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Caracterização da velocidade de leitura através da carta MNREAD_P

3.1.1 Objectivos

A carta MNREAD_P (Castro et al., 2005) foi adquirida à Universidade de São Paulo – Brasil e impressa de acordo com os critérios descritos no Capitulo II. Foi apresentada à amostra de 20 observadores em dois dias diferentes, com um intervalo de 48 horas.

A utilização da carta MNREAD_P e os parâmetros associados à velocidade de leitura obtidos irão permitir caracterizar a amostra de observadores, tornando os seus valores comparáveis com técnicas semelhantes a descrever nas secções futuras deste capítulo, no caso particular com a carta MNREAD_T. Como segundo objectivo pretende-se a avaliar a repetibilidade da carta MNREAD_P.

3.1.2 Determinação dos Parâmetros Associados à Velocidade de Leitura

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Foram medidos os tempos de leitura utilizando a carta MNREAD_P para os vinte observadores. Posteriormente foram calculadas as respectivas velocidades de leitura, utilizando a equação 3.1

[ppm] Equação 3.1

A variável erros na equação acima indica o número de palavras lidas incorrectamente ou não lidas pelo observador, bem como o acréscimo de palavras no parágrafo. Foi calculado o logaritmo de base 10 da velocidade de leitura, para cada observador.

O gráfico da Figura 1 representa os valores obtidos da velocidade de leitura para o observador F.M no primeiro dia de teste.

Figura 3.1 - Representação da velocidade de leitura para o observador F.M. utilizando a carta MNREAD_P. Os pontos representam o valor da velocidade de leitura (Log ppm) para cada um dos parágrafos apresentados.

Os pontos que se encontram aproximadamente alinhados, na parte superior do gráfico são indicativos da velocidade máxima de leitura, pois a média destes valores estará próxima do valor máximo da velocidade de leitura. O ponto que se encontra sobre o eixo das abcissas representa a acuidade máxima de leitura. O seu valor é determinado pelo parágrafo no qual o observador não consegue efectuar qualquer leitura por indicação ou quando a velocidade de leitura calculada apresenta como valor 0 ppm.

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Os valores obtidos para a velocidade de leitura foram modelados em função do tamanho do caracter utilizando a equação 3.2, obtendo-se a respectiva curva de tendência. A técnica utilizada para fazer o ajuste da curva baseou-se no método da diferença dos mínimos quadrados para determinar os parâmetros variáveis da equação, recorrendo ao Microsof Excel®. Foi utilizada a função descrita na equação 3.2 (Cheung, Kallie, Legge & Cheong, 2008b), para modelar a velocidade de leitura g(x) em (log ppm) versus tamanho do caracter x em (logMAR), onde 1, 2 e 3 representam respectivamente a

velocidade máxima de leitura, a taxa de variação da leitura e acuidade máxima de leitura.

onde,

Equação 3.2

O cálculo do erro utilizado no processo iterativo da diferença dos mínimos quadrados foi determinado através do quadrado da diferença entre a velocidade de leitura medida e a velocidade de leitura ajustada. Esta velocidade de leitura ajustada, utilizada no início do processo iterativo, foi calculada atribuindo às três variáveis 1, 2 e 3 valores

aleatórios. Esta operação é representada pela equação 3.3

Equação 2.3

O ajuste da curva baseia-se na modificação das variáveis 1, 2 e 3 de forma a minimizar o somatório do erro (Σ erro). Quando através do processo iterativo o somatório do erro atinge o valor mínimo, o processo é finalizado sendo os parâmetros da função 1, 2 e 3 representativos do melhor ajuste de curva.

Os valores utilizados para o cálculo do ajuste da curva seguindo o processo descrito anteriormente são apresentados na tabela 3.1, os quais são referentes ao observador F.M.

38 Tabela 3.1- Valores do tempo de leitura, erros de leitura e velocidade de leitura obtidos para o observador

F.M. A.V. (logMAR) Tempo leitura (seg) nº erros Velocidade de leitura (ppm) Velocidade de leitura (Log ppm) Velocidade de leitura ajustada (log ppm) Erro 1,2 4,102 0 146,256 2,165 2,219 0,002 1,1 3,850 1 140,249 2,147 2,219 0,005 1 3,741 0 160,381 2,205 2,219 0,000 0,9 3,197 0 187,670 2,273 2,219 0,002 0,8 3,769 1 143,282 2,156 2,219 0,004 0,7 2,818 0 212,955 2,328 2,219 0,011 0,6 3,381 0 177,483 2,249 2,218 0,000 0,5 3,881 0 154,615 2,189 2,215 0,000 0,4 3,742 0 160,363 2,205 2,209 0,000 0,3 3,871 0 154,991 2,190 2,193 0,000 0,2 3,807 0 157,613 2,198 2,156 0,002 0,1 6,202 1 87,0687 1,939 2,064 0,015 0 4,718 0 127,178 2,104 1,843 0,068 -0,1 4,309 9 13,923 1,143 1,305 0,026 -0,2 0 0 0 0 0 0 Σ erro 0,141

O gráfico da Figura 3.2 representa o ajuste da curva com base nos dados da tabela 3.1.

Figura 3.2 Representação da velocidade de leitura em função do tamanho de impressão para o

observador F.M.. Os pontos (Ο) representam os valores da velocidade de leitura calculados directamente do tempo e erros de leitura. A linha representa a velocidade de leitura em função do tamanho do caracter após ajuste da curva.

O somatório do erro para o ajuste da curva do observador F.M. apresenta um valor de 0,141 log ppm. Valor este que está situado acima da média dos erros obtidos no ajuste da curva para os dois dias de medição com a carta MNREAD_P (0,084 ± 0,063 log

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ppm). No entanto proporciona um traçado de curva muito próximo dos valores de velocidade de leitura medidos.

A tabela 3.2 apresenta um resumo dos valores da velocidade de leitura máxima, taxa de variação de leitura e acuidade de leitura máxima para os 20 observadores e nos dois dias de medição.

Tabela 3.2 - Velocidade máxima de leitura (Ø1), taxa de variação de leitura (Ø2) e acuidade máxima de leitura (Ø3) no dia 1 e dia 2 para os 20 observadores.

DIA 1 DIA 2 Observador ө1 (ppm) ө2 ө3 (logMAR) Σ erros ө1 (ppm) ө2 ө3 (logMAR) CS 2,227 2,830 -0,2 2,257 3,663 -0,2 FM 2,220 2,183 -0,2 2,218 3,153 -0,2 AM 2,240 1,903 -0,2 2,279 1,922 -0,2 CP 2,148 2,655 -0,3 2,241 2,815 -0,3 TM 2,120 3,106 -0,1 2,193 3,573 -0,1 OL 2,294 2,851 -0,1 2,302 2,792 -0,1 JM 2,344 3,238 -0,2 2,342 3,351 -0,1 DD 2,167 2,473 -0,3 2,189 2,955 -0,3 CT 2,129 2,791 -0,3 2,158 2,297 -0,3 PB 2,123 2,436 -0,4 2,126 2,796 -0,4 RF 2,227 2,830 -0,2 2,206 3,215 -0,3 NS 2,105 3,335 -0,2 2,083 3,266 -0,2 MC 2,015 2,731 -0,3 2,082 2,639 -0,3 TD 2,159 2,458 -0,3 2,182 2,354 -0,3 RV 2,201 2,768 -0,2 2,107 3,405 -0,2 PR 2,201 2,788 -0,2 2,201 3,747 -0,2 SS 2,126 3,566 -0,2 2,156 3,231 -0,2 AA 2,156 2,853 -0,2 2,179 2,852 -0,2 JV 2,183 2,482 -0,2 2,213 2,457 -0,2 VB 2,108 2,607 -0,3 2,121 2,625 -0,3

3.1.2.2 Variação no padrão da curva velocidade de leitura entre observadores

Dos vinte observadores incluídos no estudo foram seleccionados dois e sendo os respectivos resultados apresentados a título exemplificativo. Estes resultados são extensíveis aos restantes observadores que podem ser consultados em anexo (Anexo F).

A escolha destes dois observadores é representativa de dois padrões de curva de velocidade de leitura na população englobada no estudo. Para um grupo de observadores o traçado da curva de velocidade de leitura apresenta uma transição

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gradual de velocidade à medida que o tamanho do caracter diminui, situação representada por observador A.M.. Para outro grupo de observadores a transição da velocidade de leitura faz-se de forma “abrupta”, aqui representado pelo observador T.M.. Análise deste dois casos é feita seguidamente com repercussão para a os restantes observadores.

Os valores da velocidade de leitura e respectiva curva de ajuste para o observador A.M., são apresentados no gráfico da Figura 3.3. Os pontos e a linha azul dizem respeito aos valores obtidos para o dia 1 estando os valores referentes ao dia 2 representados a vermelho.

Figura 3.3 - Velocidade de leitura para a carta MNREAD-P (obs A.M.). Os pontos representam os

valores da velocidade de leitura para cada parágrafo calculado directamente a partir do tempo e erros de leitura. As linhas são representativas das funções de ajuste da velocidade de leitura. A cor azul diz respeito ao dia 1 e a vermelha ao dia 2. Os valores assinalados pela seta representam valores próximos da acuidade visual limite do observador.

A velocidade máxima de leitura apresenta uma deflexão, quando o tamanho do caracter se aproxima de 0.3 logMAR, seguindo-se de um decréscimo mais acentuado atingindo o seu limite numa acuidade de leitura de -0.2 logMAR. Existe um patamar onde a velocidade de leitura se mantém constante, neste intervalo o observador não manifesta qualquer dificuldade na leitura de palavras, nem comete erros significativos, encontrando-se num nível acima do seu limite de acuidade visual.Esta situação pode ser explicada pela reserva da acuidade de leitura, onde acima de 0.3 logMAR a diferença

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entre acuidade limite e a acuidade de leitura é elevada, permitindo ao observador ler à sua velocidade máxima.

Com a diminuição do tamanho do caracter a diferença entre a acuidade de leitura máxima e a acuidade de leitura diminuem tornando a reserva de acuidade mais baixa. Neste ponto a velocidade de leitura começa a decrescer, sendo também influenciada pelo incrementando do número de erros.

O ponto assinalado (por uma seta e um circulo) na Figura 3.3 representa uma acuidade visual próxima da acuidade visual máxima do observador, apresentando um decréscimo na velocidade de leitura e um aumento do número de erros. As instruções efectuadas por parte do instrutor para tentar adivinhar palavras nem sempre são tidas em consideração, levando em alguns casos o observador a desistir da tarefa de leitura antes de atingir o limite de acuidade. Este tipo de resultados pode ser observado na Figura 3.4 onde estão representados os valores da velocidade de leitura para o observador T.M.. Nesta situação não existe um valor de menor velocidade de leitura localizado a meio do declive (ponto assinalado anteriormente).

Figura 3.4 - Velocidade de leitura para a carta MNREAD_P (obs T.M.). Os pontos representam os

valores da velocidade de leitura para cada parágrafo calculado directamente a partir do tempo e erros de leitura. As linhas são representativas das funções de ajuste da velocidade de leitura. A cor azul diz respeito ao dia 1 e a vermelha ao dia 2.

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Neste tipo de observadores, os gráficos não apresentam uma deflexão gradual da velocidade de leitura, mas sim uma transição “abrupta” para a acuidade máxima de leitura. Uma das condicionantes deste tipo de teste, quando apresentado em clínica, deve-se ao facto de não existir uma população treinada para a realização do teste.

3.1.3 Análise dos parâmetros de velocidade de leitura

3.1.3.1 Velocidade Máxima de Leitura

A velocidade máxima de leitura, para os vinte observadores no primeiro dia apresenta uma média de 151.6 ± 26.4 ppm tendo sido no segundo dia foi 157.4 ± 26.1 ppm (p=0.48). Os valores demonstram que não existe diferença entre o valor das velocidades entre os dois dias.

Castro et al (Castro et al., 2005), utilizaram a carta MNREAD_P e obtiveram para uma amostra de vinte observadores adultos com acuidade visual normal uma velocidade de leitura máxima de 200.05 ±19.00 ppm. Valor este que se situa acima da velocidade máxima de leitura obtida em qualquer um dos dois dias do presente trabalho.

A diferença entre as velocidades de leitura máxima nos dois estudos pode ser explicada pela forma como o tempo foi contabilizado. No estudo presente o tempo foi contabilizado após um sinal sonoro, sendo este cronometrado por um programa em computador, existindo possivelmente uma dessincronização associada ao inicio e termino da leitura. No estudo realizado por (Castro et al., 2005) não é feita qualquer referência à forma como o tempo é contado, pelo que não pode ser feita nenhuma comparação entre os dois métodos de contagem de tempo.

Estudos de velocidade de leitura (Serra, P. 2009 comunicação pessoal) utilizando um sistema de gravação de voz compararam os tempos de leitura com os tempos obtidos através do método descrito neste estudo. Os resultados mostraram que existe em média uma diferença de aproximadamente 1 segundo entre os dois métodos, sendo o tempo de leitura inferior quando utilizado um sistema de gravação de voz. Retirando um segundo

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às velocidades máximas de leitura, obtém-se um valor de aproximadamente de 174 ppm (média para a totalidade dos observadores).

Outro factor, de baixa incidência, a ter em conta é a existência de palavras Português-Br na carta, que ao serem lidas por observadores de idioma Português-PT podem levar a um maior tempo de leitura, devido à diferença do vocabulário.

3.1.3.2 Tamanho Crítico de Caracter

O tamanho crítico de caracter (TCC) é definido como o tamanho de impressão que corresponde a 80% da velocidade máxima de leitura. A equação 4 é a expressão que permite obter o TCC deduzida a partir da equação 3.2 onde a variável x foi substituída por 0.8 Ø1.

Equação 3.4

O gráfico da figura 3.5 apresenta a linha de ajuste da velocidade de leitura em função do tamanho do caracter. O ponto assinalado a vermelho apresenta no eixo das ordenadas 80% da velocidade máxima de leitura (1.76 log ppm) e no eixo das abcissas apresenta um tamanho de impressão de aproximadamente -0.1 log MAR.

Figura 3.5 - Representação do tamanho crítico de caracter para o observador R.V. Ponto a vermelho

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O gráfico da figura 3.6 apresenta a relação entre o tamanho crítico de caracter e a acuidade máxima de leitura. Estas duas variáveis apresentam-se relacionadas positivamente sendo a sua relação semelhante em ambos os dias de observação (y= 0.637x+0.043, R2= 0.55, p<0.05 para o dia 1 e y= 0.717x-0.137, R2= 0.43, p<0.05 para o dia 2). A interligação verificada entre tamanho crítico de caracter e acuidade máxima de leitura, implica que um observador com menor acuidade máxima de leitura apresente também um tamanho crítico de caracter mais elevado. Consequentemente o intervalo de acuidades no qual este consegue manter a velocidade de leitura a um nível perto do seu máximo é reduzido.

Figura 3.6 Relação entre tamanho crítico de caracter e acuidade máxima de leitura, representação para os

dois dias de medições, para os 20 observadores.

3.1.4 Repetibilidade da carta MNREAD_P

A repetibilidade da carta de leitura MNREAD_P foi analisada através do método estatístico Bland-Altman (Bland & Altman, 1986) onde se comparam os parâmetros da velocidade de leitura (velocidade máxima de leitura Ø1, taxa de variação de leitura Ø2 e

acuidade máxima de leitura Ø3) para ambos os dias de teste.

Os gráficos de Bland-Altman são utilizados para avaliar a repetibilidade de um método através da comparação entre duas medidas. O coeficiente de repetibilidade (CR) pode

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ser calculado como 1.96, para um intervalo de 95% de confiança, vezes o desvio padrão das diferenças entre as duas medições (d1 e d2),

CR = 1.96 ×

Equação 3.5

Nos gráficos das Figuras 3.7, 3.8 e 3.9 são representações de Bland-Altman para Ø1 ,Ø2

e Ø3 respectivamente. Os pontos representam a diferença do parâmetro entre o dia 1 e

dia 2. A linha continua é indicativa da média das diferenças das medições entre os dois dias e as linhas a traço interrompido dizem respeito aos limites do intervalo de 95% de confiança calculados por,

IC (95%) = Média - CR Equação 3.6

3.1.4.1 Velocidade Máxima de Leitura

O gráfico da Figura 3.7 representa a diferença entre o parâmetro velocidade de leitura para os dois dias de medição. A disposição da maioria dos pontos (observadores) dentro dos limites do intervalo de confiança é indicativa da elevada repetibilidade deste parâmetro. Apenas um observador apresenta uma diferença de medições superior aos limites de confiança.

A média das diferenças (linha contínua vermelha) apresenta-se muito próxima do valor zero, isto indica que não existe um erro constante significativo. A posição da linha média abaixo do zero é indicativa de uma maior velocidade de leitura no dia 2, situação esta que pode ser associada a um fenómeno de aprendizagem ou familiarização com a tarefa na segunda medição.

A relação entre os valores medidos no dia 1 e dia 2 é acentuada pela sua correlação. Quando representados os valores da velocidade máxima de leitura do dia 2 em função do dia 1 estes apresentam-se consideravelmente relacionados (R2 = 0.726, p<<0.05).

46 Figura 3.7 Análise da repetibilidade da velocidade máxima de leitura para a carta MNREAD_P.

3.1.4.2 Taxa de Variação da Velocidade de Leitura

Quando analisada a repetibilidade da taxa de variação da velocidade de leitura (Figura 3.8), é possível constatar que todos os observadores apresentam diferenças que estão contidas no intervalo de confiança. A amostra de observadores apresenta uma maior variação da taxa de velocidade leitura no segundo dia comparando com o primeiro, este facto pode ser observado pela média da diferença da taxa de variação da velocidade de leitura (linha contínua vermelha), apresentando um valor negativo.

A análise da correlação entre as medições do primeiro e segundo dia (R2 = 0.335) sugere uma relação baixa entre as duas medições, no entanto estatisticamente positiva (p<0.05).

47 Figura 3.8 Análise da repetibilidade da taxa de variação da velocidade de leitura para a carta

MNREAD_P.

3.1.4.3 Acuidade Máxima de Leitura

A Figura 3.9 é a representação gráfica de Bland-Altman do parâmetro acuidade de máxima de leitura. A maioria dos pontos encontra-se sobre a linha continua média, apenas dois pontos se encontram fora do intervalo de confiança de 95%, sendo a média da diferença entre os dois dias igual a zero (linha continua sobreposta sobre o eixo das abcissas).

As medições dos dois dias apresentam ainda uma levada correlação R2=0.836 com

elevado valor estatístico p<<0.05, podendo-se afirmar que a carta MNREAD_P permite a medição de acuidades de leitura de forma altamente repetível. Possivelmente a razão que mais contribui para a maior correlação na acuidade máxima de leitura prende-se com o facto de que a acuidade visual de leitura está associada a um processo de reconhecimento de caracter menos dependente da performance de leitura do observador.

48 Figura 3.9 Análise da repetibilidade da acuidade máxima de leitura para a carta MNREAD_P.

49 3.2

Selecção de parágrafos

3.2.1 Objectivo

O primeiro objectivo desta secção consiste na selecção de um grupo de parágrafos, constituídos por palavras aleatórias para posterior elaboração de uma carta de leitura (MNREAD_T).

O segundo objectivo baseia-se na construção da carta MNREAD_T a partir os parágrafos previamente seleccionados.

3.2.2 Critérios Selecção

Os quarenta parágrafos iniciais foram sujeitos a dois critérios de selecção, sendo incluídos aqueles que cumprem ambas as condições. A saber:

O tempo de leitura do parágrafo tem que estar compreendido num intervalo de 90% de confiança calculado a partir do tempo médio de todos os parágrafos. A média dos desvios padrão para cada parágrafo, deve estar compreendida num

intervalo de 90% de confiança, sendo o valor médio a média dos desvios padrão de todos os parágrafos.

O primeiro critério permite retirar os parágrafos que apresentavam um tempo de leitura muito curto e muito longo. A aplicação do segundo critério permite excluir parágrafos que apresentavam oscilações significativas entre os tempos de leitura para os diferentes observadores.

3.2.2.1 Primeiro Critério de Selecção

O primeiro critério de inclusão, tem como objectivo a uniformização do tempo de leitura das frases. A média da velocidade média de leitura obtida para os 20 observadores, na leitura dos 40 parágrafos foi de 126.83 ± 4.63 ppm Os respectivos valores são demonstrados no gráfico figura 3.10,

50 Figura 3.10- Média da velocidade de leitura média dos 40 parágrafos para cada um dos observadores. As

barras verticais indicam o desvio padrão.

O primeiro critério utilizado na selecção dos parágrafos tem por objectivo eliminar os parágrafos que apresentam uma velocidade de leitura superior ou inferior ao intervalo de confiança de 90%.

A utilização de um intervalo de confiança de 90% permite assegurar que a velocidade de leitura dos parágrafos esteja compreendida num intervalo de ±10 ppm, contribuindo para um maior equilíbrio nos tempos dos parágrafos utilizados.

A figura 3.11 apresenta o valor médio da velocidade de leitura (linha interrompida) bem como os valores limite para um intervalo de confiança de 90% (linha contínua).

51 Figura 3.11- Média dos 20 observadores da velocidade de leitura média dos 40 parágrafos, inseridos dentro

do intervalo de 90% de confiança (linhas contínuas). A linha descontinuada indica a média da velocidade de leitura média para a totalidade dos parágrafos.

A maioria dos pontos está compreendida entre os limites do intervalo de confiança, apenas quatro dos quarenta parágrafos, não cumprem esta condição. Este resultado pode ser apoiado pelo facto de ao utilizar palavras aleatórias para a construção dos parágrafos, todos eles apresentarem uma dificuldade de leitura semelhante, pelo que será possível argumentar que os tempos de leitura não devem ser muito diferentes entre eles.

No estudo efectuado para validação da carta MNREAD_P (Castro et al., 2005) foram rejeitados parágrafos com desvios padrão superiores a 35 ppm em relação à média de todos os parágrafos. O critério aplicado no presente trabalho é mais estrito no que diz respeito à uniformização das velocidades de leitura, pois reduz o desvio padrão de 35 ppm para 10 ppm.

3.2.2.2 Segundo Critério de Selecção

A selecção dos parágrafos teve em conta o desvio padrão das velocidades de leitura para cada um dos 40 parágrafos. Desta forma foi determinado o desvio padrão médio de todos os parágrafos e calculado o intervalo de 90% de confiança. A figura 3.12 representa a aplicação deste critério de selecção para a população em estudo.

52 Figura 3.12- Desvios padrão da velocidade de leitura dos 40 parágrafos, inseridos dentro do intervalo de

90% de confiança (linhas contínuas). A linha descontinuada indica a média dos desvios padrão da velocidade de leitura dos 40 parágrafos.

As variações de velocidade entre observadores podem ter várias origens, entre as quais está a relação entre algumas palavras dos parágrafos, relação essa que induza uma leitura mais difícil originando um valor baixo de velocidade, ou que seja susceptível de originar erros (Hahn et al., 2006).

O valor obtido no desenvolvimento da carta MNREAD_P por (Castro et al., 2005) para a velocidade de leitura foi de 200.2 ppm, enquanto para o presente estudo o valor médio obtido foi de 126.8 ppm.

Esta diferença podem ser explicada por dois factores, o primeiro prende-se com a utilização de parágrafos com palavras aleatórias o qual em observadores menos experientes neste tipo de tarefa pode induzir uma velocidade de leitura mais lenta por falta de sentido no parágrafo de leitura.

Um segundo factor prende-se com o método de medição do tempo de leitura. O método usado para este procedimento supõe logo à partida um erro associado ao intervalo de tempo entre o instante no qual o examinador dá indicação de inicio da leitura e momento em que o observador começa a ler. Outro tipo de erro está relacionado com o final da

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