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Capítulo 4: Procedimentos de coleta e análise das informações Erro! Indicador não definido.

6.1. Caracterizando o Expresso Lazer

Iniciaremos este capítulo caracterizando o Expresso Lazer, conforme entrevista com o diretor do Departamento de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer da Prefeitura de Santo André. A questão do lazer nas políticas públicas é, para ele, um direito da população. Essa posição, apresentada na Pré-Conferência e posteriormente na entrevista com o gestor, pode ser observada no Expresso Lazer como uma proposta de mudança que a gerência de ação comunitária vem tentando estabelecer na sua abordagem às comunidades e no fazer do Expresso.

Em entrevista, ele nos conta que o lazer a ser promovido pelo Expresso respeita as premissas levantadas como missão do Departamento de Cultura, que são: (1) acessibilidade e universalidade; (2) qualidade, eficácia, eficiência, efetividade; (3) transversalidade – ações integradas com outras secretarias, evitando as ações fragmentadas.

Santo André foi a primeira cidade que criou o cargo de agente de lazer. A aprovação na câmara de vereadores exigiu esforços de convencimento e debates sobre o lazer na cidade. A criação do cargo de agente de lazer trouxe mais qualidade para os projetos e para os trabalhos. Com o tempo, essas pessoas contratadas para “agentes de lazer” viraram “gerentes de lazer”. O tipo de ação que é exigido no trabalho é um complicador; por exemplo, o Expresso Lazer funciona aos finais de semana, o que exige desprendimento por parte dos agentes, de seus compromissos familiares e de convivência social. Essas questões fizeram com que algumas pessoas contratadas “fugissem” desse tipo trabalho. A contratação passou então a ser feita pelo período de um ano. Atualmente, o maior desafio encontrado pelos gestores do Departamento de Lazer é o de formar as pessoas para trabalharem no Expresso Lazer. Essa preocupação deriva da explicação de que “O ônibus não trabalha sozinho”. Os gerentes se vêem, a cada ano, começando do zero, pois o ônibus é entendido como um elemento de animação e uma ferramenta. Nele há um palco com som, mas não funciona sem a animação, sem alguém para fazer a intermediação. Ou seja, o elemento principal do Expresso Lazer é o animador, pois é ele quem promove a convivência lúdica entre as pessoas.

O entrevistado conta ainda que outra questão importante é a política local, pois o Departamento de Lazer é relativamente novo, foi criado em 1997 e já não dá conta do trabalho, uma vez que a Prefeitura desenvolve várias ações que envolvem o lazer os moradores da cidade e a maior dificuldade é articular as iniciativas existentes. Essa dificuldade deriva do entendimento, talvez limitado, sobre o que é lazer e o que é diversão.

A idéia de um Expresso Lazer – ele continua – é inspirada nas ruas de lazer e nas transformações que sua concepção original sofreu ao longo do tempo. Há aproximadamente 30 anos, uma lei assegurava que as ruas poderiam ser fechadas ao trânsito aos finais de semana se 75% dos moradores assim o desejassem. A prefeitura fazia a contagem dos moradores do local e dos interessados na rua de lazer, cedia os cavaletes para o fechamento da rua e dava uma formação básica para o lazer, com idéias para as pessoas construírem seus jogos e programas comunitários ao ar livre. A situação mudou com o Código Nacional de Trânsito, pois as pessoas passaram a pedir os cavaletes “só para terem a sua rua fechada e aí a coisa virou uma questão de trânsito” (sic). Com o Código Nacional de Trânsito, percebeu-se que essa ação significava muito gasto do poder público, sem a certeza de que a proposta desenvolvida naquele espaço seria lazer. Outro problema dessa iniciativa é que dificilmente se identificava o que poderia ser do interesse da comunidade como lazer.

O projeto do Expresso Lazer começou como um aprofundamento de questões que foram surgindo ao longo do tempo e também com a inspiração de outros projetos desenvolvidos em outras cidades: por exemplo, o Ônibus Brincalhão da Prefeitura de São Paulo e um ônibus no Paraná.

O entrevistado nos conta que o Expresso Lazer trabalha com uma regra de ação pontual: leva a sua ação para lugares onde as pessoas têm dificuldade de ter acesso a programas de lazer. Assim, a equipe de ação comunitária procura organizar algo mais consistente, próximo a algum equipamento de uso da comunidade local, evitando que a presença seja apenas uma passagem. O Expresso busca deixar uma marca de autonomia nas comunidades onde atua para que os próprios moradores organizem o seu lazer, pois, mesmo que quisessem, não poderiam estar no mesmo lugar o tempo todo.

Há três maneiras de solicitar a intervenção do Expresso: as pessoas da comunidade o fazem diretamente; as secretarias da prefeitura municipal que desenvolvem algum tipo de ação solicitam sua presença nas comunidades, por exemplo, em mutirões de limpeza, dias de vacinação, ou a própria equipe entra em contato com

lideranças de lugares da cidade mais distantes e sem acesso ao lazer. Existe ainda uma outra forma que a gerência do projeto não vê com bons olhos: a solicitação feita por vereadores do município, para atuação em seus redutos políticos.

A gerência de ação comunitária tem procurado atender prioritariamente às solicitações provenientes de lugares onde há dificuldade de acesso a outros programas. Nos lugares, por exemplo, que passaram por processo de urbanização e contam com CESAs, eles entendem que ali já existe um equipamento municipal que pode promover lazer e cultura. A gerência foge das solicitações feitas por vereadores por considerar que o interesse ali é o de chamar atenção para alguma coisa que não lhes permite avaliar o impacto causado por sua presença.

A gerência de ação comunitária tenta orientar seus agentes a buscar um contato mais próximo com as comunidades, a conversar com as pessoas e a procurar entender as suas necessidades. Assim, a abordagem inicial costuma ser uma reunião com quem fez a solicitação ou foi identificado como uma liderança local que então convida os moradores. Geralmente as mulheres são a presença mais marcante nessas reuniões, realizadas durante a semana. Algumas crianças comparecem, mas os homens são raros nesses espaços. As mulheres mostram-se preocupadas com o lazer dos filhos. Quando as crianças estão presentes na reunião, não é feita nenhuma abordagem ou escuta específica das necessidades delas. Inicialmente, não se prevê nenhuma forma de participação das crianças na definição das atividades, isto é, as crianças não participam desse momento inicial do Expresso, de aproximação com as necessidades da comunidade, não são os interlocutores.

No entanto, quando o Expresso chega, são elas que mais participam, que estão presentes desde o início das atividades. Quanto mais distante e sem recursos de lazer for o local, maior é a participação delas: as crianças ajudam a montar, conversam, mostram- se interessadas e perguntam sobre tudo o que vai acontecer.

A programação do Expresso é planejada anteriormente pelos gerentes de lazer e a equipe de agentes ou monitores. As ações em campo são pensadas de forma que possam ser usufruídas por toda a família e não apenas pelas crianças. Nosso entrevistado explica que o planejamento das atividades tem uma orientação explícita de não segmentar as atividades por idades, de modo a promover as relações entre as pessoas da comunidade. Assim, as atividades propostas estão também abertas à participação dos adultos.

As crianças e seus pais podem ler um livro de histórias. Há também atividades circences, brincadeiras organizada pela equipe, jogos de xadrez, de damas e pingue- pongue que favorecem a interação entre crianças e adultos. Assim, um dos objetivos é promover a aproximação das famílias, de modo que o lazer possibilite também “o estarem juntos da família”.