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Caracterização florística de áreas de campo e floresta

Anexo I – Foto representativa do Argissolo Amarelo Eutrófico Plintossólico (PAe)

4.1 Caracterização florística de áreas de campo e floresta

No levantamento florístico do Campo Batovi (CB) foram amostradas 70 espécies, distribuídas em 45 gêneros e 18 famílias botânicas. Desse total de espécies, 13 foram identificadas apenas em nível de gênero; nove em nível de família; e cinco espécies não foram identificadas (Tabela 1). As famílias com maior número de espécies foram Poaceae (25 espécies), Asteraceae (13 espécies), Apiaceae (5 espécies), Cyperaceae (3 espécies) e Fabaceae (3 espécies), representando cerca de 69,0% da riqueza específica total encontrada na área.

Tabela 1 – Composição florística da vegetação campestre no Campo Batovi (CB) e no Campo Santa Olga (CSO). São Gabriel, RS, 2015.

N Família Nome científico CB CSO

1 Amaranthaceae Gomphrena celosioides Mart. x x

2 Amaranthaceae Pfaffia tuberosa (Spreng.) Hicken x x

3 Apiaceae Centella asiatica (L.) Urb. x x

4 Apiaceae Eryngium elegans Cham. Et Schlecht. x

5 Apiaceae Eryngium horridum Malme x

6 Apiaceae Eryngium nudicaule Lam. x

7 Apiaceae Eryngium sp. x

8 Asteraceae Achyrocline satureioides (Lam.) DC. x

9 Asteraceae Baccharis articulata (Lam.) Pers. x

10 Asteraceae Baccharis dracunculifolia DC. x

11 Asteraceae Baccharis sp. x x

12 Asteraceae Baccharis trimera (Less.) DC. x x

13 Asteraceae Bidens pilosa L x

14 Asteraceae Chaptalia sinuata (Less.) Baker x x

15 Asteraceae Conyza bonariensis (L.) Cronquist x

16 Asteraceae Eupatorium sp. x

17 Asteraceae Eupatorium sp2. x

18 Asteraceae Facelis retusa (Lam.) Sch. Bip. x

19 Asteraceae Gamochaeta pensylvanica (Willd.) Cabrera x x

20 Asteraceae Lucilia nitens Less. x x

21 Asteraceae NI 13 x

22 Asteraceae NI 14 x

23 Asteraceae NI 3 x

24 Asteraceae NI 9 x

(Continuação...)

N Família Nome científico CB CSO

25 Asteraceae Senecio sp. x x

26 Asteraceae Sida rhombifolia L. x

27 Convolvulaceae Dichondra macrocalyx Meisn. x

28 Convolvulaceae Dichondra sericea Sw x x

29 Cyperaceae Cyperus laevigatus L. x x

30 Cyperaceae Cyperus sp. x x

31 Cyperaceae Scirpus sp. x

32 Cyperaceae Kyllinga odorata Vahl x

33 Dennstaedtiaceae Pteridium aquilinum (L.) Kuhn x

34 Equisetaceae Equisetum sp. x

35 Fabaceae Aeschynomene indica L. x x

36 Fabaceae Desmodium adscendens (Sw.) DC. x x

37 Fabaceae Desmodium incanum DC. x

38 Fabaceae Desmanthus tatuhyensis Hoehne x

39 Fabaceae Trifolium polymorphum Poir. x

40 Fabaceae Trifolium sp. x

41 Iridaceae Sisyrinchium micranthum Cav. x

42 Isoetaceae Isoetes echinospora Durieu x

43 Juncaceae Juncus sp. x

44 Malvaceae Sida rhombifolia L. x

45 Myrtaceae Psidium salutare var. mucronatum (Cambess.)

Landrum x 46 NI NI 10 x 47 NI NI 11 x 48 NI NI 5 x 49 NI NI 6 x x 50 NI NI 8 x 51 NI NI 7 x 52 NI NI 18 x 53 NI NI 19 x

54 Oxalidaceae Oxalis brasiliensis Lodd. x x

55 Oxalidaceae Oxalis perdicaria (Molina) Bertero x x

56 Passifloraceae Passiflora caerulea L. x

57 Plantaginaceae Plantago tomentosa Lam. x

58 Poaceae Andropogon lateralis Nees. x x

59 Poaceae Andropogon macrothrix Trin. x

60 Poaceae Aristida laevis (Nees) Kunth x

61 Poaceae Aristida sp. x

62 Poaceae Axonopus affinis Chase x

63 Poaceae Axonopus obtusifolius (Raddi) Chase x

64 Poaceae Urochloa decumbens (Stapf) R.D.Webster x

(Conclusão...)

N Família Nome científico CB CSO

65 Poaceae Briza cf. lamarckiana Nees x x

66 Poaceae Chusquea nutans L.G.Clark. x x

67 Poaceae Coelorachis selloana (Hack.) Henr. x

68 Poaceae Digitaria ciliaris (Retz.) Koeler x

69 Poaceae Eragrostis airoides Nees. x x

70 Poaceae Eragrostis plana (Nees) x

71 Poaceae NI 1 x 72 Poaceae NI 12 x 73 Poaceae NI 15 x 74 Poaceae NI 16 x 75 Poaceae NI 17 x 76 Poaceae NI 2 x 77 Poaceae NI 20 x 78 Poaceae NI 21 x 79 Poaceae NI 4 x

80 Poaceae Paspalum notatum Fluegge x x

81 Poaceae Paspalum plicatulum Michx. x x

82 Poaceae Paspalum sp. x x

83 Poaceae Poa sp x

84 Poaceae Poa sp1 x

85 Poaceae Saccharum angustifolium (Nees) Trin. x x

86 Poaceae Schizachyrium microstachyum (Desv. ex Ham.) Roseng. x x

87 Poaceae Setaria parviflora (Poir.) Kerguélen x x

88 Poaceae Sorghastrum stipoides (Kunth) Nash x x

89 Poaceae Steinchisma decipiens (Nees ex Trin.) W.V. Br. x x

90 Poaceae Stipa sp. x

91 Rhamnaceae Discaria americana Gillies & Hook. x

92 Rubiaceae Galianthe brasiliensis (Spreng.) E.L.Cabral & Bacigalupo x x

93 Solanaceae Salpichroa origanifolia (Lam.) Baill. x x

94 Solanaceae Solanum sp. x x

95 Talinaceae Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn. x

96 Urticaceae Urtica spathulata Smith x

97 Verbenaceae Verbena sp. x x

Em que: N - número de espécies.

No Campo Santa Olga (CSO) foram amostradas 60 espécies distribuídas em 42 gêneros e 17 famílias botânicas. Desse total, dez espécies foram identificadas em gênero, quatro em família e outras quatro não foram identificadas (Tabela 1). As famílias mais representativas em número de espécies foram Poaceae (20 espécies), Asteraceae (11 espécies), Fabaceae (5 espécies) e Cyperaceae (3 espécies). Representam, dessa forma, 65,0% do total da riqueza encontrada na área (Figura 4).

Figura 4 – Número de indivíduos pertencentes a cada família botânica registrado nas áreas de Campo Batovi e Campo Santa Olga. São Gabriel, RS, 2015.

Estudos realizados em outras áreas de campos nativos do Bioma Pampa, como na região central do Estado (QUADROS et al., 2003), na serra do sudeste em Canguçu (CAPORAL; BOLDRINI, 2007) e em Porto Alegre (SETUBAL; BOLDRINI, 2012) também apresentaram Poaceae, Asteraceae, Apiaceae, Cyperaceae e Fabaceae entre as famílias mais representativas.

Nas áreas amostradas foram encontradas duas espécies exóticas, a Urochloa

decumbens (Stapf) R.D.Webster (braquiária), amplamente usada para pastagens cultivadas, e Eragrostis plana (Nees), popularmente conhecida como capim-annoni, que foi introduzida

como forragem nos campos, e que se dispersou por todo o Estado. A fim de evitar uma possível invasão dessas espécies nos campos monitoramentos periódicos destas áreas fazem- se necessários.

No CSO foi observado menor número de indivíduos da família Poaceae quando comparado ao CB (Figura 4). Nessa área também foram observados, em meio à vegetação campestre, pequenos fragmentos de vegetação florestal, com predomínio de espécies pioneiras, encontrados em partes declivosas do terreno, em contato com nascentes ou afluentes hídricos em condições de solo encharcado ou úmido, locais propícios para o desenvolvimento florestal (PILLAR, 2003; SETUBAL; BOLDRINI, 2010; ROVEDDER, 2013).

O Campo Santa Olga está sem manejo (fogo e pastejo) há mais de seis anos, o que pode alterar a estrutura da vegetação, passando a predominar as gramíneas cespitosas, bem como a baixa diversidade de espécies herbáceas (BOLDRINI; EGGERS, 1996; OVERBECK et al., 2007; SETUBAL, 2010).

Na área do CSO observa-se a presença de indivíduos de Baccharis sp. e Eupatorium sp. espalhados pelo campo, juntamente com uma fonte de propágulos de espécies florestais próximos a essa área. Acredita-se, portanto, que esta seja uma área em transição, pois há condições propícias para o desenvolvimento de florestas. Dessa forma, se não houver ação antrópica pode ocorrer o estabelecimento florestal, mesmo que de forma muito lenta (PILLAR 2003; OLIVEIRA; PILAR, 2004; MULLER, 2005; SETUBAL; BOLDRINI, 2010).

Com o aparecimento de espécies arbustivas e o aumento daquelas pertencentes às famílias Asteraceae, Fabaceae, Rubiaceae, Rhamnaceae e Urticaceae, além da exclusão do fogo que não é mais fator impeditivo para o florescimento e frutificação das espécies hibernais, supõe-se a existência de um número maior de espécies C3 no CSO em comparação ao CB.

No levantamento florístico realizado nas áreas de floresta do CSO foram encontrados 211 indivíduos arbustivos-arbóreos na FSOI, distribuídos em 23 espécies, 21 gêneros e 16 famílias botânicas. Na FSOM foram encontrados 634 indivíduos, os quais se distribuem em 27 espécies, 25 gêneros e 20 famílias botânicas (Tabela 2).

As famílias botânicas que apresentaram maior número de espécies em FSOI foram Myrtaceae, com três espécies; Anacardiaceae, Euphorbioaceae, Sapindaceae e Rutaceae, com duas espécies cada. Estas cinco famílias abrangem 47,9% do total de espécies e 77,7% do total dos indivíduos. Em FSOM as famílias com maior riqueza foram Euphorbiaceae e Myrtaceae, com três espécies; Anacardiaceae, Primulaceae e Sapindaceae, com duas espécies cada, as quais juntas compreendem 60,0% da riqueza específica e 67,0% do total de indivíduos.

Tabela 2 – Espécies arbóreas encontradas nos fragmentos de vegetação florestal, classificação quanto aos grupos ecológicos (GE) e as síndromes de dispersão (SD). São Gabriel, RS, 2015

Família Espécies Nome popular

NI- FSOI

NI-

FSOM GE SD Anacardiaceae Lithraea molleoides (Vell.) Engl. Aroeira-

brava 48 70 PI ZOO Anacardiaceae Schinus polygamus (Cav.) Cabrera Assobiadeira 6 12 PI ZOO Arecaceae Syagrus romanzoffiana (Cham.)

Glassman Jerivá 1 I ZOO Asteraceae Moquiniastrum polymorphum

(Less.) G. Sancho Cambará 24 I ANE Asteraceae Baccharis dracunculifolia DC Vassoura 2 PI ANE Cannabaceae Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg. esporão-de-

galo 1 4 PI ZOO Cardiopteridaceae Citronella paniculata (Mart.)

Howard Congonha 5 I ZOO Celastraceae Maytenus ilicifolia Mart. ex

Reissek

Espinheira-

santa 2 I ZOO Erythroxylaceae Erythroxylum myrsinites Mart. Cocão 1 I ZOO Escalloniaceae Escallonia bifida Link & Otto Canudo-de-

pito 3 PI ANE Euphorbiaceae Gymnanthes klotzschiana

Müll.Arg. Branquilho 55 186 PI AUTO Euphorbiaceae Sebastiania brasiliensis Spreng. Branquilho-

leiteiro 1 101 I AUTO Euphorbiaceae Sapium haematospermum

Müll.Arg. Pau-leiteiro 3 PI ZOO Fabaceae Erythrina cristagalli L. Corticeira-

do-banhado 1 PI ZOO Lauraceae Ocotea pulchella (Nees) Mez Canela-

lageana 3 10 I ZOO Malvaceae Luehea divaricata Mart. & Zucc Açoita-

cavalo 1 I ANE Myrtaceae Myrrhinium atropurpureum Schott Murtilho 8 14 I ZOO Myrtaceae Blepharocalyx salicifolius (Kunth)

O.Berg Murta 3 10 I ZOO Myrtaceae Eugenia uniflora L. Pitanga 4 8 I ZOO Primulaceae Myrsine laetevirens (Mez)

Arechav Capororocá 11 I ZOO Primulaceae Myrsine coriacea (Sw.) R.Br. Capororocá 4 1 PI ZOO Quillajaceae Quillaja brasiliensis (A.St.-Hil. &

Tul.) Mart.

Sabão-de-

soldado 15 PI ANE Rhamnaceae Scutia buxifolia Reissek Coronilha 21 33 I ZOO Rosaceae Prunus myrtifolia (L.) Urb. Pessegueiro-

do-mato 2 I ZOO Rutaceae Guettarda uruguensis Cham. &

Schltdl. Veludinho 6 56 I ZOO Rutaceae Zanthoxylum fagara (L.) Sarg. Coentrilho 11 PI ZOO Rutaceae Zanthoxylum rhoifolium Lam. Mamica-de-

cadela 10 PI ZOO (Continua...)

(Conclusão...)

Família Espécies Nome popular

NI- FSOI

NI-

FSOM GE SD Salicaceae Xylosma prockia (Turcz.) Turcz. Sucará 1 20 I ZOO Sapindaceae Cupania vernalis Cambess. Camboatá-

vermelho 11 3 I ZOO Sapindaceae Allophylus edulis (A.St.-Hil. et al.)

Hieron. ex Niederl. Chal-chal 7 6 I ZOO Sapotaceae Chrysophyllum marginatum

(Hook. & Arn.) Radlk.

Aguaí-

vermelho 1 I ZOO Styracaceae Styrax leprosus Hook. & Arn. Carne-de-

vaca 1 33 PI ZOO Verbenaceae Citharexylum montevidense

(Spreng.) Moldenke

Tarumã-de-

espinho 2 3 I ZOO

Total 211 634

Em que: NI: número de indivíduos; FSOI: Floresta Santa Olga Inicial; FSOM: Floresta Santa Olga Média; GE: Grupo ecológico, P: pioneira; I: intermediária; SD: Síndrome de dispersão. ZOO: zoocórica; ANE: anemocórica; AUTO: autocórica.

Trabalhos realizados em outras matas ciliares do Bioma Pampa nas regiões mais próximas à serra do Sudeste e ao litoral apresentam número de espécies e famílias superiores às do presente estudo (SOARES; FERRER, 2009; KILCA et al., 2012). A diferença ora observada em relação aos estudos anteriores pode ser explicada a partir do histórico da área em relação à pecuária extensiva. Normalmente, os animais causam severos danos à estrutura da vegetação, principalmente pelo pisoteio, predação da regeneração natural, e compactação do solo, o que dificulta a germinação das sementes e o crescimento regenerativo das espécies (WILSON, 1994; PILAR; QUADROS, 1997; MARCHIORI, 2004).

Além dos fatores regionais, as matas ribeirinhas sofrem a influência de muitas outras variáveis locais, o que torna esses ambientes muito dinâmicos e heterogêneos, proporcionando à floresta composição e estrutura próprias (RODRIGUES; NAVE, 2001).

Estudo realizado por Grela (2003) nas matas ciliares do Rio Lunarejo, no Departamento de Rivera, Uruguai, encontrou 29 e 30 espécies, respectivamente em área com corte seletivo de madeiras, e em área testemunha, sem cortes. Na região da serra do Sudeste, na mata ciliar do Rio Camaquã, Marchi e Jarenkow (2008) encontraram 29 espécies em área com periódicas enchentes. Esses números são próximos aos encontrados nas áreas do presente estudo, o que demonstra a imensa variação que há entre as matas ciliares do Estado, bem como entre os seus estágios sucessionais.

Ao observar as famílias predominantes nos estudos de florística e fitossociologia das Florestas Estacionais do Rio Grande do Sul nota-se que Myrtaceae e Euphorbiaceae estão

entre as mais representativas (JARENKOW; WAECHTER, 2001; JURINITZ; JARENKOW, 2003; ARAÚJO et al., 2004; BUDKE et al., 2004; SCCOTI, 2012; SCIPIONI; GALVÃO; LOGHI, 2013) no que tange à semelhança entre os resultados ora encontrados. A família Fabaceae é uma das mais comumente encontradas nas áreas florestais do Estado (JARENKOW; WAECHTER, 2001; GIEHL; BUDKE; ATHAYDE, 2007a), porém, verificou-se apenas uma espécie na FSOM, o que se deve, provavelmente, ao estágio mais inicial dos fragmentos. É provável, também, que as outras espécies da família não tenham conseguido se estabelecer no local.

Com base nas síndromes de dispersão dos diásporos ocorrentes em FSOI, 82,6% das espécies têm seus diásporos dispersos de forma zoocórica; 8,7% são anemocóricas; e 8,7% são autocóricas. Em FSOM 81,5% são zoocóricas; 11,1% são anemocóricas; e 7,4% são autocóricas (Figura 5).

Figura 5 – Número de espécies em relação à síndrome de dispersão dos diásporos de espécies, nos fragmentos florestais. São Gabriel, RS, 2015.

Em que: Zoo: zoocórica; Ane: Anemocórica; Auto: Autocórica.

As florestas tropicais possuem riqueza de espécies arbóreas com dispersão zoocórica (MORELLATO; LEITÃO-FILHO, 1992), o que confirma a importância dos agentes bióticos no fluxo gênico em formações florestais. Este modo de dispersão das espécies lenhosas condiz com os resultados de vários autores no sul do Brasil, que igualmente enfatizam a sua importância (BUDKE et al., 2005; LINDENMAIER; BUDKE, 2006; GIEHL et al., 2007b; GRINGS; BRACK, 2009; SCOTTI, 2012). Estes resultados também estão de acordo com

Howe e Smallwood (1982), para quem as florestas tropicais e subtropicais têm o predomínio de espécies dispersas por animais.

O conhecimento das síndromes de dispersão das espécies é ferramenta importante para efetuar ações de manejo, conservação e, se necessário, a recuperação de ambientes próximos. Ademais, não apenas caracteriza a flora arbórea, mas demonstra a dependência e a necessidade da fauna para a perpetuação das áreas. Em consequência da ausência ou baixa abundância de animais frugívoros nos fragmentos, o sucesso reprodutivo das plantas, medido pela remoção de seus frutos, pode ser drasticamente afetado, pois as sementes que caem sob a planta-mãe quase sempre estão fadadas a morrer pela competição com ela e, também, pela desproporcional mortalidade nessa área (JANZEN, 1970; HOWE, 1984; JORDANO et al., 2006).

Das espécies classificadas quanto aos grupos ecológicos em FSOI, 56,5% são intermediárias e 43,5% são pioneiras. Em FSOM, 63,0% das espécies são classificadas como intermediárias e 37,0% como pioneiras, sendo que não foram observadas espécies clímax em nenhuma das áreas (Figura 6), as quais necessitam de níveis de sombreamento para seu desenvolvimento. Dessa forma, espécies de grupos ecológicos como pioneiras e intermediárias povoam primeiro ambientes com elevadas taxas de luminosidade. Com o seu desenvolvimento ocorre um sombreamento maior e, assim, as espécies clímax têm ambiente propício para se desenvolver (SWAINE; WHITMORE, 1988).

Figura 6 - Percentual de espécies em relação aos grupos ecológicos, nos fragmentos florestais. São Gabriel, RS, 2015. Em que: I: Intermediárias; P: Pioneira

As espécies Baccharis dracunculifolia, Escallonia bifida, Maytenus muelleri, Syagrus

romanzoffiana, Zanthoxylum fagara e Zanthoxylum rhoifolium ocorrem apenas em FSOI.

Estas possuem síndromes de dispersão zoocóricas, com exceção da B. dracunculifolia e E.

bifida que são anemocóricas. Estas duas espécies arbustivas e pioneiras comumente

dispersam-se pelos campos, não sendo comum encontrá-las em fragmentos florestais com elevados regimes de sombra. A sua permanência no fragmento demonstra o seu caráter inicial de sucessão e o grau elevado de iluminação (ROVEDDER, 2013; FELKER, 2014).

Com os resultados obtidos em relação ao número de espécies, às síndromes de dispersão e aos grupos ecológicos das espécies, observa-se estágio de desenvolvimento inicial nas áreas. Assim, a manutenção da fauna especializada na dispersão dos diásporos é de suma importância para a perpetuação dessas áreas, bem como o controle de fatores de degradação (gado).

Os manejos utilizados e mais apropriados são opostos aos indicados para a conservação das florestas. Por exemplo, o gado, ao pastejar e selecionar as espécies herbáceas e impedir o estabelecimento do banco de sementes florestais, atua como um mantenedor do campo (ROVEDDER, 2013). Por outro lado, se nas áreas de campo não for executado nenhum tipo de manejo, elas tendem a se tornarem florestas, mesmo que isto ocorra de uma forma lenta e gradual. Essa é a tendência das áreas campestres sem manejo e com remanescentes florestais próximos (PILLAR, 2003; MULLER, 2005).

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