Com vistas a traçar o perfil dos sujeitos e selecionarmos as turmas a serem observadas aplicamos um questionário exploratório. No total, 10 pedagogas da escola responderam o questionário. A seguir (Quadro 3), temos um quadro síntese da faixa etária dos sujeitos:
Quadro 3: Faixa etária das pedagogas
Faixa etária Quantidade de
pedagogas
20-24 anos 2
25-29 anos 4
30-34 anos 2
Acima de 35 anos 2
Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
A partir do quadro percebemos uma variedade de faixas etárias e que a maioria dos sujeitos tem mais de 25 anos. Essa variedade etária possibilitou investigar pedagogos nos diferentes ciclos de vida profissional.
Quanto ao estado civil 5 pedagogos são solteiras, 4 casadas e 1 divorciada. Quanto ao nível de escolaridade apresentaremos um quadro síntese (Quadro 4):
Quadro 4: Nível de escolaridade das pedagogas
Nível de escolaridade Quantidade
Estudante de pedagogia 2
Pedagogia completo 2
Pedagogia e especialização completa 3 Pedagogia e cursando especialização 3 Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
66 A partir do questionário respondido pelas pedagogas, as dez participantes13 da
pesquisa foram interrogadas sobre o significado de ser pedagoga. Através da análise dos questionários inferimos as concepções das pedagogas (Quadro 5):
Quadro 5: Significado de ser pedagoga
Significado Resposta Sujeito
Profissional responsável pelos processos de ensino e aprendizagem
Ser pesquisador, que ensina e aprende, sempre fazendo descobertas que encantam e transformam a educação
Maria Se permitir ensinar e aprender Lauane
Profissional que articula teoria e prática
É compartilhar experiências e transformar em
conhecimento Edna
São ações determinantes nas interações, os sentimentos e necessidades de ações de teoria e a prática
Valéria Um profissional provido de muitos saberes
que estabelece relações necessárias à prática pedagógica
Carol Profissional com características
emocionais relacionadas ao trabalho com a infância
Ser pedagogo significa gostar de trabalhar com crianças, ser paciente e ter domínio de conteúdo
Silvia Profissional que transpõe desafios Busca de caminhos para os desafios Amanda Profissional que interfere no
processo de desenvolvimento e construção do conhecimento
Poder participar ativamente do crescimento do
outro Marta
Ser a possibilidade de mudança na vida de
uma criança Juliana
Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
Através do quadro identificamos diferentes concepções das pedagogas. A primeira “profissional responsável pelos processos de ensino e aprendizagem” diz respeito ao significado do ser pedagoga relacionada aos processos de ensino e aprendizagem. A identificação com a profissão está ligada ao ensinar e aprender como expressões da atuação pedagógica. A concepção “profissional que articula teoria e prática” enfatiza a dimensão da experiência no exercício da profissão, ser pedagogo é expressar vivências que referenciam a construção de conhecimentos pedagógicos através da indissociabilidade teoria e prática na sala de aula. A faceta da intervenção pedagógica na constituição dos conhecimentos discentes e como fator relevante nos processos de desenvolvimento humano se apresenta na concepção “profissional que interfere no processo de desenvolvimento e construção do conhecimento”. A concepção “profissional com características emocionais relacionadas ao trabalho com a infância” evidencia um
13Uma das pedagogas respondeu que “não sabia”, por isso não trabalhamos com sua resposta
67 suposto perfil psicoemocional do pedagogo que trabalha com crianças. Por fim, na concepção “profissional que transpõe desafios” ser pedagoga é traçar estratégias para solucionar os possíveis dilemas da prática.
Posteriormente, nas entrevistas retomamos as concepções sobre o significado do ser pedagogos e percebemos as nuances nos discursos das pedagogas a partir das diferentes experiências. A seguir algumas das respostas que ilustram essa concepção
Os participantes da pesquisa são pedagogas nos diferentes ciclos de vida profissional propostos por Huberman (1995) e que atuam como docentes. No quadro abaixo (Quadro 6) explicitamos, conforme dados dos questionários e entrevistas, os perfis dos participantes da pesquisa e podemos visualizar turmas, fases, formação e vínculos profissionais das pedagogas.
Quadro 6: Turmas, fases, formação e vínculos profissionais das pedagogas
Nome
Fictício Turma Fase Formação Outros vínculos
Mariana 5° ano A Inic
ial Pedagogia (Instituição pública federal) Professora de ensino fundamental vinculada ao Estado no turno vespertino Juliana 2° ano B Estabili za çã o Pedagogia e especialização em psicopedagogia (instituição pública federal) Professora do munícipio de Parnamirim no turno matutino Marta 3° ano B
Pedagogia e os seguintes cursos de especialização:
psicopedagogia, gestão, educação especial e inclusiva (instituição
particular)
Não possui outro vínculo Maria 5° ano B Pedagogia e cursando especialização em gestão de processos educacionais (Instituição pública)
Não possui outro vínculo Lauane 1° ano A e B Dive rsific aç
ão Pedagogia (instituição privada),
Especialização em Literatura (instituição pública) Trabalha os dois turnos na escola Amanda 3° ano A e C
Magistério (Fundação Bradesco), Pedagogia (instituição privada) e
cursando especialização
Trabalha os dois turnos na escola Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
68 As pedagogas têm itinerários formativos e experiências profissionais diversas que podem à sua maneira interferir em suas práticas pedagógicas. Com relação aos conhecimentos acerca da educação especial, na formação inicial em Pedagogia, todas as pedagogas estudaram uma disciplina voltada para a educação especial ou inclusiva. A pedagoga afirmou na entrevista que na formação do magistério não estudou disciplinas que discutiam os processos de escolarização de pessoas com deficiência e sua experiência como docente iniciaram-se pós-magistério (formação em nível médio com habilitação para o trabalho com professor) antes do curso de Pedagogia.
Com relação às experiências de ensino das pedagogas direcionadas a alunos com deficiência explicitaremos no quadro abaixo (Quadro 7), os significados inferidos a partir da análise dos questionários:
Quadro 7: Significados das experiências de ensino
Significado Resposta Sujeito
Aprofundamento do trabalho com a diversidade
Trabalho com crianças com deficiência é o ponto de partida que aprofundar a diversidade e a comunidade escolar
Valéria
Desafios nas práticas pedagógicas
Desafios e oportunidades a cada dia com cada aluno com e sem deficiência, ou seja, aprendizagem
Lauane Primeira experiência enquanto pedagoga
repleta de desafios, perdas e conquistas Juliana
Aprendizagem profissional
É um aprendizado constante e enriquecedor, proporciona o crescimento pessoal e profissional
Carol Estou aprendiz na área das deficiências.
Organizando minhas práticas Amanda
Experiência rica para minha profissão onde pude crescer em estratégias que contribuíram para o desenvolvimento dos meus alunos e minha enquanto profissional
Mariana
Tempo muito rico de grandes e constantes aprendizagens, onde cresço como profissional e principalmente como ser humano
Marta
Reconhecimento das limitações e possibilidades
Aprender e compreender as limitações dos outros, respeitando o limite e acreditando em todas as possibilidades dos sujeitos em suas capacidades, isso tenho como lição
Edna
Cada experiência com criança com deficiência é uma descoberta, pois todas têm suas especificidades
Maria Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
Com base nas respostas podemos inferir que a descrição das experiências envolvendo alunos com deficiência possibilita diferentes significados nas concepções das
69 pedagogas. A primeira categoria refere-se à experiência como fator de aprofundamento no trabalho com a diversidade, ou seja, a diferenças visualizadas no trabalho pedagógico com pessoas com deficiência repercutem no entendimento da diversidade no contexto escolar.
Com relação a segunda categoria, percebemos a experiência caracterizada como desafios a prática pedagógicas. As duas respostas remetem aos desafios referentes aos alunos com e sem deficiência como oportunidades de aprendizagem e o reconhecimento das lacunas no ensino de tais alunos.
Na terceira categoria (essa conta com o maior número de respostas) a experiência é um fator relevante pois possibilita aprendizagem profissional, vivenciar práticas pedagógicas com alunos deficientes diz respeito a uma oportunidade de crescimento profissional, pois as pedagogas concebem essas experiências como divisor de águas para refletir e organizar as práticas e alavancar o desenvolvimento docente e discente.
A última categoria diz respeito à experiência ao reconhecimento das limitações e possibilidades dos alunos com deficiência. Essa concepção apresenta um aspecto que pode minimizar o discente devido a condição de deficiência pois explicita reconhecer as limitações. Tal pressuposto pode dialogar com a ideia de Vygotsky (2010) acerca da deficiência primária e secundária, concebemos a partir desse teórico que as limitações se constituem nas relações sociais, ou seja, as situações escolares e as mediações docentes podem construir aspectos da deficiência secundária que reforçam as diferenças de tais sujeitos frente aos padrões de normalidade da sociedade.