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É necessário que a sociedade conheça bem sua população, incluindo as pessoas com deficiência para que possa facilitar seu acesso a todos os espaços sociais (escola, parques, festas, empresas, teatros, cinema, museus entre outros) e não apenas ao mercado de trabalho. O despreparo dos gestores e a ineficácia das

Políticas Públicas implementadas ocorre principalmente pela ausência de estatísticas brasileiras, tanto a respeito do número real quanto das formas de assistência disponíveis para os portadores de algum tipo de deficiência.

Na cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, de acordo com dados preliminares do Censo 2010, a população é de 327.801mil (IBGE, 2010). Em relação à pessoa com deficiência não se teve uma preocupação de apresentar uma estimativa real, um sinal de como estes cidadãos estão sendo esquecidos ao se planejar a vida em sociedade.

Como recorte dos sujeitos para a realização da pesquisa foram selecionados três grupos de deficientes: os deficientes auditivos, Intelectuais e visuais. Para maior compreensão de suas representações, acredita-se que um levantamento demográfico do perfil de cada grupo fosse fundamental. A partir de então foi elaborado um questionário fechado, o qual permitiu coletar dados que pudessem caracterizá-los.

 Deficientes Auditivos (Surdos)

A deficiência auditiva pode acarretar para o indivíduo limitações para além da biológica, como por exemplo, limitações cognitivas e sociais, pois a audição é essencial para a aquisição da linguagem oral. Embora a linguagem falada não seja a linguagem mais importante, sua dificuldade de comunicação influencia até mesmo no relacionamento dentro da própria família. De acordo com Redondo e Carvalho (2000, p. 5) esta dificuldade de relacionamento “[...] cria lacunas nos processos psicológicos de integração de experiências, afetando o equilíbrio e a capacidade normal de desenvolvimento da pessoa”.

Para a comunidade de surdos, há uma diferença entre uma pessoa deficiente auditiva e uma pessoa surda, isto ocorre porque existem graus de surdez. Uma pessoa com deficiência auditiva apresenta uma perda leve à moderada, e portanto não se considera completamente surdo. Estes muitas vezes utilizam os resíduos auditivos como parâmetros juntamente da expressão facial para se oralizarem. Os considerados surdos são os que não possuem nenhum tipo de resíduo de audição e por conta disto, utilizam a Língua de Sinais para sua comunicação,

conhecida como LIBRAS. Contudo, há uma corrente jovem que tenta conscientizar a todos que possuem perdas auditivas a assumirem sua surdez e fortalecerem a LIBRAS como uma língua que possui regras próprias, assim como a língua portuguesa. Neste estudo apesar dos entrevistados utilizarem o termo surdez, optou-se em utilizar a nomenclatura deficiência auditiva, pelo estudo estar abordando outros tipos de deficiência.

Os dados obtidos por meio do perfil demográfico de quatro entrevistados demonstram que em relação à escolaridade, a maioria ainda está terminando o segundo grau. Apenas uma entrevistada relatou que já concluiu a educação básica e está se preparando para o vestibular, apesar de todos terem idade acima da referente à escolarização padrão. Todos são solteiros e residem ainda com os pais. Constatou-se ainda que poucos possuem um trabalho formal, possuindo assim a escola como ocupação principal.

Outro dado que chama atenção é a renda familiar, em que todos declararam ser de 01 salário mínimo, agravado pela não inserção destes sujeitos no mercado de trabalho. Conforme declarado, a não inserção ao trabalho acontece pela pouca escolaridade ou por barreiras atitudinais muitas vezes da própria família por insegurança como também da sociedade que não gera inclusão.

A baixa renda familiar é agravada pelo fato da família ser numerosa, congregando em torno de quatro a seis pessoas, residindo em sua maior parte em casas alugadas. Todos os entrevistados indicaram utilizar o transporte público para sua locomoção, relatando que possuem o cartão de passe livre.

 Deficientes Visuais

De acordo com Batista (2005) existem varias definições para a deficiência visual, a maioria com base no modelo médico ou legal. A deficiência visual pode ser de origem hereditária ou adquirida. No entanto, a expressão deficiência visual se refere ao espectro que vai da cegueira até a visão subnormal.

Não é a intenção aqui pontuar cada grau de cegueira, entretanto, visto que dos cinco entrevistados, um possuía visão subnormal é importante esclarecer este grau. A visão subnormal até o final do século XX era tratada como cegueira, sem levar em

consideração o potencial visual destes sujeitos. Contudo, hoje profissionais da área já estimulam tal potencial tanto nas atividades educacionais quanto na vida cotidiana e no Lazer (GIL, 2000).

A visão subnormal ou baixa visão está relacionada à alteração da capacidade funcional decorrente de fatores como rebaixamento significativo da acuidade visual, que é a redução de um importante campo visual e da sensibilidade aos contrastes e limitação de outras capacidades (GIL, 2000).

Para melhor compreensão do termo visão subnormal, Gil (2000, p.6) apresenta um exemplo simples, ao definir como “[...] incapacidade de enxergar com clareza suficiente para contar os dedos da mão a uma distância de 3 metros, à luz do dia; em outras palavras, trata-se de uma pessoa que conserva resíduos de visão”.

O indivíduo de visão subnormal é estimulado a fazer uso de auxílios ópticos adequados e materiais adaptados à suas necessidades, como por exemplo, os textos com letras ampliadas. No entanto, várias pessoas com visão subnormal lançam mão do mesmo instrumento utilizado pelos indivíduos com cegueira, o braille. Muitos já se acostumaram com o método de linguagem e passam a realizar as tarefas de forma mais rápida.

De acordo com os dados do questionário, dos cinco entrevistados apenas dois possuíam emprego fixo, sendo que um deles era empregado em uma loja da família. Os outros três entrevistados viviam apenas do benefício de aposentadoria devido à deficiência. A questão da ocupação principal pode estar diretamente relacionada à escolaridade, pois apenas um possuía o nível superior, enquanto três possuíam o ensino médio e um apenas a alfabetização.

No que se refere ao Estado civil dos entrevistados, um é viúvo, um separado e os outros três solteiros. Em relação à moradia, percebe-se que conseguem viver uma vida independente, considerando-se algumas restrições atribuídas à deficiência. Desta forma, dois moram sozinhos, sendo que um vive na companhia de um filho ainda criança, e os outros entrevistados vivem com os pais.

A moradia da maior parte dos sujeitos é alugada, apenas um mora em uma casa cedida por um filho e outro mora em casa própria. Vale ressaltar que os que vivem

em casa alugada são os que possuem como renda familiar apenas o seu benefício de 1 salário mínimo para três a quatro pessoas.

 Deficientes Intelectuais (Síndrome de Down)

É importante não confundir deficiência intelectual com doença mental. A Deficiência Intelectual trata-se de um funcionamento inferior do intelecto ao que se considerar como média associado a limitações em pelo menos duas áreas de habilidades (comunicação, auto cuidado, vida no lar, adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade, determinação, funções acadêmicas, Lazer e trabalho), com início antes dos 18 anos (SASSAKI, 2000).

Justamente para evitar o equivoco entre deficiência mental com deficiência intelectual, o termo foi alterado no ano de 1995 no simpósio Intelectual Disability: Programs Policies, And Planning For The Future, da Organização das Nações Unidas (ONU).

As causas da deficiência intelectual são inúmeras e complexas, envolvendo fatores pré, durante e pós-natal, e com isso aumenta ainda mais a dificuldade de se diagnosticar uma causa exata. A Síndrome de Down é uma deficiência intelectual, inicialmente identificada pelo exame de cariótipo, e ao passo que o sujeito se desenvolve outras características específicas desta deficiência se tornam perceptíveis. A escolha de se fazer um recorte com Síndrome de Down, deteve-se por estaser uma deficiência intelectual de fácil identificação.

Durante as entrevistas realizadas com os responsáveis, percebeu-se que a pessoa com deficiência intelectual tem dificuldades e potencialidades como qualquer outra. Assim, sempre que possível se procurava potencializar a participação dos próprios deficientes intelectuais, tentando envolvê-los nas perguntas ou através do simples fato de segurarem o gravador.

Durante as entrevistas notou-se que os deficientes intelectuais sabiam que a conversa era a respeito deles, e em muitos momentos expressavam sorrisos e balançavam a cabeça em sinal de sim quando seus responsáveis falavam algo que eles gostavam de fazer e brincar, chegando muitas vezes a falar a atividade antes mesmo que os pais.

De acordo com os dados demográficos foi possível perceber que, em relação aos outros grupos participantes desse estudo, este possui uma renda familiar superior, em que ultrapassa a média de quatro salários mínimos. Embora não se possa dizer que seja uma realidade da maioria das famílias que possuam um membro com Síndrome de Down, assim como nos outros casos.

Apesar do indicador favorável mencionado acima, a escolarização não ultrapassa a alfabetização. Todos são solteiros e suas ocupações principais são a escola, o laboratório e a terapia. Há os que não mais estão vinculados à escola formal, mas as responsáveis os consideram estudantes, visto que estão vinculados a programas de instituições especializadas e continuam aprendendo.

Outro dado que também difere dos outros grupos é na questão de moradia, pois aqui todos os entrevistados moram em casas próprias, embora a família também seja composta por três a quatro pessoas. Dos cinco entrevistados, quatro utilizam carro próprio para transporte, principalmente quando vão à instituição no dia de atendimento, que é oferecido duas vezes por semana.

Diante do apresentado, em relação ao itinerário metodológico, e do perfil das instituições e de seus usuários/alunos, acredita-se que as informações darão condições para se entender o contexto em que a pesquisa foi realizada, assim como compreender de qual contexto partem as falas dos entrevistados.