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CAPÍTULO 2: SAZONALIDADE NO ACÚMULO DE CARBOIDRATOS E

4.2 Carboidratos estruturais de parede celular

O contraste entre as variações das concentrações de celulose nos caules, ramos e folhas foi intrigante. No caso dos ramos e folhas, as maiores concentrações no verão, poderiam ser explicadas pelas conclusões de Chapin et al. (1986), que atribuiu o termo “diluição” para explicar as variações de teores de celulose e não sua remobilização propriamente dita. O motivo segundo o autor é a variação nas concentrações de carboidratos de reserva e proteínas. Essa explicação se encaixa perfeitamente para o comportamento nos ramos e folhas, pois nestes órgãos ocorreram reduções nas concentrações de amido e hemiceluloses ao mesmo tempo em que celulose aumentou. Porém, nos caules os teores de celulose foram menores no verão, o mesmo ocorrido com as hemiceluloses e indiferentemente com outros carboidratos de reserva. Dessa maneira, um possível aumento nos teores de proteínas e de outras moléculas não mensuradas, poderia ser a causa da diluição de celulose nos caules, já que as moléculas de celulose são consideradas pouco móveis, sendo mobilizadas apenas em sementes e na formação de aerênquimas (BUCKERIDGE et al., 2008).

Diferente das celuloses, as hemiceluloses apresentaram uma variação padronizada em todos os órgãos amostrados, confirmando a hipótese. Maiores teores no final do inverno e menores no final do verão foram significativos. Essa variação foi o resultado mais marcante do presente estudo. Porém, a variação de hemiceluloses não é uma novidade, já que Chapin et al. (1986) já apontavam variações sazonais de hemiceluloses em ramos e folhas, principalmente em espécies de arbustos decíduos. Os declínios nas concentrações de hemiceluloses foram associados às diminuições dos teores de carboidratos não estruturais durante a fase de reprodução, que requer maior demanda energética. Kaakinen et al. (2004) ao estudarem mudas de Picea abies em diferentes estações do ano e sob diferentes níveis de nitrogênio (N), relataram reduções nas concentrações de hemiceluloses do caule entre o início e o final da estação de crescimento. Schädel et al. (2009) encontraram resultados semelhantes em espécies arbóreas adultas de clima temperado. Identificaram que uma espécie caducifólia tinha suas concentrações de hemiceluloses em ramos reduzidas durante a fase de crescimento vegetativo. Por outro lado, outras espécies (caducifólias e perenes) não apresentaram variação significativa. Estes autores sugerem que a utilização de hemiceluloses como fonte de carbono durante grandes demandas possa ser característica intrínseca de cada

espécie, além de substituir outros carboidratos de reserva, como o amido, que pode estar em menores concentrações nos tecidos de determinadas espécies.

Apesar de existirem dados pioneiros relatando que as hemiceluloses possam ser remobilizadas, os dados do presente trabalho tem impacto por serem unânimes para todas as espécies amostradas e pelo fato destas não serem caducifólias. As hemiceluloses parecem exercer maior representatividade nas reservas de carbono em comparação aos carboidratos não estruturais para as espécies da floresta de restinga, nas condições investigadas.

Em relação à lignina, seu papel parece mesmo estar restrito as funções estruturais, confirmando a hipótese. Os resultados que revelaram alterações nas concentrações de lignina foram restritos aos ramos e folhas. A maioria mostrou aumento na concentração de lignina no final do verão, atribuído talvez a menores concentrações de outras moléculas, como hemiceluloses e amido. Com a diminuição na concentração de outras moléculas, os mesmos teores de lignina passam a ser mais representativos na massa seca dos tecidos. Esta seria a melhor explicação, já que a remobilização de lignina é pouco provável, devido sua grande interação com as macromoléculas de hemiceluloses e celulose (CANILHA et al. (2010).

5 CONCLUSÃO

Nem todos os carboidratos não estruturais apresentaram menores concentrações no verão. (1) O amido confirmou ser a molécula de reserva mais importante entre os carboidratos não estruturais. (2) A flutuação nas concentrações de carboidratos solúveis deve ter maior relação com a translocação de sacarose. (3) As hemiceluloses demostraram ser as principais moléculas de reserva energética para arbóreas de floresta de restinga. (4) A variação nos teores das moléculas energéticas foi associada com as demandas energéticas da fase reprodutiva. (5) As variações na concentração de celulose e lignina, foram associadas com a variação nos teores de outras biomoléculas.

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