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PARTE III – PROJETO

11. SOLUÇÃO PROPOSTA PARA NSW

11.1 Caracterização da situação atual

Para caracterizar a situação atual ao nível nacional importa começar por descrever o papel das administrações portuárias enquanto Autoridade Portuária (AP). Neste papel, as administrações portuárias, suportadas por legislação nacional, têm por objetivo a gestão das infraestruturas portuárias e a coordenação e controlo das atividades dos diferentes operadores presentes no porto. De acordo com as definições da ESPO (2010), as Autoridades Portuárias em Portugal podem ser classificadas funcionalmente como Landlord e Community Manager. Hoje, as Autoridades Portuárias podem ser entendidas como gestoras do espaço portuário, facilitadoras e reguladoras do negócio e das atividades portuárias e parceiros estratégicos dos portos secos (hinterland) e de outros portos (foreland). Enquanto Community Manager, as AP assumem-se como facilitadoras nas atividades de resolução de estrangulamentos no seu hinterland, formação, lobbying, promoção e

marketing e de fornecedor de serviços de SI/TI. Este enquadramento do papel da AP em Portugal

é importante para entender o caminho realizado pelos portos, em conjunto com outras Autoridades (descrito no capitulo 5), no que diz respeito à implementação da Janela Única Portuária e, no caso do Porto de Sines, o alargamento deste conceito ao seu hinterland com a criação da Janela Única Logística (JUL).

A Figura 21 apresenta um mapa de alto nível da cadeia global de transporte identificando os principais passos no fluxo físico das mercadorias e os fluxos informacionais entre atores, distribuídos pelas camadas logística, transacional e governamental. Neste mapa, foi adicionado a representação do âmbito da Diretiva, no contexto da cadeia global de transporte. Tendo em consideração este âmbito, o retrato da situação atual que se segue apresentará a forma como são geridos os fluxos informacionais, entre os vários atores e camadas, necessários à entrada e saída de navios nos portos nacionais.

Figura 21 – Cadeia Global de Transporte

Fonte: (Van Oosterhout, Zielinski, & Tan, 2000), adaptado

A gestão destes fluxos informacionais pode ser organizada em torno de três processos: a apresentação dos atos declarativos, a análise da informação e a emissão dos despachos das autoridades essenciais à movimentação de navios, pessoas e bens nos portos.

Apresentação dos atos declarativos

Em termos gerais, de acordo com a legislação nacional, as formalidades de declaração necessárias à entrada e saída de navios nos portos nacionais são submetidos às diferentes autoridades, em cada porto de escala de um navio, através do sistema JUP existente em cada porto. Todas as formalidades de declaração previstas na Diretiva estão incluídas nos requisitos de informação exigidos nacionalmente.

A apresentação destes atos declarativos é realizada por uma das seguintes formas:

 Os Declarantes introduzem os dados em dois tipos diferentes de PCS (JUP e JUPII) que, neste contexto, atuam como Port Single Windows (PSW). Na sua maioria os dados são introduzidos manualmente preenchendo formulários web para o efeito.

 O manifesto de mercadorias pode ser declarado usando-se a mensagem EDIFACT IFCSUM, acordada com a Autoridade Aduaneira.

Alguns atos declarativos são apresentados de forma não estruturada (como por exemplo as lista de tripulantes e passageiros ou a declaração marítima de saúde).

Importa referir que o esforço de harmonização realizado pelos portos nacionais (apresentado no capítulo 5.2), embora assinalável, não produziu uma completa harmonização dos requisitos de informação e dos procedimentos para tratamento dos mesmos. Mesmo a mensagem IFCSUM, usada para entrega do manifesto de mercadorias (importação e exportação), acordada ao nível nacional com a Autoridade Aduaneira, tem algumas diferenças conforme o porto em que se está a declarar esta informação.

Análise da informação pelas autoridades

No que diz respeito à partilha de informação com as Autoridades Reguladoras, esta é feita de duas formas:

 Com a Autoridade Aduaneira existe uma integração bidirecional entre o sistema central desta Autoridade (SDS) e cada um dos PCS.

 As restantes Autoridades acedem a cada um dos PCS para consulta da informação apresentada pelos declarantes.

Para análise da informação as Autoridades usam, complementarmente à informação que têm disponível na JUP, outras ferramentas e fontes de informação internas.

Emissão de despachos

Tal como para a apresentação das formalidades de declaração, existe legislação que estabelece a JUP como o instrumento usado pelas várias Autoridades presentes nos portos para emitirem os seus despachos. Isto implica que, à exceção da Autoridade Aduaneira, as restantes Autoridades, após o processo de análise da informação nas suas ferramentas de trabalho, registem na JUP os seus despachos.

No que diz respeito às soluções tecnológicas, a Figura 22 apresenta a evolução do modelo de integração de atores, antes e depois da implementação dos sistemas JUP e JUPII nos portos nacionais, sendo evidente a enorme simplificação de fluxos informacionais para o mesmo contexto de negócio.

Contudo, na perspetiva de um ator que opere em dois portos, como por exemplo um agente de navegação, não existe um SPOC nacional no qual possam ser apresentados os atos declarativos. Este modelo, do ponto de vista da integração entre sistemas, obriga a uma gestão de múltiplos serviços aplicacionais com o mesmo propósito e assinaturas idênticas (como por exemplo no caso da integração entre o SDS e os vários PCS).

De notar que não existe qualquer partilha de informação entre portos nacionais ou com outros Estados-Membros.

Quanto às questões do domínio da Segurança da Informação, como resultado do processo de construção da JUP, todos os portos tem implementados os controlos essenciais para assegurar a confidencialidade, integridade e disponibilidade da informação. Contudo apenas a APS tem implementado um Sistema de Gestão de Segurança da Informação, certificado de acordo com a norma ISO 27001:2013, que inclui no seu âmbito o contexto da Diretiva.

Por último, no que diz respeito à governação, podemos afirmar que não existe uma metodologia e estrutura estabelecidas para a gestão de longo prazo do sistema como um todo. Concluídos os projetos de implementação da JUP, hoje cada porto tem as suas estruturas internas e locais para gerir o urbanismo destas soluções.

Tendo em consideração a exposição da situação atual, foi feita uma análise do grau de cumprimento dos requisitos da Diretiva por parte dos portos nacionais, cujo resultado é apresentado na Figura 23. Os requisitos marcados com a cor azul correspondem à situação particular dos portos sob gestão da APS.

Figura 23 – Grau de cumprimento dos requisitos da Diretiva 2010/65/UE em Portugal