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3. AS REGIÕES DE CLIMA SEMIÁRIDO

3.2 CARACTERIZAÇÃO DAS REGIÕES DE CLIMA SEMIÁRIDO

Conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU), as regiões de clima semiárido representam quase um terço da superfície terrestre, abrigam cerca de um bilhão de pessoas e são responsáveis por quase 20 % da produção mundial de alimentos. Trata-se de uma área de grande importância social e econômica, mas que pode provocar, quando mal manejada, graves desequilíbrios no clima e na biodiversidade.

Hoje diversos índices têm sido utilizados para caracterizar a aridez dos climas das regiões em função das precipitações e temperaturas médias, insolação, evapotranspiração potencial, umidade relativa do ar, número de meses secos no ano, etc. Citam-se alguns índices daqueles citados pela American Meteorological Society (AMS, 2000), com valores limites e classificações indicadas nas Tabelas 3 a 7.

x Índice de Pluviosidade de Lang (proposto em 1925 segundo AMS, 2000), obtido com a expressão: R = P/T na qual:

P = precipitação anual (mm); e T = temperatura média anual (ºC).

Tabela 3 ± Índice de pluviosidade de Lang.

R CLIMA > 160 úmido 160 - 100 temperado úmido 100 - 60 temperado quente 60 - 40 semiárido 0 - 40 estépico

x Índice de aridez de Martonne (proposto em 1926, segundo AMS, 2000), obtido com a expressão: Ia = P / (T + 10) na qual:

P = precipitação média anual (mm); e T = temperatura média anual (ºC).

Tabela 4 ± Índice de aridez de Martonne.

Ia CLIMA > 60 hiper úmido 60 - 30 úmido 30 - 20 sub úmido 20 - 15 Semiárido (mediterrâneo) 15 - 5 árido (estépico) 5 - 0 hiper árido (desértico)

x Quociente pluviométrico de Emberger (proposto em1930, segundo AMS, 2000), obtido com a expressão: Q = (100*P) /(Mi2 - mi2) na qual:

P = precipitação média anual (mm);

Mi = temperatura máxima do mês mais quente (ºC); e mi = temperatura mínima do mês mais frio (ºC).

Tabela 5 ± Quociente pluviométrico de Emberger.

Q CLIMA

> 90 úmido 90 - 50 sub úmido 50 - 30 semi árido

30 - 0 árido

x Índice de Dantin-Revenga (proposto em 1940 segundo AMS, 2000), obtido com a expressão: DR = 100*T/P na qual:

P = precipitação média anual (mm); e T = temperatura média anual (ºC).

Tabela 6 ± Índice de Dantin-Revenga.

DR CLIMA

0 -2 úmido

2 - 3 semi árido 3 - 6 árido

> 6 extremamente árido (desértico)

x Índice de aridez de Thornthwaite (1941) e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, obtido com a expressão: Ia = P/PE na qual:

P = precipitação média anual (mm); e

PE = evapotranspiração potencial média anual (mm).

A recente definição de aridez deriva de uma metodologia desenvolvida por THORNTHWAITE (1941), a qual foi utilizada para a elaboração do Map of the World Distribution of Arid Regions, elaborado pela UNESCO em 1979, como resultado do Programa Hidrológico Internacional, iniciado em 1952.

A fórmula de Thornthwaite, como é conhecido o índice de aridez, foi posteriormente ajustada por PENMAN (1953), a fim de que se elaborasse a classificação que é hoje aceita e que tem servido de parâmetro para estudos em todo o mundo (SOUZA et al., 2004).

A razão entre essas duas variáveis foi utilizada para o estabelecimento das áreas de risco e a elaboração, em 1977, do Plano de Ação de Combate à Desertificação das Nações Unidas e do World Atlas of Desertification, publicado pelo PNUMA.

Conforme essa definição, o grau de aridez de uma região depende da quantidade de água advinda da chuva (P) e da perda máxima possível de água através da evaporação e transpiração ou da evapotranspiração potencial (ETP).

De acordo com o índice de aridez, são estabelecidas 5 categorias de clima, conforme indicado na Tabela 7.

Tabela 7 ± Índice de aridez de Thornthwaite. Ia CLIMA <0,03 Hiper-Árido 0,03 - 0,20 Árido 0,21 - 0,50 Semiárido 0,51 - 0,65 Sub-úmido seco > 0,65 Sub-úmido e úmido

As regiões hiper-áridas, áridas e semiáridas (Índice de aridez de Thornthwaite) representam cerca de 30 % da superfície terrestre e encontram-se nos diversos continentes. Significativas extensões de regiões áridas e semiáridas estão localizadas no Norte da África, na Península Arábica, na Austrália, na Ásia Central e, em menor grau, no Sudeste da África, parte da Costa do Pacífico na América do Sul, parte do México, alguns Estados nos Estados Unidos da América do Norte e no Nordeste Brasileiro (PETRY, 1999).

As terras áridas, semiáridas e sub-úmidas secas compreendem cerca de 51.720.000 km2 (MATALLO JR., 1998). Desse total excluem-se as áreas hiper-áridas (os desertos), que somam 9.780.000 km2. Na Tabela 8 é mostrado o total de terras do planeta e suas respectivas áreas por tipo de clima, utilizando-se o Índice de Aridez de Thornthwaite.

Tabela 8 - Total de terras por tipo de clima (valores em 10³ km2).

Clima África Ásia Austrália Europa América

do Norte

América

do Sul Antártida Total

Hiper Árido 6.720 2.770 0 0 30 260 0 9.780 Árido 5.040 6.260 3.030 110 820 450 0 15.710 Semiárido 5.140 6.930 3.090 1.050 4.190 2.650 0 23.050 Sub-Úmido seco 2.690 3.530 510 1.840 2.320 2.070 0 12.960 Área total 30.335 43.508 8.923 10.498 25.349 17.611 13.340 149.564 Fonte: Atlas Mundial Times, 1995.

Além das secas, as zonas áridas e semiáridas do mundo são caracterizadas pela presença da desertificação, fenômeno natural cujas relações causais estão referidas ao clima e ao uso inadequado dos recursos naturais. Significa dizer que a semiaridez, a desertificação e as secas constituem ocorrências naturais associadas, cujos efeitos são potencializados pela

ação do homem aonde, a degradação ambiental nos espaços sujeitos à aridez e à semiaridez alcança o seu limite com a desertificação (MMA, 2004).

Em relação aos trópicos semiáridos, estes apresentam por natureza não apenas periodicamente problemas de escassez de água, mas também problemas relacionados à qualidade da água. Considera-se assim necessário a intensificação dos esforços da gestão de recursos hídricos para garantir o abastecimento, assim como reduzir o consumo ou as perdas de água. Além disso, torna-se igualmente necessária a proteção e gestão ambiental dos ecossistemas aquáticos (água subterrânea, rios, lagos, águas costeiras) na qualidade de fundamentos para um abastecimento sustentável e de boa qualidade, como foi exigido e formulado entre outros pela ³Wasserrahmenrichtlinie´ Diretrizes da Água da União Européia (EU, 2000) ou pelo Ecosystem Health Concept dos Estados Unidos da América (EPA, 1998). A proteção de ecossistemas e uso de água necessita de uma discussão intensa e aberta que ainda não teve início em muitas partes da América Latina.

O desenvolvimento de uma gestão de recursos hídricos sustentável no semiárido é dificultado pelas condições climáticas instáveis. Estas resultam de períodos de precipitações intensas e secas extremas, provocando alternadamente, por um lado inundações e erosão e por outro lado períodos de seca. Em conseqüência das condições extremas, a fauna e flora limitam-se a animais de pouca tolerância e as espécies de grande tolerância, o que torna provável uma biodiversidade baixa. Tal biodiversidade baixa resulta numa capacidade tampão reduzida do ecossistema, de maneira que perturbações ou alterações nas condições ambientais resultam em grandes oscilações na composição das comunidades de espécies (biocenose) e na biomassa delas. As fortes oscilações serão ainda promovidas pela alta produtividade no semiárido, por conseqüência da alta intensidade da radiação solar e do desenvolvimento rápido de altas biomassas.

Várias metodologias de classificação e avaliação de ecossistemas aquáticos em região tropical foram desenvolvidas nas últimas décadas, mas foram poucos os estudos em região semiárida ou árida tropical, por exemplo, pela elaboração de um modelo da reserva (do ciclo) de água (BRONSTERT et al. 1999).