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CAPÍTULO 5. METODOLOGIA DO ESTUDO

5.3. Caracterização da Região de Estudo

Com uma superfície de 476 km2, a ilha do Fogo é a quarta ilha de Cabo Verde em termos de superfície, albergando em 2006, uma população de cerca de 38127 habitantes, equivalente a 7,8% da população total de Cabo Verde e é também o quarto mais povoado do país.

A ilha do Fogo tem hoje três municípios, com a criação do município dos Mosteiros em 1992 e de Santa Catarina em 2005.

Em termos de potencialidades agrícolas é a ilha com maior vocação para produção de frutas no sequeiro com cerca de 64% do total de plantas fruteiras dispersas em produção, com destaque para papaieira, laranjeira, limoeiro, cafeeiro, videiras, azedinha, goiabeira e marmeleiro. Segundo o censo agrícola de 2004, existem na ilha cerca de 5735 explorações agrícolas, o que equivale a 13% do efectivo nacional, sendo que apenas 90 destas são de regadio. Quase todas as explorações agrícolas são do tipo familiar, e a área cultivável da ilha ronda os 70 mil litros, equivalente a 16% da área cultivável nacional, dos quais cerca de 62 mil litros foram cultivados em 2004 e a área cultivável no regadio quase não tem expressão no total das áreas cultiváveis.

Em termos de pecuária é a segunda ilha com maior vocação, com cerca de 17% do efectivo pecuário nacional, sendo de destacar as aves (60680), o gado caprino (26268) e o bovino (3070).

O sector produtivo do Fogo assenta na agricultura, no comércio e na construção, actividades que expõem as pessoas à pobreza. O nível de desemprego na ilha é dos mais elevados em

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Cabo Verde, com a taxa de desemprego em 2005 a atingir os 20%, cerca de 4% abaixo da média nacional.

Segundo dados do IDRF 2001/2002, o rendimento das famílias do Fogo era cerca de 2 929 826 contos, e provém sobretudo do trabalho (58%) e remessas de emigrantes (15%). Cerca de 47 % das despesas dos foguenses são consagrados à alimentação e bebidas não alcoólicas, 21% são aplicados na habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis e 8% no vestuário e calçado.

Cerca de 42% da população do Fogo é pobre, vivendo com cerca de 43250$/ano, e é a segunda ilha mais pobre de Cabo Verde, pois a pobreza nesta ilha é cerca de 5% superior à média nacional. O concelho de São Filipe alberga 13 das 18 zonas mais pobres da ilha, sendo que 4 estão no concelho de Santa Catarina e apenas uma nos Mosteiros que é efectivamente o concelho menos pobre da ilha.

O concelho de São Filipe foi o escolhido para efectuar o estudo de caso, concretamente a localidade de Patim. O critério para escolha das zonas baseou-se em características climáticas. Depois de alguma conversa com técnicos da delegação do ministério do ambiente e agricultura em São Filipe, ficou estabelecido que a localidade de Patim seria ideal pelo facto de ter algumas parcelas com regadio e com sistema de rega gota-a-gota. A localidade de Patim situa-se a Este da Cidade de São Filipe, a sede do Concelho, a uma distância de 7 km e é constituída por um grupo de pequenas zonas mais ou menos próximas entre si: Batente, Jardim, Patim, Luzia Nunes e Forno, sendo a localidade de Patim a mais expressivas em termos demográficos.

Existe uma estrada principal em boas condições que liga essas localidades à Cidade de São Filipe e a localidade sul da ilha, e uma outra secundária que dá acesso às localidades das zonas altas da ilha.

Caracteriza-se por uma zona árida ou semi-árida, onde a agricultura de sequeiro é normalmente de baixa produtividade fruto da fraca pluviosidade que normalmente se regista naquela localidade. Destaca-se inúmeras parcelas irrigadas com sistema de rega gota-a- gota, o que é facilmente verificado por quem se desloca de São Filipe para os Mosteiros via Sul. A população total ronda os 1179 indivíduos, sendo 552 homens e 627 mulheres, agrupadas em 218 famílias de uma média de 6 elementos, das quais 88 são chefiadas por mulheres. Cerca de 44% da população de Patim tem menos de 15 anos e apenas cerca de 7% tem mais de 65 anos, portanto, realidade muito semelhante a do resto do país que se caracteriza por uma população extremamente jovem.

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A população vive essencialmente dos trabalhos das FAIMO, da agricultura de sequeiro (normalmente de fraco rendimento) da pecuária e da pensão social. Um número significativo de parcelas agrícolas existentes nesta localidade é explorado em regime de parcerias, pelo que elas não pertencem aos exploradores. Normalmente pertencem às famílias emigradas ou proprietários com algum posse e os mais pobres praticamente não tem parcelas agrícolas.

As condições naturais dessa localidade explicam em parte a pobreza na medida em que sendo uma comunidade rural, as condições agro-ecológicas (zona árida) não permitem o desenvolvimento da agricultura e da pecuária de uma forma previsível a qual junta-se o facto de se tratar de ecossistemas relativamente frágeis. Nessa localidade a pluviometria é extremamente reduzida e muito instável no tempo, havendo anos de seca e com produção agrícola nula e com reflexos evidentes na produção alimentar e pecuária, levando as famílias a ficarem em situações de vulnerabilidade alimentar.

Para além das actividades agrícolas, as mulheres chefes de família derigem a pequena pecuária com a criação de animais (porcos, cabras, galinhas, etc.), todos de fraco rendimento, mas com reflexo na melhoria da dieta alimentar, atráves do consumo de proteína animal, e a pecuária funciona como uma fonte de rendimento potêncial.

Pelas conversas informais tida com os moradores, pudemos constatar que a taxa de desemprego é muito alta, nomeadamente na camada jovens e nas mulheres. Existem, embora de carácter sazonal, algumas frentes de trabalho, financiados quer pela Câmara Municipal de São Filipe, quer pela Delegação MAAP, através da Direcção Geral da Agricultura, Silvicultura e Pesca (DGASP) ou através da ABC10, através de parceiros internacionais como é o caso da ACDI/VOCA, entre outros, mas que não consegue absorver a mão-de-obra disponível que representa cerca de 38% da população de Patim (Furtado, 2004).

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