstra conhecer as emoções, ser sensível à manifestação das mesmas pelos outros e, por conseguinte, pedir que essa demonstração seja feita (Anexo 16). Assim, podemos afirmar que a criança ajusta o seu próprio comportamento em função das emoções positivas que as suas ações provocam nos outros.

44

Já a nível da interação social, podemos afirmar que o R brinca mais “vezes sozinho embora não vá para um sítio onde esteja muito sozinho, ele consegue estar em grupo (…) só que está no grupo, mas não está no grupo” (Anexo 8), pois muitas vezes realiza uma espécie de jogo paralelos nas brincadeiras ou atividades que efetua (Anexo 17). Apesar do R não procurar muito as outras crianças, as mesmas por sua vez fazem-no com bastante frequência. Com este propósito tentam que o mesmo interaja com elas e ajudam-no sempre que sentem que o R precisa (Anexo 18, 19 e 20). É essencial referir também que o R consegue realizar jogos em grupo no recreio, como o jogo do Stop (Anexo 21), a canção que costumam fazer em roda (Anexo 22) e o jogo do macaquinho chinês (Anexo 23). Ao fazê-lo aparenta partilhar algum prazer pela companhia dos outros, o que se carateriza por ser um fator bastante positivo no âmbito da interação social. Deste modo, percebemos que existe, embora pouca, interação com os pares. Ainda segundo esta lógica, importa referir que existe uma criança na sala que tem um carinho mais especial para com ele e que por este motivo o procura mais (“ele brinca com ela e ela com ele, mas não está ali e claro que é mais a M. que o procura – Anexo 11). Esta criança específica, procura o R para o acarinhar de uma forma mais física, como por exemplo, para lhe dar abraços ou beijinhos (Anexo 24). Outro aspeto importante de evidenciar é que o R anteriormente apresentava “dificuldade em adequar o contacto ocular o contacto ocular ao longo da interação social” (Anexo 10), mas neste momento o contacto ocular acontece “muitas vezes por iniciativa dele” (Anexo 25) e “quando se sente confortável, quando já observou tudo o que tinha à volta… só assim é que direciona o olhar para os outros”

(Anexo 26). Remetendo agora para a autonomia, consideramos que o R tem tido uma

evolução bastante positiva quer a nível da higiene, quer a nível das refeições e do vestir. Relativamente à higiene, o R apresentava uma elevada resistência a fazê-lo, mas agora já o faz adequadamente quando pedido (Anexo 27). Quanto às refeições, cada vez mais a criança come autonomamente (Anexo 28, 29 e 30) e neste propósito consideramos que se deve à partilha entre a escola e a família (“eu em casa não conseguia que ele comesse de colher e a P. tinha-me já enviado vários vídeos dele a comer com a colher aqui e eu disse-lhe que em casa era igual à escola… e ele lá foi comendo com a colher. (…) E, agora, eu consegui que ele comesse de faca e garfo em casa e mandei para ela…porque eu sei que ele tem capacidade e depois a educadora P. também fez isso… E assim, a gente, todos juntos, vai treinando” – Anexo 9). Por último, o R mostra-se autónomo em desempenhar algumas tarefas como na distribuição dos casacos (Anexo 31), mas também em vestir-se (“Ele agora já

45

consegue vestir-se (…) O apertar as calças ou os botões ou as sapatilhas demora muito tempo mas consegue… Mas ele em termos de motricidade fina é bem desenvolvido” – Anexo 9).

Finalmente, no que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo, pensamos que a criança muitas vezes necessita de ser integrada de forma agradável nas várias atividades que pretendemos realizar com o R. Ao fazê-lo conseguimos que a criança se torne sensível aos estímulos e, por conseguinte, cooperar nas atividades. Exemplo disso é a arrumação do material (Anexo 32 e 33), o cumprimento do que é pedido nas aulas de expressão motora (Anexo 34, 35 e 36) e, também consegue identificar a esquerda da direita quando o questionam (Anexo 37). Para além disso, a educadora consegue captar-lhe a atenção auditiva através de sons de instrumentos, onde o R evidencia gostar bastante do ritmo da música e querer fazer igual (Anexo 38). Outro aspeto bastante importante onde tem melhorado muito é o facto do R, “neste momento, mostrar tempos de permanência” (Anexo 8), tal como podemos observar no Anexo 39. Para além disso, tem cooperado bastante nas atividades propostas como por exemplo na prenda para o dia da mãe (Anexo 40), a fazer o jogo da mímica imitando animais para que os restantes amigos adivinhassem (Anexo 41), a explorar diferentes objetos (Anexo 42 e 43) e a fazer uma pintura (Anexo 44) ou um desenho (Anexo 45). Neste último importa referir é de referência que o R “não é uma criança que procure o desenho, no entanto, neste momento, quando lhe é pedido, ele colabora nas atividades” (Anexo 8), uma vez que, “ele não pegava no lápis… ele rejeitava o lápis (…) e agora já pega… já faz alguns desenhos que se percebe” (Anexo 9). Assim, é essencial afirmar que as atividades que procura mais são a leitura e as construções, onde faz habilidades com as mesmas (Anexo 46 e 47). Contudo, nem sempre é fácil fazer com que o R coopere nas diferentes atividades ou contextos, tal como podemos ver no Anexo 48 e 49.

Documentos relacionados