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Caracterização do contexto (escola, professores, alunos)

Capítulo III Procedimentos metodológicos

3.2 Caracterização do contexto (escola, professores, alunos)

A escola onde a pesquisa de campo foi realizada é local de trabalho da pesquisadora desde 2012 e foi escolhida pela facilidade de acesso a alunos e professores e por causa da disponibilidade dos professores em colaborar com o estudo. É uma escola pública da rede estadual de ensino que está localizada no interior do estado de São Paulo. Apresenta bons índices em avaliações externas, como o Idesp, sendo esse índice objeto de divulgação na comunidade, o que acaba atraindo pais e alunos em busca de um ensino público e gratuito de qualidade.

É uma escola pequena, atendendo aproximadamente duzentos alunos, que têm aulas em dois períodos: em 2014 (ano em que a pesquisa foi desenvolvida), no período manhã, eram quatro classes, nono ano do Ensino Fundamental e primeira, segunda e terceira séries do Ensino Médio, e no período da tarde, mais quatro classes, do sexto ao oitavo ano do Ensino Fundamental. Possuía apenas uma classe por série de ensino, à exceção do sexto ano, que contava com duas classes nesse ano. Tem uma estrutura física que conta com quatro salas de aula, uma sala de professores, uma sala de informática, que não funcionou durante o período letivo de 2014 por falta de instalação de equipamentos, quadra coberta, pátio com refeitório, banheiros masculinos e femininos para alunos e professores, três salas pequenas para a secretaria, direção e coordenação pedagógica, além de uma área aberta relativamente grande, com jardins, árvores e mesas que são utilizadas nos intervalos de aulas e em atividades de aula fora das salas. Com relação aos recursos tecnológicos, possui um aparelho de Datashow por sala de aula, recém adquiridos à época por meio de recursos advindos de um evento de arrecadação promovido pela comunidade escolar.

O público atendido pela escola é composto principalmente por filhos de moradores do bairro, de classe média, que muitas vezes estudam juntos desde a pré-escola. Ao chegar ao terceiro ano do ensino médio, então, os alunos têm grande intimidade entre si, embora, nessa etapa do ensino, muitos solicitem transferência para estudar em escolas particulares, ou precisem estudar à noite por causa de trabalho. Há ainda os que passam em processos seletivos de escolas técnicas da região, o que acaba diminuindo a quantidade de alunos nesse nível na escola, apesar de alunos de outras escolas da região ingressarem nessas séries. O ingresso de novos alunos faz com que as classes de Ensino Médio fiquem mais heterogêneas do que o

Fundamental, com alunos oriundos de regiões mais distantes, apesar de serem classes menos numerosas.

Quanto aos professores, por ser uma escola pequena, a instituição não conta com muitos professores efetivos lotados na casa. Dos vinte e um professores atuantes em 2014, sete professores eram efetivos da própria escola, sendo que apenas dois estavam na escola há mais de três anos. Os outros professores completavam sua jornada de trabalho na escola, o que resulta em muitos professores para uma pequena quantidade de aulas, especialmente no Ensino Médio, em que disciplinas como Química, Física, Biologia, Sociologia e Filosofia contam com apenas duas aulas semanais. Assim, muitas vezes, os professores dessas disciplinas vão apenas uma ou duas vezes por semana para a escola, não se envolvendo mais diretamente com as atividades promovidas pela comunidade escolar, o que acabou interferindo em uma dimensão considerada importante para o trabalho desenvolvido, principalmente para os alunos, que é a dimensão avaliativa, como será melhor exposto posteriormente.

O ensino médio na escola é recente. Até 2009, a escola oferecia apenas o ensino fundamental e, a partir de 2010, por causa da demanda, o ensino médio foi sendo implementado gradualmente, com a primeira turma se formando em 2012. A classe em que a pesquisa foi desenvolvida é a terceira série, que também é a terceira turma que concluiu o ensino médio na escola.

Essa classe tinha poucos alunos, apenas 20, quantidade consideravelmente baixa em uma rede em que classes com até 50 alunos no ensino médio são relativamente comuns. Dos vinte alunos, catorze estudavam juntos desde pelo menos a quinta série do ensino fundamental e seis ingressaram na escola no Ensino Médio. Eram dez alunos do sexo masculino e dez do sexo feminino. Geralmente, ficavam divididos em três grupos na sala de aula, mais duas alunas que não se envolviam com nenhum dos grupos, conforme nossas observações preliminares.

Os professores colaboradores inicialmente eram a professora I., de Língua Portuguesa, efetiva na escola há aproximadamente dez anos e que ministrou aulas para a classe desde a quinta série do Ensino Fundamental e o professor E., que ministrava as aulas de Filosofia e Sociologia e não era efetivo na escola. Houve uma mudança nessa configuração, pois a professora de Língua Portuguesa entrou de licença saúde antes de começarmos a pesquisa de campo em suas aulas. Então, para minimizar os impactos na pesquisa, nós assumimos as aulas de Língua Portuguesa em seu lugar.

Como professora da classe, continuamos com a maior parte do planejamento inicial da professora, já que sua saída foi bem próxima do final do ano letivo, restando dois meses de

aulas. Apenas foram acrescentadas algumas aulas de preparação para o seminário, que estavam previstas com a professora da turma, mas ainda não haviam sido incluídas no planejamento. Os estudantes já nos conheciam, pois, eventualmente, ministrávamos aulas em substituição a outros professores. Além disso, havíamos sido convidados pelo professor de Filosofia e Sociologia para ajudar no trabalho de preparação e pesquisa para o TCC, então já participávamos ocasionalmente nas aulas dessas disciplinas. Assim, nossa adaptação como professora se deu sem maiores problemas, apesar de ter havido uma mudança significativa de nosso papel frente aos alunos, pois a partir desse momento, assumíamos também um papel de avaliadores para os alunos e não apenas de colaboradores. Para a pesquisa, essa alteração também foi significativa, pois adquirimos um papel mais participante, fazendo nosso olhar adotar a perspectiva de uma posição ainda mais ativa e envolvida com a realidade da sala de aula do que havíamos previsto inicialmente.

Os dados da pesquisa foram gerados durante um trabalho promovido pelo professor de Filosofia e Sociologia, que envolvia a produção de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e a apresentação desse trabalho em forma de seminário para todos os alunos e professores da escola. Os alunos foram divididos em três grupos e puderam escolher o tema de pesquisa, que foi deixado livre pelo professor, mas deveria ser relacionado à Filosofia. Os temas escolhidos foram: “Depressão”, “Deus na Humanidade” e “As mulheres na sociedade e na filosofia”. O trabalho ocorreu durante o terceiro e quarto bimestres de 2014, sendo que o terceiro bimestre foi dedicado à pesquisa e produção do texto pelos alunos e o quarto bimestre à produção da apresentação oral do seminário e a ajustes verificados como necessários pelo professor colaborador em conjunto com a pesquisadora. Detalharemos melhor esse trabalho no próximo capítulo.