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3. Procedimento Experimental

4.3. Caracterização das Soldaduras com PWHT

Neste subcapítulo mostram-se os resultados da caracterização mecânica e microestrutural das soldaduras submetidas a tratamento térmico de solubilização. A caracterização mecânica contemplou a realização de ensaios de dureza e de tração em corte, com cargas monótonas, aos quatro tipos distintos de soldaduras. Não foram realizados ensaios com cargas cíclicas destas soldaduras.

Análise Metalográfica

Na Figura 4.13 mostram-se imagens das secções transversais das quatro soldaduras após tratamento térmico de solubilização. É claramente visível nestas imagens que o tratamento térmico de solubilização resultou num crescimento de grão anormal (AGG) na região do

Nugget, ou seja, na região das soldaduras sujeita a deformação plástica intensa e

recristalização durante o processo de soldadura. A ocorrência de AGG indica que a temperatura de solubilização foi suficientemente elevada para garantir a dissolução completa dos precipitados endurecedores, que além de conferirem resistência ao material, funcionam como barreiras ao crescimento de grão. No entanto, é também de notar que o crescimento anormal do grão não foi uniforme em todo o Nugget. Ou seja, é visível que o grão é claramente mais grosseiro, e orientado segundo a direção do fluxo do material, nas regiões do Nugget situadas na chapa superior, e apresenta dimensão menor, e formato equiaxial, nas regiões do Nugget situadas na chapa inferior. É também importante realçar que para as soldaduras efetuadas com menor passo, o crescimento anormal do grão, no lado do avanço, se estendeu da chapa superior para a inferior, indiciando a existência de continuidade microestrutural na região onde a interface entre as chapas foi suprimida pela ligação (Figura 4.14a). O mesmo não aconteceu no lado do avanço das soldaduras efetuadas com passo maior, para as quais é possível observar uma descontinuidade no tamanho/estrutura do grão na região da interface original das chapas (Figura 4.14b). O mesmo tipo de descontinuidade pode observar-se em todas as soldaduras, do lado do recuo, na região onde se localiza o defeito Cold Lap (Figuras 4.14a e 4.14b). Finalmente, pode ainda observar-se na Figura 4.13 que as soldaduras produzidas com menor passo apresentavam um grão mais grosseiro, após tratamento térmico, do que as produzidas com o passo de soldadura mais elevado. Esta variação no tamanho de grão indicia que o grão no Nugget seria também mais grosseiro, para estas soldaduras, antes do tratamento térmico que conduziu à ocorrência de AGG. Tal como

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explicado anteriormente, a passos de soldadura reduzidos está associada uma maior transferência de calor para o material a soldar, e assim sendo, a formação de grão mais grosseiro nas zonas afetadas pelo processo.

Figura 4.13. Secção transversal das soldaduras com PWHT. a) CL_1000_150. b) CL_800_250. c)

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Figura 4.14. AGG junto aos defeitos Hook e Cold Lap. a) soldadura CL_1000_150. b) soldadura CL_800_250.

Caracterização Mecânica

4.3.2.1. Ensaio de Dureza

Nas Figuras 4.15a e 4.15b mostra-se a variação da dureza, ao longo das secções transversais das soldaduras tratadas termicamente, na chapa superior e na chapa inferior, respetivamente. Como se pode observar na figura, o tratamento térmico de solubilização resultou na uniformização da dureza ao longo da secção transversal das soldaduras, tanto na chapa inferior, como na chapa inferior. A dureza média nas diferentes regiões da soldadura, e no metal base, após tratamento térmico, passou a ser de 137 HV, ou seja, bastante inferior à dureza original do metal base (177 HV). Este decréscimo de dureza é explicado pela dissolução dos precipitados endurecedores, tal como referido aquando da análise da metalográfica das soldaduras.

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Figura 4.15. Perfil de dureza na secção transversal das soldaduras com PWHT. a) linha de durezas da chapa

superior. b) linha de durezas da chapa inferior.

4.3.2.2. Ensaio de Tração

Na Figura 4.16 mostram-se agora os resultados dos ensaios de tração em corte das amostras das soldaduras tratadas termicamente. Na Figura 4.16a podem-se observar as curvas força- extensão e na Figura 4.16b os mapas de distribuição da deformação no instante em que as amostras atingiram a carga máxima. Tal como registado para as soldaduras não tratadas termicamente, também as amostras tratadas termicamente não mostraram variações significativas de resistência quando ensaiadas em tração (Figura 4.16a). Mais concretamente, para a generalidade das amostras, a rotura ocorreu para uma carga aplicada de

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aproximadamente 12 kN. No entanto, contrariamente ao registado para as soldaduras não- tratadas termicamente, as soldaduras tratadas termicamente apresentaram diferenças significativas no que concerne ao modo de rotura das amostras. Ou seja, enquanto as soldaduras realizadas com maior passo sofreram rotura por separação das duas chapas, paralelamente à interface original, as soldaduras efetuadas com menor passo sofreram rotura na chapa superior. Independentemente do modo de rotura, nenhuma das soldaduras apresentou deformação plástica significativa antes de atingir a carga máxima (Figura 4.16b).

Figura 4.16. Resultados do ensaio de tração em corte das soldaduras com PWHT. a) curvas força-extensão.

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Na Figura 4.17 mostra-se, a título de exemplo, a zona de rotura para uma amostra das soldaduras realizadas com menor passo. Como se evidencia na figura, a rotura nestas soldaduras ocorreu na zona de redução de espessura associada ao defeito Cold Lap, como registado anteriormente para as soldaduras não-tratadas termicamente (comparar Figura 4.10 e Figura 4.17). Mais concretamente, a rotura começa por se iniciar no ponto mais elevado do defeito Cold Lap, propagando-se até atingir a superfície da chapa superior.

Figura 4.17. Exemplo da zona de rotura para uma amostra realizada com menor passo de soldadura.

Na Figura 4.18 mostra-se agora a zona de rotura para uma amostra das soldaduras realizadas com maior passo. Como se pode ver na figura, a rotura ocorreu por separação na interface das chapas. Neste tipo de rotura, a fenda ter-se-á iniciado na ponta do defeito Cold Lap, propagando-se na horizontal, ao longo da largura resistente, até ao lado do avanço da soldadura. É ainda importante assinalar que a superfície de fratura coincide exatamente com a interface entre regiões com características microestruturais distintas.

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Os resultados anteriores permitem concluir que, independentemente da geometria da ferramenta, o modo de rotura das soldaduras tratadas termicamente varia em função do passo de soldadura utilizado na sua fabricação. Com efeito, como se constatou durante a análise das secções transversais das soldaduras tratadas termicamente, existe uma descontinuidade microestrutural clara na região da interface original das chapas das soldaduras realizadas com maior passo. Além desta característica, concluiu-se também que as soldaduras com maior passo apresentavam uma menor largura resistente (Figura 4.6), o que terá favorecido a concentração de tensões na interface aquando da solicitação em corte.

Na Figura 4.19 mostram-se as superfícies de rotura da amostra da Figura 4.18. A superfície na Figura 4.19a, corresponde à chapa inferior, e a superfície na Figura 4.19b, corresponde à chapa superior. Em ambas as imagens a região do defeito Cold Lap está delimitada a preto, mostrando mais uma vez que este defeito corresponde à existência de uma fenda plana, ao longo de toda a soldadura, no lado do recuo. A largura desta fenda é inferior ao comprimento do defeito Cold Lap, tal como foi considerado aquando da medição da largura resistente das soldaduras. Ou seja, os defeitos do tipo Cold Lap são compostos por uma zona onde a descontinuidade dos materiais é evidente, como se mostra nas Figuras 4.14 e 4.19, e por uma zona constituída por camadas continuas de óxidos, como se mostra nas Figuras 4.4 e 4.7. Além disto, a presença de estrias bem definidas nas superfícies de rotura, geradas pela passagem da ferramenta, indica que a interação /mistura dos metais base não foi continua/efetiva em toda a largura resistente da amostra. Com efeito, a existência de micro-cavidades na zona da interface foi referida aquando da análise das fendas de fadiga das soldaduras não-tratadas termicamente. A análise metalográfica das soldaduras tratadas termicamente resultou também numa importante descontinuidade microestrutural, a qual indica mecanismos de deformação diferentes para o material acima e abaixo da interface de ligação.

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Figura 4.19. Superfície de separação da soldadura FT_1000_150.

A realização dos ensaios de tração em corte às soldaduras com tratamento térmico permitiu concluir que nem a variação nos parâmetros do processo, nem a alteração da geometria da ferramenta, tiveram influência significativa na resistência da ligação. Apesar disso, observou-se uma forte influência do passo de soldadura na microestrutura das soldaduras e dos provetes em tração. Ambos os fenómenos estarão relacionados com a assimetria de mistura (stir) dos metais base na zona da interface, durante a ligação, para as soldaduras produzidas com passo maior.

Conclusões

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