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Caracterização do local de implantação do estaleiro e seus condicionantes locais

Capítulo III ORGANIZAÇÃO DE ESTALEIROS

3.4. Organização física do estaleiro

3.4.1. Caracterização do local de implantação do estaleiro e seus condicionantes locais

Os projetos de implantação de estaleiros são muitas vezes documentos genéricos que carecem de correções ou adaptações em questões de segurança muito devido à realidade existente no local e não prevista na fase de projeto. Este ajuste do projeto à realidade existente constitui uma medida muito importante de prevenção de acidentes que se irá refletir ao longo de toda a fase de execução. Constitui também na última oportunidade de incluir e assegurar, de modo estruturado, as medidas de prevenção integrada preconizada no PSS e já referida anteriormente. Assim é plenamente justificado, imediatamente antes de se iniciar os trabalhos de implantação de estaleiro, que se efetue uma listagem de verificação sistematizada dos condicionalismos existentes e eventualmente se identifique outros que não o estão (Machado, 1996).

Segurança em estaleiros de construção de obras. Exemplos de aplicação

Deve ser feito inicialmente um levantamento de todas as infraestruturas presentes no local da obra, nomeadamente: rede de eletricidade (insuficiente corrente elétrica num estaleiro pode provocar cortes intempestivos que terá como consequência a perda de produção ou mesmo acidentes), rede pública de abastecimento de água (este abastecimento é indispensável não só para a produção mas também para a segurança e bem estar dos trabalhadores, evitando possíveis focos de incêndio, diminuindo o risco de doenças e reduzindo o consumo de bebidas alcoólicas), rede de esgotos (evitar possíveis roturas, inundações, infeções e intoxicações), condutas de distribuição de gás (evitar possíveis roturas, explosões e asfixia), rede de telefones (em caso de acidentes é fundamental haver um meio de comunicação de emergência fiável e que tenha afixado, junto ao telefone, os contactos previsivelmente importantes em caso de acidente) e estradas de acesso ou de ocupação de via pública (minimizar problemas de trânsito local, possíveis desabamentos, colisões e atropelamentos) (Farinha, 2005). Deve realizar-se também um levantamento topográfico (evitar capotamentos de máquinas e desabamentos), geológico (evitar afundamentos, desmoronamentos, escorregamentos), dos ventos dominantes (evitar situações em que o estaleiro social seja colocado a jusante da zona de armazenagem dos inertes por exemplo), do regime pluviométrico (evitar inundações em caso de chuvas intensas e que o estaleiro esteja perto de uma linha de água), de existência ou não de linhas de água subterrâneas (evitar por exemplo problemas de estabilidade para o empreendimento durante a fase de execução da obra e durante o período de vida útil do edifício ou também para evitar a contaminação dos solos). Devem também analisar-se os locais de armazenamentos dos resíduos (evitar problemas com resíduos inerentes ao ato de construção, os provocados pela concentração dos trabalhadores ou em caso de se gerarem resíduos perigosos ou tóxicos que terão que ter uma atenção especial, nomeadamente na consulta de entidades competentes para o efeito), definir a área de vegetação a abater ou a preservar e também identificar eventuais obstáculos, linhas de alta tensão ou edifícios vizinhos, que possam interferir com o trabalho da grua ou outro meio de transporte de materiais. Analisar-se-á também o estado de conservação das construções, e se possível a vistoria interior das construções vizinhas, de forma a registar as anomalias existentes à data e registá-las fotograficamente com o objetivo de evitar a imputação de possíveis danos existentes anteriormente à obra. Posteriormente, conjugando os fatores anteriormente referidos, definir-se-ão os diversos aspetos a considerar no estaleiro, sempre tendo presentes os principais vectores para a realização de um estaleiro para uma empreitada: os custos, os prazos, a qualidade, a segurança, a saúde e o ambiente (Faria, 2010; Farinha, 2005).

Instalar-se-á a vedação que tem como objetivo principal delimitar a zona do estaleiro de modo a evitar a entrada de pessoas estranhas à obra. O tipo de vedação dependerá da natureza, localização, dimensão e duração da obra, da estética envolvente, dos fatores económicos, da segurança ou até mesmo da política de imagem da empresa. Relativamente à tipologia da vedação, esta pode ser em rede metálica (evitar usar este tipo de vedação em obras urbanas devido à facilidade em enferrujar e deteriorar, podendo ao fim de um tempo apresentar pontas de ferro perigosas para terceiros), chapa metálica

(evitar encostar à cota do terreno por motivos de conservação da chapa mas também para permitir os escoamento de águas pluviais) e ou em barreira metálica removível. Deve ter-se o cuidado de evitar a ocultação ou redução de visibilidade da sinalização de trânsito pré-existente e o estrangulamento das condições de circulação automóvel das vias circundantes, tendo como base o Decreto Regulamentar nº 22-A/98 e regulamentos municipais específicos. De referir também que caso a obra se localize perto de escolas, a preocupação com a delimitação do estaleiro terá que ser forçosamente superior de modo a evitar o acesso à obra de crianças mas também terá que haver uma preocupação ao nível do ruído. Esta preocupação sonora terá que ser minimizada em outras situações: caso se localize perto de hospitais ou zonas residenciais (Faria, 2010; Farinha, 2005; Decreto Regulamentar nº 22-A/98). De modo a controlar o movimento da entrada e saída do estaleiro, quer de pessoal quer dos materiais e dos equipamentos, deverá considerar-se a colocação de uma portaria junto à entrada do estaleiro e com boa visibilidade de todos os acessos. Relativamente à sua tipologia, dever-se-á utilizar contentores ou pré-fabricados de madeira (Faria, 2010; Farinha, 2005; Pinho, 2013).

Em caso da ocupação da via pública (deve ser emitida uma licença municipal de ocupação), podem ocorrer duas situações possíveis: ou se opta pela criação de um corredor de proteção superior dos peões devidamente sinalizado e iluminado ou se ocupa a zona do passeio e os peões são encaminhados para passadeiras temporárias sinalizadas de modo a levar os peões para o outro lado da via pública (Farinha, 2005).