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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Caracterização da população que buscou o CAMS no período

No período compreendido entre julho de 2013 e junho de 2014 foram realizadas 226 triagens no CAMS.

Os resultados obtidos demonstraram que a população foi composta por 226 indivíduos, sendo 122 do sexo feminino (53,98%) e 104 (46,02%) do sexo masculino, fato que se iguala aos resultados do estudo de Fernandes e colaboradores (2009).

Observou-se na Figura B que até os 15 anos o gênero masculino foi predominante nos entrevistados. Já no intervalo compreendido entre 16 e 35 anos, notou-se uma inversão deste padrão, com uma maior quantidade de indivíduos do sexo feminino buscando atendimento no CAMS, resultado esse compatível aos achados no estudo de Travassos e colaboradores (2002) sobre a utilização de serviços de saúde no Brasil. Nas faixas etárias seguintes o gênero feminino manteve-se sobressalente, ainda que em alguns intervalos esta diferença ficasse praticamente nula (56 – 60 anos), mínima (36 – 50; 56 – 65 anos) ou bastante acentuada (51 – 55 anos).

Figura B – Frequências absolutas dos gêneros da amostra distribuídos por faixa etária

7 23 11 7 13 11 2 7 3 3 1 4 3 3 3 1 0 1 3 8 3 17 18 14 7 6 4 4 11 4 4 6 7 3 1 2 25 20 15 10 5 0 5 10 15 20 25 30 1 – 5 6 – 10 11 – 15 16 – 20 21 – 25 26 – 30 31 – 35 36 – 40 41 – 45 46 – 50 51 – 55 56 – 60 61 – 65 66 – 70 71 – 75 76 – 80 81 – 85 86 – 90 Frequência de ocorrência Fa ix a etár ia Feminino Masculino

Esses resultados permitem uma reflexão acerca de cuidado no que diz respeito às percepções das necessidades de saúde vivenciado por homens e mulheres. Fernandes e colaboradores (2009) afirmam que as mulheres percebem mais facilmente os riscos à saúde do que os homens, uma vez que possuem mais acesso às informações em saúde. Segundo Pinheiro e colaboradores (2002), as mulheres relatam mais morbidade e problemas psicológicos e utilizam mais os serviços de saúde, embora estas vivam mais do que os homens. A maior procura pode estar relacionada à saúde reprodutiva, além do fato das mulheres avaliarem seu estado de saúde de forma mais negativa que os homens (TRAVASSOS et al., 2002). Verbrugge (1989 apud Pinheiro et al., 2002) enfatiza os aspectos psicológicos associados à forma como as pessoas percebem os sintomas, avaliam a gravidade da doença e decidem o que fazer com respeito à saúde como uma possível explicação de diferenças na saúde entre homens e mulheres.

Vale ressaltar, que os indivíduos abaixo dos 15 anos (intervalo em que a busca por atendimento no CAMS foi mais significativa no gênero masculino) dificilmente encaminham-se sem o acompanhamento dos responsáveis em busca de cuidados em saúde. Nestes casos, as necessidades de saúde dos meninos geralmente são identificadas e comunicadas pelas mães ou cuidadoras corroborando que as mulheres encontram-se mais atentas e disponíveis para estas questões. Comparando a procura de atendimento entre meninos abaixo de 15 anos (18,15%) e mulheres adultas entre 26 e 60 anos (22,12%) nota-se que apesar da extensão dos intervalos serem distintas (15 anos para meninos e 34 anos para mulheres) os valores estão próximos.

Mais da metade do público que buscou atendimento no CAMS no período estudado possuíam idade inferior a 30 anos (59,73%). As faixas etárias compreendidas entre 6 – 10 anos (+ meninos) e 21 – 25 anos (+mulheres) configuraram-se como os intervalos etários que mais buscaram atendimento no CAMS no período estudado, representando ambos intervalos 13,72% do total. Em seguida, as classes mais numerosas foram de 16 – 20 anos (10,62%) e 26 – 30 anos (11,06%), ambas com mais mulheres do que homens. As demais faixas etárias apresentaram valores abaixo de 10% conforme demonstrado na Tabela 1.

Tabela 1 – Frequências absolutas e relativas por faixa etária e gênero

É possível que a maior demanda encontrada neste estudo das idades inferiores a 30 anos tenha relação direta com os serviços específicos oferecidos no CAMS em contrapartida aos oferecidos pela RAS. Das quatro áreas de atendimento oferecidas no CAMS duas (Psicopedagogia e Fonoaudiologia) são bastante especificas ao atendimento infanto-juvenil devido ao fato dessas necessidades evidenciarem-se primordialmente na fase escolar. Quanto à escolaridade, a população estudada apresentou maior proporção de pessoas que cursaram o ensino fundamental (17,26%) e que possuem o ensino médio completo (16,81%), conforme ilustra a Tabela 2. Nestes dois níveis de escolaridade, nota-se a inversão de predominância de gênero citada acima, configurando-se portanto como um dado dependente do apresentado anteriormente. O gênero masculino predomina entre aqueles que cursam o ensino fundamental e, portanto, menores que 15 anos. Já entre os que possuem o ensino médio completo, notou-se uma quantidade maior de mulheres do que homens. Como este nível retrata aqueles que interromperam

n % n % n % 1 – 5 anos 10 4,42 3 1,33 7 3,10 6 – 10 anos 31 13,72 8 3,54 23 10,18 11 – 15 anos 14 6,19 3 1,33 11 4,87 16 – 20 anos 24 10,62 17 7,52 7 3,10 21 – 25 anos 31 13,72 18 7,96 13 5,75 26 – 30 anos 25 11,06 14 6,19 11 4,87 31 – 35 anos 9 3,98 7 3,10 2 0,88 36 – 40 anos 13 5,75 6 2,65 7 3,10 41 – 45 anos 7 3,10 4 1,77 3 1,33 46 – 50 anos 7 3,10 4 1,77 3 1,33 51 – 55 anos 12 5,31 11 4,87 1 0,44 56 – 60 anos 8 3,54 4 1,77 4 1,77 61 – 65 anos 7 3,10 4 1,77 3 1,33 66 – 70 anos 9 3,98 6 2,65 3 1,33 71 – 75 anos 10 4,42 7 3,10 3 1,33 76 – 80 anos 4 1,77 3 1,33 1 0,44 81 – 85 anos 1 0,44 1 0,44 0 0,00 86 – 90 anos 3 1,33 2 0,88 1 0,44 Dados em branco 1 0,44 0 0 1 0,44 Total 226 100 122 53,98 104 46,02

Faixa etária Frequência

Gênero

seus estudos após a conclusão do ensino médio, as idades podem e invariavelmente são diversas.

Tabela 2 – Frequências absolutas e relativas do nível de escolaridade e gênero

Observou-se também na amostra que 28 indivíduos interromperam seus estudos no ensino fundamental (fundamental incompleto – 12,39%). Destes, 16 mulheres e 12 homens, com idades entre 31 e 90 anos, sendo o intervalo etário mais significativo deste grupo entre 61 e 70 anos (28,58%). A quantidade daqueles que possuem ensino superior completo (11,95%), 18 mulheres e 9 homens com idades entre 21 e 90 anos, também foi representativa. Destes, 48,15% com idades entre 26 e 30 anos. Nestes dois níveis de escolaridade, a frequência absoluta de indivíduos do gênero feminino é maior que do masculino, corroborando as informações contidas na Figura B (predominância do gênero masculino apenas entre 1 e 15 anos). As demais categorias de escolaridade tiveram suas porcentagens abaixo de 10%, sendo que os menores valores foram de analfabetos (4) e de indivíduos que concluíram o ensino médio profissionalizante (3).

De qualquer forma, ao comparar os resultados encontrados neste estudo com a escolaridade dos usuários do SUS (MOIMAZ et al., 2010), nota-se que a população que buscou o CAMS tem escolaridade maior do que a média que

n % n % n %

Analfabetos 4 1,77 2 0,88 2 0,88 Educação Especial 5 2,21 3 1,33 2 0,88

Pré-escola 5 2,21 1 0,44 4 1,77

Ensino Fundamental - Cursando 39 17,26 9 3,98 30 13,27 Ensino Fundamental – Incompleto 28 12,39 16 7,08 12 5,31

Ensino Fundamental - Completo 16 7,08 11 4,87 5 2,21 Ensino Médio - Cursando 13 5,75 9 3,98 4 1,77 Ensino Médio – Incompleto 8 3,54 3 1,33 5 2,21 Ensino Médio – Completo 38 16,81 24 10,62 14 6,19 Ensino Médio - Profissionalizante 3 1,33 1 0,44 2 0,88 Ensino Superior – Cursando 20 8,85 14 6,19 6 2,65 Ensino Superior – Incompleto 4 1,77 3 1,33 1 0,44 Ensino Superior – Completo 27 11,95 18 7,96 9 3,98 Dados em branco 16 7,08 8 3,54 8 3,54 Total 226 100 122 53,98 104 46,02

Feminino Masculino

Escolaridade Frequência

busca o SUS municipal (até ensino fundamental completo: CAMS = 41,15%; SUS = 58,4% e até ensino superior completo no CAMS = 22,57%; SUS = 6,4%). De acordo com Noronha e Viegas (2002), os indivíduos com maior escolaridade têm mais conhecimento sobre as especialidades disponíveis para cada tipo de tratamento e percebem melhor os efeitos do tratamento em saúde. Macagnan e Saretto (2010) relacionam a predominância da baixa escolaridade dos usuários do SUS ao nível socioeconômico dos mesmos, justificando que pessoas com maior renda per capita investem mais na educação.

Quando os resultados de escolaridade da população com 25 anos ou mais obtidos no presente trabalho foram confrontados com os dados do IBGE (2015), notou-se distintos padrões entre as categorias. A representatividade de pessoas com o ensino fundamental incompleto foi menor no CAMS (22,58%) do que a média nacional (32,00%), enquanto que nas categorias de ensino superior completo (CAMS = 19,35%; IBGE = 13,1%) e ensino médio completo (CAMS = 28,22 %; IBGE = 25,5%) os valores foram maiores no CAMS. Ainda que o percentual para o ensino médio completo foi consideravelmente próximo ao da realidade brasileira, os dados relativos ao ensino fundamental incompleto e superior completo revelam que o nível de instrução da população que procurou o CAMS é superior ao da população nacional.

Quanto ao estado civil, 62,30% dos entrevistados eram solteiros, 23,89% casados, 7,07% viúvos, 4,42% divorciados/separados e 2,21% estavam com esta informação em branco. Como estas categorias estavam pré-estabelecidas pelo instrumento da pesquisa, ficha de triagem, não foi possível identificar aqueles que possuíam ou não companheiros, bem como relação estável. Assim, é possível que dentre a categoria solteiros existam pessoas com companheiros, em relacionamentos estáveis, mas não oficialmente casadas.

Ainda assim, confrontando esse resultado com aqueles encontrados na variável idade é possível inferir que o alto percentual de solteiros também pode ser explicado pelo fato de 59,73% das pessoas triadas possuiriam idade inferior a 30 anos. Dentre essas, as crianças e adolescentes (com idade inferior a 15 anos) representam 24,33% do total.

Em termos de ocupação profissional, a população foi predominantemente formada por estudantes (40,27%). Destes 23,90% com idade inferior a 16 anos e 16,37% com idade superior a 17 anos. Os estudantes

universitários (graduação e pós graduação) representaram apenas 12,83% do total dos estudantes. Apesar de São Carlos ser uma cidade universitária este resultado revelou, diferente do esperado, que este público não se configura como uma das principais demandas para o CAMS.

A classe ativa profissionalmente representou 21,68% dos indivíduos que procuraram atendimento no CAMS. Houve uma discreta sobreposição entre estudantes e classe ativa sendo esses calculados separadamente, representando 3,98% da amostra (9 sujeitos). A classe inativa2

profissionalmente foi composta por 57 sujeitos (25,22%), com idades entre 20 e 89 anos, sendo o intervalo entre 51 – 80 anos o mais significativo (16,81%). Os dados com esta informação em branco corresponderam a 8,85% das fichas.

Assim, verifica-se que a classe inativa profissionalmente foi a mais representativa da amostra (25,22%) com valores próximos aos estudantes com idade inferior a 16 anos (23,90%) seguidos pela classe ativa profissionalmente (21,68%).

A distribuição das categorias da variável plano de saúde foi bastante equilibrada. Dos indivíduos entrevistados, 52,21% não possuíam plano de saúde privado (SUS dependente), enquanto 46,9 % possuíam. As fichas de 0,88% dos indivíduos estavam com este dado em branco. Com relação ao conjunto de pessoas SUS dependente infere-se que elas buscam o CAMS devido à carência ou dificuldade de acesso aos serviços em saúde não médicos na RAS, especialmente em saúde mental (psicologia) e fisioterapia. Já as pessoas com planos privados podem ter buscado o CAMS devido a precarização dos planos, cada vez mais acessíveis financeiramente às classes pobres/vulneráveis/baixa classe média. Tais planos, quando oferecerem ações em saúde não médicas (muitas vezes não oferecem), o fazem de forma restrita com um número máximo de sessões permitidas por ano (e.g. 12 sessões para psicoterapia) não atendendo assim às necessidades de saúde das pessoas (BRASIL, 2015).

As rendas familiar e per capita das pessoas que procuraram os serviços do CAMS estão ilustradas na Tabela 3.

2 Considera-se ativo o sujeito que trabalha, inativo os que estão aposentados, afastados ou que não

trabalham e estudantes todos que frequentam a creche, escola ou universidade, da pré-escola à pós-

Tabela 3 – Caracterização econômica pelas rendas familiar e per capita

De acordo com a mesma, notou-se uma maior prevalência de pessoas que pertenciam a Classe C (69,02%). Indivíduos da Classe D também foram presentes em número considerado nas triagens, representando 15,93 % do total. Tendo em vista a distribuição encontrada nas classes sociais e a escolaridade da população que procurou o CAMS (superior ao da população nacional) nota-se que o terceiro setor de fato parece acessar uma população menos vulnerável socioeconomicamente quando comparada ao SUS. Segundo De Almeida Ribeiro e colaboradores (2006) e Andrade e colaboradores (2013), o perfil sociodemográfico dos usuários do SUS apresentam baixa escolaridade e menor nível de renda o que corrobora os achados nacionais do estudo de Barata (2008).

Em relação à renda per capita, os resultados das entrevistas evidenciaram que das 226 pessoas que procuraram o CAMS, 101 possuíam renda menor que 1 salário mínimo, representando 44,69% do total. Outros 84 indivíduos recebem de 1 a 2 salários mínimos o que representa 37,17% do total.

Confrontando os resultados de plano de saúde e de renda per capita da população notou-se que a média de renda dos grupos apresentou valores

n %

Renda Familiar Classe Social*

Acima de R$9.745,00 A 0 0 R$7.475,00 a R$9.745,00 B 4 1,77 R$1.734 a R$7.475,00 C 156 69,02 R$1.085,00 a R$1.734,00 D 36 15,93 R$0,00 a R$1.085,00 E 16 7,08 14 6,2 226 100 Renda per capita Salário Mínimo

Abaixo de R$788,00 Até 1 101 44,69 R$788,00 a R$1.576,00 1 a 2 84 37,17 R$1.576,00 a R$2.364,00 2 a 3 21 9,29 R$2.364,00 a R$3.152,00 3 a 4 5 2,21 R$3.152,00 a R$3.940,00 4 a 5 0 0 R$3.940,00 a R$4.728,00 5 a 6 1 0,44 14 6,2 226 100 Total Frequência Não declarado Total Não declarado

próximos, sendo R$808,00, com plano privado, (valor mínimo R$233,33 e valor máximo R$4.100,00) e R$803,37, sem plano de saúde privado (valor mínimo R$197,00 e valor máximo R$3.000,00). Vale destacar que o número de dependentes da renda familiar para se calcular a renda per capita dos dois grupos eram relativamente próximos não havendo diferenças significativas neste sentido. Por exemplo, em ambos os grupos, 20 famílias eram compostas por duas pessoas. Três dependentes foram verificados em 30 famílias com plano privado e 37 famílias SUS dependentes. E 4 dependentes constavam em 26 famílias com plano privado e 33 famílias SUS dependentes. Assim, ainda que o valor mínimo e máximo do grupo com plano privado seja maior do que os valores do grupo exclusivamente SUS dependente, a não discrepância entre o número de dependentes da renda familiar para se calcular as rendas per capitas indica que as médias encontradas caracterizam fidedignamente os grupos estudados. Desta forma, é possível inferir que a renda per capita não se configurou como um determinante para a obtenção de plano privado de saúde na população estudada.

A Tabela 4 apresenta os resultados mais expressivos que possibilitaram a caracterização da população que buscou atendimento no CAMS no período estudado.

Tabela 4 – Síntese das principais características da população triada no período estudado

Gênero 53,98% feminino

Estado Civil 62,30% solteiros

Idade 59,73% abaixo de 30 anos

17,26% cursam o ensino fundamental 16,81% possuem ensino médio completo 25,22% classe inativa

23,90% estudantes com idade < a 16 anos 21,68% classe ativa profissionalmente Plano de saúde 52,21% plano de saúde público

Per capita 44,69% com renda < que 1 salário mínimo Familiar 69,02% classe C

Escolaridade

Ocupação

5.2 – Classificação dos dados em aprovados, não aprovados e triagens

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