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introdução

Nas estações de tratamento de esgoto urbano, o lodo geralmente é um subproduto de disposição final problemática. Entre as alternativas para a sua destinação destacam-se os aterros sanitários e o uso agrícola. o custo é um dos fatores de grande importância para definição do método de processamento do lodo de esgoto a ser utilizado.

Existe uma série de variáveis de ordem econômica e ambiental que deve ser analisada em conjunto, a fim de selecionar o método de processamento mais apropriado para a reutilização do lodo.

Sob o ponto de vista econômico, a viabilidade do uso agrícola do lodo de esgoto está intimamente relacionada à política final de comercialização do produto. Nesse aspecto, a implantação de uma estrutura centralizada de gerenciamento do lodo de esgoto, levando-se em consideração os custos de transporte e distribuição do biossólido, certamente minimizará o custo total de disposição final do lodo na agricultura.

o projeto de estudo de viabilidade econômico-financeira da aplicação do lodo de esgoto para reciclagem agrícola foi desenvolvido pela Ceres Inteligência Financeira, sob o acompanhamento e disponibilização de informações da Cesan e do Incaper. A estrutura do projeto foi constituída essencialmente pela análise dos fatores intrínsecos ao processo de destinação final do lodo de esgoto, com vistas à comparação entre a alternativa de aplicá-lo em cultivos agrícolas comerciais e a opção da destinação final em aterros sanitários devidamente licenciados.

viaBilidade econÔmico-Financeira Para analisar a aplicabilidade do lodo na agricultura, foi necessário entender todo o processo de produção de lodo até sua destinação final e, posteriormente, separar os custos de cada uma das modalidades existentes para efetuar suas análises separadamente.

Dessa forma, a identificação da viabilidade econômico-financeira dessas destinações é dependente da analise dos custos fixos e variáveis do processo, bem como do seu ponto de equilíbrio e do custo de viabilidade por tonelada de biossólido aplicável à agricultura. há necessidade também de avaliar o tratamento logístico do processo, a estimação de custos de transporte para ambas as alternativas, além da definição dos valores relativos às variáveis de maior sensibilidade nos resultados do projeto, de forma a promover a equidade e exequibilidade das alternativas estudadas.

Tem-se como possibilidade para a higienização do lodo de esgoto a secagem natural avançada, a secagem térmica, o tratamento químico com cal e a compostagem. A alternativa mais viável definida para a utilização, por se tratar de uma tecnologia com processo bastante simplificado e de baixo custo de implantação, foi o tratamento químico com cal virgem. Por essa razão, somente essa modalidade de tratamento foi considerada nessa avaliação.

o Relatório de Gerenciamento de Resíduos de ETEs localizadas na Região Metropolitana, operadas pela Cesan, afirma, por meio de um mapeamento realizado, que existe uma grande disponibilidade de área, cerca de 160.000 ha, próximas às regiões litorâneas com potencial considerado como alto e muito alto para receber o biossólido oriundo das ETEs. No estudo, considerou-se um raio de 60 km em relação a Vitória e a Guarapari.

Também de acordo com esse documento, aproximadamente 0,47% desta área já seria suficiente para receber todo o lodo produzido em um ano de atividade das quatro ETEs de grande porte, que representa, em média, mais de 30% do volume total de lodo produzido no Espírito Santo.

Entretanto, pela avaliação técnica do Incaper em relação às áreas agricultáveis, ficou definido que o raio de distribuição fosse expandido para no mínimo 80 km, em relação à unidade de Gerenciamento de Resíduos da Cesan (uGR), pois uma área significativa para a aplicação do lodo na agricultura seria incluída no campo da demanda

pelo produto, por abranger um maior número de áreas com plantios comerciais representativos do Espírito Santo, sendo esse o parâmetro fundamental para a análise de viabilidade.

Para a projeção de lodo, diferentes metodologias foram testadas, como projeções lineares, exponenciais, com taxas de crescimento média do setor, dentre outras. As estimativas fornecidas pelo modelo ARMA1 mostraram-se mais conservadoras e, por isso, foram utilizadas como base. Definida a projeção de lodo, cálculo realizado com os dados de vazão de esgoto realizada no período de 2006 a 2009, foram discriminados os custos intrínsecos aos dois processos de destinação final do lodo, e foi criado um fluxo de caixa de custos de cada um dos projetos e definida a duração do projeto em 25 anos.

A destinação do lodo de esgoto para a agricultura é considerada viável se o Valor Presente Líquido (VPL) do fluxo de caixa dos custos dessa destinação for igual ou inferior ao valor presente dos custos gerados pela destinação em aterros. Portanto, definiu-se como parâmetro que os custos totais fossem inferiores ou, no máximo, iguais aos custos dos aterros sanitários, a valor presente.

Foram realizadas inúmeras simulações de dados com vistas à obtenção de viabilidade do projeto. A maior coerência dos resultados alcançados refere-se ao tratamento do lodo com um volume de cal virgem numa proporção de 25% do total de massa (peso seco) do lodo que se deseja higienizar. Essa porcentagem mostrou-se bastante impactante na viabilidade do projeto, visto que o custo operacional do sistema é muito sensível ao custo da cal virgem. Quanto menor a quantidade de cal utilizada maior viabilidade da destinação do lodo para a agricultura.

Baseado nessa realidade, analisaram-se os diversos cenários de viabilidade, definindo-se as distâncias máximas que poderiam ocorrer nas entregas do

1ARMA (Autoregressive Moving Average) é um modelo de séries temporais misto, Auto-regressivo e Médias Móveis. Esse modelo é utilizado para fazer a previsão de futuros valores com base nos valores presentes e passados da própria variável e dos seus erros.

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lodo, variando-se a percentagem de cal virgem a ser utilizada para tratamento, em relação ao peso seco, e a percentagem do frete que deveria ser paga pelo produtor rural.

De acordo com os estudos desenvolvidos sobre a eficiência da higienização do lodo de esgoto, pode ser necessário um volume de 20 a 50% de cal virgem, dependendo do tipo de lodo e de sua procedência.

Testes de viabilidade em se adotar uma porcentagem de cal virgem entre 15 e 30% vêm sendo realizados pelo Incaper, tendo sido já validado o percentual de 30% em pesquisa científica publicada.

Para obtenção do valor máximo, por tonelada de biossólido, que seria economicamente viável para o produtor rural, analisou-se no valor de mercado os adubos orgânicos convencionais, verificando-se que o preço médio gira em torno de R$ 90,00 a tonelada. Dessa maneira, considerou-se que o valor de R$ 66,00 a tonelada de biossólido seria atrativo para o agricultor.

Para análise da viabilidade foi considerada a hipótese de construção de três unidades de Gerenciamento de Lodo, uma na Região da Grande Vitória e duas no interior.

Visto que a viabilidade da aplicação do lodo na agricultura depende do volume de lodo gerado pelas ETEs, pois um maior volume é refletido em ganhos de escala e em dissolução do investimento necessário, analisou-se separadamente a viabilidade do uso do lodo gerado na região metropolitana de Vitória e no interior, verificando-se que a implantação de uma unidade de Gerenciamento de Lodo (uGL) na Região da Grande Vitória seria a proposição mais viável.

o estudo analisou também a possibilidade da implantação de projeto piloto com capacidade de produção de 450 toneladas de biossólidos por mês, com investimento previsto na ordem de R$

1.700.000,00. Considerando a utilização de 20% de cal virgem e um raio de distribuição na faixa de 80 a 160 quilômetros, dois cenários foram estudados:

(1) distribuição gratuita do biossólido e (2) inicialmente distribuição gratuita e comercialização

nos períodos seguintes atingindo em seis anos o valor de R$66,00 por tonelada de biossólido. os resultados demonstraram que na primeira situação o retorno do investimento poderá ocorrer entre 8 a 10 anos, e na segunda situação o tempo de retorno de investimento será de 6 a 7 anos.

A utilização desse lodo para reciclagem agrícola pode evitar problemas ambientais mais graves, apresentando-se como uma solução presente para legislações mais rigorosas no futuro. Muitos trabalhos têm calculado o custo do impacto ambiental pela associação de seu valor aos direitos cerceados da sociedade ou, de outra forma, pelos benefícios gerados.

uma adaptação dessa dinâmica ao projeto poderia ser calculada pelo valor do benefício gerado ao produtor rural, portanto o valor agregado à Cesan diante dos riscos ambientais inerentes à atividade de Saneamento. Partindo-se de uma simplificação, foi calculado o benefício mínimo ao produtor rural, ao custo de R$ 66,00 a tonelada de biossólido com a implantação de todo o projeto. Sendo assim, há um benefício gerado ao produtor em torno de um 1/3 em relação aos custos atuais médios na utilização de adubos e fertilizantes. Esses valores foram calculados durante toda a vida útil do projeto e trazidos a valor presente pela taxa requerida do setor de saneamento. Chegou-se a um valor de R$ 28,95 milhões. Este valor representa uma estimativa mínima para o valor econômico agregado de mitigação ambiental. As práticas desse tipo de avaliação são ainda bem incipientes, mas tentam traduzir tendências futuras de incorporação de valor, que poderia ser agregado tanto na avaliação de imagem ou na marca da empresa, como, possivelmente, na integralização futura de ativos, diante da tendência de uma maior sofisticação dessas avaliações ou da inclusão de novas medidas e exigências regulatórias. Ressalta-se que a terceirização da destinação de lodos em aterros sanitários não isenta a Cesan das responsabilidades e punibilidades previstas na legislação, em caso de acidentes ou mau uso das práticas ambientais.

consideraçÕes Finais

um dos fatores importantes para a tomada de decisão sobre a utilização de lodo de determinada origem, se o mesmo necessita de adição de altas quantidades de cal virgem, é a avaliação econômica do processo, analisando-se os custos de investimentos e os custos operacionais, sendo que os custos operacionais estão em função do processamento do lodo, da higienização, do transporte e da disposição, sem deixar de contabilizar os custos administrativos.

Para que a reciclagem seja possível, é necessário que as áreas aptas, utilizadas com as culturas permitidas para o uso do lodo, estejam a uma distância economicamente viável dos pontos de geração de lodo.

Quanto menor a quantidade de cal utilizada maior a viabilidade da destinação do lodo para a agricultura.

A utilização de doses muito elevadas de cal virgem pode proporcionar um aumento significativo no volume do lodo para transporte, o que onera o processo de distribuição.

É viável a higienização do lodo das ETEs administradas pela Cesan, com cal virgem, para destinação desse resíduo orgânico para a agricultura, mesmo que inicialmente seja realizado um projeto com dimensões menores do que inicialmente previsto. Porém, a viabilidade da Reciclagem Agrícola aumenta pela simplificação da planta de investimentos associada à redução do percentual da cal virgem nas aplicações do tratamento do lodo. Entretanto, para que isso seja possível, as técnicas de higienização devem ser cada vez mais aprimoradas.

o tratamento do lodo de esgoto com cal virgem, numa proporção de 25% do total de massa (peso seco) do lodo e sua distribuição num raio máximo de 80 km em relação à uGR viabiliza sua distribuição.

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mapeamento e classiFicação de

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