• Nenhum resultado encontrado

transmissão do vírus?

dupla ou mesmo terapia tripla com drogas com efeitos colaterais que comprometiam a adesão. Alguns pesquisadores avaliaram genotipagem dessas flutuações de viremia com vacinação e pelo menos um trabalho detectou mutações de resistência em dois pa- cientes após a vacinação de influenza, especulando sobre conse- quências na transmissão viral.

A introdução de inibidores de protease mais potentes e com melhor tolerância, dos inibidores de integrase, enfim, a extraor- dinária evolução da terapia antirretroviral nesse século, mudou o enfoque, permitindo revisitar esse tema. Na África, estudos demonstraram que a revacinação de crianças com a vacina sa- rampo, após ter a carga viral do HIV suprimida por HAART, reduziu de modo dramático a mortalidade por essa doença. Estudos com a vacina sarampo e outros também com vacinas de vírus vivos evidenciaram que, além de uma boa contagem de células CD4, era essencial a supressão da viremia HIV para a eficácia das vacinas. Ou seja, a replicação do HIV em pacientes sem tratamento eficaz da aids interfere na função das células B e T, comprometendo a resposta vacinal. Um estudo do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) com mais de 28 mil pacientes HIV(+), entre 1998 e 2003, mostrou efetividade da vacina pneumocócica polissacáride 23-valente, que desapa- recia quando a carga viral do HIV do paciente vacinado estava maior que 100 mil cópias/mL independentemente dos níveis de células CD4.

Pesquisadores espanhóis submeteram um grupo de pacientes a um esquema vacinal com hepatite B, hepatite A, tétano, gri- pe, varicela, MMR ou placebo e acompanharam a evolução de carga viral e o risco de resistência, tentando recriar a vida real de vacinação simultânea de pacientes soropositivos, demonstrando

77

Vacinação em pacientes HIV+: aumenta a carga viral? Pode aumentar o risco de transmissão do vírus?

absoluta segurança dos esquemas vacinais usados na prática clí- nica. Uma análise retrospectiva dos dados desse trabalho mos- trou que os blips – rebotes – de carga viral não tinham relação significativa com a vacinação, mas com adesão ao esquema de tratamento antiviral.

A pandemia de gripe H1N1 motivou estudos de vacinação em pacientes soropositivos HIV. Pesquisadores mostraram maior eficácia com duas doses de vacina com intervalo mensal ou de três semanas. Impacto na carga viral do HIV foi absolutamente irrelevante com as vacinas comuns, com vacinas com adjuvante e com vacinas com maior concentração de antígenos.

Concluindo, com a moderna terapia antirretroviral, com ab- soluto controle da replicação viral, as vacinas são seguras, com impacto transitório e desprezível na replicação viral – quando ocorre – limitado a algumas semanas, sem qualquer consequência danosa à evolução do paciente e sem qualquer risco à transmissão da aids. É mandatório estimular a vacinação da população infec- tada pelo vírus HIV, com objetivo de reduzir morbimortalidade por doenças imunopreveníveis.

Trabalho realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo mostra como é pequena a cobertura vacinal de pacientes HIV(+) em nosso meio. As dire- trizes do European Aids Clinical Society (EACS) de 2013 reco- mendam que vacinas de vírus vivos atenuados sejam usadas ape- nas com contagem de células CD4 acima de 200 e consideram repetir vacinas inativadas feitas com contagem de células CD4 abaixo de 200, tão logo ocorra reconstituição imune.

Vacinação em pacientes HIV+: aumenta a carga viral? Pode aumentar o risco de transmissão do vírus?

Bibliografia

Abzug MG, Qin M, Levin MJ, Fenton T, Beeler JA, Bellini WJ, et al.; International Maternal Pediatric Adolescent AIDS Clinical Trials Group P1024 and P1061s Protocol Teams. Immunogenicity, immunologic memory, and safety following measles revaccination in HIV-infected children receiving highly active antiretroviral therapy. J Infect Dis. 2012;206(4):512-22.

Bickel M, von Hentig N, Wieters I, Khaykin P, Nisius G, Haberl A, et al. Immune response after two doses of the novel split virion, adjuvanted pandemic H1N1 influenza a vaccine in HIV-1–infected patients. Clin Infect Dis. 2011;52(1):122-7.

Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em adultos. 2013. Disponível em: <www. aids.gov.br>. Acessado em: 18 jun. 2014.

Brichacek B, Swindells S, Janoff EN, Pirruccello S, Stevenson M. Increased plasma human immunodeficiency virus type 1 burden following antigenic challenge with pneumococcal vaccine. J Infect Dis. 1996;174(6):1191-9.

Castro P, Laubender RP, Lehmeyer L, Ankerst DP, Eberle J, Reinert R, et al. Influence of a vaccination schedule on viral load rebound and immune responses in successfully treated HIV-infected patients. J Infection. 2010;61(6):484-91.

Castro P, Plana M, González R, López A, Vilella A, Nicolas JM, et al. Influence of episodes of intermittent viremia (‘‘blips’’) on immune responses and viral load rebound in successfully treated HIV-infected patients. Aids Res Hum Retroviruses. 2013;29(1): 68-76.

[EACS] The European AIDS Clinical Society. EACS guidelines. Version 7.0, october 2013. Disponível em: <www.eacsociety.org>. Acessado em: 18 jun. 2014.

Farquhar C, Wamalwa D, Selig S, John-Stewart G, Mabuka J, Majiwa M, et al. Immune responses to measles and tetanus vaccines among Kenyan human immunodeficiency virus type 1 (HIV-1)-infected children pre- and

79

Vacinação em pacientes HIV+: aumenta a carga viral? Pode aumentar o risco de transmissão do vírus?

post-highly active antiretroviral therapy and revaccination. Pediatr Infect Dis J. 2009;28(4):295-9.

Ho YL, Enohata T, Lopes MH, De Sousa Dos Santos S. Vaccination in Brazilian HIV-infected adults: a cross sectional study. AIDS Patient Care STDS. 2008;22(1):65-71.

Kolber MA, Gabr AH, De La Rosa A, Glock JA, Jayaweera D, Miller N, Dickinson GM. Genotypic analysis of plasma HIV-1 RNA after influenza vaccination of patients with previously undetectable viral loads. AIDS. 2002;16(4):537-42.

Launay O, Desaint C, Durier C, Loulergue P, Duval X, Jacomet C, et al.; ANRS 151 HIFLUVAC Study Group and the French Clinical Vaccinology Network (Réseau National d'Investigation Clinique en Vaccinologie REIVAC). Safety and immunogenicity of a monovalent 2009 influenza A/ H1N1v vaccine adjuvanted with AS03A or unadjuvanted in HIV-infected adults: a randomized, controlled trial. J Infect Dis. 2011;204(1):124-34. McKittrick N, Frank I, Jacobson JM, White CJ, Kim D, Kappes R, et al.

Improved immunogenicity with high-dose seasonal influenza vaccine in HIV-infected persons. Ann Intern Med. 2013;158(1):19-26.

Stanley SR, Ostrowski MA, Justement JS, Gantt K, Hedayati S, Mannix M, et al. Effect of immunization with a common recall antigen on viral expression in patients infected with human immunodeficiency virus type 1. N Engl J Med. 1996;334(19):1222-30.

Teshale EH, Hanson D, Flannery B, Phares C, Wolfe M, Schuchat A, Sullivan P. Effectiveness of 23-valent polysaccharide pneumococcal vaccine on pneumonia in HIV-infected adults in the United States, 1998–2003. Vaccine. 2008;26(46):5830-4.

Vacinação em pacientes HIV+: aumenta a carga viral? Pode aumentar o risco de transmissão do vírus?