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CAPÍTULO 3 VARIAÇÕES DA SOLUÇÃO DO SOLO NO CAMPO (pH, CE,

3.2.1 Caracterização e Ocorrência dos Latossolos

Os Latossolos são solos em avançado estádio de intemperização, muito evoluídos devido às transformações no material constitutivo e são virtualmente destituídos de minerais primários ou secundários menos resistentes ao intemperismo. Esses solos têm capacidade de troca de cátions da fração argila baixa (inferior a 17cmolc/kg-1 de argila) sem correção para carbono, comportando variações desde solos predominantemente cauliníticos, com relação molar SiO2/Al2O3 da fração argila (Ki) mais altos, em torno de 2,0, admitindo o máximo de 2,2, até solos oxídicos de Ki extremamente baixo (SANTOS et al., 2013a). Variam de fortemente a bem drenados,

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embora ocorram solos que têm cores pálidas, de drenagem moderada ou até mesmo imperfeitamente drenados, o que é indicativo de formação em condições atuais ou pretéritas com certo grau de gleização. São normalmente muito profundos, sendo a espessura do solum raramente inferior a 1m. Têm sequência de horizontes A, B e C com pouca diferenciação de sub-horizontes e transições usualmente difusas ou graduais. Em distinção às cores mais escuras do A, o horizonte B tem cores mais vivas, variando desde amarelas ou mesmo bruno - acinzentado até vermelho-escuro-acinzentadas, nos matizes 2,5YR a 10YR, dependendo da natureza, forma e quantidade dos constituintes minerais – normalmentedos óxidos e hidróxidos de ferro –, segundo condicionamento de regime hídrico e drenagem do solo, dos teores de ferro no material de origem e se a hematita é herdada ou não. No horizonte C, comparativamente menos colorido, a expressão cromática é bem variável, mesmo heterogênea, dada a sua natureza mais saprolítica. O incremento de argila do A para o B é pouco expressivo ou inexistente, e a relação textural B/A não satisfaz aos requisitos para B textural. De modo geral, os teores da fração argila no solum aumentam gradativamente com a profundidade ou permanecem constantes ao longo do perfil. A cerosidade, se presente, é pouca e fraca. Tipicamente, é baixa a mobilidade das argilas no horizonte B, ressalvados comportamentos atípicos de solos desenvolvidos de material com textura mais leve (de composição arenoquartzosa), de interações com constituintes orgânicos de alta atividade ou de solos com delta pH positivo ou nulo. O Latossolo Amarelo distrófico no nível de classificação apresenta matiz de 7,5YR ou mais amarelo e saturação por bases baixa (V < 50%) na maior parte dos primeiros 100cm do horizonte B (inclusive B/A).

Os Latossolos, em geral, são fortemente ácidos, com baixa saturação por bases, distróficos ou alumínicos. Ocorrem, todavia, solos com saturação por bases média e até mesmo alta. Esses últimos são encontrados geralmente em zonas (semiáridas ou não) que apresentam estação seca pronunciada, ou ainda que apresentem influência de rochas básicas ou calcárias. Esses solos são típicos das regiões equatoriais e tropicais, ocorrendo, também, em zonas subtropicais, distribuídos, sobretudo, por amplas e antigas superfícies de erosão, pedimentos ou terraços fluviais antigos, normalmente em relevo plano e suave ondulado, embora possam ocorrer em áreas mais acidentadas, inclusive em relevo montanhoso. São originados a partir das mais diversas espécies de rochas e sedimentos sob condições de clima e tipos de vegetação os mais diversos (SANTOS et al., 2013a).

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Segundo KER (1998), os Latossolos experimentaram diferentes situações climáticas ao longo de sua formação. Isso tende a homogeneizar características químicas, morfológicas e mineralógicas. Assim, são considerados solos de mineralogia relativamente simples. Na sua fração grosseira prevalece quartzo, com menores quantidades de muscovita e alguns feldspatos potássicos quando derivados de rochas ácidas. Magnetita e ilmenita com pequena proporção de quartzo prevalecem quando os solos se desenvolvem a partir de rochas básicas, com destaque para o basalto, no caso do Brasil.

Os Latossolos encontram-se amplamente distribuídos pelo Brasil (Tabela 3.1) ocupando em torno de 31,49% da área relativa do país (SANTOS et al., 2013a). Como unidade dominante, ocupa cerca de um terço da superfície do território nacional, ocorrendo praticamente em todas as regiões sob diferentes condições climáticas, relevo e material de origem (KER, 1998; SCHAEFER et al., 2008).

A maior parte dos Latossolos é pobre em nutrientes vegetais por causa do intemperismo intenso a que são submetidos. Durante muito tempo, foram considerados “solos problemáticos” para a agricultura, devido à baixa fertilidade natural dos mesmos. Contudo, atualmente esses solos são muito procurados para atividades agrícolas, devido aos avanços tecnológicos relacionados ao emprego adequado de corretivos da acidez do solo, da adição de quantidade e tipos de fertilizantes.

Dessa forma, requerem um manejo apropriado, sobretudo nos solos de textura média, que são os mais pobres e susceptíveis à erosão. No bioma Cerrado, os Latossolos são representativos e apresentam a tendência de formar crostas superficiais, possivelmente devido à floculação das argilas que passam a se comportar funcionalmente como silte e areia fina (SANTOS et al., 2013a).

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Tabela 3.1 - Distribuição por área dos solos no Brasil.

Classes Área absoluta (km2) Área relativa (%)

Argissolos 2.28589,16 26,84 Cambissolos 448.268,08 5,26 Chemossolos 37.206,29 0,44 Espodossolos 160.892,69 1,89 Gleissolos 397.644,27 4,67 Latossolos 2.681.588,69 31,49 Luvissolos 241.910,74 2,84 Neossolos 1.122.603,82 13,18 Nitossolos 96.533,02 1,13 Organossolos 2.231,33 0,03 Planossolos 226.561,75 2,66 Plintossolos 594.599,98 6,98 Vertissolos 17.630,98 0,21 Afloramentos de rochas, dunas, águas e outros

201.815,77 2,37

Brasil 8.514.876,60 100,0

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Na fração argila dos Latossolos, as quantidades de caulinita, gibbsita, goethita e hematita são variadas, a depender do tipo de material de origem, da intensidade do intemperismo e drenagem do sistema, entre outros fatores. Menores proporções de vermiculita com hidroxila entre camadas, ilita, anatásio, rutilo, magnetita e mesmo haloisita, também são constatados com frequência em determinados Latossolos. Assim, o conceito central dos Latossolos prevê o domínio de caulinita e óxidos de ferro e alumínio, com menores proporções de outros componentes na fração argila (KER, 1998).

Figura 3.1 - Representação esquemática da distribuição de solos no Brasil. Fonte: SANTOS et al., (2013a).

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Dentro da classe dos Latossolos, especificamente os Latossolos Amarelos, apresentam-se teores medianos de óxidos de ferro e teor de alumínio trocável frequentemente alto. São profundos ou muito profundos, bem drenados, de ácidos a muito ácidos com textura argilosa, muito argilosa ou média (SANTOS et al., 2013a).

Segundo SANTOS et al. (2011b), os Latossolos Amarelos encontram-se distribuídos em muitas áreas do Brasil. Sua maior expressividade e continuidade de área encontram-se nos platôs litorâneos e amazônicos, onde normalmente desenvolvem-se a partir de sedimentos do grupo Barreiras (Plio-pleistoceno) e formação Altér do Chão (Cretáceo).

Os Latossolos Amarelos distróficos que ocorrem na Amazônia são, geralmente, profundos e homogêneos, com matizes do horizonte B entre 7,5YR e 10YR, cauliníticos, com quantidades de caulinita superiores a 80% na fração argila, a textura variando de 15 a 95% de argila (RODRIGUES et al, 1996). Possuem baixa saturação por bases e alta saturação por alumínio. Os teores de Fe total situam-se entre 1,5 a 7% e o valor de Ki (relação sílica/alumina) é normalmente maior do que 1,5, refletindo sua natureza caulinítica (SANTOS et al., 2013a). Os solos possuem caráter ácido sem muita variação entre os horizontes. O teor de matéria orgânica decresce em profundidade, sendo o seu maior conteúdo encontrado na superfície devido à incorporação de resíduos vegetais provenientes da floresta. A condutividade hidráulica desse solo apresenta grande homogeneidade ao longo do seu perfil, sendo mais sensível à variação da porosidade (MARQUES et al., 2004).