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A presente dissertação de mestrado consiste num recorte da pesquisa Redes que reabilitam: avaliando experiências inovadoras de composição de redes de atenção psicossocial – REDESUL10. Este estudo refere-se a etapa qualitativa do referido estudo, sendo privilegiado o estudo de caso do município de Caxias do Sul – RS. Este estudo tem uma abordagem metodológica qualitativa, descritiva e analítica, caracterizando-se por ser um estudo de caso.

Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso caracterizado como observacional, que segundo Triviños (2008) utiliza-se prioritariamente da observação participante como técnica de coleta de dados. O caráter descritivo deste estudo justifica-se por pretender pesquisar com exatidão e em profundidade, os fatos e os fenômenos de uma realidade

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A pesquisa Redesul constitui-se de um estudo qualitativo e quantitativo. O Estudo de Avalia- ção Quantitativa com uma abordagem epidemiológica avaliou a composição e qualidade das redes de atenção psicossocial da Região Sul do Brasil/RS através de um estudo descritivo para caracterizar a estrutura e processo de estruturação das redes de atenção em saúde mental; e de um estudo transversal para avaliar a autonomia dos usuários das redes de serviços em saúde mental. Englobou cinco municípios Rio Grande do Sul (Alegrete, Bagé, Caxias do Sul, Porto Alegre, Viamão), 39 serviços (6 CAPS e 33 SRT‟s), 14 coordenadores de CAPS (6) e SRT (8), 209 cuidadores/trabalhadores e 392 usuários de SRT e CAPS. O Estudo de Avaliação Qualitativa de experiências inovadoras de composição de redes de atenção psicossocial atra- vés da avaliação de quarta geração, construtivista e responsiva de Egon Guba e Yvona Lincoln e da metodologia de análise de redes do cotidiano de Paulo Henrique Martins a partir de mora- dores dos Serviços Residenciais Terapêuticos e os grupos de interesse (cuidado es/trabalhadores do SRT, moradores do SRT e gestores da rede de atenção em saúde mental) que vão se configurando através do fluxo estabelecido na rede de atenção psicossocial. Nesta etapa, realizaram-se dois estudos de caso (em Alegrete e Caxias do Sul) identificados como experiências com maior potencial de inovação de rede de atenção psicossocial. Para tanto foram realizadas observações participantes, entrevistas semi-estruturadas com moradores, cuidadores e gestores e grupo focal com os moradores e gestores (REDESUL, 2011).

específica. Nesta perspectiva o caráter descritivo deste estudo denomina-se estudo de caso, corroborando com Triviños (2008) quando evidencia que este tipo de estudo descreve em profundidade e com riqueza de detalhes a realidade estudada.

Geertz (2008), refere-se ao exercício etnográfico como uma descrição densa. Assim, fazer um exercício etnográfico é como tentar ler algo que é estranho ao pesquisador, como se fora um manuscrito, desbotado, com muitas incoerências, constituído de comentários tendenciosos. O etnógrafo anota o discurso social, e ao fazê-lo ele transforma este acontecimento do passado, que aconteceu apenas em seu momento no qual ocorreu em um relato que pode ser consultado novamente.

Nos achados antropológicos o que importa é sua especificidade complexa, ou seja, sua circunstancialidade. Desta forma, o material que passa a ser produzido em um trabalho de campo quase obsessivo e exaustivo de peneiramento, de caráter qualitativo (mas não necessariamente), altamente participante, é que podem concentrar toda espécie de sensibilidade na atualidade, que possibilita pensar não apenas concretamente sobre eles, sobretudo com eles (GEERTZ, 2008).

Sendo que Triviños (2008, pg 111) destaca a importância do estudo descritivo, no caso em questão do estudo de caso consiste em “fornecer o

conhecimento de uma realidade delimitada que os resultados obtidos podem permitir e formular hipóteses para o encaminhamento de outras pesquisas”.

Na concepção de Severino (2007) o estudo de caso refere-se a um caso em particular, considerado representativo de um grupo de casos análogos. Nesta metodologia específica, o caso escolhido para fundamentar uma generalização para situações análogas, sendo descrito em registros rigorosos e qualificados.

Gil (2007) evidencia a característica exaustiva e de aprofundamento típicas do estudo de caso, de maneira que se possa conhecer de forma ampla e detalhada, o que torna este tipo de estudo rico e particular por natureza.

Com base nas observações do antropólogo Florence Kluchon (1946), Gil (2007) traz à tona as principais vantagens relacionadas à observação participante:

 O rápido acesso aos dados relacionados às situações habituais e rotineiras, nas quais os membros do grupo observado estão mergulhados;

 O acesso aos dados que a comunidade considera de natureza privada são possibilitados pela imersão em campo de pesquisa; e

 A possibilidade de apreender palavras que possam acompanhar o comportamento dos observados, sendo desta maneira esclarecedora. Alguns limites da observação participante são ainda evidenciados por Gil (2007), a saber:

 O pesquisador ao assumir determinados papéis pode sofrer restrições nas informações;

 O pesquisador poderá sofrer limitações na qualidade das informações obtidas, pois sua participação poderá estar diminuída pela desconfiança dos observados.

 A amplitude da experiência poderá estar diminuída, pois o observador tender a assumir um papel dentro do grupo observado.

Como instrumentos para a coleta de dados, foram utilizados um roteiro para a observação-participante e o registro minucioso no diário de campo, além da utilização do ecomapa, que possibilitou mapear os vínculos de cada morador.

O ecomapa constitui-se de um instrumento utilizado largamente pelas enfermeiras canadenses Drª Lorraine M. Wright e Drª Maureen Leahey, o qual é composto por uma forma gráfica de representação, através de diagramas das relações do indivíduo ou da família com a comunidade, que permite avaliar as redes de apoio entre o indivíduo/ família e a comunidade e a qualidade e ou intensidade dos vínculos das relações. O indivíduo/família é representado por

um círculo no centro, e a rede social em círculos externos. As linhas que interligam os círculos indicam o tipo de relação (WRIGHT; LEAHEY, 2002).

Ainda para as autoras a validade do ecomapa reside no fato deste instrumento causar impacto visual, visto que seu objetivo é representar os relacionamentos, fluxos afetivos, conflitos relacionais, o trânsito dos indivíduos na comunidade, suas provações e as dificuldades da família e, por conseguinte do indivíduo com os sistemas mais ampliados, neste caso a rede. É um mapeamento que delineia pontos de conexões, interfaces que podem ser buscadas na resolução de conflitos no cotidiano. A gravura a seguir é adaptada da obra “Enfermeiras e Famílias – um guia para avaliação e intervenção na

família”, a qual se propõe a demonstrar a maneira gráfica do ecomapa e as

formas de relações e vínculos dos indivíduos de uma família hipotética (WRIGHT; LEAHEY, 2002).

Figura 4 – Exemplo de um ecomapa Fonte: WRIGHT; LEAHEY, 2002.

Assim os círculos externos representam as pessoas ou as instituições que os indivíduos transitam, a linha desenhada entre o círculo e o membro desta família hipotética representa a natureza do vínculo afetivo existente. As linhas retas indicam vínculos fortes, as linhas pontilhadas representam os vínculos tênues ou fracos e as linhas cortadas representam relações estressantes, sendo que as linhas onduladas expressam ainda vínculos negativos. Setas logo acima das linhas representam o fluxo de energia e os recursos.

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