CAPÍTULO IV TIPOLOGIA DAS MINERALIZAÇÕES CUPRÍFERAS
IV.1 GEOLOGIA E PETROLOGIA DA MINA CARAÍBA
IV.1.1 CARACTERIZAÇÃO MACROSCÓPICA
Os hiperstenitos apresentam coloração castanho-esverdeada, escura a preta, e granulometria média, no corpo principal, o Baraúnas (Foto IV.7). Formadas predominantemente por cristais de ortopiroxênio, chegam a apresentar quantidades quase equivalentes de hornblenda, com estrutura maciça. Além deste corpo, ao qual está associada a maior parte das mineralizações conhecidas na área da mina, ocorre outro corpo a sul, de
granulometria mais grossa e coloração mais acastanhada, flogopitizado, e com ocorrência menos expressiva de mineralizações de cobre (sulfetos).
Os noritos são rochas de coloração acinzentada e estrutura maciça. São compostos principalmente de plagioclásio, piroxênios, hornblenda, biotita, flogopita, clorita e quartzo. Apresentam variações de cor de acordo com a predominância destes minerais. Estas rochas hospedam mineralizações de sulfetos de cobre, diferentemente dos metagabros (informalmente denominados de metabásicas), que são rochas de granulometria média e cor esverdeada, com menor presença de piroxênio.
Os melanoritos apresentam coloração cinza-escura e possuem maior conteúdo de hiperstênio. Distinguem-se dos leuconoritos, de coloração mais clara, que são mais ricos em clinopiroxênio e, por vezes, apresentam estrutura bandada, alem de ocorrerem associados a níveis anortosíticos.
Corpos intrusivos de composição granítica, assim como pegmatitos, são observados na área da mina, e descritos em furos de sondagem. Apresentam granulação média a grossa, e são compostos predominantemente por microclina, plagioclásio, quartzo, biotita e magnetita, tendendo à composição monzo a sienogranítica. Os pegmatitos são compostos basicamente por cristais centimétricos de quartzo, microclina e plagioclásio.
Os minerais de alteração observados na área da mina ocorrem em concentrações variadas nos diversos litotipos (cujos protólitos podem ser reconhecidos), seja sob a forma de veios, ou substituindo cristais de minerais primários, principalmente ao longo de contatos. Também ocorrem estilos de alteração pervasiva, com formação de grandes volumes de minerais de alteração, chegando a obliterar totalmente a textura primária.
Um dos principais minerais formados como resultado do processo metassomático é a flogopita, que pode ocorrer em hiperstenitos e noritos, substituindo minerais máficos, ou mesmo formar concentrações expressivas, constituindo os flogopititos. São rochas com estrutura maciça (localmente orientada), compostas prioritariamente por flogopita, com quantidades menores de piroxênios, hornblenda, quartzo, microclina e clorita. Apresentam granulação grossa e cor acastanhada.
Da mesma forma, ocorrem serpentinitos, rochas de coloração esverdeada e granulometria fina, exceto pela ocorrência de grandes cristais de quartzo. Além de serpentina e quartzo, podem ocorrer concentrações secundárias de epídoto, clorita e sericita.
Foto IV.7: Afloramento do contato entre corpo de piroxenito (em mingling com magma norítico) e ortognaisse granulítico. Porção sudoeste da mina. Visada para sul.
Foto IV.8: Talude da cava da Caraíba exibindo contato entre quartzo-microclinito e piroxenito, além da formação de malaquita por processos supergênicos. Porção sudeste da mina. Visada para N165.
Os quartzo-microclinitos (referidos pelos geólogos da mina como
metassomatitos) são rochas de coloração rosada, com porções acastanhadas/enegrecidas, e
granulação grossa, em contato difuso com os piroxenitos e noritos (Foto IV.8). São interpretadas como tendo sido formadas pelo resultado da alteração potássico-silicosa impressa sobre as rochas ultramáficas e máficas previamente descritas (Foto IV.9, 10 e 11). Apresentam estrutura prioritariamente maciça, sendo observada orientação local das micas. A composição mineralógica consiste de microclina, quartzo, plagioclásio, epídoto, flogopita, e alguns relictos de piroxênios compondo a matriz, onde ocorrem vênulas de clorita, epídoto e quartzo-sericita (muscovita).
Os metassomatitos básicos são aqui denominados andesina-microclinitos. Apresentam granulometria fina a grossa em uma configuração anisotrópica. Mostram cor branca, acinzentada, com porções rosadas e esverdeadas, formadas por cristais de plagioclásio (predominantemente andesina), microclina, quartzo, clorita, epídoto, flogopita e sericita- muscovita, este quatro últimos podendo ocorrer em vênulas e veios. Observa-se substituição dos plagioclásios por microclina, podendo associar a formação do primeiro a um estágio anterior de metassomatismo ou ao metamorfismo.
A denominação hornblenda-andesina-diopisiditos é aqui utilizada para as rochas classificadas pelos geólogos da mina como calcissilicáticas, segundo a mineralogia descrita por ROCHA (1999). Este autor as interpretou como formadas a partir da cristalização de líquidos oriundos da dissolução de plagioclásio de noritos interagindo com as ultramáficas, durante o principal estágio de potassificação. Apresentam coloração cinza esverdeada, granulação média a grossa, e são compostas por cristais de piroxênios e anfibólios, quartzo, além de quantidades abundantes de pirrotita.
Cristais intercumulus de calcopirita, bornita e magnetita, disseminados, crescidos nos interstícios de piroxênios e anfibólios constituem a forma de mineralização interpretada como primária. Por vezes formam textura em rede, que também é observada no minério secundário. Predomina a calcopirita, com magnetita e bornita em menores teores e por vezes, ilmenita. Esta forma de mineralização predomina nos hiperstenitos, mas também está associada aos noritos.
O minério remobilizado pode ocorrer como: (i) filões e bolsões (de escala centimétrica a métrica) de sulfetos maciços; (ii), brechas hidrotermais com a matriz sulfetada e clastos de rochas ultramáficas e máficas, por vezes com bandamento preservado; (iii) com textura em rede e disseminações em rochas formadas por processos metassomáticos, como
flogopititos, quartzo- e andesina-microclinitos; (iv) como veios de espessura milimétrica a centimétrica preenchendo fraturas em diversos litotipos, incluindo os gnaisses encaixantes (Foto IV.12 a 17).
Foto IV.9: Testemunhos de sondagem representativos dos principais tipos de rochas hospedeiras e produtos de alteração hidrotermal na mina da Caraíba. Não é possível distinguir minerais de minério nesta escala de
observação. Furo FC-4413, entre 459 e 478 m.
Foto IV.10: Cristais de quartzo formados como resultado da alteração hidrotermal em
piroxenito da cava da Caraíba.
Foto IV.11: Quartzo microclinito da cava da Caraíba, exibindo acumulação secundária de clorita e epídoto.
Foto IV.12: Bolsão de calcopirita (Ccp) e bornita (Bn) em escala métrica, hospedado por hiperstenito
em contato com ortognaisse. Bloco exposto na entrada da Mineração Caraíba.
Foto IV.13: Brecha hidrotermal cimentada por sulfetos e magnetita, com clastos de hiperstenito. Amostra da
mina subterrânea da Caraíba.
Foto IV.14: a) Sulfetos em rede em amostra de piroxenito. b) Quartzo microclinito, com clorita (verde escuro) e veio de quartzo epídoto. As setas indicam disseminações de calcopirita. Furo FC-4413.
Foto IV.15: Amostra de mão de hiperstenito da cava da Caraíba. É possível notar bolsões de calcopirita e
vênulas milimétricas (indicadas pelas setas).
Foto IV.16: Amostra de mão com concentração de calcopirita em fratura de norito da cava da Caraíba.
Foto IV.17: Amostra de mão de hiperstenito com bornita em contato com ortognaisse. As acumulações maciças de sulfetos restringem-se à rocha ultramáfica.
Nas porções onde ocorre minério maciço e em brechas de sulfetos, calcopirita, bornita e magnetita frequentemente apresentam concentrações equivalentes, acompanhadas de pirita subordinada. Diferentemente do minério primário, ocorrem concentrações com predomínio absoluto da bornita, em relação à calcopirita. A típica sequência de alteração a
partir de bolsões de minério é dada por zonas ricas em: sulfetos (calcopirita e bornita) flogopita microclina epídoto/clorita quartzo (Figura IV.2).
Figura IV.2: Perfil com zoneamento de alteração mais frequente associado ao minério hidrotermal, descrito nos
furos FC-4413, FC-42130, 4491 e na cava da Caraíba.
Figura IV.3: Perfil ilustrando a alteração associada à presença de calcita, observada no furo FC-40113, e demais minerais dos
furos FC-4413 e FC-42130, na Caraíba.
Zonas ricas em calcita e calcopirita são observadas, principalmente nos piroxenitos. Ocorrem como veios, em porções piroxeníticas adjacentes aos andesina- microclinitos, que exibem zonas difusas em metros a dezenas de metros, com predominância de: hiperstenito vênulas de calcita plagioclásio magnetita sulfetos (calcopirita e pirita) flogopita microclina, epídoto e quartzo (Figura IV.3).
Flogopititos e andesina-microclinitos também hospedam o minério hidrotermal, com maiores concentrações de sulfetos observadas nas zonas de transformação das rochas ultramáficas e máficas. Esta feição é ainda mais expressiva nas rochas ricas em feldspato
potássico e quartzo, os quartzo-microclinitos, que são no geral estéreis, a não ser nas regiões de contato com as rochas menos transformadas pelo metassomatismo, como os hiperstenitos e noritos.
Os veios de sulfetos associados a estruturas rúpteis (principalmente fraturas) são compostos prioritariamente por calcopirita, com pirita, magnetita, quartzo e sericita. Podem ocorrer em rochas máficas e ultramáficas com alteração incipiente observável a olho nu. Da mesma forma, podem ser observados nos ortognaisses encaixantes dos corpos máfico- ultramáficos. São comuns nas zonas de alteração distal das mineralizações maciças, truncando minerais de alteração associados ao minério maciço, como flogopita, microclina e quartzo.