• Nenhum resultado encontrado

4 A DIDÁTICA NOS CURSOS DE PEDAGOGIA DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS

4.2 As revelações das entrevistas

4.2.2 A carga horária da disciplina Didática

O Conselho Nacional de Educação, através da Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Pedagogia, que em seu artigo 6º, afirmam que a estrutura desse curso, mesmo respeitando a diversidade nacional e a autonomia pedagógica das instituições, deve ser constituído por vários componentes, dentre eles, determina o

estudo da Didática, de teorias e metodologias pedagógicas, de processos de organização do trabalho docente. Ou seja, cada universidade, respeitando a

autonomia universitária, deve trabalhar no currículo do curso de Pedagogia a Didática e seu conhecimento específico, não sendo estipulada carga horária mínima, o que deixa livre para cada instituição a escolha de seus tempos e espaços.

As diferenças entre a carga horária da disciplina de Didática é um fator indispensável para essa análise, visto que há significativas diferenças quanto ao tempo (quantidade hora/aula e créditos) dedicado para essa disciplina nas universidades investigadas. Enquanto na instituição 1 e 2 a disciplina de Didática tem 4 créditos, na instituição 3 tem 6 créditos, na 4 tem 12 créditos, subdivididos em Didática I e II com 6 créditos cada. Ou seja, duas universidades públicas do Ceará após as mudanças curriculares nacionais do curso de Pedagogia no ano de 2006 diminuíram a carga horária da disciplina de Didática, que no depoimento de uma das professoras entrevistadas é evidenciada sua indignação:

Foi muito triste pra mim, nós tínhamos uma disciplina de Didática na matriz curricular anterior de seis créditos e nessa nova matriz curricular ela passou a ser de quatro créditos, então pra mim isso realmente foi uma mudança, mas uma mudança para baixo, uma mudança para menos, uma mudança que inferioriza a Didática, que é uma disciplina fundante na formação do professor, então vejo isso com muita tristeza. (ÁRTEMIS).

Sobre isso, Pimenta (2012) questiona o paradoxo atual existente sobre a disciplina de Didática na formação de professores, e afirma que mesmo com expressiva realização de pesquisas e produção nessa área de conhecimento, a

tendência presente em alguns cursos de licenciatura é excluí-la de seu currículo ou reduzir significativamente seus espaços/tempos de aulas. O que é evidenciado nas universidades 1 e 2 de nossa amostra.

De acordo com a Lei 9394/96 (L.D.B.) em seu artigo 12, os estabelecimentos de ensino, respeitando as normas comuns e as do seu sistema de ensino, possuem a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica. Estipula ainda, no artigo 13 a participação dos docentes nessa elaboração. O que evidencia a abertura para mudanças nas propostas pedagógicas das universidades.

Fazendo um paralelo do que é estipulado em lei, com o que discutimos nos encontros científicos da área da educação, evidenciamos um paradoxo entre o que defendemos nos eventos sobre a contribuição fundamental da disciplina Didática, e a efetivação desse discurso na prática de elaboração do currículo do curso de Pedagogia, visto que essa disciplina perde espaço para outras. As participações nas reuniões de colegiado para discussão de mudanças curriculares no curso de Pedagogia nos fazem comprovar, que no caso das universidades públicas, o Projeto Político Pedagógico é construído coletivamente pelo colegiado de cada curso, levando em consideração os documentos oficiais, ou seja, os professores participam ou podem participar do seu processo de elaboração, mesmo assim verificamos pela amostra dessa pesquisa que a Didática perde espaço para outras áreas do conhecimento. Uma possibilidade para justificar tal paradoxo, seria a existência da correlação de forças existente entre os professores nesse processo de elaboração do Projeto Político Pedagógico, já que o PP é um documento formulado coletivamente que orienta e organiza o trabalho pedagógico de uma instituição ou curso, e como afirma Passos (2007, p. 37) está baseado em concepções, escolhas, a partir de uma correlação de forças, tornando inevitável o enfrentando de conflitos e negociações durante a sua elaboração.

Outra possibilidade é que estaríamos vivenciando em nossas práticas a metáfora de Libâneo (2010) da Odisséia. Em que o autor afirma que por vezes os professores de Didática são seduzidos por conteúdos de outras disciplinas e não mantêm fidelidade ao seu conteúdo específico. Estaríamos entre Ítaca e o canto das sereias?

Muitos dos pesquisadores e professores de Didática a se deixarem levar pelo canto das sereias de outros campos de conhecimento, permitindo que seu objeto e estudo, os processo de ensino e aprendizagem, seja apropriado por outras disciplinas como o currículo, a formação de professores, a psicopedagogia e, às vezes, a sociologia da educação. (LIBÂNEO, 2010, p. 44).

O fato é que a realidade nos mostra que estamos vivenciando uma contradição entre o que defendemos nos eventos científicos da área educacional e o que os currículos do curso de Pedagogia expressam em suas disciplinas e respectivas cargas horárias.

Libâneo (2012) denuncia outro paradoxo, entre o que é produzido nas pesquisas com o que é colocado em ação na docência, e afirma que tem sido enorme o número de produções bibliográficas em Didática, discutindo questões teóricas e epistemológicas, relação teoria e prática na formação inicial e continuada, mas essas discussões parecem não estar chegando aos professores e nem tem conseguido proporcionar mudanças significativas na formação docente, ou seja, as produções bibliográficas em Didática têm refletido pouco no campo disciplinar e profissional da ação docente. Das 4 universidades pesquisadas, duas tiveram a carga horária reduzida para a disciplina de Didática em suas mudanças curriculares, o que nos faz refletir se o aumento da carga horária dessa disciplina não seria uma das possibilidades para mudar esse paradoxo entre a produção teórica e a ação docente em sala de aula, já que tendo mais créditos iria proporcionar maior tempo para reflexão e aproximação da realidade escolar.

Uma hipótese para justificar a redução relatada por essas professoras da carga horária da Didática seria a de que o conteúdo da Didática poderia estar sendo fragmentado em outras disciplinas do currículo, o suposto canto das sereias de Libâneo (2010), mas os professores dessa disciplina, que conhecem seu conteúdo específico e o currículo do curso, em nenhum momento compartilharam sentir que o conhecimento proporcionado pela disciplina Didática estaria sendo fracionado em outras disciplinas.

O fato é que enquanto, essas duas universidades diminuem a carga horária da disciplina, a universidade 4 mantém a carga horária anterior as diretrizes, e uma das professoras afirma:

...nós temos duas disciplinas de Didática, uma que é chamada Didática I, e a outra que é a Didática II, e cada disciplina dessas tem seis créditos, que correspondem a 90 horas/aulas, uma carga horária bem extensa, que mostra o valor que a gente dá para a Didática no curso de Pedagogia. (ANGÍCIA)

A professora Angícia compartilha que ao final da disciplina subdividida em parte I e II os alunos da Pedagogia reconhecem a contribuição da Didática em sua formação docente, demonstrando satisfação em tê-la cursado pelas aprendizagens que a mesma proporcionou.

Frente a esses paradoxos, precisamos colocar em prática os resultados das pesquisas na área de Didática, e não homogeneizar o conteúdo dessa disciplina com o de outras áreas do conhecimento, devemos tentar ampliar seu tempo, visto sua importância na formação de professores, ao invés de diminuir sua carga horária no currículo nos cursos de Pedagogia e em outras licenciaturas.

4.2.3. A pesquisa como eixo fundante para o professor de Didática e o Endipe