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CARACTERIZAÇÃO GERAL

No documento UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR (páginas 59-64)

CAPÍTULO III –FLORICULTURA

3.1. FLORICULTURA NA UNIÃO EUROPEIA

3.1.1. CARACTERIZAÇÃO GERAL

Nos últimos anos, a produção e o comércio aumentaram tanto na União Europeia como nos países terceiros. A superfície total abrangida pela horticultura ornamental ascende a cerca de 115000 hectares, dos quais aproximadamente 22000 são consagrados à produção de bolbos, cujo principal produtor são os Países Baixos.

Fernandes, A., 1999, Organização e Desenvolvimento do Mercado da Floricultura e sua Importância para a Para se confirmar a importância da UE, basta dizer que 80% do comércio mundial ocorre no interior deste mercado, sendo a Holanda o maior exportador do mundo. (Serrão, 1996). Para além disso, a nível mundial, a UE é também o maior consumidor de flores, sendo a Holanda o principal país consumidor. Por outro lado, a UE conjuntamente com o Japão e a América do Norte constituem os principais mercados, encontrando-se em forte expansão. Até há bem pouco tempo, a falta de meios de transporte eficazes implicava que o abastecimento destes mercados se fizesse, quase que em exclusivo, com recurso à oferta interna. Actualmente, segundo a OCDE (1998a), flores de corte são transportadas em aviões de carga desde a América Latina para a Europa e EUA durante o Inverno. Neste contexto, Buschman (1991) salienta o facto das importações terem vindo a desempenhar uma importância crescente no abastecimento destes mercados. Para Ochoa (1992) é de destacar a importância do cravo no comércio mundial na medida em que esta flor representa 20% do comércio mundial. Quando considerado conjuntamente com a rosa e o crisântemo chegam a representar 50% desse comércio.

As importações comunitárias globais provenientes de países terceiros elevaram-se, em 1996, a 286000 toneladas (875 milhões de ECU16), o que representa uma progressão de

cerca de 113% relativamente aos valores de 1988. Cerca de metade dessas quantidades era composta por flores cortadas frescas, representando a UE o mercado mais importante do mundo. Convém notar que cerca de 80% dessas flores podem ser importadas com isenção de direitos aduaneiros, no âmbito de acordos concluídos com países terceiros, nomeadamente o sistema de preferências generalizadas com a

16 Em 1996, 1 ECU = 198$20

Fernandes, A., 1999, Organização e Desenvolvimento do Mercado da Floricultura e sua Importância para a Economia da Região de Trás-os-Montes e Alto Douro, UBI.

Colômbia ou outros países da América Central e do Sul, ou ainda os concluídos com países ACP no âmbito da Convenção de Lomé.

Para Israel, Marrocos, Jordânia e Chipre, a isenção pautal é concedida no âmbito de contingentes e com a condição de, para as rosas e cravos, respeitarem um preço de importação que não pode ser inferior a uma determinada percentagem do preço comunitário desses produtos. Esses contingentes são aumentados 3% por ano em relação aos três primeiros países e 5% por ano em relação a Chipre, no quadro da política mediterrânea renovada. Aliás, para Serrão (1996), é a inexistência de políticas de protecção aduaneiras que, aliada aos custos de produção inferiores de países terceiros que torna a concorrência mais feroz, minimizando o princípio da preferência comunitária. É neste panorama que o binómio alta qualidade/baixo preço se apresenta como uma necessidade para fazer face a esta situação e garantir o sucesso comercial das empresas europeias.

A Colômbia está a perder o lugar que ocupava de segundo fornecedor principal da UE em flores cortadas frescas (20000 toneladas) em beneficio do Quénia (29000 toneladas), permanecendo Israel em primeiro lugar (37000 toneladas). Para Haines (1996) foi o transporte aéreo, o clima favorável e os baixos custos de mão-de-obra que permitiram transformar o Quénia numa grande força no mundo da floricultura.

As exportações comunitárias globais para os países terceiros elevaram-se, em 1996, a cerca de 263000 toneladas com um valor de 8l8 milhões de ECU contra as 340000 toneladas (1,17 mil milhões de ECU) em 1994, o que denota uma quebra muito acentuada nas exportações, principalmente e por ordem de importância, de plantas vivas

Fernandes, A., 1999, Organização e Desenvolvimento do Mercado da Floricultura e sua Importância para a e de viveiro, bolbos, flores cortadas frescas e folhagens. Krol (1994) defende a ideia de que, apesar dos holandeses controlarem 70% das exportações mundiais de flores de corte e terem quase o monopólio das vendas de bolbos (90%), estão preocupados com o sector. Segundo este investigador, o sector floresce nas novas economias em desenvolvimento, onde o clima é propício e os custos de produção são baixos. Este facto tem contribuído para a diminuição da margem de lucro. Para além disso, os floricultores Europeus sentem, cada vez mais, a pressão dos ambientalistas no sentido de produzirem flores segundo as normas da agricultura biológica (OCDE, 1998b).

Da mesma opinião, Farrell (1993) refere alguns desses países a título de exemplo: Tailândia, Colômbia, Israel e Zimbabwe. A Tailândia é objecto de um estudo por parte de Handley (1992), no qual reafirma a importância deste país. A Tailândia exportou, em 1991, 80 milhões de dólares de flores, sendo quase a totalidade orquídeas. Wallengren (1997) refere a Tanzânia como um dos países que melhor tem respondido à crescente procura deste produto por parte dos mercados europeus.

Nesta linha, Lawson e outros (1996) reafirma a importância dos holandeses no comércio mundial, atribuído-lhes 60% das exportações de flores de corte, seguindo-lhes a Colômbia, a Itália e Israel Além disso, afirma que estes são os líderes mundiais do negócio das flores embora lhes falte vantagem comparativa, tendo de inovar a cada passo da cadeia de valor, criando tecnologia e inputs altamente especializados de forma a aproveitar ao máximo a produtividade dos recursos e, desse modo, fazer face às desvantagens naturais.

Fernandes, A., 1999, Organização e Desenvolvimento do Mercado da Floricultura e sua Importância para a Economia da Região de Trás-os-Montes e Alto Douro, UBI.

Neste contexto, Barletta (1996) e Lawson e outros (1996), referem-se ao aumento da concorrência internacional e, consequente saturação do mercado degenerando-se numa crise que, segundo Hamrick (1996), se traduzirá na falência de alguns floricultores holandeses devido a dificuldades financeiras. Estes floricultores têm vindo a manter-se no negócio através do uso de estratégias quer de aumento da produtividade, quer de redução dos custos. A crise atinge mais violentamente os floricultores que, tradicionalmente, têm sido inflexíveis e não estão devidamente orientados para o mercado.

Para Barletta (1996), a resposta passa pelo comércio electrónico como forma de adicionar valor à floricultura. Maas e outros (1996), referem o aumento da qualidade de gestão e do controlo integral da fileira por parte de cooperativas como o pré-requisito para a sobrevivência da floricultura holandesa. Investigadores como Lawson e outros (1996) consideram que a resposta à mudança registada no mercado mundial devida ao aumento da concorrência, passa pelo aumento da qualidade. Para isso, a certificação do produto é importante pois permite a verificação de que o produto não possui qualquer doença. Neste contexto, a imposição de restrições às importações de produtos que possam conter insectos ou microorganismos nocivos poderá ser uma medida que permitirá atingir níveis de qualidade elevada salvaguardando, simultaneamente, a floricultura Europeia.

Quadro 3 – Balança Comercial Europeia

1993 1994 ∆ % 1995 ∆ % 1996 ∆ %

Importações (milhões de ECU) 673 725 8% ____ ____ 875 ____

Exportações (milhões de ECU) 1030 1170 14% ____ ____ 868 ____

Balança comercial (milhões de ECU) 367 455 24% 107 - 75% - 7 - 107%

Fernandes, A., 1999, Organização e Desenvolvimento do Mercado da Floricultura e sua Importância para a Para a Comissão Europeia (1995), o balanço do comércio externo, para o conjunto do sector, é positivo e salda-se , em 1994, por um excedente de exportação de 455 milhões de ECU, ou seja, um nítido aumento de 24% relativamente a 1993. Contudo, dois dos subsectores, o das flores cortadas frescas e o das folhagens, apresentam um excedente de importação. No que respeita a flores, este eleva-se, em 1994, a 40000 toneladas, o que equivale a 22 milhões de ECU.

No entanto, o balanço do comércio externo, para o sector considerado no seu conjunto, é negativo para o ano de 1996, enquanto em 1995 era ainda positivo. Esta situação resulta do facto de, em relação a dois subsectores, o das flores cortadas frescas e o das folhagens, o excedente de importação se ter elevado respectivamente, a 204 milhões de ECU e 184 milhões de ECU.

O panorama actual da floricultura na União Europeia, atrás descrito, resulta de um enquadramento legal que remonta a 1968, quando foi criada a pauta aduaneira externa comum e a organização comum de mercado das plantas e flores. É a esse enquadramento legal que, no ponto seguinte, se faz referência com o intuito de dar a conhecer os regulamentos emanados da Comissão. Pelo facto da legislação referida estar ainda em vigor e, por isso, condicionar a actividade florícola, considera-se que esta abordagem tem especial interesse.

No documento UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR (páginas 59-64)

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