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Caracterização dos direitos da personalidade

TÍTULO III DIREITOS DA PERSONALIDADE E SUA PROTEÇÃO POST

2 Caracterização dos direitos da personalidade

Consideram-se como caracteres da pessoa humana seu corpo, seu nome, honra, vida, imagem, liberdade, entre outros. O rol, contudo, não é taxativo. Orlando Gomes leciona que

sob a denominação de direitos da personalidade, compreendem-se os direitos personalíssimos e os direitos essenciais ao desenvolvimento da pessoa humana que a doutrina moderna preconiza e disciplina no corpo do Código Civil como direitos absolutos, desprovidos, porém, da faculdade de disposição. Destinam-se a resguardar a eminente dignidade da pessoa humana, preservando-a dos atentados que pode sofrer por parte de outros indivíduos258.

A dignidade humana, portanto, é a essência humana da qual decorrem todos os seus atributos. Nesse sentido, há um direito geral da personalidade, considerando uma visão externa ao homem, unitária. O fracionamento deste direito geral da personalidade, conforme os diferentes atributos do ser humano, configura os chamados direitos de personalidade.

Dentre as várias classificações dos direitos de personalidade, uma das mais conhecida é a do jurista italiano Adriano de Cupis: I – direito à vida e à integridade física; II – direito à liberdade; III – direito à honra e ao resguardo pessoal; IV – direito à identidade pessoal; V – direito moral de autor259.

A doutrina pátria adota, em sua maioria, uma classificação semelhante. Pontes de Miranda apresenta uma equivalente, apesar de mais decomposta: I – direito à vida; II – direito à integridade física; III – direito à integridade psíquica; IV – direito à liberdade; V – direito à verdade; VI – direito à honra; VII – direito à própria imagem; VIII – direito à igualdade; IX – direito ao nome; X – direito à intimidade; XI – direito ao sigilo; XII – direito autoral260.

                                                                                                                         

258

GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 10ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 131.

259

CUPIS, Adriano de. Os direitos da personalidade. (trad. Adriano Vera Jardim, Antonio Miguel Caeiro). Lisboa: Livraria Morais Editora, 1961, passim.

260

PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcante. Tratado de direito privado. Rio de Janeiro: Borsoi, 1971, v. 7, t. II.

Limongi França apresenta uma classificação tripartida, mas similar às classificações acima expostas: I – direito à integridade física, compreendendo os direitos à vida, aos alimentos, sobre o próprio corpo vivo, sobre o próprio corpo morto, sobre o corpo alheio vivo, sobre o corpo alheio morto, sobre as partes separadas do corpo vivo, sobre as partes separadas do corpo morto; II – direito à integridade intelectual, compreendendo o direito à liberdade de pensamento, direito pessoal de autor científico, direito pessoal de autor artístico, direito pessoal de inventor; III – direito à integridade moral, compreendendo os direitos à liberdade civil, à liberdade política, à liberdade religiosa, à honra, à honorificiência, ao recato, ao segredo pessoal, ao segredo doméstico, ao segredo profissional, à imagem, à identidade pessoal, identidade familiar e identidade social261.

Quanto ao ordenamento jurídico brasileiro, os direitos da personalidade estão previstos nos artigos 11 a 21 do Código Civil de 2002.

No art. 11 do Código Civil de 2002 encontra-se uma cláusula geral que prevê uma proteção genérica dos direitos de personalidade, no modelo de um direito geral de personalidade.

Já nos artigos 12 e seguintes vê-se a especificação de alguns direitos, como o direito à integridade física, à identidade, direito moral de autor, à intimidade e à vida.

Segundo Gierke, os direitos da personalidade são aqueles “que asseguram ao seu sujeito o domínio [Herrschaft] sobre uma parte componente da esfera da própria personalidade”262. Nas palavras de Clóvis Beviláqua, trata- se de um "complexo dos direitos atribuídos a uma pessoa, considerados em conjunto, constituindo uma unidade, mas antes em potencialidade do que em atividade”263.

                                                                                                                         

261

FRANÇA, Rubens Limongi. Manual de direito civil. 2 ed. São Paulo: RT, 1980, v. 1.

262

Apud MORAES, Walter. Concepção tomista de pessoa. Um contributo para a teoria do direito da personalidade. Revista dos Tribunais, v. 590, p. 15.

263

BEVILÁQUA, Clovis. Teoria Geral do Direito Civil. 7ª ed., São Paulo – Belo Horizonte: Francisco Alves, 1955, p. 54-55.

Constitui objeto dos direitos da personalidade a totalidade dos atributos do sujeito de direito. Segundo Pedro Pais de Vasconcelos, cuida-se da

regulação jurídica relativa à defesa da personalidade consagrada, quer no direito supranacional, quer na lei constitucional, quer na lei ordinária, cuja ratio se funda em razões de ordem pública e de bem comum, e que é alheia à autonomia privada. Tem a ver com a defesa da humanidade, da globalidade de toda a Espécie Humana, e com a exigência moral de respeitar não só a Humanidade, considerada como um todo, mas também cada um dos seus membros; tem ainda a ver com os Bons Costumes, com a Ordem Pública, com o Bem Comum264.

Não há, porém, uma sistematização. A doutrina admite a existência de um direito geral de personalidade, protegido pela cláusula geral do art. 12 do Código Civil, de modo que, apesar do reconhecimento de direitos especiais, como os acima enumerados, sustenta-se o caráter não taxativo dos mesmos265.

No âmbito do direito civil, o direito geral de personalidade há de ser visto "como o direito de cada homem ao respeito e à promoção da globalidade dos elementos, potencialidades e expressões de sua personalidade humana, bem como da unidade psico-físico-sócio-ambiental dessa mesma personalidade"266.

Na esteira de Castan Tobeñas, direitos da personalidade são direitos subjetivos vez que há “a atribuição de um poder jurídico a um titular frente a outras pessoas, colocado à sua livre disposição e tutelado por uma ação judicial”267.

Os direitos da personalidade, como explica Menezes Cordeiro, são direitos subjetivos absolutos “à manutenção, inviolabilidade, dignidade,

                                                                                                                         

264

VASCONCELOS, Pedro Pais de. Direito de Personalidade. Coimbra: Almedina, 2006, p. 50.

265

CAMPOS, Diogo Leite de. Lições de direitos da personalidade. Coimbra: Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, 1990, v. 66, p. 49-51; CAPELO DE SOUSA, Rabindrath V. A. O Direito Geral de Personalidade. Coimbra: Coimbra Editora, 1995, p. 151; MENEZES CORDEIRO, António. Tratado de Direito Civil Português. Coimbra: Almedina, 2004, v. 1, t. 3, p. 80-82.

266

CAPELO DE SOUSA, Rabindrath V. A. O Direito Geral de Personalidade. Coimbra: Coimbra Editora, 1995, p. 93.

267

reconhecimento e livre desenvolvimento da individualidade das pessoas”268 e, "se considerarmos o ser humano, veremos que ele implica sucessivas esferas de realidades objetivas e/ou subjetivamente necessárias ou úteis"269.

A pessoa tem, ainda, segundo o mesmo autor, "uma vivência espiritual e social", podendo-se distinguir suas relações em diversas áreas, que envolvem bens da personalidade, relativos ao seu aspecto biológico (vida, integridade física, saúde, necessidades vitais; ao seu aspecto moral (integridade moral, identidade, nome, imagem, intimidade etc); ao seu aspecto social (família, bom nome e reputação, respeito etc)270.

Contudo, a tutela geral da personalidade, como esclarece Capelo de Sousa

não é reconhecida abrupta, ilimitada e separadamente e não funciona isoladamente, antes constitui uma simples, embora altamente valiosa e dinâmica, peça do complexo e interconexo "puzzle", que é o sistema jurídico na unidade da sua arquitectura e do seu funcionamento271.

Em determinadas relações jurídicas, como as familiares, que envolvem situações de fato complexas, a tutela geral da personalidade pode ser confrontada com a existência de direitos, poderes e faculdades, cujo exercício pode esbarrar na esfera dos direitos da personalidade de uma pessoa.

Diante disso, e da necessidade de tentar vislumbrar uma coerência no sistema normativo, cumpre verificar se a inculpação, seja averiguada nas relações inter vivos, relativas ao fim do casamento, seja mortis causa, viola direitos da personalidade.

                                                                                                                         

268

MENEZES CORDEIRO, António. Tratado de Direito Civil Português. Coimbra: Almedina, 2004, v. 1, t. 3, p. 47. 269 Idem, p. 77. 270 Idem, p. 78. 271

CAPELO DE SOUSA, Rabindrath V. A. O Direito Geral de Personalidade. Coimbra: Coimbra Editora, 1995, p. 513.

3 Proteção dos direitos da personalidade e inculpação nas relações

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