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Caracterização do Oriente e do Japão em particular no último quartel

Capítulo 2 – O Japão e o Oriente na correspondência de Wenceslau de

2.1. Caracterização do Oriente e do Japão em particular no último quartel

No período entre o último quartel do século XIX e as primeiras décadas do século XX, o mundo tanto Ocidental, como Oriental, atravessava mutações grandes na política, economia, história, quotidiano, filosofias, mentalidades, entre outros. Neste caso temos o exemplo do Japão que, entre 1868 e 1930, período conhecido como Era Meiji, após estar fechado mais de dois séculos ao mundo, vivendo no feudalismo, atravessava uma rápida e perigosa fase de mudanças de forma a proteger-se, a igualizar-se e ultrapassar as grandes potências ocidentais, transformando-se numa forte, invejável, temível e perigosa potência imperialista a nível internacional. No mundo, principalmente investigadores/estudiosos orientalistas, previam e receavam uma guerra mundial feroz. Neste segundo capítulo, vamos abordar desde o despertar do Japão e as relações internacionais com os países vizinhos e o Ocidente.

Wenceslau de Moraes, um escritor-viajante, como Oficial da Marinha Portuguesa, desde a juventude, viajou pelos sete cantos do Mundo: Estados-Unidos, Médio Oriente, Moçambique, Timor, Macau, China e Japão. Wenceslau de Moraes tinha um encanto pelo Oriente, especialmente pelo Japão. A primeira vez que teve o seu contacto com o Oriente, neste caso inicialmente com Macau, a 7 de Julho de 1888, onde se casa com uma chinesa e da qual tem dois filhos, exerceu as funções da Marinha e Professor no Liceu de Macau. Na consequência da tempestuosa relação com a chinesa e nas suas viagens entre Macau e o Japão, teve os primeiros contactos com o País do Sol Nascente, começando a escrever as suas primeiras obras “Traços do Extremo Oriente” e

“Cartas do Extremo Oriente” onde narra a sua circulação entre Macau e Japão. Através

destas primeiras viagens nasceu a forte paixão pelas terras nipónicas. Oficialmente instalou-se no Japão, abraçou-o e entregou-se inteiramente ao Paraíso Nipónico, vivendo como japonês.

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Na obra “Cartas do Extremo Oriente”, dá a conhecer uma das razões que o levava ao Japão, exibindo a sua crescente afeição à medida que visitava o paraíso nipónico. Devido a essa paixão, a sua ambição de se tornar cônsul do Japão torna-se cada vez maior a cada visita, elucidando que trabalhava para obter o cargo, embora só lhe tem sido permitido ser oficial de Macau.

Na sua outra obra “Traços do Extremo Oriente”, escreve a sua primeira descrição do Japão, numa carta dirigida à sua irmã Emília, completamente extasiado, numa escrita reveladora:

“Estou n'um país delicioso, o Japão. Era aqui, em Nagasáqui, que eu desejaria passar o resto da minha vida, à sombra d'estas árvores que não têm parceiras no Mundo. […]. Deixo com saudade este torrão abençoado por Deus, cheio de paisagens adoráveis, cheio de flores, cheio de sorrisos; terra feita para a alma se recolher em doces pensamentos, e para o espírito cansado da vida poder ainda purificar-se e elevar à Providência um agradecimento.”54

Uma outra razão das viagens de Wenceslau de Moraes para o Oriente, neste caso o Japão, é a fuga à desilusão que sentia em relação ao seu país, que durante o decorrer deste período dos finais do século XIX aos inícios do século XX, também atravessava uma fase decisiva de mutações políticas, económicas, filosóficas, educativas.

Na obra de Wenceslau de Moraes “Dai-Nippon” com Introdução de Celina Silva, esta autora comenta:

“ «Dai-Nippon», memória-evocação, tentativa de captar, de estabilizar o que de perpetuamente fugidio existe nas vivências, nas perceções, nas paixões onde, consubstanciando saudade, sujeito e objeto amado se cria uma ilusão de eternidade. Wenceslau de Moraes surge-nos como herdeiro de Fernão Mendes Pinto.”55

Celina Silva quer afirmar que Fernão Mendes Pinto, para Wenceslau de Moraes, era um exemplo como explorador do mundo e escritor literário de viagens, principalmente nas viagens ao Japão. Portugal representa o primeiro país europeu e ocidental com quem

54 MORAES, Wenceslau de (1974). Traços do Extremo Oriente, Lisboa: Círculo de Leitores, p.21. Retirado

da Dissertação de Mestrado em Ensino Português de Maria Margarida da Silva Faria Capitão -“Entre duas

civilizações: O Universo de Leituras em Wenceslau de Moraes”, pequeno excerto de uma carta da obra

“Traços do Extremo Oriente “ de Wenceslau de Moraes, como ele descreveu o Japão na sua primeira visita, p. 12.

55 MORAES, Wenceslau de (1983). DAI-NIPPON (O Grande Japão). Introdução de Celina Silva. Barcelos

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o povo nipónico teve contacto há mais de dois séculos, antes de se isolar do mundo, devido ao excesso de poder que o Ocidente queria exercer sobre o território nipónico. Este povo até finais do século XIX viveu na época feudal, na qual o poder do país pertencia a Xogunato, Dáimos, Samurais, tinha o Imperador como o poder e símbolo. Durante a Era Feudal, também conhecida como período Edo, a nação japonesa estava centrada num conjunto de códigos éticos e regras, estás influenciada pela religião budista e pela educação tradicionalista. Vivia da agricultura e da pesca; vestia-se de forma tradicional “Kimono”; era conhecido pelo exotismo das belas paisagens que deslumbram na passagem de cada estação, principalmente a primavera; também pela beleza das mulheres japonesas, principalmente musumés e Geishas, bonitas, puras e inocentes, Wenceslau de Moraes ainda encontrou vestígios dessa época feudal. Ao longo das suas cartas e obras aborda sempre a era do feudalismo Japonês, comparando com a Era Meiji. Moraes tinha uma personalidade um pouco exótica, e esse lado exótico levou-o a sentir fascínio por esse período da História do Japão. Em relação ao facto de ele ter vivido e abraçado o Japão, Celina Silva, comenta:

“Se a melhor forma de viajar é sentir, como já foi dito, a viagem de Wenceslau de Morais ao Japão foi sem dúvida profícua. Este escritor «sentiu» o Japão na sua totalidade e como totalidade. O afastamento. A fuga através da vida do exotismo, do misticismo, do esoterismo, da sublimação do prazer, da receptividade, do amor” 56

Wenceslau de Moraes acompanhou os conflitos internos entre os tradicionalistas e os modernistas bem como acontecimentos da Guerra Sino-Japonesa. Tendo vivido no Japão até 1930 acompanhou e relatou nas suas cartas vários acontecimentos como a Guerra Russo-Japonesa, a Exposição Universal de Osaka, o domínio sobre a Coreia, o fim do Imperador e da era Meiji e o início da Taisho.