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Os estudos realizados têm se empenhado em quantificar, entender e propor soluções para o fenômeno da evasão nos diversos níveis de ensino. Porém, Lobo (2012) prudentemente atenta para a dificuldade de padronização de tudo o que diz repeito à evasão. Um vasto campo de possibilidades permeia a determinação do tipo, o método de cálculo, assim como suas causas e consequências.

Na literatura sobre a temática, o conceito de evasão não é único. Brasil (1997) caracterizou a evasão em três categorias, a saber: evasão de curso, quando o estudante desliga-se do curso superior sem concluí-lo; evasão da instituição, quando o estudante se desvincula da instituição e evasão do sistema, quanto o estudante abandona os estudos, seja numa situação temporária ou definitiva. Observando essas categorias, Cardoso (2008) as divide em dois grupos: evasão aparente (mudança de curso ou de instituição) e evasão real (saída do sistema de ensino). Para o presente estudo será considerada a evasão de curso, isto é, o desligamento definitivo sem conclusão do aluno de seu curso de graduação, objetivando compreender as causas para a evasão na realidade dos cursos eleitos.

Para Dilvo Ristoff (1999), a evasão ocorre quando o aluno abandona os estudos. Ele entende que a migração discente entre cursos ou instituições caracteriza-se como mobilidade e não evasão. Afirma, ainda, que na mobilidade não há de se considerar desperdício ou fracasso, pois ela se configura em um processo natural de busca de crescimento do indivíduo. Lobo (2012), por sua vez declara que:

Na verdade, estritamente falando, toda vez que um aluno deixa de estudar em um curso, por qualquer razão, o curso teve uma perda (ou seja, houve uma Evasão!) que precisa ser analisada, mesmo que essa perda seja “compensada” pela ocupação de uma vaga em outro curso da IES, ou até no mesmo curso por outro aluno. Medir a Evasão não se trata só de verificar um “saldo de caixa”, ou seja, quantos alunos entraram menos quanto saíram, mas quem entrou e quem saiu e por quais razões, para que seja possível evitar outras perdas pelos mesmos motivos com ações que gerem mudanças e essas só acontecem se entendemos, claramente, o que está ocorrendo (LOBO, 2012, p. 26).

É notável esse entendimento de Lobo, pois conhecer o público de alunos cancelados e suas razões para evasão é fundamental para a eficácia nos resultados de diplomação de uma instituição, à medida que o conhecimento e a compreensão das causas permitem o encaminhamento de ações de combate. Brasil (1997) observa que, em razão da ausência de unanimidade quanto ao conceito de evasão, as análises realizadas nesse campo devem dimensioná-la de acordo com o estudo específico. Considerando que ao seguir essa conduta, pode-se evitar risco de generalizações ou simplificações desfiguradoras da realidade, permitindo, assim, qualificar adequadamente os dados quantitativos indicadores de desempenho.

Por essas razões parece importante pontuar, para efeito deste estudo e para outras tantas demandas de tomadas de decisões da gestão universitária, que na UFRN as situações que ocasionam cancelamento de programa, podendo ser consideradas como tipos de evasão, são classificadas da seguinte maneira:

- abandono de curso;

- decurso de prazo máximo para conclusão do curso; - insuficiência de desempenho acadêmico;

- solicitação espontânea, transferência para outra IES;

- não regularização de transferência de outra IES para a UFRN; - efetivação de novo cadastro e decisão administrativa.

Esses tipos de cancelamentos estão delineados no Regulamento dos Cursos de Graduação, norma que rege o ensino de graduação na universidade, aprovado por meio da Resolução nº 171/2013 – CONSEPE, de 05/11/2013.

Esta pesquisa foi realizada com estudantes evadidos pelo tipo desligamento cancelamento por abandono de curso, que acontece por duas formas, conforme o Artigo 322 da referida resolução.

Caracteriza-se abandono de curso por parte do estudante quando, em um período letivo regular no qual o programa não está suspenso, ocorre uma das seguintes situações:

I – não efetivação de matrícula; ou

II – nenhuma integralização de carga horária, gerada pelo trancamento de matrícula e/ou reprovação em todos os componentes curriculares nos quais o estudante está matriculado.

§ 1º O abandono de curso acarreta o cancelamento de programa no período letivo regular em que ele é caracterizado.

No que diz respeito à quantificação da evasão discente, constata-se que não é tarefa simples, considerando-se que há uma diversidade de variáveis que podem compor as análises. Silva Filho et al. (2007) afirmam que “a evasão pode ser medida em uma IES, em

um curso, em uma área de conhecimento, em um período de oferta de cursos e em qualquer outro universo, desde que tenhamos acesso a dados e informações pertinentes”. Os estudos que se propõem a identificar os índices de evasão podem valer-se de diferentes metodologias de cálculo. Nesta ocasião serão apresentadas apenas as formas de cômputo adotadas pelos estudos do Instituto Lobo12 e do COGRAD13/ANDIFES.

Conforme Lobo (2012), o cálculo da evasão utilizado pelo Instituto Lobo toma como base a evasão anual do conjunto dos cursos, ignorando a origem do ingressante (processo seletivo inicial, transferência ou outras formas de ingresso). Para realizar o cálculo e estimar a evasão anual do sistema, das IES e dos cursos, com os dados que são disponibilizados oficialmente, utiliza-se a taxa de permanência. A fórmula14, definida em função dos números constantes nos Censos da Educação Superior Brasileira, é:

P = [M(n)-Ig(n)] / [M(n-1)- Eg(n-1)], onde: P = Permanência;

M(n) = matrículas num certo ano

M (n-1) = matrículas do ano anterior a n

Eg (n-1) = egressos do ano anterior (ou seja, concluintes) Ig (n) = novos ingressantes (no ano n)

A partir da taxa de permanência, obtém-se o índice de evasão, ou abandono anual, pelo cálculo:

Evasão = 1 - P (multiplicar por 100 para obter %).

O COGRAD/ANDIFES desenvolveu seguinte fórmula para calcular a taxa de evasão anual com dados semestrais.

E(n) = 1 – [M1(n+1) – I1(n+1)] / [M1(n) + I2(n) – C1(n) – C2(n)], onde: M1 é número de matriculados no primeiro semestre

C1 é o número de concluintes no primeiro semestre

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O Instituto Lobo para Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia tem como objetivo principal “contribuir na solução dos problemas brasileiros nas áreas de educação, ciência e tecnologia. (...) As ações do Instituto Lobo visam reunir competência e experiência acadêmicas que possam ser transformadas em projetos de interesse do País.

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O COGRAD, Colégio de Pró-reitores de Graduação das IFES, é um órgão de assessoramento da ANDIFES nas temáticas ligadas a área Graduação. Criado em 2010, tem seus objetivos voltados a estudos e proposições de questões ligadas a sua área de atuação.

14

Esse cálculo é usado para analisar a Evasão Global, assim como a Evasão por tipo de Organização Acadêmica das IES, por Região Geográfica das IES e por Área de Conhecimento ou por Curso, dependendo dos dados oficiais disponibilizados. (LOBO, 2012)

C2 é o número de concluintes no segundo semestre I1 é o número de ingressantes no primeiro semestre I2 é o número de ingressantes no segundo semestre n é o ano em estudo

n+1 é o ano posterior ao de estudo

Numa perspectiva mais simplificada, Silva Filho et al (2007) apresentam duas abordagens denominadas evasão anual média e evasão total. A primeira mede qual a percentagem de alunos matriculados que, não tendo se formado, também não se matriculou no ano ou semestre seguinte (conforme a periodicidade do estudo). A segunda mede o número de alunos que ingressou, mas não obteve o diploma ao final de um prazo estabelecido para integralização.

O INEP tem divulgado anualmente e de forma pública os resultados do Censo da Educação Superior, como já mencionado anteriormente. Dentre as informações disponibilizadas, constam os dados referentes aos ingressantes, matriculados e egressos dos cursos de graduação. Silva Filho et al. (2007) avaliam que as sinopses do censo têm sido publicadas numa formatação padronizada e sistemática, possibilitando o uso de uma série de dados anuais que permitem gerar análises em termos de evolução de indicadores ao longo de um período significativo de anos. Todavia, com relação aos dados numéricos da evasão no país, Baggi e Lopes (2011) trazem uma reflexão bastante pertinente e relevante.

Com relação ao levantamento de dados oficiais sobre o fenômeno da evasão, o site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) não disponibiliza de forma explícita os números sobre a saída de alunos; o cálculo pode ser aproximado quando se leva em conta o número de alunos matriculados, ingressantes e concluintes a cada ano. (...) A disponibilidade de dados oficiais pelo governo deveria ser feita de forma mais direta e objetiva para que pudéssemos ter acesso e entender os números que viriam de fato a quantificar e qualificar a evasão. Isto possibilitaria um avanço em alterações nas políticas públicas que auxiliasse os estudantes e as instituições públicas ou particulares no combate à evasão escolar (BAGGI; LOPES, 2011, p. 364-365).

O quantitativo de evadidos computado para o presente estudo levou em consideração o número de cancelamentos por abandono de curso gerado ao consultar o Sistema de Registro e Controle Acadêmico da instituição (SIGAA/UFRN), conforme os critérios adotados para a pesquisa.

A evasão no ensino de graduação no Brasil tem sido objeto de estudo tanto em análises que consideram o tema numa dimensão nacional como dentro de cenários institucionais (no seu todo, em áreas específicas ou para cursos isoladamente). Em seu estudo,

Livramento (2012) menciona que é importante a realização de estudos institucionais direcionados as suas realidades.

A UFRN enfrenta essa problemática em seus cursos de graduação e tem se posicionado ativamente com relação à questão, objetivando a elevação de sua taxa de conclusão. Por meio de suas pró-reitorias, tem procurado desenvolver estratégias que visam combater as causas apontadas em análises de âmbito interno e em estudos nacionais sobre o tema. Essas estratégias englobam programas de melhoria da qualidade do ensino (Programa de Monitoria, Programa de Tutoria, Programa de Educação Tutorial, Programa de Apoio à Melhoria da Qualidade do Ensino); Programa de Atualização Pedagógica (PAP), que objetiva trabalhar as fragilidades na formação pedagógica dos docentes; Mostra de Profissões, realizada com o intuito de propiciar aos alunos do ensino médio um melhor esclarecimento sobre os cursos ofertados e, assim, os auxilie a fazer uma escolha mais consciente e acertada; assim como ações concernentes às políticas de assistência estudantil e de apoio aos estudantes com necessidades educacionais especiais, desenvolvendo ações que atendem a várias políticas de permanência nacionais.

(...) a UFRN assume, dentre as suas competências, a democratização do acesso ao ensino superior, a expansão das matrículas, a reposição do quadro docente, a adequação e ampliação da infraestrutura física e a melhoria das condições de permanência do estudante na Instituição, tendo como suporte o seu Plano de Gestão 2011/2015 e o seu PDI 2010-2019 (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE NO NORTE, 2015).

Mesmo tendo assumido uma postura diligente em relação à questão, o resultado global relacionado ao cancelamento de discente ainda está abaixo do esperado, demandando mais efetividade das ações, atenção a características específicas dos cursos e busca pelo conhecimento das motivações individuais dos alunos evadidos.

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