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º 0,2 0,4 0,6 Componente 1 (45,2%)

Figura 06 - Diagrama da análise dos componentes principais na primeira excursão de coleta, codificados pelas 30 localidades amostradas em ambas as excursões. Código das localidades na Tabela 04.

6.8 - DISCUSSÃO

A descoberta de 1 O espécies novas para a ciência na região estudada ratifica o pouco conhecimento sobre a ictiofauna da região nordeste. Uma dessas espécies novas, Tetragonopterinae sp., pode representar um novo gênero. Além disso, vale ressaltar as espécies da subfamíla Copionodontinae, endêmica e recém-descrita para a Chapada Diamantina (PINNA, 1992).

A inexistência de trabalhos anteriores na região impede comparações históricas ou geográficas. Entretanto, as curvas cumulativas de espécies para as duas excursões, mostram sinais de estabilização, o que pode indicar que a amostragem obteve um número representativo de espécies para o alto rio Paraguaçu.

O alto percentual dos Tetragonopterinae entre as espécies de peixes registradas para a região corrobora BUCKUP (1999), o qual ressalta o predomínio de peixes desta subfamília nos riach'os brasileiros. Para este autor, os Tetragonopterinae correspondem a um aglomerado polifilético no qual é :freqüente a presença de diversas espécies de

Astyana.x.

Os Cheirodontinae (piabas), Serrapinnus piaba e S. lreterodon tiveram sua identificação confirmada por especialista (Luis Malabarba da PUCRS) que além de confirmar a identificação destas espécies, determinou um novo Characidae inserido neste trabalho em Tetragonopterinae. A identificação dos peixes da família Crenuchidae também contaram com o apoio de especialista (Paulo Buckup, MNRJ). A família foi representada por apenas um gênero, Characidium, com três espécies, sendo uma delas definida como nova.

Entre os Callichthyidae foi definida uma nova espécie de Aspidoras. Além desta,

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especialmente da subfamília Hypostominae apresentaram identificação problemática. Nenhuma das espécies foi completamente diagnosticada e uma espécie de Hemipsilichthys

foi identificada como nova. Hypoptopomatinae sp. teve sua identificação extremamente dificultada pela forma de sua cintura escapular que apresentou-se parcialmente exposta, diferentemente do que se observa em Parotocinclus. Ambas foram encaminhadas para especialista (Marcelo Brito, MNRJ).

O heptapteríneo do gênero Rhamdiopsis foi considerado inicialmente como Heptapterus, tendo sido definido como espécie nova, e se encontra atualmente em fase de descrição (BOCKMAN, em preparação). Dos bagres da família Trichomycteridae foi reconhecida uma nova espécie de ltuglanis. Apenas uma espécie da ordem Gymnotiformes foi identifcada para a região: Gymnotus cf. carapo (Gymnotidae).

Das quatro espécies identificadas de ciprinodontiformes para a região, duas foram introduzida ( Poecilia vivipara e P. reticulata). Uma nova espécie de Pamphorichthys foi determinada e está sendo descrita (FIGUEIREDO & SANTOS, em preparação).

Os ciclídeos foram representados por cinco espécies sendo duas delas não-nativas (Astronotus ocellatus e Cichla cf. temensis) e de origem amazônica. Uma nova espécie de Geophagus foi identificada e está sendo descrita em colaboração com Wilson Costa (UFRJ).

O número de espécies por localidade foi equivalente nos períodos seco e chuvoso, sugerindo pouca influência sazonal na composição da taxocenose de peixes dessa área. As análises multivariadas indicaram como principais influências na caracterização das localidades e conseqüentemente no número de espécies de cada uma delas, parâmetros abióticos fixos como a ordem do canal e a altitude. Desta forma, as mudanças sazonais em parâmetros como a temperatura e a vazão não foram determinantes na organização da comunidade de peixes. De acordo com LOWE-McCONNEL (I 999), em rios de regiões

tropicais a sazonalidade é induzida principalmente por mudanças no nível da água. Durante o ano no qual foi realizado este trabalho, a região apresentou períodos alternados de chuva e seca sem uma diferenciação estacionai clara. Resta verificar se a equivalência no número de espécies por família foi reflexo da pouca sazonalidade observada durante o ano amostrado. Principalmente nos trechos de maior ordem e largura, em área inundável, seria esperado um acréscimo no número de espécies em função de migradores.

MELO (2000) considera o tamanho da bacia como um fator determinante na variação do número de espécies entre seca e cheia, conforme observado em córregos de cerrado do Brasil central. Em bacias de maior porte, os processos de migração tendem a ocorrer em maior quantidade determinando menor similaridade entre seca e cheia, e esta diferença entre os ambientes tende a aumentar a substituição de espécies de um hábitat para o outro, aumentando portanto, a diversidade beta (MAGURRAN, 1 998; RICKLEFS & SCHLUTER, 1 993). Neste trabalho, a pouca influência sazonal na composição das taxocenoses pode estar relacionada ao fato de a maioria dos locais amostrados apresentarem ordem do canal entre um e três e largura reduzida, com tendência a manter faunas mais características e adaptadas as condições locais, e conseqüentemente menos influenciadas por processos migratórios.

A comparação entre os pontos de coleta no rio Santo Antônio e no rio São José, permitiu registrar sempre um maior número de espécies para o rio Santo Antônio, provavelmente refletindo as diferenças fisiográficas (maiores valores de ordem do canal e densidade de drenagem e menor gradiente) e tisicas ( coloração mais clara, maior quantidade de partículas em suspensão e substrato do leito do rio mais heterogêneo).

A análise dos componentes principais, utilizada neste trabalho é uma ferramenta de ordenação de dados representada geralmente em um espaço bidimensional que demonstra a ordenação dos dados em função do primeiro e segundo componentes principais que melhor

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explicaram a variabilidade dos dados, proporcionando informações sobre as semelhanças ecológicas das amostras representadas pelas localidades de coleta (V ALENTIN, 2000). A partir dessas análises foi possível inferir a importância de fatores como a ordem do canal e a altitude na composição da ictiofauna da região. Diversos autores vêm utilizando esta análise em ecologia de peixes para dados bióticos ou abióticos (MARTIN-SMITH, 1998; OBERDORFF et ai. 1998; MARSH-MA TIHEWS & MA TIHEWS, 2000) visando determinar a existência de um gradiente físico responsável pela organização das comunidades de peixes. De forma análoga, esse fato se reflete na composição da ictiofauna dos trechos amostrados nos rios Santo Antônio e São José, que por suas características tisicas e fisiográficas apresentaram diferenças naturais em relação à riqueza e composição de suas ictiofaunas. Os resultados demonstraram a eficiência da análise multivariada na determinação de padrões na relação entre as amostras.

MARTIN-SMITH (1998) relacionou a diversidade e abundância de peixes de regiões tropicais com parâmetros físicos do hábitat, entre eles, o tipo de fundo, a velocidade da corrente, a profundidade e a transparência da água, ratificando a importância da análise de estruturas do hábitat na composição e abundância da ictiofauna. Como aspectos importantes da estrutura do hábitat vem sendo abordados com destaque, a profundidade (BAKER & ROSS, 1981; MEFFE & SHELDON, 1988), o tipo de substrato (GORMAN & KARR, 1978; ROSE & ECHELLE, 1981) e a velocidade da corrente (SCHLOSSER, 1985; SCHLOSSER & EBEL, 1 989). CARAMASCHJ (1986) destaca a importância de características relacionadas ao tamanho do rio ( ordem do canal, largura média e profundidade) na distribuição da ictiofauna de riachos. MELO (2000) relaciona aspectos da geomorfologia na diversidade de peixes de cerrado do Brasil central, enquanto MARSH-MATIHEWS & MAITHEWS (2000) ressaltam que a relação entre velocidade

da corrente e profundidade pode se refletir em aumento da riqueza como conseqüência de um aumento na complexidade do hábitat.

Apesar do grande número de trabalhos realizados nos últimos anos sobre a fauna de peixes da América do Sul, esta ainda se encontra pouco conhecida, em particular quando nos referimos à região nordeste. Para a bacia do Rio Paraguaçu podemos relacionar os trabalhos de HIGUCHI et ai. (1 990); PINNA ( 1 992); LIMA & GERHARD (2001) & LIMA et al. (200 l ), que têm em comum a descrição de novos gêneros e espécies, sendo que para Trichomycteridae uma nova subfamília foi descrita para a região da Chapada Diamantina. No atual trabalho, 1 O novas espécies já foram determinadas o que ratifica o pouco conhecimento e a alta taxa de endemismo esperada, em função das características naturais da região.

Se considerarmos a bacia do rio Paraguaçu, como mais relacionada à bacia do rio São Francisco, quando comparados os resultados obtidos neste trabalho à lista de 133 espécies da bacia do São Francisco, incluindo as 75 espécies descritas para a região de Três Marias, relacionadas em LOWE-McCONNEL (1 999), constata-se que apenas 23 espécies foram registradas para a bacia do rio Paraguaçu, o que equivale a um percentual de 63,5% de espécies exclusivas desta bacia, muitas delas restritas ao seu alto curso, visto não terem sido registradas em coletas realizadas em seu médio ou baixo curso.

CASTRO (1999) relata que, apesar dos ambientes fluviais de tamanho pequeno e médio abrigarem uma ictiofauna com alto grau de endemismo, no qual as espécies de pequeno porte representam no mínimo 50% do total, poucos são os trabalhos enfocando este assunto. A ictiofauna do alto rio Paraguaçu registrada neste trabalho foi composta principalmente por peixes de pequeno porte, fato este que pode auxiliar na interpretação dos dados relativos à presença de espécies endêmicas, visto que peixes de pequeno porte normalmente apresentam menor capacidade de deslocamento facilitando, segun_do

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CASTRO (op. cit.), a ocorrência de eventos de vicariância, em contraposição às espécies de maior porte, que, no geral, apresentam ampla variação geográfica e pouca variação morfológica.

A ausência de trabalhos sobre a ictiofauna da região nos impede de confrontar a situação atual com a que existia antes da interferência antrópica. Entretanto, este trabalho adquire importância na medida em que chama a atenção para o pouco conhecimento disponível sobre a área, servindo também de base para inventários ictiofaunísticos futuros e mais completos, e para a detecção de áreas críticas para a ictiofauna. Em um contexto mais amplo, esta etapa do trabalho pode contribuir também para a formulação de estratégias de preservação de hábitats e de conservação das espécies de peixes da região da Chapada Diamantina.

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