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Caracterização da privação material e considerações sobre a percepção da

Capítulo III Estudo de Caso

3.3. Apresentação e Análise dos Resultados

3.3.3. Caracterização da privação material e considerações sobre a percepção da

Em relação à própria situação dos inquiridos, a percepção sobre a sua situação actual é bastante diferenciada, como podemos perceber no Gráfico 5. Cerca de 38% dos indivíduos afirmam viver em situação de pobreza, 35% numa situação de quase pobreza e 10% numa situação de miséria. Apenas 17% afirmam viver numa situação suportável, ou seja, com algum conforto, o que sugere que certos indivíduos têm maior dificuldade em admitir que vivem numa situação de maior carência ou mesmo de pobreza ou que, então, já se habituaram a viver em situação de carência o que condiciona a sua percepção da pobreza. Importa referir que a percepção que o próprio indivíduo tem sobre a sua situação de pobreza é designada como pobreza subjectiva. Podemos concluir que 48% dos inquiridos consideram que vivem em situação de pobreza ou de miséria (pobreza subjectiva).

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Gráfico 5 - Percepção da situação do próprio inquirido – Pobreza subjectiva (%)

Anteriormente verificou-se que existem indivíduos neste grupo de estudo que se classificam como pobres (pobreza subjectiva). Assim, importa saber se existe correspondência entre as condições subjectivas e objectivas da pobreza neste grupo em análise. Para o efeito, foi necessário recorrer a dados utilizados anteriormente, como o rendimento equivalente e a taxa de risco de pobreza.

Segundo Rodrigues (1999), surgem dicotomias quando analisamos o fenómeno da pobreza, reflexo da sua complexidade: tome-se, como simples exemplo, o caso pobreza objectiva vs pobreza subjectiva. A pobreza objectiva utiliza um padrão de referência, associado ao limiar da pobreza que tipifica as situações de pobreza. Já a pobreza subjectiva mostra as “construções sociais representativas do fenómeno da pobreza pelos indivíduos em causa, ou seja, a capacidade dos indivíduos avaliaram o seu grau de pobreza relativamente a um patamar de bem-estar desejável”(pp.67).

Através da análise da tabela 2 podemos verificar que três indivíduos classificam a sua situação de carência como ‘miséria’, verificando-se que objectivamente são pobres já que o rendimento que auferem está abaixo da linha de pobreza10 definida actualmente. Apenas metade dos 28 indivíduos

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Segundo o INE (2011), a linha de pobreza é aquela abaixo da qual se considera que uma família se encontra em risco de pobreza. Este valor foi convencionado pela Comissão Europeia como sendo o correspondente a 60% do rendimento por adulto equivalente de cada pais.

Miséria Pobreza À beira da pobreza Situação suportável Pobre 3 11 9 5 Não Pobre 0 0 1 0 Pobreza subjectiva P o b re za O b je ct iv a

anteriormente identificados como pobres, consideram que vivem actualmente em situação de pobreza ou miséria. Os restantes indicam viver ‘à beira da pobreza’ ou numa ‘situação suportável’. Este facto é bastante preocupante pois indica que metade dos inquiridos tem uma visão distorcida da própria situação em que vivem, ou seja, objectivamente são pobres mas subjectivamente não se consideram como tal.

Importa também referir que no grupo do estudo apenas um indivíduo não é considerado pobre, uma vez que aufere rendimentos um pouco acima da linha da pobreza. No entanto, esse individuo tem plena consciência da fragilidade da sua situação, pois durante a aplicação do inquérito referiu considerar-se à beira da pobreza. Salienta-se também que a caracterização objectiva da situação de pobreza de um indivíduo é condicionada pela utilização do limiar de pobreza previamente definido.

Foi identificado pelos inquiridos como principal problema recorrente da sua condição, a incapacidade de fazer face a despesas não previstas. Durante a aplicação do inquérito foi referido por vários indivíduos que a sua grande preocupação é a incapacidade para adquirir os medicamentos prescritos inesperadamente ao agregado familiar. Muitas vezes recorrem ao crédito financeiro para pagar os medicamentos, ficam com dívidas na farmácia ou então optam por não comprar todos os medicamentos necessários. Nos casos

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dos agregados com crianças ou pessoas com doença crónica é-lhes dada normalmente prioridade na compra de medicamentos.

Como apresentado em seguida, e por ordem de importância decrescente, foi mencionada a incapacidade de suportar as despesas associadas à educação, em particular no inicio do ano escolar. No entanto, importa referir que a maioria dos inquiridos recebe apoio na educação dos filhos quer pelo sistema de SASE das escolas públicas quer pela Fundação CEBI, onde pagam mensalidades ajustadas aos seus rendimentos. Ainda assim, referem ter dificuldade em pagar as mensalidades todos os meses.

A terceira dificuldade mais mencionada é a incapacidade de cumprir com o pagamento de despesas habituais como renda, água, electricidade, passe social, etc. Importa referir que na maioria dos casos os rendimentos auferidos por estes indivíduos são quase na sua totalidade para pagar a renda da casa onde habitam. Estes indivíduos indicam que recorrem muitas vezes ao pagamento em parcelas da conta da electricidade. Outra despesa mencionada e com grande peso no orçamento familiar são os passes sociais necessários para o agregado familiar, principalmente para os indivíduos cujo local de trabalho não coincide com o da residência.

A aquisição de alimentos ricos em proteínas, como peixe e carne, torna- se difícil com rendimentos tão baixos. Aquando da aplicação dos inquéritos foi possível perceber que os agregados familiares com crianças se esforçam para conseguir manter uma dieta diária alimentar com carne e peixe pelo menos para as crianças, enquanto os agregados familiares compostos exclusivamente por adultos indicaram que não comem carne ou peixe todos os dias e que tentam na sua maioria subsistir com os alimentos que recolhem no banco alimentar da Fundação CEBI.

Em seguida, foi indicado como outro problema recorrente a incapacidade de pagar despesas médicas, fora do Serviço Nacional de Saúde, já que a maioria dos inquiridos está isenta do pagamento das respectivas taxas

moderadoras. Por último, foi considerado como problema do quotidiano, a incapacidade de adquirir electrodomésticos e equipamentos electrónicos, de adquirir uma semana de férias fora de casa ou de desfrutar de actividades de lazer como cinema, teatro, etc…

Quando inquiridos sobre a quem pedem ajuda perante as situações descritas na análise dos resultados da pergunta anterior, 35% dos inquiridos indica que recorre exclusivamente à ajuda da Fundação CEBI, nomeadamente ao banco alimentar, ao banco de roupa e ao apoio social e psicológico. Porém, 32% recorrem ao apoio da família, nomeadamente dos pais ou dos filhos (no caso dos idosos). Cerca de 20% recorre ao apoio de amigos, tratando-se na sua maioria de imigrantes sem família próxima em Portugal. 8% dos inquiridos pede ajuda a vizinhos e 5% admite recorrer aos colegas de trabalho.

No inquérito, foram apresentados aos inquiridos os 9 indicadores de privação material estabelecidos pela UE. Posteriormente, foi-lhes pedido que os ordenassem de acordo com as suas prioridades quotidianas.

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Obtivemos a seguinte ordenação apresentada na Tabela 3.

Tabela 3 - Indicadores de Privação Material

Os inquiridos indicaram o pagamento da renda e das outras despesas associadas à casa como a sua prioridade quando recebem o rendimento mensal. Importa salientar que o pagamento destas despesas tem um grande peso no orçamento familiar.

Em segundo lugar, os inquiridos indicam a capacidade de fazer uma refeição de carne e peixe diariamente. Embora indiquem “comer uma refeição de carne e peixe de 2 em 2 dias” como segunda prioridade, foi perceptível durante a aplicação do inquérito que com rara excepção isso acontece.

Indicador de Privação Material Ordenação

Pagar a renda da casa e outras despesas (água, electricidade) 1 Comer uma refeição de carne e peixe de 2 em 2 dias 2

Conseguir fazer face a despesas não previstas 3

Ter televisão a cores 4

Ter telefone Fixo 5

Pagar o aquecimento da casa 6

Ter máquina de lavar 7

Ter carro próprio 8

Conseguir fazer face às despesas inesperadas é uma das principais prioridades dos inquiridos, mas, devido à sua fraca capacidade de poupança, torna-se bastante difícil consegui-lo.

A televisão e o telefone são os bens/serviços mais importantes para os inquiridos, uma vez que é na televisão que a maioria encontra a sua única actividade de lazer e no telefone o meio de contacto mais utilizado.

Em sexto lugar, foi considerado o aquecimento da habitação, exclusivamente no Inverno, pois na sua maioria as habitações deste grupo de indivíduos têm problemas de isolamento térmico e de humidade.

Por último, foram considerados os aspectos “Ter máquina de lavar”, “Ter carro próprio” e “Passar uma semana de férias fora de casa”, respectivamente. Os inquiridos consideram estes três itens como supérfluos, referindo que com rendimentos tão baixos não têm capacidade para adquirirem estes bens/serviços quando existem necessidades mais prioritárias.

Partindo da ordem em que os inquiridos hierarquizaram as necessidades que lhes foram apresentadas, concluímos que em primeiro lugar os indivíduos indicam o que para eles é estritamente necessário. Ter uma casa com o mínimo de condições, com água e luz, torna-se o mais importante para estes indivíduos. Muitos inquiridos referiram que “ter um tecto com água e luz onde possam viver” e “não ficar sem um tecto para a família “ é o que os mais preocupa e que “todo o resto se vai ajeitando”. Foi possível também obter relatos de quem já teve habitação própria e que, por incumprimento do pagamento do respectivo crédito, optou por entregar a casa à entidade bancária e arrendar uma habitação: porque “a renda é mais barata e caso alguma coisa corra mal é mais fácil mudar para uma casa mais barata do que faltar com o pagamento”. Os motivos que levaram a esta opção prendem-se essencialmente com o desemprego do elemento do agregado familiar com maior rendimento monetário.

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Comer uma refeição de carne e peixe também se torna especialmente importante nos agregados familiares com crianças. Os indivíduos do grupo de estudo demonstraram enorme preocupação em assegurar que as suas crianças façam uma alimentação equilibrada. Muitos referiram que “põem de parte dinheiro para comprar carne e peixe” e que “muitas vezes fazem carne ou peixe para as crianças e os adultos comem sopa e pão”. Nos agregados familiares sem crianças foi possível concluir que comem apenas o que vão buscar ao banco alimentar, frescos e mercearias, fazendo só uma refeição de carne ou peixe uma vez por semana. Concluí-se que para estes indivíduos combater a carência alimentar dos filhos é uma das principais “lutas” do seu dia-a-dia.

Através do nosso inquérito percebemos que ter capacidade financeira para pagar uma despesa não prevista é uma das principais preocupações dos inquiridos. Durante a aplicação dos questionários foi referido muitas vezes que “gostariam de poder poupar para quando surgem despesas que não se espera” porque é “ingrato ficar a dever ou pedir dinheiro emprestado”. Quando surgem estas despesas inesperadas muitos referiram que “pediam para pagar em pequenas parcelas” ou então “ficavam a dever até receberem o subsídio de férias ou de Natal”. As despesas com saúde inesperadas normalmente associadas à descoberta de uma doença crónica num dos elementos do agregado familiar preocupam bastante estes indivíduos. Uma das mulheres inquiridas contou que um dos filhos é asmático e que as despesas mensais com tratamentos (cerca de 150 euros) pesam muito no orçamento familiar, referindo que “ é preciso fazer uma grande ginástica para conseguir que nada falte ao meu filho”. Uma das idosas inquiridas referiu que actualmente teve de recorrer ao crédito bancário para pagar as suas despesas de saúde pois não tinha outra forma para continuar os tratamentos de saúde que necessitava. Também uma outra idosa recorreu ao crédito bancário para pagar as dívidas do marido entretanto falecido: “herdei as dívidas mas não herdei nada para as pagar”. Os indivíduos, em particular os com crianças a seu encargo, mostram- se preocupados com a gestão das despesas ligadas à educação, como por exemplo quando ocorre um aumento das mensalidades escolares.

Quando à importância do aquecimento da habitação temos várias opiniões. Os indivíduos que vivem em casa com deficiências no isolamento térmico ou que têm crianças referem que durante o Inverno é que aquecem a casa. No entanto, importa referir que os equipamentos utilizados para o aquecimento da casa são exclusivamente os eléctricos, pois são os mais fáceis de adquirir ou que são oferecidos por familiares. Por sua vez, este facto interfere com o pagamento da electricidade cujo valor da factura aumenta nestes meses. Um dos inquiridos referiu ter pedido à EDP para efectuar o pagamento da factura em várias parcelas devido ao aumento do valor da factura. Por outro lado, temos um grupo de inquiridos que não usa aquecimento porque não quer aumentar a despesa com electricidade ou então porque não sente necessidade, usando outras formas para se aquecer, como mantas, etc.

Ter televisão a cores, telefone/telemóvel e máquina de lavar roupa é normal e indispensável para estes indivíduos. Quando os questionámos sobre terem televisão, a maioria referiu que é a única forma de lazer que tem pois não possui capacidade financeira para frequentar espectáculos ou cinema. Tentou-se perceber que outras actividades de lazer e sociais tinham os inquiridos, uma vez que estas podem facilitar a integração do indivíduo na sociedade. Concluímos que alguns destes indivíduos, em especial os idosos e os que vivem sozinhos, frequentam actividades de carácter religioso assim como também participam em actividades organizadas pelas associações e as instituições da freguesia.

O telefone/telemóvel para os inquiridos serve essencialmente para falar com os familiares que estão longe ou para dar recados. Os inquiridos que são imigrantes são os que mais utilizam o telefone para manter contacto com a família distante e obter notícias suas pois nunca mais voltaram ao seu país de origem. Estes últimos referem que ter telefone é uma das suas prioridades pois só assim conseguem manter os laços familiares e obter algum conforto afectivo.

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Durante a aplicação do inquérito foi questionado também se possuem computador com ligação à internet (sabendo-se à partida, através do Eurostat, 2010a, que a utilização da internet é baixa entre os indivíduos pobres). Apurámos que apenas cinco dos vinte e nove inquiridos têm computador com ligação à internet em casa. Na generalidade são agregados familiares com crianças e jovens em idade escolar. Estes inquiridos referem que possuem esse serviço uma vez que “hoje em dia é preciso computador e internet para os estudos”. Salienta-se que a falta de acesso à internet cria exclusão ao nível do acesso à informação e à enorme quantidade de serviços disponibilizados on- line.

Os bens referidos assim como a máquina de lavar roupa, são bens duráveis que todos os agregados familiares em estudo possuem. Assim, quando os inquiridos hierarquizaram as várias necessidades que lhes foram apresentadas a necessidade de adquirir estes bens ficou numa posição intermédia, mostrando que para estes indivíduos não é uma dificuldade uma vez que já possuem estes bens.

Quando questionámos os inquiridos sobre terem carro próprio, apenas 3 indivíduos indicaram possuir um. A maioria dos inquiridos não tem carro pois para além de ser “mais uma despesa”, “vivem perfeitamente sem ele pois nunca tiveram carro na sua vida”. Podemos concluir que os inquiridos dão menos importância a ter carro próprio que ao resto das outras dificuldades que lhes foram apresentadas. Os indivíduos que possuem carro referiram que têm carro pois estes foram comprados “quando tinham uma boa situação financeira’ mas que “viviam perfeitamente sem ele pois está parado na maioria das vezes”. Estes indivíduos não têm capacidade para manter um carro quer a nível da manutenção quer pelos seguros necessários. Por isso “dividem as despesas do carro com outros colegas ou familiares, uma vez que partilham o carro para ir trabalhar ou noutras ocasiões”. Conclui-se assim que, na generalidade, para estes indivíduos, ter carro é supérfluo.

Os inquiridos consideram que passar uma semana de férias fora de casa é totalmente supérfluo quando têm “despesas para pagar muito mais importantes para eles”, como as despesas relacionadas com a habitação, a alimentação e a saúde. Quando questionados sobre como passam a suas férias, indicam que “aproveitam para ir visitar familiares ou para resolver assuntos que não conseguem no dia-a-dia”. Só os elementos de agregados familiares com crianças é que referiram fazer “um esforço para levar os meninos à praia pelo menos um dia” ou então que recorrem a amigos ou familiares que vão de férias para levarem as crianças. Percebe-se que fazer uma semana de férias fora de casa é quase irreal no contexto sócio económico destes indivíduos e que é algo está completamente ausente das suas principais preocupações.

No gráfico 6 apresentam-se os resultados do cálculo dos indicadores de privação material para este grupo de indivíduos. Verifica-se que 93% dos inquiridos vive em situação de privação material, ou seja, tem dificuldade em aceder a pelo menos três dos noves itens indicados. A percentagem de indivíduos em situação de privação material severa é de cerca de 52%: entenda-se que estes indivíduos têm dificuldade de acesso a pelo menos quatro dos 9 itens considerados. Ao analisar a percentagem de indivíduos que tem dificuldade de acesso a cada item, podemos concluir que: 100% tem dificuldade em passar uma semana de férias fora de casa; 89,7% não tem disponibilidade financeira para comprar um automóvel por motivos financeiros; 86,2% tem dificuldade em pagar despesas não previstas; 58,6% não tem capacidade financeira para manter a casa aquecida; 51,7% atrasa os pagamentos das despesas relativas à habitação por motivos financeiros; 51,7% não tem capacidade para ter uma refeição de carne ou peixe pelo menos de 2 em 2 dias.

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Gráfico 6 - Privação material por item (%)

Importa salientar que todos os inquiridos têm disponibilidade financeira para adquirir televisão a cores, telefone ou telemóvel e máquina de lavar. Através desta constatação percebe-se que os indicadores de privação material actualmente definidos pelo Eurostat podem não se adequar à medição da exclusão social e da pobreza em diferentes contextos e realidades. É de considerar que os indivíduos estudados vivem numa situação de pobreza urbana comum nos centros urbanos, associada ao desemprego, precariedade no trabalho e aos baixos rendimentos. Neste caso específico faria sentido medir e analisar outras dimensões de privação material deixando de parte a disponibilidade financeira para adquirir bens como televisão a cores, telefone/telemóvel e máquina de lavar.

Quando questionados sobre o rendimento que gostariam de auferir, o valor que foi mais vezes mencionado foi o de 600 euros. Os inquiridos referiram que com esse montante já poderiam, para além de pagar todas as suas despesas, ainda poupar para eventuais despesas não esperadas. Importa referir que apenas um inquirido referiu não saber que valor mensal necessitava para viver numa situação considerada, por si próprio, confortável. Todos os

outros indicaram um valor para o rendimento que gostariam de auferir, demonstrando que têm total percepção dos seus encargos e da sua situação actual.

Ora, os 9 indicadores de privação material da UE consideram como iguais vários tipos de despesas. Medem a capacidade de fazer frente às despesas correntes de um agregado familiar, como a renda ou a alimentação mas também medem por exemplo a capacidade de adquirir um bem duradouro como um carro, o que poderá ser considerado como um outro tipo de consumo/investimento. Importa referir, também, que em muitos casos os indivíduos dão importância a possuir bens como carro ou televisão (apenas não têm capacidade financeira para os adquirir), o que pode trazer suscitar dúvidas analíticas. Este aspecto, já atrás referido, conduz à interrogação sobre se é correcto dar o mesmo peso aos indicadores de privação material.

As necessidades materiais variam de agregado para agregado, pois são o resultado das situações individuais de cada um dos elementos do agregado familiar. Esta heterogeneidade das necessidades dos agregados familiares e dos indivíduos e do seu modo de vida varia de acordo com os meios social, económico e cultural onde se encontram inseridos. Outros aspectos podem

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