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CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO E DO ATERRO SANITÁRIO MUNICIPAL

O município de Campo Mourão está localizado na bacia sedimentar do Paraná, inserido também na bacia hidrográfica do Rio Ivaí, segunda maior do estado do Paraná, no terceiro planalto paranaense, sub-unidade morfoescultural do planalto de Campo Mourão, limitado pelo rio Ivaí, Piquiri e Paraná. Sua morfologia compreende os grupos Bauru (formação Caiuá) e grupo São Bento (formação Serra Geral), um predominantemente mais sedimentar e o outro, de origem ígnea e basáltica. Os solos presentes na região de Campo Mourão são Latossolos Vermelhos, Nitossolos Vermelhos, Cambissolos Háplicos e Argissolos Vermelhos-Amarelos (INSTITUTO DE TERRAS, CARTOGRAFIA E GEOLOGIA, 2006; SILVA; VAINE, 2001; CARNEIRO, 2014).

A vegetação da região caracteriza-se como Floresta Estacional Semidecidual, tendo como semidecidualidade sua principal característica fisionômica, fenômeno que ocorre nos estratos arbóreos superiores, sendo relação direta com parâmetros climáticos, decorrência de eventuais geadas e períodos de baixa precipitação pluviométrica, em sua estação desfavorável.

Distribuídas ao longo das regiões norte e oeste do estado, com altitude entre 200 m e 800 m, sua florística se apresenta mais empobrecida quando comparada com formações ombrófilas (RODERJAN et al., 2002).

Em relação ao clima, segundo Christopherson (2012), o Paraná em si apresenta predominância de clima Cfa (Clima subtropical úmido) e Cfb (Clima marítimo da costa oeste), ambos provenientes da classificação de Köppen-Geiger. Estes dois tipos são os mais comuns na região do município, proporcionando temperaturas nos meses mais quentes superiores a 22 ºC e a nos mais frios, inferior à 18 ºC. A temperatura média anual está entre 20 e 21 ºC. Os índices pluviométricos são em média de 1.400 mm e 1.500 mm anualmente, sendo na estação do verão, as maiores concentrações de chuvas, inversamente menores no inverno. Os ventos predominantes na região são provenientes do quadrante nordeste, tendo possivelmente geadas nos meses de inverno, quando ocorrem ventos do sul e sudoeste (PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO MOURÃO, 2018).

O município apresentou uma população de 87.194 habitantes conforme o senso em 2010, tendo estimativa para o ano de 2017 de 94.153 habitantes. Possui como principal atividade econômica a agricultura e pecuária, seguida do comércio, indústrias de transformação e construção civil (INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2018; IBGE, 2017).

Para o atendimento desta população e das atividades econômicas desenvolvidas na área urbana, a atual coleta e disposição final de resíduos sólidos urbanos é realizado por empresa terceirizada, atendendo toda esta área, redirecionando estes ao aterro sanitário municipal. O aterro sanitário municipal de Campo Mourão localiza-se a noroeste da sede municipal, no lote A-1, subdivisão da fazenda Indaiá, na região rural, a cerca de 10 km da área urbana, com acesso pela BR-487. Sua implantação teve início no ano de 2002, do qual obteve sua licença de operação em 2004, originado de um projeto com vida útil até 2019. A capacidade prevista no projeto contemplava 5 células de 50.000 m², resultando em uma área de ocupação total de 251.401,44 m² aproximadamente (GASQUES, 2015; CARDOSO, 2004; PMGIRS, 2018). Sua localização pode ser observada a seguir por meio da Figura 4.

Figura 4 - Carta de localização do aterro sanitário municipal de Campo Mourão - PR.

Do seu projeto inicial, a primeira e a segunda células construídas foram esgotadas em cerca de dois anos, cada uma, recebendo em torno de 57 toneladas diárias. A terceira célula com início de operação em 2006, esgotou-se em 2008 com aporte de 59 toneladas diárias recebidas ao longo de dois anos e a quarta célula construída, teve duração considerável. (GASQUES, 2015). A quinta célula esta operante desde 2016, da qual com base em uma projeção e estabelecido também pelo atual Diretor de Meio Ambiente de Prefeitura Municipal de Campo Mourão, recebe de 64 a 70 toneladas/dia de resíduos, direcionados ao aterro (PMGIRS, 2018; SANCHES, 2018).

A estrutura funcional básica do aterro consiste em: após a coleta no município, realizada diariamente, ocorre a pesagem dos resíduos, coletados por caminhões coletores e compactadores, em uma balança na entrada do aterro, para sua quantificação. Então, já nas células, estes são espalhados por um trator esteira sobre o solo (impermeabilizado) e recobertos com o mesmo, onde irão se decompor. Considerando isto, o aterro conta com um sistema de drenos horizontais, no formato de uma espinha de peixe, juntamente com caixas coletoras nas camadas e na base das células, para coleta do lixiviado produzido, que escoa

para um sistema de tratamento. Além disso, possui um sistema de coleta de gases que consiste em drenos cilíndricos de concreto em pontos estratégicos nas células e em sua área de ocupação (LIMA, 2008; GASQUES, 2015; CARDOSO, 2004).

O sistema de tratamento do lixiviado adotado consiste em lagoas em sequência: O recebimento do lixiviado bruto das células é feito por uma lagoa anaeróbia de 746 m² com 3 m de profundidade útil, 37,9 x 19,7 m de comprimento e largura, respectivamente, que tem sua saída para uma lagoa facultativa, com área de 2.075 m² aproximadamente, com 1,5 m de profundidade útil, comprimento e largura de 68,95 x 30,10 m. Desta, o efluente é direcionado para uma lagoa de polimento final, da qual segue para um sistema de infiltração no solo (LIMA, 2008; SANCHES, 2018). Um esquema do aterro com base em fotografias tiradas in

loco pode ser observado a seguir por meio da Figura 5.

Figura 5 - Esquema básico do direcionamento do lixiviado para o sistema de tratamento no

aterro sanitário municipal de Campo Mourão - PR.

Fonte: Lima, 2008.

Da totalidade dos resíduos recebidos pelo aterro, conforme amostragem presente no PMGIRS (2018), em sua maioria 45,56% são rejeitos; 21,71% correspondem a materiais recicláveis e 32,72% são tidos como matéria orgânica, oriundos de coletas feitas em bairros do Lar Paraná, Asa Leste e do centro da cidade em um total de 636,089 kg coletados. Devido a forma de coleta e destinação para aterro, realizada por meio de caminhões compactadores, ocorre a contaminação dos materiais considerados recicláveis e excesso de umidade nos resíduos. Esta umidade varia de 40 a 60% na composição da massa coletada, juntamente com

o contato de resíduos potencialmente contaminantes e perigosos como resíduos de saúde, eletroeletrônicos e de construção civil, em menor proporção na mistura, que também acabam sendo coletados. Isto só demonstra a possibilidade de geração de um lixiviado altamente complexo e nocivo para o meio ambiente.

A importância do tratamento correto do lixiviado produzido está intimamente ligada às características do solo e presença do lençol freático no local do aterro. Conforme estabeleceu Cardoso (2004), o solo da área do aterro possui profundidade de 8 a 10,50 m aproximadamente, com característica arenosa, constituído de areia fina e média (64,13%) mais silte (35,87%), bem drenado, com frequência de rochas areníticas da formação Caiuá. Assim, segundo este autor, o solo arenoso inconsolidado, usado também no recobrimento dos resíduos, possui características geotécnicas inadequadas para aplicação do aterro por pouca coesão e alto grau de erodibilidade.

Para tal, o mesmo considera que apesar do lençol freático ser relativamente profundo no local, é necessário um programa de monitoramento do mesmo em vista da importante posição que ocupa na região. Esta questão já encontra-se prevista no PMGIRS (2018) como ação: “Elaboração e execução de plano de remediação do atual aterro sanitário” em vista da vida útil restante do aterro e da possibilidade de contaminação pelo efluente quanto aos recursos hídricos, com prazo de execução previsto de até 2023.

Desta forma, pelas características apresentadas, em vista da facilidade de percolação e contaminação que o efluente pode ocasionar, considerando que o sistema biológico pode futuramente não ser suficiente para garantir a remediação total e atendimento aos padrões da legislação, em vista da evolução de recalcitrância do lixiviado, conforme já elucidado na fundamentação teórica, é necessário o estudo de uma alternativa para compor um tratamento mais completo. Tal sistema deve ainda ser proposto junto ao sistema de monitoramento a ser empregado, possibilitando um controle efetivo dos impactos sobre o meio ambiente. Assim, justifica-se também a elaboração e o conhecimento gerado para com este trabalho.