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3 CARACTERIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS: RESULTADOS E ANÁLISES

3.3 Caracterização sociodemográfica das famílias

Neste item dedicaremos a apresentação e análise dos resultados a partir da pesquisa empírica realizada com base nas fichas de inscrições dos educandos do Instituto Guga Kuerten, participantes do Programa de Esporte e Educação Campeões da Vida.

O total de responsáveis pelos educandos do IGK, Núcleo São José, soma84 famílias no período pesquisado. É possível identificar pelos dados do Gráfico 1 o predomínio expressivo da figura feminina como a principal responsável pelas crianças e adolescentes.

GRÁFICO 1 – Distribuição dos responsáveis por sexo

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Constata-se que 90% dos responsáveis pelas crianças e adolescentes inseridos no PCV são do sexo feminino e somente 10% do sexo masculino, ou seja, repete-se o que acontece na sociedade brasileira: um impacto negativo de sobrecarga para as mulheres na função de responsabilização de seus filhos. Embora, como veremos adiante quanto à ocupação profissional, a maior parte das mulheres responsáveis também esteja inserida no mercado de trabalho, para essas mulheres com filhos dependentes há maior sobrecarga de responsabilidades domésticas e familiares, além do trabalho remunerado. Nesse sentido, de acordo com Guedes e Daros (2009, p.123),

Às mulheres, ainda que exerçam atividades profissionais não vinculadas ao ato de cuidar, impõem-se a responsabilidade pelo cuidado de seus familiares ou porque estes se encontram em desenvolvimento (crianças e adolescentes) ou porque, em decorrência de avançados processos de envelhecimento ou adoecimento, necessitam de cuidados intensivos. As mulheres têm, portanto, na construção da sociabilidade burguesa, ampliada a teia de mediações que concorrem para o processo de alienação que coíbe a possibilidade de realização de projetos livres. Cuidar dos familiares, dos companheiros, em concomitância com as atividades sócio ocupacionais, para cumprir normas historicamente criadas e interpretadas como inerentes à natureza feminina, tornam-se aspectos de uma realidade que tende a desprender-se de seus sujeitos e apresentar-se como eterna.

Como vimos anteriormente, as famílias sempre ocuparam importante papel nas políticas sociais no contexto brasileiro, pois sob a perspectiva familista fundamentou-se na existência de dois “canais naturais” para os indivíduos suprirem suas necessidades sociais: a família e o mercado, a qual dada também à focalização dessas políticas de proteção social, as famílias tem assumido a responsabilidade pelo bem-estar de seus integrantes e, desta forma, mais ainda as mulheres. A centralidade das famílias nas políticas sociais atuais, pelo caráter

Feminino Masculino

76

8 90.48

mais familista, acaba sobrecarregando as mulheres sem que tenham o suporte do Estado diante das desigualdades sociais de classe, gênero e étnico-raciais.

Na tentativa de classificar os arranjos familiares dos educandos do IGK, encontramos, conforme exposto no Gráfico 2, diversos arranjos familiares: família monoparental geracional (avós e netos); família homossexual (mães e filhos); família estendida (avós, tios, sobrinhos e netos); família recomposta (padrasto, madrasta, enteados); família monoparental feminina (mãe e filhos), família monoparental masculina (pai e filhos), família nuclear (pai, mãe e filhos).

GRÁFICO 2 – Distribuição das famílias dos educandos conforme arranjos familiares

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Na contemporaneidade a ideia existência de um modelo ideal de famílias foi e continua sendo contestada, pois vários estudos mostram que são formadas por diferentes estruturas e dinâmicas sociais, e condicionadas por determinantes econômicos, políticos, sociais e culturais. Assim, de acordo com Szymanski (1995), deve-se considerar a família vivida, composta por laços de afeto e cuidado, e não apenas por laços sanguíneos, podendo ser elas: famílias formadas por casais que já tiveram outros casamentos, pessoas que vivem sós, pais com filhos adotivos, mães solteiras com seus filhos, casais que não possuem filhos, entre outros, constituem as famílias vividas, portanto, não idealizadas e naturalizadas.

Ainda, conforme o Gráfico 2, observamos que se reiteram as tendências apresentadas na segunda seção sobre a família na contemporaneidade, ou seja, a diversidade de configurações familiares em face de várias as mudanças sociais e também demográficas na

48 17 11 5 1 2 0 10 20 30 40 50 60

Família Nuclear (pai, mãe e filhos) Família Monoparental (mãe ou pai e filhos) Família Recomposta (padrasto, madrasta, enteados) Família Estendida (avós, tios, sobrinhos, netos) Família Homosexual Feminina (mães e filhos) Família Monoparental Geracional (avós e netos)

sociedade brasileira. Ao mesmo tempo em que os chamados novos arranjos familiares têm aumentando gradativamente sua participação no total de grupos, a família nuclear (casal com filhos) ainda predomina na sociedade contemporânea, porém com menos número de filhos, reduzindo o seu tamanho médio e sua participação em relação aos outros arranjos familiares.

No universo da pesquisa realizada no Núcleo São José, observamos que, entre os 84 grupos familiares, predomina o arranjo de família nuclear: são 48 (57,14%) famílias compostas de pai, mãe e filhos. Na sequência, destaca-se a família monoparental composta por mães ou pais e filhos totalizando 17 (20,24%) grupos familiares, e, destes, 15 são chefiadas por mulheres e somente 02 chefiados por homens. Também em relação a esse indicador podemos afirmar que corresponde a tendência nacional de incidência maior de famílias monoparentais femininas (mãe e filhos).

Vale lembrar que a família monoparental (feminina ou masculina) foi reconhecida com essa nomenclatura juridicamente na CF/88, em seu art. 226, §4º “Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”, portanto, ampliando em parte a concepção de família.

O atual crescimento do número de famílias monoparentais é ocasionado principalmente pelo aumento no número de divórcio e às separações de uniões livres, como também um aumento expansivo das mulheres na força de trabalho, elevando a sua independência e sustentabilidade com seus filhos; em número menor aparece a viúves como outro fator para a expansão desse tipo de arranjo familiar. Ainda, conforme estudos, as mulheres predominam no aumento de números de mães solteiras, que reflete na nova postura da relação à reprodução e à estrutura familiar. Porém, dadas as desigualdades sexuais e sociais também no mercado de trabalho em detrimento das mulheres, que tendem a receber menos que os homens, os arranjos monoparentais femininos são apontados como aqueles mais vulneráveis socialmente.

O fator socioeconômico é um indicador importante para reconhecimento da realidade dessa comunidade, haja vista que no estado de Santa Catarina a média em percentual de renda de até 01 salário mínimo2 está em 43,4% da população. Em relação à renda familiar das famílias das crianças e adolescentes que participam do Núcleo São José do IGK, portanto relacionada às 84 famílias, constatamos de acordo com o Gráfico 3 que o fator renda familiar é bem diversificado. Mas 7% dos familiares possuem renda inferior a 01 salário mínimo e apenas 18% possuem renda familiar igual ou superior a 04 salários mínimos. Em síntese,

apesar desses dados não serem tão discrepantes entre si, expressa um indicador mais baixo, pois tem relação com o critério de acesso ao projeto, indo ao encontro do seu objetivo de atender crianças e adolescentes de média e baixa renda, cujas políticas sociais não são suficientes para satisfazer todas as necessidades sociais das famílias.

Além disso, observamos o número elevado (24%) de familiares que não responderam a renda familiar. Remetendo-nos a uma hipótese de se tratar da inserção no único projeto social existente no bairro pode estar relacionado ao receio de não se adequar ao critério renda média ou baixa para a inclusão de seus filhos no PVC do IGK, levando em consideração ser um dado social familiar e não obrigatório na ficha cadastral.

GRÁFICO 3 – Distribuição das famílias segundo a faixa de renda familiar

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Embora sejam famílias em sua maioria com renda superior a 01 salário mínimo não as retira da situação de vulnerabilidade, mais ainda quando as mães e ou pais saem para trabalhar e não tem com quem nem onde deixar os filhos em segurança. Assim constatamos a relevância do projeto IGK no apoio a essas famílias, uma vez que não dispomos de políticas sociais que atendam as demandas de esporte, cultura e lazer no bairro Sertão do Maruim, conforme preconiza o capítulo IV do ECA, “Do direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer. Em seu Art.53:

A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação

7% 27% 13% 11% 18% 24% Menos de 1 SM Entre 1 a 2 SM Entre 2 a 3 SM Entre 3 a 4 SM Acima de 4 SM Não informado

em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Além da vulnerabilidade social e econômica se apresenta a vulnerabilidade de serviços sociais, que atendam as demandas e necessidades sociais dessas famílias que moram no bairro Sertão do Maruim, que incluam crianças e adolescentes em projetos sociais de conivência comunitária, que constituam suporte às famílias trabalhadoras.

Vale lembrar que a análise dos dados parte da análise teórica abordada na pesquisa e da realidade social dos familiares com as quais mantive relações e interações como estagiaria de Serviço Social, assim pode-se explicar melhor algumas características.

Assim, em relação ao grau de escolaridade dos responsáveis pelos educandos, segundo o Gráfico 4, observamos que, de 84 familiares, 01 consta como analfabeto, sendo um dado positivo para a sociedade, indicando que cada vez mais tem se elevado o grau de escolarização e diminuído o número de analfabetos.

O dado relativo ao responsável analfabeto se refere a uma mãe jovem, natural do interior de Frei Paulo -Sergipe, que sempre trabalhou na roça e cuja profissão atual é lavradora. Essa realidade, ainda vivida pelas pessoas que residem em áreas rurais, distantes de escolas e sem transporte devido, reflete a dificuldade do acesso à escola, associado ao fato de terem que também trabalhar desde crianças. Assim, a migração para a cidade de São José foi motivada pela busca por qualidade de vida para si e sua família.

Importante ressaltar a expressão do dado da escolaridade no ensino médio completo de 25 responsáveis, porém, lembrando que Santa Catarina tem o índice de educação acima da média do Brasil.

GRÁFICO 4 – Distribuição dos responsáveis pelos educandos segundo o grau de escolaridade

Fonte: Elaborado pela autora, 2018. 1 22 16 7 25 6 7 Analfabeto Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Médio Completo Ensino Superior Incompleto Ensino Superior Completo

No Gráfico 4, identificamos 13 responsáveis que tiveram acesso ao ensino superior. Trata-se de mulheres trabalhadoras, sendo que 07 possuem ensino superior completo e trabalham como professora (4), administrativa (2) e aposentada (1). Já com ensino superior incompleto resultam 06 mães em diversas áreas de atuação não específica. A inserção das mulheres no ensino superior nos remete também a pensar a possibilidade de realização de desejo de formação e qualificação profissional tendo em vista a inserção no mercado de trabalho com maior independência e estabilidade financeira.

Durante a pesquisa percebemos que o grau de escolaridade se interligava diretamente ao fator socioeconômico: o impacto da escolaridade na empregabilidade e renda desses responsáveis pelas famílias. Entende-se que, à medida que a escolaridade dos indivíduos se eleva, a chance de melhores ocupações aumenta e, por conseguinte, sua renda se amplia. Desta forma, a escolaridade é classificada uma variável de importância no processo de distribuição de renda de um país. Mas conforme o Gráfico 4, quando somamos aqueles responsáveis com ensino fundamental incompleto e completo, observamos que são maioria: 38 responsáveis, ou seja, 45,24%.

Quanto ao grau de escolaridade do (a) cônjuge ou parceiro (a) dos responsáveis pelos educandos, que perfazem 58 pessoas, conforme Gráfico 5, identificamos situação semelhante. Predominam pessoas com ensino fundamental completo ou incompleto: 28 cônjuges, isto é, 48,27%, percentual um pouco maior se comparado aos responsáveis. Ao mesmo tempo tem-se 01 analfabetos e 05 pessoas que acessaram o ensino superior: 04 completaram a formação superior e outro não ainda.

Assim, em linhas gerais, constatamos similaridades entre os graus de escolaridade dos responsáveis e dos cônjuges: predominam o ensino fundamental, seguido do ensino médio e do ensino superior e, por fim, de analfabetos.

GRÁFICO 5 – Distribuição de cônjuges/parceiros dos responsáveis por grau de escolaridade

Fonte: Elaborado pela autora, 2018. 1 16 12 8 16 1 4 Analfabeto Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Médio Completo Ensino Superior Incompleto Ensino Superior Completo

Ao analisar os dados quanto à situação de inserção no mercado de trabalho (em termos percentuais) dos responsáveis (total de 84) pelos educandos, conforme o Gráfico 6 constatamos que 64,29% desses responsáveis são assalariados, o que demanda a necessidade de trabalharem e terem um espaço adequado para seus filhos no contraturno escolar, não podendo contar com serviços do Estado, haja vista a ausência de serviços de convivência comunitária.

Ressaltamos, nesse sentido, a importância do PCV do Instituto Guga Kuerten estar presente nesse bairro, sendo o único programa disponível para crianças e adolescentes.

GRÁFICO 6 – Distribuição dos responsáveis por “inserção” no mercado de trabalho

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

A negação desses serviços sociais pelo Estado reflete na vida dos responsáveis trabalhadores e a responsabilização familiar fica evidente. Para dar conta do trabalho e da família os responsáveis precisam articular estratégias para enfrentar essa necessidade e ausência de serviços governamentais muitas vezes contando com a ajuda de vizinhos ou outros parentes, pois não contam com espaços apropriados e seguros para a convivência dos seus filhos fora do ambiente escolar enquanto cumprem a jornada de trabalho.

Importante salientar que as referências da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente são legislações fundamentais para compreender a definição dos deveres da família, do Estado e da sociedade no âmbito das crianças e aos adolescentes. Tornam-se indispensáveis para a definição de responsabilidades governamentais, de inserção em programas de apoio à família e de defesa dos direitos de crianças e adolescentes e suas famílias. 0 10 20 30 40 50 60 70 Assalariado Autônomo Aposentado Do lar Desempregado 64.29 11.9 3.57 16.67 3.57

GRÁFICO 7 – Distribuição dos cônjuges/parceiro/a(s) por “inserção” no mercado de trabalho

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

No que se refere aos cônjuges e companheiro/a(s), 58 ao todo, conforme o Gráfico 7, observamos que a maioria está inserida no mercado formal de trabalho. Nesse sentido, reitera- se a necessidade de políticas sociais que colaborem para atender as demandas familiares de cuidados com os filhos dependentes.

No Gráfico7, relativo aos cônjuges, não consta a “profissão” do lar, pois como vimos, a maioria das responsáveis pelos educandos são mulheres e, nesse senti, trata-se de ocupação atribuída socialmente às mulheres. Ao observar que enquanto a maioria das mulheres eram do lar, os cônjuges se faziam presente na ocupação de trabalhador. Remetendo-nos a pensar que, por mais que as famílias contemporâneas tenham se modificados em algumas questões de gênero e atribuições igualitárias, ainda se faz presente no contexto atual em algumas famílias o homem como chefe da família e da casa: sou seja, aquele modelo patriarcal do homem (provedor) que trabalha e sustenta a família, e a mulher como aquela que cuida dos afazeres domésticos da casa e da família. Segundo o Gráfico 6, em relação aos 84 responsáveis, 16 eram mães com a ocupação “do lar” e duas estavam desempregadas, constando na ficha cadastral os cônjuges com renda familiar.

Também obtivemos dados relacionados à naturalidade dos responsáveis pelos educandos do IGK. Assim, diante das informações disponíveis organizamos a distribuição por estados e regiões do Brasil (Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste), sendo que não identificamos pessoas vindas de estados da região Norte, motivo de não constar na Tabela 1.

Conforme os dados, observamos a predominância da naturalidade na Região Sul, e, nesta, do estado de Santa Catarina, sendo 29 oriundas de municípios da região da Grande

0 10 20 30 40 50 60 70 80 Assalariado Autônomo Aposentado Desempregado Não informado 72.42 13.79 6.89 3.45 3.45

Florianópolis e 29 de outros municípios catarinenses, perfazendo 58 familiares responsáveis pelos educandos.

TABELA 1 – Distribuição dos responsáveis por naturalidade segundo a unidade federativa e região do Brasil

Região Nordeste Região Sul Sudeste Centro-Oeste

Unidade Federativa Total Unidade Federativa Total Unidade Federativa Total Unidade Federativa Total Bahia 05 Paraná 04

São Paulo 03 Mato Grosso

do Sul 01

Ceará 02 Santa Catarina* 29 Pernambuco 03 Rio Grande do

Sul 04

Sergipe 04

Total 14 Total 37 Total 03 Total 01

* Os dados relativos à Santa Catarina excluem os responsáveis que são naturais dos variáveis municípios da região da Grande Florianópolis, os quais totalizam 29 responsáveis.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Os responsáveis excluídos de Santa Catarina enfatizam os responsáveis que vieram de outros municípios e não da Grande Florianópolis, destaca-se a questão da mobilidade dos responsáveis.

Ao mesmo tempo chama a atenção o número de pessoas que migraram de estados da região Nordeste para essa cidade de São José na região da Grande Florianópolis. Observa-se o quão as pessoas se movimentam no território nacional e migram para buscar, em geral, melhor qualidade de vida, de trabalho, de estabilidade, entre outras razões que motivaram a migração. A partir da convivência no estágio em Serviço Social, em contato direto com os responsáveis, muitos foram os que afirmaram como motivos de migrar para essa localidade a busca de qualidade de vida, pensando num futuro melhor para seus filhos e, principalmente, de emprego e melhores salários.

Referente ao deslocamento dos migrantes das suas naturalidades para localidades em busca de melhores condições de vida, seja pelo fator econômico, educacional ou cultural, deve-se tomar alguns cuidados para não cair na desvantagem de uma condição de vulnerabilidade superior ao que já se encontravam. Pois, segundo o economista e professor brasileiro Singer (1998, p.41),

Na verdade, a economia capitalista não dispõe de mecanismos que assegurem uma proporcionalidade entre o número de pessoas aptas para o

trabalho, que os fluxos migratórios trazem à cidade, e o número de lugares de trabalho criados pelas novas atividades implantadas no meio urbano.

Em vista disso, nas migrações internas trata-se da importância de os migrantes contarem com uma qualificação de sua força de trabalho para a sua inserção regular nesse âmbito, pois ao contrário disso, corre-se o risco de submeter-se ao vínculo empregatício informal, o que já pode se considerar comum no mundo do trabalho, ocasionando resultados de diferentes espécies de exploração ao trabalhador, redução de custos e a extinção das garantias de direitos e previdenciários.

Cabe salientar que entre os migrantes existem diferentes possibilidades e condições sociais, ou seja, há aqueles com situação econômica e qualificação profissional superiores à deste público que acabamos de analisar. Muitos vêm com o objetivo de ampliar e explorar negociações trabalhistas e não se limita a sua própria manutenção e de seus membros familiares.

Contudo, é importante frisar a necessidade de suporte para essas pessoas que migram como meio de eles permanecerem e se impulsionarem a buscar o objetivo da migração, tratando-se de apoio familiar e assistência no âmbito da proteção social do município. Na falta desse amparo público, acredita-se que, em muitos casos, ocorre o retorno para o local de onde migraram ou novas migrações em busca de outra localização para alcançar seus objetivos. Esse processo, conforme Singer (1998), de possíveis retornos pode ser caracterizado como processo migratório circular, no qual o indivíduo se desloca de uma localização (podendo ser ela a região) para outra em um pequeno intervalo de tempo.

Por fim, através dessa pesquisa, obtivemos também dados referentes à participação em programas federais da política de assistência social. Constatou-se que somente 03 (três) responsáveis estavam vinculados ao Programa Bolsa Família do governo federal. Situação que, dada à realidade social, remete-nos a pensar em algumas dificuldades. Sendo elas, o acesso ao CRAS, pois este equipamento não se faz presente no bairro Sertão do Maruim e sim localizado no bairro próximo, Colônia Santana, dificultando o acesso aos serviços socioassistenciais; os próprios critérios burocráticos para o acesso aos benefícios da assistência social; e a questão da renda para acesso a tal benefício. Durante a vivência no processo de estágio, em uma oficina socioeducativa da semana da família com o subtema cidadania, percebemos um grande desconhecimento das famílias em relação aos serviços e benefícios da política de assistência social.

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