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Caracterização do nível de desenvolvimento de linguagem oral do grupo

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE

1. Resultados gerais das entrevistas às educadoras

1.1. Caracterização do nível de desenvolvimento de linguagem oral do grupo

No quadro seguinte apresentamos os dados obtidos relativamente ao tema relacionado com a caracterização que as entrevistadas fazem do nível de desenvolvimento dos grupos de crianças com que trabalham. A frequência das unidades de registo surge por indicador e por subcategoria. Esta frequência, porém, é meramente indicativa, uma vez que pode decorrer do próprio guião da entrevista. As entrevistadas surgem com a codificação E1 a E6. Antes dessa referência, surge a indicação do número de unidades de registo em cada indicador.

Quadro 9 - 1º Tema: Caracterização do nível de LO do grupo

Categorias Subcategorias Indicadores UR/I UR/SC

Aquisição e desenvolvimento nos padrões normais

Bom nível de desenvolvimento

Bom desenvolvimento em todos os aspetos da linguagem oral

2E1 2E3 1E6

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Bom desenvolvimento linguístico das crianças mais velhas

2E4 1E5 Importância da comunicação e linguagem no desenvolvimento da criança 2E5 Existências de padrões linguísticos de bebé

Tendência das crianças mais novas para manter padrões linguísticos de bebé

1E4 1E5 3E6 5 Existência de várias línguas maternas

Diversas culturas e línguas maternas na composição do grupo

2E6 3 Crianças em fase de aquisição da LO 1E2 Problemas na aquisição e desenvolvimento da LO Problemas de linguagem sem especificação

Existência atual de crianças com problemas de linguagem no grupo

1E1 3E3 1E4 2E6

9

Existência regular de uma criança por grupo com problemas de linguagem

2E1 Problemas de

linguagem identificados

Decorrentes de atraso global de desenvolvimento e de paralisia

1E3 10

Decorrentes de problemas de audição 3E6 Problemas articulatórios em algumas crianças

1E2 3E4 1E5 1E6 Problemas de língua Dificuldades derivadas da aquisição de

duas ou mais línguas em simultâneo (maternas e de escolarização)

1E4 4E6

5

Neste tema, parece-nos de salientar que a maioria das educadoras que trabalha com grupos de crianças com a mesma idade (geralmente designados, nos jardins de infância, como homogéneos) considera que existe um bom desenvolvimento da linguagem oral relativamente ao nível etário, apesar de existir sempre pelo menos uma criança com PLO.

No entanto, duas das educadoras que trabalham com grupos de crianças etariamente heterogéneos afirmam que, entre as crianças mais novas, existem padrões linguísticos próprios de bebés, salientando o facto de algumas crianças em idade pré-escolar se encontrarem ainda em fases iniciais do processo de aquisição de linguagem, como o excerto seguinte exemplifica:

“os mais novos acho-os um bocado fracos, os miúdos vêm a falar de um modo muito abebesado…” (E5)

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Algumas educadoras afirmam ainda que, no Jardim de Infância (JI) aparecem crianças com várias línguas maternas.

Das situações referidas anteriormente surgem então as diferentes problemáticas apontadas pelas diferentes educadoras. Nestas, encontramos a referência a problemas de linguagem, sem grande especificação, mas que são apontados como constrangimentos.

Surgem também referências a problemas decorrentes de atrasos globais de desenvolvimento e de paralisia cerebral, problemas auditivos e ainda articulatórios.

Uma das educadoras afirma:

“Considero que tenho um grupo bastante bom, em termos de linguagem, havendo no entanto, três meninos com…algumas dificuldades bastante acentuadas, aonde incluo o menino NEE, que tem bastantes dificuldades de linguagem, tenho outro também com alguns problemas de linguagem, que está a fazer terapia da fala, que estava mesmo a necessitar e tenho outro de 4 anos com algumas dificuldades de articulação, mas que eu penso que vai corrigindo ao longo do ano, até porque ainda tem 4 anos, todos os outros são bastante bons em termos de linguagem” (E3).

Como este excerto mostra, a educadora estabelece diferentes graus de dificuldade linguística, embora não os especifique claramente. A partir do grau de dificuldade percecionado, a educadora prevê a necessidade ou não de encaminhamento da criança para outro tipo de apoio.

Como vimos no capítulo I, há fatores determinantes para o desenvolvimento das competências comunicativas: as capacidades naturais da criança, nas quais podemos referir as sensoriais (audição e visão), as neurológicas, as motoras, as cognitivas e as sociais, entre outras; o ambiente físico, em que devemos destacar as oportunidades para interagir, explorar, brincar, desenvolver-se; as interações com adultos e pares, ou seja, feedback e modelos linguísticos e a cultura, em que cada ser está inserido e da qual faz parte independentemente da sua vontade.

As educadoras entrevistadas apontam ainda situações de aquisição de diferentes línguas em simultâneo (a materna e a de escolarização), como sendo fator retardador de desenvolvimento de linguagem oral.

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Nesta diversidade de situações linguísticas, é de salientar a enorme responsabilidade que cabe aos educadores, que frequentemente se deparam com situações destas e outras, por vezes bem mais complicadas. Nestas situações, porém, o papel do educador continua a ser o de estimular a linguagem e as trocas linguísticas. Podemos considerar, como afirmam Sim-Sim, Silva & Nunes (2008, P. 27):

“É através da interação comunicativa que as crianças adquirem a língua da comunidade a que pertencem. As trocas conversacionais são, portanto, determinantes no processo de desenvolvimento da linguagem. (…), a interação com o adulto funciona como um “andaime” que lhe vai permitindo caminhar no seu percurso de aprendiz de falante”.

Em síntese, as educadoras entrevistadas afirmam que a maioria das crianças do grupo tem um desenvolvimento linguístico normal para a idade, identificando no entanto algumas crianças com problemas. O tipo ou a causa dos problemas surge especificado em algumas situações, mas não em todas. De salientar que as educadoras de rede pública, talvez porque trabalham com grupos com idades heterogéneas (3 aos 5 anos), referem que algumas crianças mantêm até tarde padrões linguísticos que caracterizam como “de bebé”.