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3. JUSTIFICATIVA

5.5. Instrumentos

5.5.1. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA

5.5.1.1. Critério de Classificação Econômica Brasil - ABEP, 2015.

O Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) é um instrumento construído pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) para estimar o poder de consumo das famílias brasileiras (ABEP, 2015). Segundo

Mata e colaboradores (2013), muitas pesquisas no campo da Neuropsicologia e Psicologia Cognitiva estão utilizando este instrumento e, sendo assim, foi adotado para avaliar o nível socioeconômico considerando a renda das famílias participantes (Anexo F).

A pontuação permite classificar classes econômicas, subdivididas em seis níveis de renda média: A – muito alto B1; B2; C1; C2, como categorias intermediárias; D-E - muito baixo. A correção do questionário consiste em somar os pontos dos bens materiais da família pré-estabelecidos pela ABEP.

A Tabela 2 apresenta a classe econômica e a pontuação proposta pela ABEP, 2015.

Tabela 2 - Classe Econômica e respectiva pontuação - ABEP, 2015.

Classe Econômica Pontuação

A 45-100 B1 38-44 B2 29-37 C1 23-28 C2 17-22 D-E 0-16 Fonte: ABEP, 2015.

Vale ressaltar que a renda familiar varia muito dentro das categorias criadas para auxiliar na classificação das classes econômicas. Além disso, trabalhos revelam que muitas pessoas não se sentem confortáveis em divulgar os reais dados optando em omitir ou mentir sobre a questão financeira por questões de segurança ou desconhecimento (EXAME, 2012; BRITO, NOBLE, 2014; ABEP,2015).

5.5.1.2. Inventário do Recurso do Ambiente Familiar – RAF

O inventário RAF (Anexo G) permite um levantamento dos recursos do ambiente familiar que podem contribuir para a aprendizagem formal, no ensino fundamental. Este instrumento possui fundamentos em acordo com a concepção ecológica do desenvolvimento em domínios, como recursos que promovem processos proximais, atividades que avaliam a estabilidade na vida

familiar bem como práticas parentais que aproximam família e escola (MARTURANO, 2006).

O instrumento, em formato de entrevista semi-estruturada, contém 10 questões fundamentadas nas descrições dos recursos disponíveis no ambiente familiar, que são respondidas pelo responsável pela criança. As questões foram agrupadas em três categorias conforme o trabalho de Monteiro e cols (2013) que propõe três categorias referentes a (a) Suporte parental (questões 8, 9 e 10), que abrange questões de supervisão nos quesitos escolares; (b) Interação com os pais (questões 1,2,3 e 4), referentes a atividades realizadas entre pais e filhos e (c) Recursos Materiais (questões 5, 6 e 7), questões relacionadas aos recursos disponíveis no ambiente físico, como brinquedos e livros (MONTEIRO; SANTOS, 2013).

Para pontuar, somou-se os itens assinalados pelo participante, com exceção nas questões de 8 a 10, que apresentam pontuações especificas. O inventário forneceu assim dois escores, o escore bruto e o escore relativo de cada tópico, exceto 8, 9 e 10. O escore final envolveu um calculo especifico (pontuação bruta/ pontuação máxima do tópico x 10) (MARTURANO, 2006).

5.5.2. Características do ambiente escolar

Neste trabalho procurou-se evidenciar alguns aspectos do ambiente escolar através de um questionário estruturado (Anexo 8), respondido pelos 10 professores participantes, e analisado quantitativamente. Um dos questionários foi baseado nas questões da Prova Brasil-Questionário do Professor de 2011 (MEC/INEP, 2011).

5.5.3. Avaliação neuropsicológica

Para avaliar habilidades de controle inibitório foram adotados dois instrumentos, o Stroop de Animais e teste Inibindo Respostas da Bateria Nepsy-II.

O teste computadorizado Stroop de Animais é um novo instrumento, que tem como objetivo avaliar a função de controle inibitório em crianças de três a 16 anos idade ou adultos com baixa escolaridade. Foi desenvolvido e está sendo validado no território brasileiro por profissionais do Laboratório de Neuropsicologia Clínica (NEUROCLIC) e do Núcleo de Inovação Tecnológica em Reabilitação (NITRE). Foi adaptado do instrumento criado por Wright e colaboradores (2003). As tarefas envolvem estímulos visuais, imagens de quatro animais distintos (vaca, porco, sapo e pato) e quatro condições específicas. A primeira condição consiste em apenas nomear os animais que aparecem na tela no computador (Figura 4).

Figura 4 - Item de Nomeação – Vaca. Fonte: Manual do Teste.

Na segunda condição, são apresentados os itens de controle. Foi informado à criança que ela veria imagens estranhas, nas quais o animal aparece de uma forma diferente: no lugar da cabeça há uma forma geométrica (condição de controle) e que deveria dizer apenas o nome do corpo de animal (Figura 5).

Figura 5 - Item de controle Formas – Pato. Fonte: Manual do Teste.

A terceira condição é a de conflito. Nesse caso aparece um corpo de animal com a cabeça de outro animal (condição de conflito), e a criança deve dizer o nome do corpo do animal (Figura 6).

Figura 6 - Item de conflito Inibição – Porco. Fonte: Manual do Teste.

A quarta condição é a de alternância, na qual a criança continua vendo corpos de animais com a cabeça de outro animal e deve alternar entre dizer o nome da cabeça do animal ou do corpo do corpo do animal. Neste caso a criança foi solicitada a continuar dizendo o corpo do animal que aparece na tela, mas quando o fundo da tela for cinza, a dizer o nome da cabeça do animal (Figura 7).

Figura 7 - Itens de alternância – Pato e Pato. Fonte: Manual do Teste.

O Stroop de Animais consiste em quatro etapas de treinamento seguidas de um bloco de teste para cada condição explicitada. Nas condições de nomeação e controle há 12 estímulos e nas de condições conflito e alternância 24 estímulos.

As imagens são apresentadas uma por vez de forma aleatória na tela do computador em 4 blocos de testes antecedidos pelo treinamento de cada condição. A medida do tempo de resposta ocorre a partir da emissão oral da criança, ao final o programa registra o tempo médio das respostas emitidas corretamente em cada uma das condições. Adicionalmente, são registrados os acertos, os erros por ação e outros erros.

O subteste Inibindo Respostas (IR) compõe a bateria NEPSY-II – Avaliação Neuropsicológica do Desenvolvimento (ARGOLLO et al., 2009). Tem por objetivo avaliar o controle inibitório por meio de tarefas de nomeação rápida, utilizando-se de figuras geométricas (círculo e quadrado) e setas. Três condições (nomeação, inibição e mudança) são previstas, totalizando seis ensaios.

A primeira condição é de nomeação, na qual a criança é solicitada a nomear os estímulos que lhe são apresentados. Em seguida, na condição de inibição, a atividade demanda que a criança seja capaz de inibir uma resposta preponderante (ex: nomear a figura quadrado como quadrado) para nomear o estímulo em uma situação de incompatibilidade estímulo-resposta (ex: nomear a figura quadrado como círculo). A condição de mudança requer um esforço cognitivo maior por parte da criança, pois é necessário alternar respostas:

nomear e inibir os estímulos considerando as cores (preto ou branco). Esta última tarefa demanda a manutenção das duas regras (CARVALHO, 2013).

Na folha de respostas do IR, nos seis ensaios o desempenho da criança é analisado nos quesitos tempo de realização, número de erros não-corrigidos e número de erros auto-corrigidos (que somados resultam nos erros totais) e erros totais.

5.5.4. Memória Operacional

O teste de Dígitos é um subteste das Escalas de Inteligência de Weschler para Crianças – atualmente em sua 4ª versão (WISC-IV) indicada para sujeitos entre 6 a 16 anos. Este subteste consiste em sequências numéricas, apresentadas oralmente pelo avaliador, e a criança é solicitada a repetir na mesma ordem (OD) e posteriormente, na ordem inversa (OI) (WECHSLER, 1997; FIGUEIREDO; NASCIMENTO, 2007). A sequência numérica varia de dois a nove dígitos e, para cada série, apresenta-se dois ensaios, quando os dois são repetidos equivocadamente, finaliza-se a atividade.

Este teste clássico é frequentemente utilizado como medida de avaliação da atenção, memória de curto-prazo e da memória operacional, concomitantemente, ou seja, da capacidade de reter informações verbais por um curto espaço de tempo (Ordem Direta) e de manipulá-las mentalmente (Ordem Inversa) (FIGUEIREDO; NASCIMENTO, 2007). No presente estudo, adotou-se como medida de memória operacional apenas a sequencia mais longa lembrada pela criança em ordem inversa (span).

A tarefa de blocos de Corsi tem tido ampla utilização em estudos clínicos e experimentais e é considerada por alguns autores como a tarefa não verbal mais importante da investigação neuropsicológica, que avalia o componente visuoespacial da memória operacional (KESSELS et al., 2000). O teste está disponível em duas versões, sendo a versão tradicional em um tabuleiro onde estão dispersos nove blocos cúbicos montados e em versões digitais (BERCH et al., 1998; BRUNETTI et al., 2014; SIQUARA et al., 2014).

O modelo adotado no pressente estudo foi no modo tradicional, no qual os pequenos cubos estão presos ao tabuleiro de madeira e dispõem de

números impressos apenas no lado visível para o examinador, que serve como referência durante a aplicação.

O examinador senta-se de frente para a criança, iniciando uma sequência pré-arranjada tocando com o dedo nos blocos e, logo em seguida, o examinando toca na mesma sequência, formando a ordem direta (OD). Na segunda tarefa, o examinando deve tocar os cubos na ordem inversa (OI) daquela apresentada pelo examinador. Em ambas tarefas, ordem direta e inversa, inicia-se com uma sequencia de dois cubos e, se a criança conseguir repetir a sequência corretamente, inicia-se uma sequência maior, até a sequencia máxima de 7 números. O escore é obtido pela quantidade total de cubos memorizada pela criança (MILNER, 1971; KESSELS et al., 2000; FRANKLIN et al., 2010). Nesse estudo, o desempenho foi avaliado apenas considerando-se a ordem inversa.

5.5.5. Fluência Verbal Fonológica

Nos trabalhos envolvendo as FE, geralmente encontra-se protocolos incluindo tarefas de fluência verbal fonológica, que permitem avaliar a organização de pensamento abrangendo a velocidade de produção lexical e acesso lexical automático (SILVEIRA et al., 2009).

Seguindo o modelo da Bateria Nepsy-II, desempenho é avaliado pela quantidade de palavras produzidas de forma espontânea pela criança, em 60 segundos, iniciadas com as letras “F” e “S”. Desta forma, as respostas dependem do nível intelectual, vocabulário e atenção além de necessitar da memória de trabalho para não ocorrer perseverações (SILVEIRA, et al., 2009).

Como orientação inicial, o examinador alerta à criança que a atividade contém algumas regras, pois nomes próprios (nomes de pessoas ou cidades), palavras que não existem (neologismos) e diferentes tempos verbais de um mesmo verbo (dá-se um exemplo) não serão contabilizados. O desempenho é avaliado pela soma das palavras geradas nas duas letras.

A capacidade de Regulação Emocional diz respeito a uma adequada manipulação da ativação emocional com vistas a uma socialização efetiva e abrange processos intrínsecos e extrínsecos responsáveis pela monitoração, avaliação e modificação de reações emocionais (ARANGO, 2007).

A Escala de Regulação Emocional (ERC), composta por 24 itens, estima, a partir da percepção de terceiros, o desenvolvimento da criança em aspectos associados à Regulação Emocional (RE), que abrange expressão das emoções, empatia e autoconsciência emocional, e à Labilidade/Negatividade Emocional (L/N), que avalia falta de flexibilidade, ativação emocional, reatividade, desregulação de raiva e labilidade do humor de crianças (REIS et al., 2014).

O responsável pela criança foi solicitado a responder a escala, sendo orientado a assinalar a questão que mais ocorre com a criança. A resposta varia de 1-Nunca, 2- Algumas vezes, 3- Muitas vezes e 4 – quase sempre. A apuração dos escores ocorre para cada subescala (L/N, RE, RE Total), (REIS et al., 2014).

5.6. Aspectos Éticos

Esta pesquisa foi realizada segundo as diretrizes determinadas pelo Código de Ética em pesquisa da UNIFESP/EPM em trabalhos envolvendo seres humanos, em respeito às normas da Resolução nº 466 de 08 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde. Todas as crianças participantes foram devidamente autorizadas por seus responsáveis, que assinaram o TCLE.

A identidade das crianças, pais/responsáveis e professores é preservada nos documentos anexados, nos quais constam apenas os nomes das secretarias municipais de educação.

Quanto às avaliações, exceto o teste Stroop de Animais e a Escala de Regulação Emocional, que estão sob validação no território brasileiro, os demais instrumentos são amplamente utilizados em pesquisas.

Pretende-se ao término deste trabalho apresentar os resultados gerais e propor discussões sobre possíveis intervenções na interface escola-família nas

escolas participantes e oferecer uma palestra sobre o desenvolvimento infantil para os responsáveis.

Será proposta ainda uma orientação aos responsáveis das crianças identificadas como apresentando desempenho intelectual abaixo do percentil 10 ou sinais prévios de desregulação emocional, ou seja, que não atingiram critérios de elegibilidade para o estudo, de forma a favorecer um encaminhamento clínico, caso necessário.

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