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Capítulo 3 – Estudo de caso: o Arquivo da Sé de Portalegre

3.2. Caracterização do Arquivo da Sé de Portalegre

O comumente designado Arquivo da Sé de Portalegre não existe enquanto instituição autónoma, nem enquanto serviço de arquivo constituído na dependência de uma instituição. Neste caso, o termo arquivo permite identificar um acervo documental depositado no espaço físico da Sé de Portalegre e de que é detentor o Cabido da Sé de Portalegre, instituição eclesiástica que hoje, entre as suas funções, deve, também, salvaguardar o património informacional das instituições que ao longo dos séculos actuaram no espaço físico da Sé e que ali deixaram o seu testemunho. Neste sentido, o Cabido da Sé de Portalegre apresenta-se como entidade custodial que tem à sua guarda documentação produzida por diferentes produtores, chamando-se à atenção para o facto de este arquivo não ser designado por Arquivo do Cabido da Sé de Portalegre pois seria redutor e induziria os investigadores em erro. Assim, a designação de Arquivo da Sé de Portalegre além de identificar um espaço físico que possui um acervo documental, respeita também a forma como este acervo tem sido reconhecido quer por investigadores, quer pela instituição que custodia o acervo.

O ASP, que se pode considerar um arquivo definitivo na medida em que apenas contém documentação considerada de valor histórico, foi recentemente intervencionado no âmbito do projecto intitulado Arquivo da Sé de Portalegre: organização, descrição e difusão online, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. O projecto teve como objectivos a organização e inventariação total da documentação existente na Sé de Portalegre, o seu adequado acondicionamento, bem como a sua difusão em linha através da base de dados Fundos Documentais de Instituições do Sul (FUNDIS)40.

Com a finalização do projecto observou-se que o conjunto documental do ASP cobre um período cronológico que abrange os séculos XII a XX, tendo em consideração que o documento mais antigo é anterior à existência da instituição Cabido da Sé de Portalegre (fundada em 1556) como resultado da integração de documentos de outras proveniências. O arquivo possui cerca de 39 metros lineares de documentação, onde se encontram centenas de livros e milhares de documentos avulsos, actualmente acondicionada em 233 caixas que se encontram dispostas em cerca de 6 estantes.

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Relativamente aos suportes predomina o papel, existindo também alguns documentos avulsos em pergaminho, nomeadamente fragmentos de documentos diversos que foram reaproveitados como capas de livros e arrancados posteriormente dos mesmos41.

O arquivo espelha as acções levadas a cabo pelas entidades incumbidas de assegurar todo o serviço necessário na Sé de Portalegre ao longo dos séculos, quer de ordem espiritual, quer de ordem temporal. Contém também documentação de instituições externas cujo percurso de integração na Sé se desconhece. Segundo Farrica e Caeiro (2014) foram identificados dezassete produtores de informação dos quais se destacam o Cabido da Sé de Portalegre, a Fábrica da Sé de Portalegre, o Cabido da Sé de Elvas, a Câmara Eclesiástica da Guarda, a Mitra Episcopal de Castelo Branco e o Tribunal Eclesiástico de Castelo Branco.

A documentação de instituições que não as directamente relacionadas com a Sé de Portalegre surge no ASP porque aquando da extinção ou anexação de territórios em parte ou na totalidade à Diocese de Portalegre, o Cabido da Sé de Portalegre passou a administrar os bens e a dar cumprimento aos encargos que competiam anteriormente às instituições extintas e/ou anexadas. Para o cumprimento destas funções era necessária a consulta de documentação e, como tal, com a anexação das Dioceses da Guarda, Castelo Branco e Elvas à Diocese de Portalegre foi incorporada no arquivo documentação proveniente de instituições capitulares e diocesanas dessas dioceses. Contudo, refere-se a excepção da documentação do Cabido da Sé de Castelo Branco que ainda hoje se encontra depositada na Sé daquela cidade. Observa-se, assim, que o ASP possui documentação de distintos produtores, funcionando o arquivo como espaço físico que guarda um acervo documental de diferentes entidades.

O ASP possui, também, documentos musicais, manuscritos e impressos, num total de cerca de 1,5 metros lineares, onde se encontram dezenas de documentos avulsos, 9 livros manuscritos e 9 livros impressos. Nestes documentos existe mais de uma centena de obras musicais, maioritariamente música sacra para as cerimónias litúrgicas, sendo a maioria de autoria anónima. As obras musicais são

41 Martins (1997), no último capítulo do seu livro, faz a identificação de cada um dos pergaminhos, bem

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maioritariamente para as horas do ofício divino e ordinário da missa, contemplando responsórios, salmos, missas, antífonas, hinos, etc. Por fim, indica-se que o período cronológico da documentação musical abrange desde o início do século XVIII ao início do século XX.

O Cabido da Sé de Portalegre tem ainda à sua guarda o que se pode denominar uma biblioteca de livro antigo com cerca de 4 metros lineares, essencialmente composta por livros litúrgicos42, livros musicais impressos e de direito canónico.

42 Para o presente estudo, e de acordo com a página em linha do Secretariado Nacional de Liturgia,

consideram-se livros litúrgicos aqueles que contêm os textos e as indicações para a celebração litúrgica oficialmente regulamentados e editados pela Igreja Católica, em oposição a livros musicais que contêm música composta por um determinado compositor, mesmo que o texto seja de origem sacra.

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Capítulo 4 – A organização e a descrição dos documentos musicais do