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6 MODELOS DE COMPORTAMENTO DE BUSCA E USO DE

6.2 Carol C Kuhlthau (1991)

Kuhlthau (1991), por meio da realização de estudos empíricos, desenvolveu o Information Search Process (ISP) – Processo de Busca por Informação – procurando descrever como tal processo se caracteriza, afirmando que ele ocorre através de ações, pensamentos e sentimentos que o usuário vivencia enquanto está envolto em uma busca por informação. Ao pé da letra, a tradução nos revela que a autora não considera o resultado de seu estudo como um modelo, mas como um processo. Entretanto, por se tratar de uma pesquisa sobre o comportamento de busca e uso de informação (como o fazem os modelos) e sempre aparecer na literatura da CI relacionado aos modelos de comportamento de busca e uso da informação, tendo sido feita esta ressalva, reportar-nos-emos ao estudo de Kuhlthau (1991) como um modelo entre os demais.

A autora debruçou-se sobre o estudo dos sentimentos que são experimentados pelos usuários durante o processo de busca por informação. Segundo ela, na fase inicial da busca, quando o indivíduo ainda não está suficientemente seguro quanto ao que realmente necessita, são comuns sentimentos de incerteza, apreensão e ansiedade. Enquanto avança no processo de busca, a dúvida vai dando lugar a um sentimento de otimismo, mas não sem um pouco de confusão e frustração, que só são amenizadas quando o usuário consegue expressar com clareza sua necessidade e o que efetivamente ele busca.

53 Deste ponto em diante, neste trabalho, sempre que nos referirmos ao modelo de Ellis (1989), consideraremos a versão ampliada (de onze categorias), referente às contribuições posteriores agregadas ao modelo original.

Esse modelo é baseado em uma abordagem construtivista, pois o usuário parte de uma situação de incerteza e, com base em sentimentos e sensações, prossegue na busca por informação, que só passa a fazer sentido no momento em que afeta as emoções do indivíduo, conforme Pereira (2010). Assim, o uso da informação é construído, porque é o indivíduo que insufla significado e energia à informação fria. A maneira como a informação ganha forma e propósito depende das estruturas cognitivas e emocionais do indivíduo, conforme Choo (2003).

Durante o processo, o usuário passa por três arenas: a física (cursos de ação tomados), a afetiva (sentimentos e sensações experimentados) e a cognitiva (pensamentos relacionando o conteúdo e o contexto). Conforme Kuhlthau, o indivíduo avança no processo de busca fazendo escolhas que atravessam essas três arenas. Para fazer suas escolhas e decidir como proceder no processo de busca, o usuário leva em consideração fatores de diversas naturezas como: mudanças no contexto/ambiente, experiências prévias e adquiridas, conhecimento tácito, interesse, características do problema informacional, tempo disponível para buscas e solução do problema, relevância da informação recuperada, entre outros. (PEREIRA, 2010).

O modelo de Kuhlthau (1991) é composto de seis etapas, a saber:

1) Iniciação: quando o sujeito se torna consciente de uma falta de conhecimento ou entendimento, que resultará em uma necessidade de informação. Nessa etapa, as sensações de incerteza e apreensão são comuns;

2) Seleção: nessa etapa, o usuário identifica e seleciona o tema geral a ser investigado ou a abordagem a ser perseguida. Sentimentos de insegurança muitas vezes dão lugar ao otimismo.

3) Exploração: nesta etapa o usuário busca por informações relevantes sobre o tema geral identificado na fase anterior, com a intensão de aumentar sua compreensão sobre ele. Esse momento é carregado de sensações de confusão, incerteza e dúvida, que frequentemente aumentam nessa fase.

4) Formulação: aqui a incerteza diminui e a pessoa sente mais confiança, pois sua necessidade já está mais focada e clara.

5) Coleta: nesta fase o usuário já tem um senso de direção mais definido e procura selecionar e reunir informações relevantes relacionadas ao foco de seu interesse informacional, assim, os sentimentos de confiança continuam a aumentar e a incerteza desaparece com interesse no aprofundamento do projeto.

6) Apresentação: fase final do modelo, que se relaciona diretamente ao uso da informação recuperada, e na qual se tem o resultado de todo o processo de busca, o produto final, que poderá ser um texto, uma apresentação oral, etc. Nessa fase são comuns sentimentos de alívio, satisfação ou descontentamento, caso não se tenha obtido êxito.

Para Wilson (1999), o modelo de Kuhlthau (1991) é complementar ao de Ellis, e esses dois modelos podem ser fundidos, conforme mostrado na Figura 7.

Figura 7 – Fusão do modelo de Ellis (1981) com o de Kuhlthau (1991)

Fonte: Adaptado de Wilson (1999, p. 255), com alterações na estrutura

A afirmação de Wilson (1999) sobre a possibilidade de fusão desses dois modelos, no que diz respeito ao de Ellis, ele estava se referindo àquele datado de 1989. Na figura acima, fizemos uma adaptação para que a fusão contemple as categorias agregadas posteriormente ao modelo de Ellis, conforme explicitado na seção 6.1.

Podemos observar que há, realmente, certa correspondência entre os dois modelos, por exemplo: o primeiro item de cada um deles se refere ao início da busca, quando o usuário procura, sem grande especificidade, um direcionamento geral para sua pesquisa.

Quanto às características em comum desses dois modelos, Crespo e Caregnato (2003, p. 8) afirmam que

o indivíduo é colocado como o centro nos dois modelos, pois é a partir da análise do comportamento da pessoa, ou de grupos, que são interpretadas as realidades. Mas deve-se ressaltar que nos elementos levantados por Ellis não figuram aspectos que existem nas definições de Kuhlthau, como os afetivos, ou seja, os sentimentos que são vivenciados pelas pessoas durante o processo de busca.

Ellis (1989) e as alterações que o modelo original recebeu, como sabemos, descrevem atividades não necessariamente sequenciais realizadas pelo sujeito quando busca

informação, enquanto Kuhlthau (1991) se preocupa com a identificação de sensações e sentimentos durante o processo de busca, além de enumerar as seis etapas que ocorrem em sequência.

Crespo e Caregnato (2003) concordam com Wilson (1999) ao argumentar que o modelo de Kuhlthau é mais geral, complexo e abrangente que o de Ellis (1989), podendo complementá-lo, pela adição da observância dos sentimentos, pensamentos e ações associados ao comportamento de busca e uso de informação. Esses autores coadunam também com o fato de que tanto o modelo de Ellis quanto o de Kuhlthau não consideram o contexto social, político e cultural em que ocorrem as interações humanas que desencadeiam o comportamento de busca e uso de informação e todo o seu processo, perdendo com isso, uma parcela considerável do potencial explicativo da realidade em âmbito mais amplo.

Na seção seguinte, abordaremos três modelos de comportamento de busca por informação de Wilson que, entre outros pontos interessantes, traz uma discussão a respeito da integração dos modelos de Ellis e Kuhlthau em seu modelo de 1999. Wilson procurou sanar a lacuna deixada por Ellis e Kuhlthau, elaborando modelos que levam em conta o ambiente/contexto em que se encontra o sujeito na busca por informação.