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7. Discussão

7.2. Caracterização dos locos de microssatélite e erros de genotipagem

O número de alelos por loco encontrado para o grupo cativo de arara-azul-grande variou de dois a sete alelos, o mesmo encontrado por Presti et al. (2011) para uma amostra de 30 indivíduos da população Pantanal Sul. Já o número de alelos por loco encontrado para as populações naturais de arara-azul-grande variou de dois a nove (PRESTI, 2010). O maior número de alelos para as populações naturais é esperado, já que o grupo cativo é uma pequena amostra da diversidade da espécie. Os valores médios de diversidade genética para o grupo de indivíduos cativos de A. hyacinthinus (He=0,492, Na=3,6 e Ra=3,576) e os valores médios encontrados para as populações naturais (He=0,447 e Na=4,8) (PRESTI, 2010) não diferiram significativamente. Resultados similares já foram reportados para outras espécies (CRONIN; RENECKER; PATTON, 2009; HAUSKNECHT et al., 2013)

A diversidade genética encontrada para as populações naturais de arara-azul-grande foi menor do que a diversidade observada para arara-canidé (Ara ararauna), espécie para qual foram desenvolvidos seis dos 10 locos de microssatélites utilizados nesse estudo e por Presti (2010) e Presti et al. (2011). A diversidade genética menor encontrada para A. hyacinthinus pode estar relacionada com a utilização de locos heterólogos ou ser uma característica da espécie (PRESTI, 2010). Segundo Avise (1994) nem sempre níveis baixos de variabilidade genética refletem uma ameaça à sobrevivência das populações.

A análise do programa Microchecker apontou evidência de alelo nulo para o loco HYA. Revisamos cuidadosamente os eletroferogramas para o loco e mesmo assim o número de heterozigotos é menor do que o esperado, mas isso não necessariamente implica que o alelo nulo esteja presente (MARSHALL et al., 1998). Carlsson (2008) mostra que os efeitos de alelos nulos em testes de atribuição são de baixa intensidade, não havendo necessidade de descartar os locos de microssatélites. E Pérez-Espona et al. (2012) encontraram os mesmos resultados para as análise bayesinana de agrupamento com ou sem a presença de alelos nulos. Segundo, Wagner et al. (2006) estimativas de parentesco com locos com alelos nulos são mais

robustas e, adicionalmente o programa ML-Relate é capaz de corrigir a frequência de alelo nulo. Assim, loco HYA não foi descartado de nenhuma análise.

7.3. Atribuição populacional

Os espécimes de arara-azul-grande foco desse estudo são provenientes dos parques zoológicos do Estado de São Paulo e assim como grande parte dos indivíduos cativos, representantes das diversas espécies da nossa fauna, a maioria chegou a essas instituições por apreensões do tráfico de animais silvestres, sem informação exata e/ou confiável da sua procedência. Para espécies em que as populações naturais apresentam diferenciação genética conhecer a procedência dos espécimes cativos é relevante para os programas de reprodução (FRANKHAM; BALLOU; BRISCOE, 2004).

Assim, considerando a estruturação genética das populações naturais de A.

hyacinthinus correspondente a sua distribuição geográfica (PRESTI, 2010) e a falta de

informações sobre a procedência dos indivíduos cativos realizamos testes de atribuição populacional por meio de vários métodos: análise bayesiana de agrupamento, AFC e testes de atribuição, amplamente empregados na literatura (CARRERAS et al., 2011; FRANKHAM G.J. et al., 2013; HAUSKNECHT et al., 2014; MANEL et al. 2002; MAUDET; LUIKART; TABERLET, 2002; PRESTI, 2010; RUSSELLO et al, 2007; SUNNY et al., 2014; VÁSQUEZ-CARRILLO et al., 2013)

A análise bayesiana de agrupamento, a AFC e os testes de atribuição mostram a maior parcela dos indivíduos cativos distribuídos pelas populações naturais N e NE. A análise de agrupamento ainda revelou a mistura genética de alguns indivíduos cativos, corroborada pelos testes de atribuição realizados nesse estudo.

O teste atribuição populacional considerando três populações naturais (87,75%) obteve um desempenho melhor do que a atribuição dos espécimes cativos a quatro populações (55,10%) naturais. Na atribuição populacional dos indivíduos de arara-azul-grande realizada por Presti (2010) 86,7% dos indivíduos foram atribuídos corretamente ao seu grupo de origem considerando quatro populações naturais contra 89,8% para a atribuição a três populações. O teste de atribuição realizado por Russelo et al. (2007) para tartarugas de Galápagos (Geochelone nigra), em cativeiro e amostras de museus, com a mesma quantidade de locos de microssatélites utilizados nesse trabalho resultou na atribuição consistente de 87,8% dos indivíduos à suas prováveis localidades de origem. Ainda, Frankham G.J. et al. (2013) obtiveram 95% dos indivíduos de rato canguru (Potorous tridactylus) atribuídos a sua localidade amostral, evidenciando a eficácia métodos empregados.

Os resultados encontrados para a provável origem populacional dos espécimes cativos de arara-azul-grande corroboram a hipótese de que todos os conjuntos gênicos naturais descritos para A. hyacinthinus representadas em cativeiro, em maior proporção as populações N e NE. O pareamento de espécimes com origens populacionais distintas também foi confirmado. Apesar das análises terem indicado alguns espécimes com uma constituição genética de mais de uma população natural, os prováveis progenitores desses não foram amostrados. Porém, como esses indivíduos têm origem anterior em outros cativeiros a reprodução de espécimes de arara-azul-grande de diferentes conjuntos gênicos pode ser inferida, com ressalvas. Pois para dois espécimes retidos pelo IBAMA, não se tem informação se os mesmo nasceram na natureza e foram retirados para o comércio ilegal ou se nasceram um cativeiro.

Os resultados de todos os métodos empregados nesse estudo para a atribuição populacional dos espécimes cativos de A. hyacinthinus às populações naturais da espécie foram coincidentes, na maioria das vezes, e complementares, permitindo a inferência da origem populacional dos indivíduos com maior segurança e confiabilidade. A atribuição populacional realizada nesse estudo preenche uma lacuna e permite um avanço no manejo dos espécimes cativos contribuindo para a manutenção da diversidade genética encontrada na natureza e preservando a história evolutiva da espécie em cativeiro.

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