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2. Montando o palco: o Assentamento Domingos Carvalho

2.3. Caracterização socioeconômica

O Assentamento Domingos Carvalho é composto por 34 famílias. Contudo, atualmente apenas 33 encontram-se assentadas, haja vista que uma família abandonou a área e até o momento não foi substituída.

Inicialmente, o assentamento encontrava-se organizado em torno de 4 grupos: Coletivo, Coletivo II, Semi-coletivo e Cooperação8. Por ocasião dos primeiros contatos, o grupo Coletivo contava com 8 famílias, o Semi-coletivo com 8 famílias, o Coletivo II com 3 famílias e o Cooperação com 15 famílias9. Entretanto, em função de uma série de problemas, os grupos ou foram dissolvidos, ou encontram-se bastante enfraquecidos. No momento da realização da pesquisa de campo, apenas o Coletivo (com 4 famílias) e o Coletivo II (3 famílias) continuavam existindo. A associação que congregava todos os grupos, criada ainda durante o período de acampamento, também já não existe mais. As dificuldades encontradas em função da precariedade organizacional são grandes, chegando esse fato a se constituir num fator limitante ao processo de desenvolvimento. A descrição mais detalhada de cada grupo (histórico, funcionamento, situação atual) é feita no capítulo IV, quando se trata da organização interna do assentamento.

Cada família conta com uma área de aproximadamente 12 a 14 ha (o tamanho do lote varia em função das condições do terreno), sendo a área do grupo Coletivo formada pelo somatório das áreas individuais de seus membros.

Residem no assentamento um total de 144 pessoas. Muitas delas são familiares de assentados que, na ausência de condições de acesso à terra e moradia próprias, se vêem

8 No grupo Coletivo, a terra e os demais meios de produção são de propriedade do grupo. No Coletivo II,

apenas as áreas de lavoura são compartilhadas, sendo as áreas de pastagem (bem como as vacas leiteiras) pertencentes a cada um dos membros de forma individual (contudo, deste grupo fazem parte pai e filho, que compartilham também a pecuária). No grupo Semi-coletivo, cada família possui uma área de 2 ha para desenvolver atividades individuais, sendo o restante da área trabalhada de forma coletiva. No grupo

Cooperação, os lotes e os meios de produção permanecem sob propriedade de cada assentado, realizando-se trocas de serviço entre as famílias pertencentes a esse grupo.

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No decorrer deste trabalho, eventualmente utiliza-se a terminologia “assentados individuais” para fazer referência aos membros do grupo Cooperação, pois de maneira geral eles se estruturam de tal forma.

obrigadas a residir junto com estes. Dos residentes não assentados, a maioria ocupa-se com atividades não-agrícolas fora do assentamento (principalmente numa madeireira limítrofe à área). A presença destas pessoas explica a dimensão de alguns núcleos familiares10, que chegam a contar com 10, 11 ou até mesmo 15 pessoas, bem acima da média geral, que é de 4,4 pessoas/família.

Em termos de gênero, a distribuição é bastante equilibrada, havendo uma pequena superioridade numérica em favor do sexo masculino (51% e 49%).

Com relação à idade, o gráfico abaixo nos apresenta a distribuição da população pesquisada nas diversas faixas etárias.

Nota-se que os indivíduos das faixas etárias de 20 a 29 e 30 a 39, considerados a força de trabalho mais atuante e ativa, somam aproximadamente 33%. Contudo, a maior fatia encontra-se nas faixas etárias inferiores a 20 anos, que congregam 53% do total de residentes no assentamento. Essa é uma questão que merece reflexão, haja vista que uma parcela significativa desses jovens são potenciais demandantes de terra e, mantidas as condições atuais, sérios candidatos a se transformarem em novos sem-terra num futuro próximo.

Outra questão bastante preocupante é o grau de instrução. O levantamento feito durante a pesquisa de campo indica que 61,8% dos indivíduos acima de 7 anos têm no

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Por núcleo familiar entende-se o grupo formado pelo assentado e todas as pessoas residentes no lote, que apresentam algum laço de parentesco com o titular da área.

34 20 22 31 16 14 4 3 0 5 10 15 20 25 30 35 Número de pessoas < 7 7a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 > 60 Faixas etárias

Fonte: Pesquisa de campo, julho/agosto de 2001.

máximo o curso primário completo (até a 4a série). Esse número aumenta para 90% se incluirmos aqueles que cursaram durante algum tempo o chamado ginasial (5a a 8a série), sem contudo concluí-lo.

Os dados acima apresentados referem-se à população total do assentamento, aí incluídas as crianças e os jovens em idade escolar que ainda freqüentam a escola. Entretanto, se tomarmos apenas os titulares dos lotes e seus respectivos cônjuges, que em geral constituem o centro decisório do núcleo familiar, a situação torna-se ainda mais preocupante: 86% dos indivíduos possuem, no máximo, o ginasial incompleto. Além disso, 4 pessoas (7%) declararam nunca terem freqüentado a escola. É interessante salientar que todas essas 4 pessoas são mulheres.

Fonte: Pesquisa de campo, julho/agosto de 2001.

16 24 10 2 2 0 0 0 4 0 5 10 15 20 25 Número de pessoas PI PC GI GC SGI SGC SI SC NE Grau de instrução 32 31 31 7 4 0 0 0 34 5 0 5 10 15 20 25 30 35 Número de pessoas PI PC GI GC SGI SGC SI SC NEA NE Grau de instrução Legenda PI - Primário Incompleto PC - Primário Completo GI - Ginásio Incompleto GC - Ginásio Completo SGI - Segundo Grau Incompleto SGC - Segundo Grau Completo SI - Superior Incompleto SC - Superior Completo NEA - Não Estuda Ainda NE - Nunca Estudou Legenda PI - Primário Incompleto PC - Primário Completo GI - Ginásio Incompleto GC - Ginásio Completo SGI - Segundo Grau Incompleto SGC - Segundo Grau Completo SI - Superior Incompleto SC - Superior Completo NE - Nunca Estudou Figura 4 - Escolaridade.

Figura 5 - Grau de instrução dos titulares dos lotes e seus cônjuges

Esses índices, contudo, ainda são bem melhores que a média dos assentamentos da região Sul que, segundo o I Censo da Reforma Agrária, apresentam uma taxa de 14% de analfabetismo entre os titulares (BERGAMASCO, 1997). O baixo nível de escolaridade torna- se mais problemático quando analisamos que, em geral, são essas pessoas as responsáveis pela administração e gerenciamento dos lotes. Também a baixa capacitação de grande parte dos assentados e as dificuldades de aprendizagem causadas pela escolaridade reduzida, podem, em alguns momentos, tornar-se fatores de entrave ao processo de desenvolvimento.

A dificuldade em garantir a manutenção da família unicamente por meio das atividades agrícolas, faz com que alguns assentados tenham que buscar outras alternativas. Assim, observa-se que 5 pessoas (3%) têm dedicação integral à atividades não-agrícolas, todas fora do assentamento. A que mais se destaca é o trabalho numa madeireira próxima, que emprega 3 pessoas. Além disso, 15 pessoas (10%) trabalham em tempo parcial na agricultura, exercendo alguma outra atividade no restante do tempo. Destas, destaca-se o artesanato (que ocupa 4 pessoas) e o emprego como trabalhador rural temporário nas propriedades vizinhas ao assentamento. Um número relativamente grande de jovens (12%) estuda e ao mesmo tempo auxilia o restante da família nos trabalhos na lavoura. Ainda que 42% das pessoas declarem ter dedicação integral à agricultura, é comum ouvi-las afirmar que esporadicamente realizam atividades remuneradas não relacionadas à sua própria lavoura.

Fonte: Pesquisa de campo, julho/agosto de 2001.

Legenda

TIA - Trabalho Integral na Agricultura TPE - Tempo Parcial (Estuda) TPTF - Tempo Parcial (Trabalha Fora) A - Aposentado

TINA - Tempo Integral Não Agrícola NEAP - Não Exerce Atividade Produtiva

60 17 15 2 5 45 0 10 20 30 40 50 60 Número de pessoas

TIA TPE TPTF A TINA NEAP

Ocupação

Embora alguns assentados que exerçam atividades fora do assentamento, essas em geral apresentam um caráter complementar (com exceção de 3 casos em que elas adquirem posição privilegiada no sustento da família). A principal fonte de renda da maioria é a agricultura, em especial a produção de grãos. Segundo o levantamento feito por ocasião da pesquisa de campo, a área plantada com milho na safra 2000/2001 foi de aproximadamente 95 ha, com uma produção de 4500 sacos (270 toneladas ou 47,4 sacos/ha). Desse total, em torno de 1700 sacos (38%) foram consumidos dentro do próprio assentamento, seja para o trato dos animais (a maioria), seja para a alimentação humana (farinha de milho). O restante foi vendido principalmente para cooperativas e cerealistas da região, destacando- se a Cereagro, de Mafra.

Outra importante fonte de renda é o feijão, com uma área plantada de aproximadamente 21 ha e uma produção de 420 sacos (25,2 toneladas ou 29 sacos/ha) na safra 2000/2001. Cerca de 29% do feijão produzido foi consumido pelos próprios assentados, sendo o restante comercializado para cooperativas e, com menor freqüência, para atravessadores.

Sem grande importância em termos comerciais, mas com um grande valor para a manutenção/subsistência dos agricultores, encontra-se o arroz (de sequeiro). A produção anual é de cerca de 120 sacos (7,2 toneladas), sendo ele todo destinado ao consumo interno.

A olericultura, que já chegou a ser a principal fonte de renda dos grupos Coletivo e Semi-coletivo, atualmente é praticada unicamente para o autoconsumo. Apenas um assentado apresenta interesse em expandir a área e a produção de olerícolas destinadas ao mercado.

Também apresentam grande importância para a subsistência dos agricultores assentados a mandioca, a batata, a batata-doce e, mais recentemente, a batata-salsa.

A atividade leiteira, que fazia parte dos planos iniciais de diversas famílias, atualmente possui um relevante significado econômico para apenas duas (pai e filho), com um plantel de 8 vacas (cruzamentos entre holandês e jersey, em sua maioria) e uma produção diária média de 60 litros, destinados à uma empresa de laticínios da região. Levando-se em conta uma lactação simultânea de 6 a 7 animais, obtém-se uma média de 8 a 10 litros/vaca/dia, o que é uma produção razoável para o município, cuja média é de pouco mais de 2 litros/vaca/dia.

Em termos de pecuária, além da produção leiteira adotada por 2 famílias, é possível destacar a criação de suínos ao ar livre praticada por alguns assentados (embora ainda não

em caráter comercial) e a criação de aves (galinhas caipiras), com a venda eventual de carne e ovos. Essas duas atividades não se utilizam das chamadas técnicas “modernas”, sendo seu manejo basicamente “artesanal” e voltado ao autoconsumo.

Chama a atenção ainda a importância atribuída ao carvão. Um total de 6 famílias relatou ser esta uma de suas principais fontes de recursos. O assentamento conta com 6 fornos construídos, além de 2 em construção. Contudo, todos os entrevistados afirmaram que se trata apenas de uma atividade temporária, cujo objetivo, além do incremento financeiro, é fazer o aproveitamento da madeira que encontra-se enleirada, proveniente do desmatamento e destoca dos lotes. Seguindo-se o ritmo atual, a grande quantidade de madeira disponível torna possível sua utilização por mais dois ou três anos, na previsão dos próprios assentados. No entanto, receia-se que, uma vez habituados com a existência dessa fonte “segura” e constante de recursos, eles procurem mantê-la após o fim da madeira já derrubada. Um dos assentados já procurou, inclusive, orientações a respeito do plantio de bracatinga com vistas à produção de carvão.

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