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Capítulo 1 Introdução

1.2 Caracterização geral do estudo

O estudo que nos propomos desenvolver insere-se no âmbito da Didática do Inglês, língua estrangeira, e pretende abordar a problemática da

7 aprendizagem hipermédia.

O desenvolvimento da competência de compreensão de textos escritos é particularmente importante no âmbito da aprendizagem do Inglês no Ensino Superior. Levine et al. (2000:1) consideram que:

The ability to read academic texts is considered one of the most important skills that university students of English as a (…) Foreign Language (EFL) need to acquire. It should be noted that for the most part reading instruction in the ESL and EFL university courses tend to focus on text processing, on the reader’s understanding of the language of the text.

O papel da leitura na aprendizagem é aceite de forma consensual. No contexto do Ensino Superior, na fase atual após a implementação do Processo de Bolonha, que enfatiza o desenvolvimento da autonomia do aluno, a leitura ainda se reveste de maior importância. Para além do âmbito da unidade curricular de Inglês, várias obras de consulta não existem em traduções portuguesas e a informação na internet divulga-se essencialmente nesta língua. Convém clarificar que nos referimos à leitura de textos narrativos ou descritivos, com o objetivo de obter informação sobre um assunto específico, no sentido em que Harrison (2004:3) considera “(…) reading for information”.

De acordo com Smith (2004:3) e a sua conceção de leitura, ler é essencialmente compreender e interpretar o mundo que nos rodeia e consequentemente é também aprender. “All learning and comprehension is interpretation, understanding an event from its context (or putting the event into a context). All reading of print is interpretation, making sense of print.”

8 Na sua opinião, compreender e aprender resultam das ligações que conseguimos fazer entre a informação nova e os conhecimentos que já adquirimos.

We don’t have to know something in advance in order to comprehend it. But we must be able to relate new things to what we already know if we are to comprehend them. And relating something new to what we already know is of course learning. We learn to read, and we learn through reading, by elaborating what we know already. (Smith, 2004:13)

Esta perspetiva sobre o papel da leitura na aprendizagem, “Reading as thinking and learning” (Smith, 2004:3), é a que está subjacente ao estudo que nos propomos desenvolver.

A leitura de textos escritos sobre vários temas previstos no programa de uma unidade curricular de Língua Inglesa, tendo como objetivo desenvolver os conhecimentos dos alunos sobre esses temas, é uma atividade comum com os grupos de nível intermédio e avançado, no Ensino Superior. Contudo, os alunos, frequentemente, revelam dificuldades na compreensão dos textos mais complexos e nas tarefas de leitura que exigem transferência de conhecimentos. Ao lhes ser dada uma tarefa que implique a leitura de vários documentos sobre o mesmo tema, mas desenvolvido sob perspetivas diferentes, com o objetivo de produzir uma síntese que revele a compreensão dos textos lidos e as diversas nuances do tema abordado, os alunos, muitas vezes, apenas resumem cada texto em separado. Revelam dificuldades em produzir uma síntese de todos os documentos, o que demonstra uma compreensão superficial dos textos lidos e a incapacidade de compreender o tema na sua globalidade.

9 compreensão de textos escritos que impliquem a transferência de conhecimentos e a procura de estratégias para ultrapassar essas dificuldades justificam a definição da problemática desta investigação. Por outro lado, relativamente aos temas a abordar nos textos propostos aos alunos, e de acordo com o QECRL (2001), uma das competências gerais que o aprendente de uma língua deverá desenvolver é o conhecimento sociocultural. Habitualmente, quando chegam ao Ensino Superior, os alunos apenas adquiriram conhecimentos superficiais ou imprecisos sobre aspetos da sociedade e cultura Britânica atual, predominando os estereótipos sobre comportamentos e características nacionais.

Tendo em conta as questões acima referidas, decidimos utilizar um ambiente de aprendizagem digital com o objetivo de desenvolver um estudo sobre a compreensão de textos escritos em Inglês. Foi criada uma unidade didática para trabalhar com os alunos da unidade curricular Língua Estrangeira – Inglês, do 1º ano do curso de Ciências da Comunicação, da Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve.

O ambiente de aprendizagem digital escolhido foi a plataforma

DidaktosOnLine (Moreira et al., 2005). O DidaktosOnLine foi concebido

com base numa perspetiva construtivista da aprendizagem,

concretamente de acordo com a Teoria da Flexibilidade Cognitiva (Spiro

et al., 1987; Spiro, Coulson, Feltovich & Anderson,1988; Spiro & Jehng, 1990;

Spiro, Feltovich, Jacobson & Coulson, 1992).

A plataforma DidaktosOnLine é uma atualização do protótipo DIDAKTOS (Moreira et al., 2001), que deste modo se torna acessível a uma comunidade mais alargada de potenciais utilizadores. O termo DIDAKTOS

10 é um acrónimo da expressão Didactic Instructional Design for the

Acquisition of Knowledge and Transfer to Other Situations.

A Teoria da Flexibilidade Cognitiva, teoria de aprendizagem, de ensino e de representação do conhecimento, “valoriza” a atividade construtiva individual do sujeito e nessa perspetiva apresenta contributos potencialmente interessantes para um estudo sobre os processos de compreensão. Na sua vertente de teoria de ensino, sugere orientações para a construção de hipertextos “com finalidades educativas”. Estes hipertextos, devido a características do seu design, possibilitam, de acordo com Moreira (1996:40), por exemplo, “(…) acesso não-linear aos materiais educativos” e “capacidades flexíveis de ligação que permitam representações múltiplas e interrelacionadas do conhecimento complexo”, o que os torna ferramentas interessantes para facilitar a aprendizagem em domínios de conteúdo complexo, a aquisição e transferência de conhecimento de nível avançado, como é o caso do estudo de aspetos culturais da sociedade britânica na atualidade, temática dos textos a compreender pelos alunos neste estudo.

Mishra, Spiro & Feltovich (1996:290-291) explicam o conceito de hipertexto e hipermédia da seguinte forma:

The term hypertext refers to computer based information systems that are characterised by their mutability: They can be “restructured” along different dimensions, for different purposes, at different times. As such, they are distinguished from other media by the extent to which

they engender nonlinear and multidimensional

explorations of their content. Hypertext has the ability to produce large, complex, richly connected, and cross- referenced bodies of information in a number of different

11 data). Often the term “hypermedia” has been used to

refer to systems containing multiple media

representations. That term has been used interchangeably with “hypertext.” We prefer the latter term, which conveys the sense of text as any object of study that affords rich interpretation (as it is used, for example, in poststructuralist theory e.g., Barthes, 1970).

De acordo com a Teoria da Flexibilidade Cognitiva, a aprendizagem resulta de um processo de construção de conhecimento por parte do aprendente, o que implica uma postura ativa e não apenas uma aquisição, mais ou menos passiva, de um repertório de conteúdos.

Atendendo a que, segundo a perspetiva das teorias cognitivas de aprendizagem, a compreensão é um processo ativo de construção de significados, que envolve a ativação de schemata sobre determinados conteúdos ou a sua reorganização perante informação nova, (Anderson & Pearson, 1988; Carrell & Eisterhold, 1988; Smith, 2004; Spiro, Feltovich, Jacobson & Coulson, 1992), os hiperdocumentos de Flexibilidade Cognitiva surgem como ferramentas inovadoras, no âmbito das chamadas ferramentas cognitivas com aplicações “interessantes” para ajudar a desenvolver as competências de compreensão escrita em língua estrangeira.

De acordo com uma abordagem construtivista da compreensão de textos, o leitor é visto como “(…) um construtor de conhecimento” (Lencastre, 2003:7). O processo de compreensão é um processo construtivo e complexo que resulta da interação de diversos fatores. Dois grandes grupos desses fatores são as características do texto e as características do leitor. Segundo Lencastre (2003), relativamente às

12 características do texto, são importantes, por exemplo, o conteúdo, a estrutura e o suporte em que é apresentado.

Num ambiente de aprendizagem digital, o design do documento possivelmente terá influência sobre o modo como os leitores leem e aprendem. Mishra, Spiro & Feltovich (1996), referindo-se especificamente aos sistemas hipertexto baseados na Teoria da Flexibilidade Cognitiva (Spiro et al., 1987; Spiro, Coulson, Feltovich & Anderson,1988; Spiro & Jehng, 1990; Spiro, Feltovich, Jacobson & Coulson, 1992), salientam que:

It is now widely accepted that technology is not neutral with regard to its effect on cognition. By this we do not imply merely that different technologies have different strengths or weaknesses as they relate to thought processes but, rather that different technologies (or media) engender different mind-sets or ways of thinking. (Mishra, Spiro & Feltovich, 1996:287-288)

Tierney (2009:262), como vimos na secção 1.1, também destaca as características dos novos ambientes de aprendizagem digitais que refere como “the architecture of digital spaces.” e explica que o papel do leitor é o de construir significado “weaving meanings”.

Quanto às características do leitor, são importantes aspetos, tais como o conhecimento prévio sobre a temática do texto, a perspetiva, os interesses e as atitudes do leitor, o objetivo da leitura, a capacidade cognitiva e as estratégias e estilos de processamento. Como sugere Lencastre (2003:221), referindo-se aos hipertextos de flexibilidade cognitiva, “Seria importante levantar questões relativas às diferenças individuais, por exemplo, nos estilos de aprendizagem.”

13 nosso estudo pretendemos analisar:

Relativamente à variável texto, as características que um hiperdocumento de flexibilidade cognitiva empresta aos textos apresentados através desse suporte. Sendo a leitura um processo interativo, a apresentação do texto em suporte igualmente interativo terá eventualmente influência no modo como o mesmo é compreendido. Pretendemos verificar se a leitura de textos integrados num hiperdocumento organizado de acordo com os princípios da Teoria da Flexibilidade Cognitiva influencia a compreensão desses textos, especialmente analisar o modo como alguns aspetos do

design do hiperdocumento, por exemplo a possibilidade de efetuar

travessias temáticas, eventualmente influencia os resultados das tarefas de compreensão. Teremos sobretudo em conta que, de acordo com a Teoria da Flexibilidade Cognitiva, esse tipo de hiperdocumentos facilita a aquisição e a transferência de conhecimento, visto que a apresentação dos conteúdos sob várias perspetivas ajuda a construção da compreensão desses conteúdos. (Spiro & Jehng, 1990; Moreira et al. 2005); No que diz respeito à variável leitor, pretendemos verificar a importância de algumas características individuais dos leitores no modo como compreendem os textos apresentados nesta plataforma interativa. Serão analisados, entre outros, os seguintes fatores: conhecimentos linguísticos; estilos de aprendizagem; preferências epistémicas e conhecimento prévio sobre o tema em estudo.

O contexto de aprendizagem a estudar apresentará assim exemplos práticos de utilização do DidaktosOnLine, com um enfoque em cada um dos alunos e nas suas características individuais, tentando dar respostas a perguntas semelhantes às que Kern & Warschauer (2000:2) apresentam na citação seguinte:

14 The computer, like any other technological tool used in

teaching (e.g. pencils and paper, blackboards, overhead projectors, tape recorders), does not in and of itself bring about improvements in learning. We must therefore look to particular practices of use in particular contexts in order to begin to answer the question. Furthermore, these practices of use must be described as well as evaluated in terms of their specific social context. Who were the learners? What exactly did they do? For what purpose? In what setting? With what kinds of language? In what patterns of social interaction? What were the particular outcomes in terms of quantity/quality of language use, attitudes, motivation?

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