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4 CAMINHOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

4.6 Caracterização das variáveis de interesse

Consideramos que houve violência contra gestantes quando a entrevistada respondeu afirmativamente a uma ou mais perguntas de diagnóstico de violência (perguntas T1 a T13), as quais compuseram, com outras, o Bloco T do QUESTIONÁRIO DO PRÉ-NATAL AUTOAPLICADO.

Dissemos que houve violência psicológica quando a gestante assinalou “uma vez”, “poucas vezes” ou “muitas vezes” para uma das seguintes perguntas: a) “Insultou-a ou fez com que você se sentisse mal a respeito de si mesma?”; b) “Depreciou ou humilhou você diante de outras pessoas?”; c) “Fez coisas para

assustá-la ou amedrontá-la de propósito (p.ex.: a forma como a olha, como grita, quebra coisas)?”; e d) “Ameaçou machucá-la ou a alguém de quem você gosta?”.

Violência física foi considerada presente na gestação quando a entrevistada marcou “uma vez”, “poucas vezes” ou “muitas vezes” para alguma dessas cinco questões: a) “Deu-lhe uma tapa ou jogou algo em você que poderia

machucá-la?”; b) “Empurrou-a ou deu-lhe um tranco/chacoalhão?”; c)

arrastou ou surrou você?”; e) “Tentou estrangular ou queimou você de propósito?” e f) “Ameaçou usar ou realmente usou arma de fogo, faca ou outro tipo de arma contra você?”.

Para diagnóstico de violência sexual, as perguntas foram as que se seguem: a) “Forçou-a fisicamente a manter relações sexuais quando você não

queria?”; b) “Você teve relação sexual porque estava com medo do que essa pessoa pudesse fazer?”; e c) “Forçou-a a uma prática sexual que você considera humilhante?”. As entrevistadas deveriam assinalar a uma dessas

questões para que se considerasse como tendo existido violência no período gestacional em curso.

Violência recorrente foi a que houvesse tido mais de um episódio. Foi identificada a partir da respostas “poucas vezes” e “muitas vezes”.

A expressão violência geral reuniu os tipos psicológico, físico e sexual, de ocorrência tanto no âmbito do doméstico e familiar quanto na vida comunitária.

Violência doméstica e familiar foi compreendida como qualquer violência praticada por um desses sujeitos, independente de coabitação: parceiros íntimos, ex-parceiros íntimos, familiares e outros sujeitos residentes com as gestantes e familiares que não coabitavam com elas.

Violência comunitária foi definida como qualquer tipo de agressão praticada por vizinhos, conhecidos e desconhecidos.

Violência com complicações foi a que deu origem a pelo menos um problema de saúde, segundo entendimento da gestante.

Chamamos de atual parceiro íntimo ao marido/companheiro/namorado da gestante da época da entrevista, independente de coabitação.

Definimos como variáveis desfechos para investigação de associação entre exposição-efeito: a) violência psicológica contra gestantes; b) violência física- sexual contra gestantes. Para afirmar que tenha havido o desfecho violência psicológica, foi necessário que a entrevistada houvesse respondido a pelo menos

uma das quatro perguntas de diagnóstico de violência psicológica. Com relação à violência física/sexual, ela teria de assinalar afirmativamente uma ou mais opções das nove perguntas sobre esses dois tipos de violência.

As variáveis independentes, construídas a partir de características demográficas, socioeconômicas e comportamentais de gestantes ou de parceiros íntimos e chefes de família, foram as que se seguem:

1. Idade cronológica (gestantes, parceiros íntimos e chefes de família): a idade cronológica é uma variável numérica contínua, definida como a idade em anos completos.

2. Grupos etários (gestantes e parceiros íntimos): variável categórica nominal composta por três grupos estratificados segundo intervalos de idade cronológica, a saber. a) grupo de adolescentes (idades de até 19 anos completos); b) grupo de jovens não-adolescentes (idades variando de 20 a 24 anos completos); e c) grupo de adultos (25 anos ou mais). Para estabelecer esta estratificação, utilizamos as orientações das Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 2011a).

3. Grupos etários de chefes de família: variável categórica dicotômica composta por dois grupos estratificados segundo intervalos de idade cronológica, a saber: a) grupo de jovens (idades de até 24 anos completos); b) grupo de adultos (25 anos ou mais). A justificativa para dois grupos em vez de três foi porque apenas sete chefes tiveram idades de 17 a 19 anos (BRASIL, 2011a). 4. Componentes das famílias das gestantes: variável categórica nominal,

organizada em seis grupos: a) gestante reside só; b) gestante e um ou mais filhos; c) gestante e seus familiares, com ou sem filhos; d) gestante e parceiro íntimo, com ou sem filhos; e) gestante, parceiro íntimo e familiares, com ou sem filhos; e f) gestantes e outros, com ou sem filhos.

5. Situação conjugal da gestante: variável categórica nominal organizada em três grupos, a saber: a) casada/união consensual; b) solteira/viúva; e c) divorciada/desquitada. Organizamos os grupos pela forma como poderiam estar se relacionando com um parceiro íntimo.

6. Coabitar com parceiro íntimo: variável categórica dicotômica, organizada segundo a situação de residir (1) ou não (0) com um parceiro íntimo, independente da situação conjugal.

7. Número de moradores no domicílio: variável categórica nominal, organizada em quatro grupos: a) um componente; b) dois, três e quatro componentes; c) cinco, seis, sete e oito componentes; d) nove ou mais componentes.

8. Número de moradores por dormitório: variável categórica nominal, organizada em três grupos: a) uma pessoa por dormitório; b) duas pessoas por dormitório; c) três ou mais pessoas dormitório.

9. Número de filhos vivos: variável categórica nominal, organizada em quatro grupos: a) sem filhos; b) um filho; c) dois filhos; e d) três ou mais filhos.

10. Último nível de ensino (gestantes, parceiros íntimos e chefes de família): variável categórica nominal composta por três grupos, a saber: a) Ensino Fundamental (compreendeu da primeira à oitava série do atual Ensino Fundamental e o antigo Primário e Ginásio); b) Ensino Médio (o atual Ensino Médio e o antigo Secundário); e c) Ensino Superior (algum Curso de Graduação iniciado ou concluído).

11. Trabalho remunerado (gestante e parceiro íntimo): variável categórica dicotômica, considerada não (0) e sim (1).

12. Grupos de ocupações (gestante, parceiro íntimo e chefe de família): variável categórica nominal constituída em quatro grupos: a) diretor/gerente de grandes estabelecimentos; b) funções de nível superior; c) técnicos de nível médio e gerentes de pequenos estabelecimentos; e d) manuais e de outros tipos.

13. Relações de ocupação (gestante, parceiro íntimo e chefe de família): variável categórica nominal constituída em quatro grupos: a) autônomo(a), a saber, tinham seu próprio negócio; b) assalariado(a); c) empregador(a) ou dono(a) de empresa; e d) ocupações esporádicas.

14. Renda familiar inferior ao salário mínimo nacional: variável categórica dicotômica, com dois grupos: a) não (0); b) sim (1).

15. Classes econômicas: variável categórica dicotômica definida como o total de vários bens e o curso do chefe de família e organizada em dois grupos: a) classes econômicas A/B/C; e b) classes econômicas D/E. O Critério de Classificação Econômica Brasil estima o poder de compra da população (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISA, 2010).

16. Salário mínimo necessário DIEESE: variável categórica dicotômica definida como o total de renda de todos os componentes da família com trabalho remunerado e atingindo o valor recomendado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (DIEESE): a) não (0); b) sim (1). Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos, salário mínimo necessário é aquele capaz de atender às necessidades vitais de uma família formada por dois adultos e duas crianças (DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS ECONÔMICOS, 2010). A média, para o período de fevereiro a dezembro de 2010, foi R$ 2.121,43. 17. Dimensão material do apoio social inferior ao percentil 75: variável categórica

dicotômica organizada em dois níveis: a) não (adequado); b) sim (inadequado).

18. Dimensão emocional/informação do apoio social inferior ao percentil 75: variável categórica dicotômica organizada em dois níveis: a) não (adequado); b) sim (inadequado).

19. Dimensão afetivo/interativo do apoio social inferior ao percentil 75: variável categórica dicotômica organizada em dois níveis: a) não (adequada); b) sim (inadequada).

20. Início do pré-natal no primeiro trimestre gestacional: variável categórica dicotômica, estabelecida como sim (1) se a gestante teve sua primeira consulta de pré-natal como menos de 120 dias de gestação.

21. Consulta de pré-natal exclusivamente em serviços públicos: variável categórica dicotômica, estabelecida como sim (1), se a gestante teve suas consultas de pré-natal realizadas exclusivamente no Sistema Público de Saúde, e não (2), se ela compareceu a consultas em serviços privados.

22. Abuso de álcool pela gestante durante o período gestacional: variável categórica nominal constituída em três grupos: a) não (nunca ingeriu bebida alcoólica e nunca ingeriu quatro ou mais doses de bebida alcoólica na atual gestação, em uma única ocasião); b) raramente (quando a gestante ingeriu quatro ou mais doses de bebida alcoólica em uma ocasião em intervalo maior que um mês); e c) frequentemente (reuniu quem ingeriu quase todos os dias a uma a três vezes ao mês). Consideramos que a gestante fez uso abusivo de álcool quando ela consumiu quatro ou mais doses de bebida alcoólica em uma ocasião (BRASIL, 2010).

23. Uso de drogas ilícitas pela gestante até três meses antes da atual gestação: variável categórica dicotômica, com dois grupos: a) não (0); b) 1 sim (1). 24. Sujeito chefe de família: variável categórica nominal definida como a pessoa

de maior renda no domicílio e constituída em três segmentos: a) gestante; b) parceiro íntimo; e c) outros.

25. Sexo do chefe de família: variável categórica dicotômica definida como o sexo da pessoa de maior renda no domicílio e constituída em dois grupos: a) masculino (1); b) feminino (2).