• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 - CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE HERPESVÍRUS

2.3 Caracterização molecular

Para o sequênciamento o produto da PCR foi purificado utilizando o kit comercial (GFX PCR & DNA Gel Band Purification kit; (GE Healthcare, Giles, United Kingdom). O sequênciamento do amplicon foi realizado no sequênciador MegaBACE1000 da GE Healthcare Life Sciences, empregando um kit comercial (DYEnamic ET terminator sequencing kit; (GE Healthcare, Giles, United Kingdom) conforme descrito pelo fabricante. O fragmento sequênciado foi submetido à análise filogenética utilizando o programa Bioedit 7.0.1 para edição e o programa MEGA 4.1. O método utilizado para a análise filogenética foi o de

“neighbor-joining” seguindo os parâmetros Kimura-2, utilizando sequências do BoHV-1 e BoHV-5 armazenadas no GenBank e como grupo externo foi utilizando PrV (herpesvírus suíno tipo 1 - SuHV-1).

3 RESULTADOS

À necrópsia observaram-se hiperemia das leptomeninges, achatamento dos giros telencefálicos e lobos frontais de coloração castanho-amarelada e consistência friável. Microscopicamente, constataram-se áreas extensas de hemorragia e manguito perivascular composto por células mononucleares no córtex, assim como meningite mononuclear, caracterizando meningoencefalite não supurativa. Em algumas dessas áreas identificaram-se astrocitose focal, corpúsculo de inclusão (CI) basofílico intranuclear e áreas de congestão. Na região parietal telencefálica observaram-se manguito perivascular e mononuclear (FIGURA 1A), tumefação endotelial, hemorragia parenquimatosa, CI intranuclear em astrócitos e malácia caracterizada pela lise do parênquima neural e acentuada quantidade de células Gitter (FIGURA 1B).

FIGURA 1- Região parietal telencefálica. Lesões microscópicas observadas no sistema nervoso central. A) Área extensa de hemorragia associada e manguito perivascular de células mononucleares (asterisco); HE – 10X. B) Área de malacia caracterizada pela presença células Gitter (setas pretas) e hemorragia; HE – 40X

No colículo foram observadas astrocitose e congestão difusa, de intensidade moderada. No óbex visualizou-se infiltrado mononuclear perivascular moderado multifocal. Nos núcleos da base estavam presentes áreas com corpos de neurônios com CI intranucleares, além de infiltrado mononuclear perivascular mononuclear discreto multifocal e tumefação endotelial.

Após 48 horas de inoculação em cultivo celular foi observado efeito citopático (ECP) (FIGURA 2). Com o uso de anticorpos policlonais por IFD, foi confirmada a presença de BoHV na amostra que foi denominada GO 01/09. A reação de nPCR seguida de REA demonstrou que a amostra GO 01/09 tratava-se de BoHV-5.

FIGURA 2 - Amostra Go01/09 inoculada em cultivo celular – células MDBK. A) cultivo celular após 48 horas de inoculação e B) cultivo celular pós 72 horas de inoculação.

A análise filogenética revelou que a amostra GO01/09 está agrupada com amostras da América do Sul do BoHV-5a e BoHV-5b, em um grupo distinto das amostras “non-a, non-b” (ISO87 e ISO45) detectadas no Sudeste em 1990 (FIGURA 3). Pela REA confirmou-se que a amostra GO01/09 pertence ao subgrupo BoHV-5a (FIGURA 4), conforme classificação sugerida por D'ARCE et al. (2002).

FIGURA 3 - Árvore filogenética construída a partir de sequências da glicoproteína C, de diferentes amostras de herpesvírus bovino depositadas no GenBank e da amostra ()GO01/09.

FIGURA 4 - Análise com enzima de restrição BstEII. Linhas 1 e 4. Padrão de peso molecular lambda digerido com HindIII; linha 2. amostra GO01/09 e linha 3 amostra EVI 88/95.

4 DISCUSSÃO

A meningoencefalite por BoHV-5 é uma enfermidade frequentemente fatal, diagnosticada em diversos Estados brasileiros. O caso descrito ocorreu em uma propriedade em Goiás, na região Centro-Oeste, onde quatro animais de um lote de 100 manifestaram sinais neurológicos com evolução ao óbito. Entretanto, apenas um foi submetido a avaliação e confirmação de meningoencefalite herpética. O lote, ao qual pertencia o animal deste relato, era constituído por animais um ano e meio a dois anos de idade, faixa etária em que é identificada a maior incidência de casos de BoHV-5 (ELIAS et al., 2004). O período de evolução da doença até a morte ocorreu em 24 horas, assim como referido anteriormente (RIET-CORREA et al., 2006). Os sinais clínicos observados no bezerro foram os mesmos descritos por ELIAS et al. (2004).

Algumas alterações macroscópicas foram similares às descritas anteriormente (RIET-CORREA et al., 2006), porém não foram visualizadas cavitações encefálica, provavelmente devido ao curto período de evolução da doença. As lesões microscópicas, observadas e descritas no presente relato, caracterizadas por manguito perivascular mononuclear, áreas de malácia com acentuada quantidade de células Gitter e hemorragia, são comumente descritas (SALVADOR et al., 1998, COLODEL et al., 2002; ELIAS et al., 2004). Os CI intranucleares basofílicos foram facilmente encontrados nos astrócitos e em alguns neurônios da região de núcleos da base e este achado é característico nas infecções por herpesvírus (ELIAS et al., 2004).

O ECP observado após 48 horas de inoculação foi característico de BoHV, conforme o descrito WEIBLEN et al. (1992), apresentado células arredondadas e agrupadas em focos, com aspecto de "cachos de uva", sendo confirmado pela identificação de antígenos para BoHV pela imunofluorescência. A caracterização viral e diferenciação em BoHV-1 ou BoHV-5 foi realizada pela nested PCR, determinando a amostra GO 01/09 como BoHV-5, conforme descrito por ESTEVES et al. (2008) e CAMPOS et al. (2009).

No intuito de identificar a qual subtipo de BoHV-5 o GO 01/09 pertence, foi empregada a REA, utilizando a enzima BstEII, que permite subtipificar o

BoHV-5 (D’ARCE et al., 2002), sendo então caracterizado como BoHV-BoHV-5a. Ainda não há estudos sobre diferenças na patogenia ou virulência sobre os subtipos de BoHV-5.

Apesar de evidências clínicas e soroepidemiológicas, amostras de herpesvírus em bovinos com encefalopatias ainda não haviam sido isoladas e caracterizadas, sendo este o primeiro relato de isolamento e caracterização de BoHV-5 em caso clínico de bovino de Goiás com enfermidade neurológica. Estes achados vem complementar o histórico sobre o BoHV-5 no Brasil que ainda conta com poucos dados sobre sua ocorrência na região Centro-Oeste.

5 REFERÊNCIAS

1. CLAUS, M. P.; ALFIERI, A. F.; FLATSCHART, A. V. F.; WOSIACKI, S. R.;

MEDICI, K. C.; ALFIERI, A. A. Rapid detection and differentiation of bovine herpesvirus types 1 and 5 glycoprotein C gene in clinical specimens by multiplex-PCR. Journal of Virological Methods, London, v. 128, p. 183-188, 2005.

2. CAMPOS, F. S.; FRANCO, A. C.; HUBNER, S. O.; OLIVEIRA, M. T.; SILVA, A. D.; ESTEVES, P. A.; ROEHE, P. M.; RIJSEWIJK, F. A. High prevalence of co-infections with bovine herpesvirus 1 and 5 found in cattle in southern Brazil.

Veterinary Microbiology, Amsterdam, v. 138, p. 10.1016, 2009.

3. CARON, L.; FLORES, E. F.; WEIBLEN, R.; SCHERER, C. F .C.; IRIGOYEN, L .F.; ROEHE, P. M.; ODEON, A.; SUR, J. H. Latent infection by bovine herpesvirus type-5 in experimentally infected rabbits: virus reactivation, shedding and recrudescence of neurological disease. Veterinary Microbiology, Amsterdam, v. 84, p. 285-295, 2002.

4. COLODEL, E. M.; NAKAZATO, L.; WEIBLEN, R.; MELLO, R. M., SILVA, R. R.

P.; SOUZA, M. A.; OLIVEIRA FILHO, J. A.; CARON, L. Meningoencefalite necrosante em bovinos causada por herpesvírus bovino no Estado de Matogrosso do Sul, Brasil. Ciência Rural, Santa Maria, v. 32, n. 2, p. 293-298, 2002.

5. D’ARCE, R. C. F.; ALMEIDA, R. S.; SILVA, T. C.; FRANCO, A. C.; SPILKI, F.;

ROEHE, P. M.; ARNS, C. W. Restriction endonuclease and monoclonal antibody analysis of Brazilian isolates of bovine herpesviruses types 1 and 5.

Veterinary Microbiology, Amsterdam, v. 88, p. 315-324, 2002.

6. DEL MÉDICO ZAJAC, M. P.; LADELFA, M. F.; KOTSIAS, F.; MUYLKENS, B.;

THIRY, J.; ROMERA, S. A. Biology of bovine herpesvirus 5. The Veterinary Journal, Geneva v. 184, p. 138-145, 2010.

7. ELIAS F.; SCHILD A. L.; RIET-CORREA F. Meningoencefalite e encefalomalacia por Herpesvírus bovino-5: distribuição das lesões no sistema nervoso central de bovinos naturalmente infectados. Pesquisa Veterinária Brasileira, Seropédica, v. 20, n. 3, p. 123-131, 2004.

8. ESTEVES, P. A.; DELLAGOSTIN, O. A; PINTO, L. S.; SILVA, A. D., SPILKI, F. R.; CIACCI-ZANELLA J. R.; HUBNER, S. O.; PUENTES, R.; MAISONAVE, J.; FRANCO, A. C., RIJSEWIK, F. A. M.; BATISTA, H. B. C. R.; TEIXEIRA, T.

F.; DEZEN, D.; OLIVEIRA, A. P.; DAVID, C.; ARNS, C. W.; ROEHE, P. M.

Phylogenetic comparison of the carboxy-terminal region of glycoprotein C (gC) of bovine herpesviruses (BoHV) 1.1, 1.2 and 5 from South America (SA).

Virus Research, v. 31, p. 16-22, 2008.

9. FRANCO, A. C.; HUNMER, S. O.; OLIVEIRA, A. P.; BATISTA, H. B. C. R.;

ROEHE, P. M.; RIJSEWIK, F. A. M. Construction and characterization of a bovine herpesvirus 5 mutant with a deletion of the gI, gE and US9 genes.

Braziliam Journol Microbiology, São Paulo, v. 38, p. 667-673, 2007.

10. GOMES, L. I.; ROCHA, M. A.; COSTA, E. A.; LOBATO, Z. I. P.; MENDES, L.

C. N.; BORGES, A. S.; LEITE, R. C. e BARBOSA-STANCIOLI, E. F. Detecção de herpesvírus bovino-5 (BoHV-5) em bovinos do sudeste brasileiro. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 54, p.217-220, 2002.

11. ICTV. International Committee on Taxonomy of Viruses. Taxonomy.

Disponível em: < http://www.ictvonline.org/virusTaxonomy.asp?version=2011

> acesso em: 13 out. 2011.

12. PEREZ, S. E.; BRETSCHNEIDER, G.; LEUNDA, M. R.; OSORIO, E. A.;

FLORES, E. F.; ODEON, A. C. Primary infection, latency and reactivation of bovine herpesvirus type 5 in the bovine nervous system. Veterinary Pathology, Baltimore, v. 39, p. 437-444, 2002.

13. RIET-CORREA, F.; VIDOR T.; SCHILD, A. L.; MÉNDEZ, M. D. C.

Meningoencefalite e necrose do córtex cerebral em bovinos causadas por herpesvírus bovino-1. Pesquisa Veterinária Brasileira, Seropédica, v. 9, p.

13-16, 1989.

14. RIET-CORREA, G.; DUARTE, M. D.; BARBOSA, J. D.; OLIVEIRA, M. C.;

CERQUEIRA, V. D.; BRITO, M. F.; RIET-CORREA, F. Meningoencefalite e polioencefalomalacia causadas por Herpesvírus bovino-5 no Estado do Pará.

Pesquisa Veterinária Brasileira, Seropédica, v. 26, n. 1, p. 44-46, 2006.

15. ROEHE, P. M. ; ALMEIDA, R. S. ; TEIXEIRA, M. B. ; OLIVEIRA, E. A. S. ; PETZHOLD, S. A. ; SILVA, T. C. Atualização no diagnóstico e controle de

Infecções por herpesvírus bovinos tipos 1 e 5. O Biológico, São Paulo, v. 59, n. 2, p. 27-32, 1997.

16. SALVADOR, S. C.; LEMOS, R. A. A.; RIET-CORREA, F.; ROEHE, P. M.;

OSORIO, A. L. A. R. Meningoencefalite em bovinos causada por herpesvírus bovino-5 no Mato Grosso do Sul e São Paulo, Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira, Seropédica, v. 18, n. 2, p. 75-82, 1998.

17. SILVA, A. M. ; WEIBLEN, R. ; FLORES, E. F. ; ROEHE, P. M. ; SUR, H. J. ; OSORIO, F. A. Experimental infection of sheep with bovine herpesvirus type-5 (BHV-5): acute and latent infection. Veterinary Microbiology, Amsterdam, v.

66, p. 89-99, 1999.

18. SILVA, D. A. Identificação de herpesvírus bovino em amostras de cérebro. 2011. 60f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) - Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, GO.

19. SOUZA, V. F.; MELO, S. V.; ESTEVES, P. A.; SCHMIDT, C. S.;

GONÇALVES, D. A.; SCHAEFER, R.; SILVA, T. C.; ALMEIDA, R. S.;

VICENTINI, F.; FRANCO, A. C.; OLIVEIRA, E. A.; SPILKI, F. R.; WEIBLEN, R.; FLORES, E. F., LEMOS, R. A.; ALFIERI, A. A., PITUCO, E. M.; ROEHE, P. M. Caracterização de herpesvírus bovinos tipos 1 (BHV-1) e 5 (BHV-5) com anticorpos monoclonais. Pesquisa Veterinária Brasileira, Seropédica, v. 22, p. 13-18, 2002.

20. VOGEL, F. S. F.; CARON, L.; FLORES, E. F.; WEIBLEN, R.; WINKELLMAN, E. R.; MAYER, S. V.; BASTOS, R. Distribuition of bovine herpesvirus type 5 (BHV-5) DNA in the central nervous system of latently, experimentally infected calves. Journal of Clinical Microbiology, Washington, v. 41, p. 4512-4520, 2003.

21. WEIBLEN, R.; KREUTZ, L. C.; CANABARRO, T. F.; SCHUCH, L. F.;

REBELATTO, M. C. Isolation of bovine herpesvírus 1 from prepucial swabs and semen of bulls with balanoposthitis. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, Davis, v. 4, p. 341 – 343, 1992.

Documentos relacionados