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II PARTE – O “PONTO” DA METODOLOGIA

CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS

«Nos estudos qualitativos interroga-se um número limitado de pessoas, pelo que a questão da representatividade, no sentido estatístico do termo, não se coloca. O critério que determina o valor da amostra passa a ser a sua adequação aos objectivos da investigação, tomando como princípio a diversificação das pessoas interrogadas e garantindo que nenhuma situação importante foi esquecida. Nesta óptica, os indivíduos não são escolhidos em função da importância numérica da categoria que representam, mas antes devido ao seu carácter exemplar» (sic)(Albarello

et al,1997:103).

Em todas as investigações a escolha dos sujeitos, ou seja, a definição da população44 para se extrair a amostra45 a estudar, é um passo bastante importante.

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«grupo de pessoas em relação ao qual vai iniciar-se o estudo» (Tuckman, 2002:187).

45 Pessoas pertencentes a esse grupo selecionadas, devido a determinadas características, para participar no estudo.

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Na investigação de cariz qualitativo não se foge à regra, assim, a adequação da amostra aos objetivos do estudo é um critério primordial para a escolha dos indivíduos a entrevistar.

Por conseguinte, este trabalho optou pela amostragem por grupo – representação de um grupo «em que a população se encontra organizada» (Almeida e Freire, 2008: 115) –, que se inscreve numa perspetiva de não aleatoriedade, não tendo, no entanto, o intuito de alcançar a generalização, visto que não se pretende a representatividade (método) nem a significância (tamanho) da população, mas sim o estudo das conceções de envelhecimento segundo um grupo de pessoas com mais de 60, e que participa num projeto de artes performativas.

Tendo em conta que «as pessoas interagem em função dos significados que as coisas, as outras pessoas e as condições têm para elas, sendo tais significados produzidos pela própria interacção e interpretação do sujeito» (sic)(Almeida e Freire, 2008:111), os critérios de seleção da nossa amostra concentraram-se, particularmente, a) na faixa etária de cada elemento (idade igual ou superior a 60 anos), b) na participação dum projeto de artes performativas, c) e na vontade de participar neste estudo.

A amostra do nosso trabalho foi constituída por sete pessoas com idades entre os 60 e os 81 anos, sendo quatro do sexo feminino e três do sexo masculino. Todos residentes na área da Grande Lisboa e participantes no mesmo projeto de artes performativas.

Essa pessoas, estando desde sempre ligadas às artes, nomeadamente teatro e/ou dança, desempenharam funções profissionais na Banca, nos Transportes, na Comunicação Social, nos Serviços Culturais de uma Embaixada, na Docência e no Teatro.

Todos os sujeitos da amostra, após contacto telefónico (fornecido por um gatekeeper46), foram entrevistados individualmente, em suas casas ou em locais públicos47(e.g. bibliotecas, sala de estar de um centro cultural, esplanadas de cafés). As entrevistas tiveram uma duração média de hora e meia.

46 Expressão utilizada na etnografia para identificar pessoas que facilitem a entrada, e a permanência, no terreno de campo e por facultarem informações privilegiadas devido à sua posição e à relação que mantém dentro do grupo. Importa salientar que estes porteiros, ou informantes privilegiados, não são neutros (têm a sua perspetiva) e tendem a controlar a ação do investigador. Por outro lado, tende a naturalizar a entrada no grupo e a ação daquele.

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Alguns autores, e.g. Ghiglione e Matalon (1992), chamam a atenção para se não realizar entrevistas em locais que possam originar distração tanto do entrevistado quanto do entrevistador, assim como de dificultar a posterior audição do que foi dito e gravado, no entanto, conscientes destes riscos optamos por ir ao encontro da disponibilidade das pessoas, que amavelmente se prontificaram a participar neste estudo.

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Consideramos pertinente referir que o projeto de artes performativas, em que os entrevistados estão inseridos, surgiu da vontade em juntar pessoas com mais de 60 anos oriundas das mais variadas áreas artísticas, no intuito de (re)aproveitar seus saberes criativos e interpretativos. Atualmente conta com a participação de cerca de 20 pessoas com idades compreendidas entre os 60 e os 90 anos. O projeto divide a sua ação em três momentos: os workshops ou ateliês que dão origem aos ensaios e, posteriormente, as

apresentações públicas dos espetáculos.

Deste modo, baseando-se no estudo dirigido por Gene D. Cohen, intitulado “Creativity and Aging Study, The Impact of Professionally Conduct Cultural Programs on Older Adults”48 - que concluiu que as pessoas que participavam semanalmente em programas culturais, comparativamente com pessoas que não estavam envolvidas em programas desse género e de forma tão intensiva, apresentavam uma melhor saúde (i.e. recorriam menos vezes a consultas e usavam menos medicamentos); um maior envolvimento em atividades quotidianas (i.e. familiares, sociais, culturais); respondiam positivamente a medidas implementadas de saúde mental - este projeto de artes performativas assentou a sua emergência na promoção da sensação de controlo (i.e. obtenção de resultados positivos oriundos da sensação saber fazer) e da participação como sinónimo de interação social entre membros e outros colaboradores do projeto.

Importa, ainda, referir que a implementação e as características deste projeto de artes performativas surgiram devido a dois já existentes. A “Company of Elders” associada ao Sadler’s Wells Theatre em Londres, que se trata de uma companhia de dança, com mais de 10 anos que, funcionando como um clube, tem como intuito mostrar que a dança é acessível a qualquer pessoa, seja qual for a sua idade. Tem como membros uma média de 25 pessoas com idades entre os 61 e os 88 anos.

“Kontakthof, mit Damen und Herren ab ‘65’ ” de Pina Bausch, que contava com cerca de 27 artistas com mais de 65 anos, foi outra obra que influenciou a emergência do projeto de artes performativas a que pertencem os entrevistados. Kontakthof era um trabalho que valorizava a narrativa não-verbal do neo-expressismo no movimento e na dança,

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Estudo resultante de uma parceria entre a National Endowment for the Arts (uma agência independente dos EUA que financia e apoia projetos de cariz artístico) e a George Washington University. Era um estudo comparativo que pretendia medir o impacto na saúde física e mental e no bem-estar geral de grupos de pessoas com mais de 65 anos, umas que participassem em programas artísticos e outras que não estivessem ligadas a esses pogramas.

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evidenciando as questões do (des)conforto oriundo da solidão voluntária, e não voluntária, advindas das interações entre as lembranças da época pré-muro de Berlim e a ação atual.

Terminando esta caracterização dos sujeitos, consideramos pertinente referir que, o projeto de artes performativas, a que pertencem os entrevistados, tem um mural de facebook no intuito de

«divulgar o seu percurso, a sua atividade (i.e. realização de

workshops, ensaios e apresentações; lugares onde são apresentados

os espetáculos) e os seus interesses. É um sítio onde é exposto (usando links) o que outros escrevem (através de notícias em televisão e jornais – em suporte de papel ou ciberespaço) sobre o que fazem. É um espaço de partilha de ideias, entre vários elementos do elenco e entre estes e pessoas externas ao grupo. Pode-se considerar como um complemento informativo, ou um roteiro, talvez um anexo, ao seu intuito primordial: a apresentação de espetáculos performativos por pessoas com mais de 60 anos, oriundas de distintas áreas profissionais, nomeadamente, no campo das artes» (AM., 2013:2).

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III PARTE – “OS BASTIDORES” DA APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E

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