• Nenhum resultado encontrado

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 P RODUÇÃO ESPECÍFICA DE LIGNINA NO PROCESSO

5.4.2 Caracterização térmica da lignina

Foi feita análise térmica das ligninas BCA bruto e BCAev – Exp. 2. Essa análise foi

feita utilizando a técnica de termogravimetria que consiste em acompanhar a variação de massa em função da temperatura. A Figura 16 apresenta o termograma das curvas termogravimétricas

das ligninas BCA bruto e BCAev – Exp. 2, e a Figura 17 apresenta suas respectivas curvas

derivadas.

Figura 16 – Termograma das curvas termogravimétricas das ligninas BCA bruto e BCAev – Exp.

2. 200 400 600 800 0 20 40 60 80 100 Perda de m as s a (%) Temperatura (°C)

Lignina BCA bruto Lignina BCAev - Exp.2

Figura 17– Termograma das curvas derivadas das ligninas BCA bruto e BCAev – Exp. 2.

100 200 300 400 500 600 700 800 900 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 D e ri vad a (% mi n ) Temperatura (°C)

Lignina BCA bruto Lignina BCAev - Exp. 2

42

Pode-se observar que os gráficos mostram três eventos para cada uma das ligninas com valores relativamente próximos. O primeiro evento, observado até 100 ˚C, pode ser relacionado com a perda de água, monóxido de carbono e dióxido de carbono (GORDOBIL et

al., 2016; HUSSIN et al., 2013). A perda de massa nesse primeiro evento foi de 3,5% para a

lignina extraída da fibra bruta e de 3,1% para a lignina extraída da fibra explodida. O segundo evento é observado a partir de 160 ˚C, e pode ser associado à perda de hemiceluloses residuais que estão ligados à estrutura da lignina (HUSSIN et al., 2013). A perda de massa foi de 10,0% para a lignina BCA bruto e de 8,5% para a lignina BCAev – Exp. 2, isso demonstra o menor teor

de hemiceluloses na lignina extraída do bagaço explodido que se deve à separação da hemicelulose da lignina no processo de explosão a vapor. A presença de açúcares residuais também pode ser confirmada através da análise de FT-IR, onde obteve-se uma banda característica às hemiceluloses (1706 cm-1-1708 cm-1) (FAIX, 1992).

O terceiro evento, observado entre 300 °C e 550 °C, refere-se à decomposição da lignina (GORDOBIL et al., 2016). Entre 300 °C e 400 °C a perda de massa foi de 17,4% para a lignina extraída da fibra bruta e de 21,8% para a lignina extraída da fibra explodida. Essa perda de massa está relacionada à quebra das ligações entre as hidroxilas fenólicas, grupos carboxílicos e hidroxilas benzílicas, liberando fenóis na fase de vapor. Acima de 400 °C houve perda de massa 67,6% e 65,1% para as ligninas extraída da fibra bruta e explodida, respectivamente. Essa perda de massa gradual a partir de 400 °C pode ser associada à degradação ou condensação do anel aromático (HUSSIN et al., 2013; SUN et al., 2001)

De acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que as estabilidades térmicas das ligninas estudadas são semelhantes. Comparando com os resultados obtidos por Pinheiro (2014) para a lignina Kraft, pode-se observar diferença na pureza e na estabilidade térmica. A lignina Kraft estudada por Pinheiro (2014) apresentou resíduos inorgânicos não voláteis que permaneceram na forma sólida a 700 °C (56%) e 900 °C (17%), enquanto que as ligninas

acetosolv extraídas no presente estudo apresentaram 0% de resíduos nessas temperaturas como é

apresentado na Tabela 8. A temperatura inicial de degradação, apresentado na Tabela 8, foi de 297 °C para a lignina BCA bruto, 290 °C para a lignina BCAev – Exp. 2 e 271 °C para a lignina

Kraft, o que demonstra uma maior estabilidade térmica das ligninas acetosolv em relação à lignina Kraft.

Tabela 8 – Dados obtidos a partir das curvas termogravimétricas e derivadas das ligninas BCA bruto, BCAev– Exp. 2 e Kraft.

Lignina %Resíduo a 700 °C %Resíduo a 900 °C TI (°C) DTGmáx (°C)

BCA bruto 0 0 297 500

BCAev– Exp. 2 0 0 290 470

Kraft * 56 17 271 300

44 6 CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos a partir do planejamento experimental do processo de explosão a vapor, concluiu-se que, na faixa estudada, as variáveis independentes do processo não demonstraram efeitos significativos sobre o PLIG do processo. Contudo, obteve-se

maior extração de açúcares empregando-se 240 °C durante 4 min.

O pré-tratamento por explosão a vapor possibilitou a redução do tempo de reação do processo acetosolv de 180 para 45 min sem redução do PLig. Portanto, este processo é promissor

para a diminuição de gastos energéticos

Os espectros de FT-IR obtidos com a lignina extraída da fibra explodida na condição experimental 2 (240 °C durante 4 min), mostrou características estruturais tais como as encontradas na literatura para lignina HGS. Essas mesmas características foram obtidas no espectro da lignina extraída do bagaço bruto, mostrando que, possivelmente, o processo de explosão a vapor não causa mudanças na estrutura monomérica da lignina.

A partir da análise termogravimétrica observou-se uma diminuição no teor de açúcares residuais em relação à lignina extraída do bagaço bruto, observado pela diferença na porcentagem de perda de massa na faixa de temperatura do evento que foi de 10,0 % para a lignina BCA bruto e 8,5 % para a lignina BCAev – Exp. 2. Concluindo que, com o processo de

explosão a vapor aliado ao processo de extração acetosolv, pode-se obter uma lignina com menor teor de açúcares residuais.

7 REFERÊNCIAS

BENAR, Priscila. Polpação acetosolv de bagaço de cana e madeira de eucalipto. Dissertação de mestrado em Química (Departamento de Química Inorgânica). Universidade Estadual de Campinas, 1992.

BYKOV, Ivan. Characterization of natural and technical lignins using FTIR spectroscopy. Yüksek Lisans Tezi, Lulea University of Technology, Department of Chemical Engineering and Geosciences, Lulea, 2008.

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira: cana- de-açúcar, segundo levantamento, 2015/2016. Brasília, 2015.

CYBULSKA, Iwona; BRUDECKI, Grzegorz; LEI, Hanwu. Hydrothermal pretreatment of lignocellulosic biomass. In: Green Biomass Pretreatment for Biofuels Production. Springer Netherlands, 2013. p. 87-106.

FAIX, O. Fourier transform infrared spectroscopy. In: Methods in lignin chemistry. Springer Berlin Heidelberg, p. 83-109, 1992.

FENGEL, Dietrich; WEGENER, Gerd (Ed.). Wood: chemistry, ultrastructure, reactions. Walter de Gruyter, 1983.

GOLDEMBERG, José; LUCON, Oswaldo. Energia e meio ambiente no Brasil. Estudos Avançados, v. 21, n. 59, p. 7-20, 2007.

GOMIDE, José Lívio; OLIVEIRA, R. C.; COLODETE, J. L. Produção de polpa kraft de eucalipto, com adição de antraquinona. Revista Árvore, Viçosa, v. 4, n. 2, p. 203-214, 1980. GORDOBIL, Oihana et al. Assesment of technical lignins for uses in biofuels and biomaterials: Structure-related properties, proximate analysis and chemical modification. Industrial Crops and Products, v. 83, p. 155-165, 2016.

GRĀVITIS, Jānis et al. Lignin from steam‐exploded wood as binder in wood composites. Journal of Environmental Engineering and Landscape Management, v. 18, n. 2, p. 75-84, 2010.

HERNÁNDEZ, José Anzaldo. Lignina Organosolv de Eucalyptus dunnii maiden, alternativa para a síntese de adesivos de poliuretano para madeira. Tese de doutorado. Universidade Federal do Paraná, 2007.

HOFSETZ, Kelly; SILVA, Maria Aparecida. Brazilian sugarcane bagasse: Energy and non- energy consumption. Biomass and Bioenergy, v. 46, p. 564-573, 2012.

HOLLADAY, J. E. et al. Top value-added chemicals from biomass. DOE Report PNNL, v. 16983, 2007.

46

HUSSIN, M. Hazwan et al. Physicochemical characterization of alkaline and ethanol organosolv lignins from oil palm (Elaeis guineensis) fronds as phenol substitutes for green material applications. Industrial Crops and Products, v. 49, p. 23-32, 2013.

IONASHIRO, M.; GIOLITO, I. Nomenclatura, padrões e apresentação dos resultados em análise térmica. Cerâmica, v. 26, n. 121, p. 17-24, 1980.

JACQUET, Nicolas et al. Application of Steam Explosion as Pretreatment on Lignocellulosic Material: A Review. Industrial & Engineering Chemistry Research, v. 54, n. 10, p. 2593- 2598, 2015.

KAAR, W. E.; GUTIERREZ, C. V.; KINOSHITA, C. M. Steam explosion of sugarcane bagasse as a pretreatment for conversion to ethanol. Biomass and Bioenergy, v. 14, n. 3, p. 277-287, 1998.

KLOCK, Umberto et al. Química da madeira. Curitiba: UFPR, v. 3, 2005.

KUMAR, Parveen et al. Methods for pretreatment of lignocellulosic biomass for efficient hydrolysis and biofuel production. Industrial & Engineering Chemistry Research, v. 48, n. 8, p. 3713-3729, 2009.

LIN, Yan; TANAKA, Shuzo. Ethanol fermentation from biomass resources: current state and prospects. Applied microbiology and biotechnology, v. 69, n. 6, p. 627-642, 2006.

LUPOI, Jason S. et al. Recent innovations in analytical methods for the qualitative and quantitative assessment of lignin. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 49, p. 871- 906, 2015.

MANZANO-AGUGLIARO, F. et al. Scientific production of renewable energies worldwide: an overview. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 18, p. 134-143, 2013.

MARABEZI, Karen. Estudo sistemático das reações envolvidas na determinação dos teores de Lignina e Holocelulose em amostras de Bagaço e Palha de Cana-de-Açúcar. 2009. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

MARCHESSAULT, R. H. Steam explosion: a refining process for lignocellulosics. Steam Explosion Techniques. Fundamentals and Industrial Applications. Eds. Focher, B., Marzetti, A., Crescenzi, V. Gordon and Breach Science Publishers, Amsterdam, p. 1-19, 1991.

MILLER, Gail Lorenz. Use of dinitrosalicylic acid reagent for determination of reducing sugar. Analytical chemistry, v. 31, n. 3, p. 426-428, 1959.

PINHEIRO, F. G. C. Produção de Lignossulfonatos a partir da lignina extraída do bagaço de cana-de-açúcar. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Ceará, 2014.

RAMOS, Luiz Pereira. The chemistry involved in the steam treatment of lignocellulosic materials. Química Nova, v. 26, n. 6, p. 863-871, 2003.

ROCHA, G. J. M. Deslignificação de bagaço de cana-de-açúcar assistida por oxigênio. Universidade Federal de S. Carlos, Tese de Doutorado, 2000.

ROCHA, G. J. M. et al. Influence of mixed sugarcane bagasse samples evaluated by elemental and physical–chemical composition. Industrial Crops and Products, v. 64, p. 52-58, 2015. SALIBA, E. O. S. et al. Ligninas: métodos de obtenção e caracterização química. Ciência rural, v. 31, n. 5, p. 917-928, 2001.

SANTANA, Adriel Santos; AZEVEDO, Tarcísio Magalhães. A Questão Ambiental pela Ótica dos Direitos de Propriedade. Educação e liberdade, n. 2, p. 71-89, out. 2012.

SANTOS, M. F. R. F. Elaboração da Technology Roadmap para Biorrefinaria de Produtos da Lignina no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ/EQ, 2011.

SHAFIEI, Marzieh; KUMAR, Rajeev; KARIMI, Keikhosro. Pretreatment of Lignocellulosic Biomass. In: Lignocellulose-Based Bioproducts. Springer International Publishing. p. 85-154, 2015.

SUN, RunCang; LU, Q.; SUN, X. F. Physico-chemical and thermal characterization of lignins from Caligonum monogoliacum and Tamarix spp.Polymer degradation and stability, v. 72, n. 2, p. 229-238, 2001.

TAMANINI, Carolina; DE OLIVEIRA HAULY, Maria Celia. Resíduos agroindustriais para produção biotecnológica de xilitol. Semina: Ciências Agrárias, v. 25, n. 4, p. 315-330, 2004. VALLEJOS, María Evangelina et al. Low liquid-solid ratio fractionation of sugarcane bagasse by hot water autohydrolysis and organosolv delignification. Industrial Crops and Products, 2014. Wang, G.; Chen, H., Carbohydrate elimination of alkaline-extracted lignin liquor by steam explosion and its methylolation for substitution of phenolic adhesive, Industrial Crops and Products, 53, 93– 101, 2014.

ZHANG, Yuzhen; FU, Xiaoguo; CHEN, Hongzhang. Pretreatment based on two-step steam explosion combined with an intermediate separation of fiber cells-optimization of fermentation of corn straw hydrolysates. Bioresource technology, v. 121, p. 100-104, 2012.

ZHAO, X. et al. Steam explosion pretreatment and enzymatic saccharification of duckweed (Lemna minor) biomass. Biomass and Bioenergy, v. 72, p. 206-215, 2015.

Documentos relacionados