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CARACTERIZAÇÃO PERCEPTIVA

No documento O despertar do espaço público (páginas 94-105)

III. METODOLOGIA DE ANÁLISE

2. CARACTERIZAÇÃO PERCEPTIVA

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Toda a metodologia utilizada até o momento é imprescindível para o entendimento da cidade e sua configuração espacial, são verdadeiras análises matemáticas onde as ruas se transformam em linhas, cruzamentos em pontos e população em números. Sabe-se também que para o espaço público nada é mais importante que as ruas, são como veias que nutrem de vida as diferentes regiões da urbe, porém, para compreende-las do ponto de vista humano é preciso complementar o estudo com outras características, estas mais subjetivas e que se relacionam diretamente com as questões psicológicas. Já foi demonstrado que a literatura atual indica que estas qualidades perceptivas podem influenciar escolhas sobre a mobilidade ativa e, mais ainda, sobre a permanência e as possibilidades de contato social, avalia principalmente a qualidade do meio

Entretanto, o principal desafio dos profissionais da área é validar cientificamente estas qualidades sutis, o que foi possível pela primeira vez de forma fiável através do método de Ewing e Handy (2009) em “Measuring the Unmeasurable: Urban Design Qualities Related to Walkability”. O desenvolvimento desta metodologia consistiu na apreciação de diversas características físicas e suas contribuições para a percepção do espaço a partir de um grupo multidisciplinar de especialistas, que, dentre as qualidades apresentadas no capítulo II.1.iii, puderam validar 05 (cinco): a Imaginabilidade, o Enclausuramento, a Escala Humana, a Transparência e a Complexidade. Pela consistência e reconhecimento desse trabalho, optou-se por utilizar a mesma sistematização neste estudo afim de complementar o índice de caminhabilidade parcial calculado anteriormente com aspectos mais pormenorizados, tendo sido feita uma única alteração ao estudo original: a conversão das medidas do sistema imperial para o sistema métrico.

A análise perceptiva foi então aplicada a todos os 12 (doze) casos de estudo com base no manual desenvolvido por Ewing e Clemente (2013), em uma síntese e atualização do método descrito acima. Cada uma das qualidades perceptivas validadas possui uma série de aspectos físicos mensuráveis que, multiplicados por seus respectivos pesos e somados ao fim, correspondem ao resultado final, sendo que uns contribuem de forma positiva, e outros de forma negativa. A partir do formulário modelo abaixo, foi medido cada um dos parâmetros in loco, de acordo com os processos e recomendações descritas a seguir.

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TABELA DE MEDIÇÃO DAS QUALIDADES PERCEPTIVAS

Fig. 17. Modelo da tabela de medição das qualidades perceptivas para uso em campo. Fonte: Autor com base em Ewing e Clemente, 2013.

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IMAGINABILIDADE

1.1. Praças, Parques e Largos

o Contabilizar número de praças, parques e largos ou outro espaço aberto que seja público e de fácil acesso a partir da rua, dentro da área de estudo.

1.2. Aspectos Notáveis na Paisagem

o Ao caminhar pela rua, registrar a quantidade de elementos marcantes na paisagem, naturais ou mistos, visíveis além da área de estudo.

1.3. Edifícios Antigos

o Estimar a proporção de edifícios antigos de ambos os lados da rua, em uma escala de 0 a 1, com incrementos de 0,10. São considerados antigos os edifícios construídos antes de 1945, aqueles com mais detalhes arquitetônicos.

1.4. Edifícios com Identificação de Uso

o Contar dentro da área de estudo, nos dois lados da rua, a quantidade de edifícios com algum tipo de identificação de uso, seja um letreiro com nome do comércio, um painel informativo ou um símbolo religioso.

Fig. 18. Alameda dos Combatentes da Grande Guerra, Cascais. Fonte: Autor

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1.5. Edifícios com Formato Não Retangular

o Dentro da área de estudo, dos dois lados, contabilizar o número de edifícios cujas fachadas vistas da rua não possuem uma forma simples de um retângulo.

1.6. Área de Restauração

o Dentro da área de estudo, verificar a presença de área de restauração localizadas inteira ou parcialmente no exterior. Registrar ‘1’ em caso positivo e ‘0’ caso não haja.

1.7. Contar Peões

o Realizar 04 (quatro) passagens, ida e volta, e contabilizar o número de pessoas que estivessem do seu lado da rua caminhando à sua frente, em sua direção, paradas em pé ou sentadas, e aquelas que tivessem próximas da rua no final do trecho analisado. O resultado registrado é a média das passagens.

1.8. Nível de ruído

o Registrar o nível de ruído do local na seguinte escala: 1 = muito quieto; 2 = quieto; 3 = normal; 4 = ruidoso e 5 = muito ruidoso.

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ENCLAUSURAMENTO

2.1. Linhas longas de visão

o Atravessar a rua longitudinalmente e registrar quantas linhas longas de visão são possíveis a partir dela, sendo possível até 03 (três): a frente, para a direita e para a esquerda. Linhas longas de visão são aquelas com mais de 200 metros em linha reta.

2.2. Parede de Rua

o Estimar a proporção da rua na qual os elementos físicos superiores a 1,5 metros constituem uma barreira visual, similares a uma parede de um ambiente interior de forma continua. Realizar dois registros, um para o seu lado da rua e outro para o oposto, dentro da área de estudo, em incrementos de 0,10, estando o resultado entre 0 e 1.

2.3. Céu Visível

o Estimar a proporção do céu que é visível a partir de um ponto médio da rua, utilizando incrementos de 0,05, em uma escala de 0 a 1. Realizar dois registros, um direcionado para a frente e outro para o lado oposto da rua.

Fig. 19. Avenida Florinda Leal, São João do Estoril. Fonte: Autor

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ESCALA HUMANA

3.1. Linhas longas de visão

o Reproduzir resultados apontados no indicador 2.1, sem repetir a medição.

3.2. Janelas ao Nível da Rua

o Estimar a proporção da superfície de fachada dos pisos térreos coberta por janelas ou outro material transparente. Realizar registro para o seu lado da rua dentro da área de estudo, em uma escala de 0 a 1 com incrementos de 0,10.

3.3. Altura dos Edifícios

o Estimar a altura dos edifícios e apontar a média dos valores registrados.

3.4. Pequenos canteiros e vasos de planta

o Contabilizar dentro da área de estudo, de seu lado, a quantidade de vasos de plantas ou pequenos canteiros a nível da rua, que ocupem uma área igual ou inferior a 1,0m². Foram desprezados vasos extremamente pequenos e de fácil remoção.

3.5. Mobiliário Urbano e outros objetos de rua

o Caminhar toda a extensão da rua e contabilizar do seu lado, dentro da área de estudo, todo e qualquer tipo de mobiliário urbano e outros objetos de rua, como por exemplo, cadeiras,

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mesas, máquina de multibanco, parquímetro, propagandas e quadro de avisos do comércio, lixeiras e bancos. Não foram considerados os pilaretes do passeio.

o Em uma segunda etapa, foram contabilizados apenas as mesas de restauração exterior.

o E por último, foram registrados os candeeiros em edifícios afixados até 03 metros de altura.

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TRANSPARÊNCIA

4.1. Janelas ao Nível da Rua

o Reproduzir resultados apontados no indicador 3.2, sem repetir a medição.

4.2. Parede de Rua

o Reproduzir resultados apontados no indicador 2.2, sem repetir a medição.

4.3. Usos Ativos

o Estimar a proporção de usos ativos presentes nas fachadas ao nível térreo dos edifícios do seu lado da rua, dentro da área de estudo. Considerar uso ativo todo e qualquer tipo de atividade que gere tráfego constante de pedestre, como por exemplo, cafés, restaurantes, lojas, escolas e serviços. Registrar valores em uma escala de 0 a 1, com incrementos de 0,10.

Fig. 21. Alameda dos Combatentes da Grande Guerra, Cascais. Fonte: Autor.

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COMPLEXIDADE

5.1. Edifícios

o Contabilizar número de edifícios visíveis dentro da área de estudo, dos dois lados da rua.

5.2. Cores dos Edifícios

o Ao caminhar pela área de estudo, contabilizar o número de cores base das superfícies aparentes do edifício, dos dois lados da rua. Não considerar diferentes tons da mesma cor.

o Em uma segunda etapa, contabilizar o número de cores secundárias que se destacam nos edifícios, como nas molduras das janelas ou outros detalhes.

5.3. Área de Restauração

o Reproduzir resultados apontados no indicador 1.6, sem repetir a medição.

5.4. Arte Pública

o Contabilizar dentro da área de estudo, do seu lado da rua, o número de peças de arte pública encontradas. Considerar arte pública monumentos, esculturas, murais ou qualquer outro tipo de manifestação artística que seja acessível visualmente do espaço público.

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5.5. Peões

o Reproduzir resultados apontados no indicador 1.7, sem repetir a medição.

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No documento O despertar do espaço público (páginas 94-105)

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