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3. 64 ANOS DE BOLSONARO 27

3.1 CARREIRA POLÍTICA

Em 1988, Bolsonaro concorreu às eleições estaduais como vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Sua vitória pode ser considerada como consequência direta da repercussão dos casos que protagonizou nos anos anteriores. Por ter defendido o reajuste salarial dos militares através de atos considerados insubordinatórios, ele ganhou apoio de parte da categoria que passou a considerá-lo corajoso.

Em 1990 se elegeu como Deputado Federal do Rio de Janeiro novamente pelo PDC. Foi um dos 441 deputados a favor do impeachment de Collor e durante seu voto afirmou que era

30 REVISTA VEJA, 27 de out. 87, p. 40-41. Pôr bombas nos quartéis, um plano na Esao. Disponível em:

https://acervo.veja.abril.com.br/?veja#/edition/33547?page=40&section=1

31 REVISTA VEJA, 4 de nov. 87, p. 56-57. Do próprio punho. Disponível em:

https://acervo.veja.abril.com.br/#/edition/1000?page=56&section=1

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representante dos militares32. Em 1993, ele foi o centro de uma polêmica após declarar que era favorável ao fechamento do Congresso, pois ao seu ver o excesso de leis era prejudicial ao exercício do poder.

Se reelege em 1994 e 1998, tendo se envolvido em algumas controvérsias ao longo desses dois mandatos. Em 1999, surge a primeira denúncia de nepotismo de sua carreira, ao empregar em seu gabinete parentes de sua companheira da época, Ana Cristina Vale. Nesse mesmo ano, em uma entrevista a TV Bandeirantes, ele volta a defender o fechamento do Congresso e afirma que “o voto não vai mudar nada no Brasil” e “só vai mudar infelizmente quando partirmos para uma guerra civil, fazendo um trabalho que o regime militar não fez.

Matando uns 30 mil, começando com FHC”33.

Em 2002 foi eleito mais uma vez para o cargo de deputado federal do Rio de Janeiro pelo PPB, porém pouco tempo depois ele mudou de partido e se filiou ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em 2003, ocorreu uma das principais polêmicas pela qual é conhecido.

Durante uma filmagem da Rede TV na Câmara do Congresso, ele e a deputada Maria do Rosário são flagrados em uma discussão. Bolsonaro a xinga de “vagabunda”, afirma que “jamais eu estupraria você, porque você não merece” e faz gestos de que iria agredi-la34. Essa seria a primeira de muitas desavenças entre os dois.

Em 2004, ele reviveu a pauta do reajuste salarial dos militares, chegando a pressionar o governo Lula. No início de 2005 deixa o PTB e se filia ao Partido da Frente Liberal (PFL), porém sua passagem pelo partido é curta e no mesmo ano volta ao PPB, que passou a se chamar Partido Progressista (PP). Durante aquele ano, ele se posicionou de forma crítica a campanha do desarmamento, uma das suas ações foi confeccionar cartazes com a seguinte frase: “Entregue suas armas: os vagabundos agradecem”.

Durante 2006, quando o governo Lula propôs cotas raciais nas universidades, Bolsonaro se posicionou contra e ironizou a proposta, apresentando um projeto de cotas para deputados negros e pardos. Na ocasião ele deixou claro que se caso a proposição de sua autoria fosse

32JARDIM, Lauro. Em 1992, Bolsonaro era muito mais comportado. O GLOBO/Blog de Lauro Jardim, 24 de

abr. 2016. Disponível em:

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levada a sério, ele votaria contra. Em outubro é reeleito para seu quinto mandato. Em 2009, cartazes que ele produziu durante 2005 como protesto a fala do ministro José Dirceu sobre buscas de restos mortais de militantes da guerrilha do Araguaia são repercutidos pela mídia, em um deles estava escrito: “Desaparecidos do Araguaia, quem procura osso é cachorro35”.

Em 2010 ele foi eleito mais uma vez. No ano seguinte participou do programa humorístico CQC36, na ocasião ele deveria responder perguntas de alguns convidados, Preta Gil era um deles e questionou o deputado sobre a opinião do político caso um de seus filhos se relacionasse com uma negra. Sua resposta foi: “eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem-educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o seu”. O político foi julgado pela Justiça do Rio de Janeiro e considerado culpado de “racismo explícito”.

Em 2014 foi eleito para seu sétimo mandato consecutivo. Naquela eleição ele foi o deputado mais bem votado do Rio de Janeiro, isso é consequência direta da ascensão em sua popularidade a partir de 2012. Dibai considera que devido a repercussão na mídia das diversas polêmicas a qual se envolveu ao longo dos anos, Bolsonaro conseguiu expandir seu eleitorado para além do nicho militar. A pesquisadora usa como exemplo o episódio do “kit gay”:

Um episódio que parece ter contribuído bastante para sua ascensão foi o chamado “kit gay”, forma como Bolsonaro apelidou, pejorativamente, os materiais educativos do programa ‘Brasil sem Homofobia’, do Ministério da Educação, que visava formar educadores para tratar das questões de gênero e da sexualidade em sala de aula. Desde 2011, ele vem atacando essa iniciativa, por supostamente ameaçar e afrontar a família brasileira, bem como pelo ‘perigo’ de converter crianças em LGBTs. (DIBAI, 2018, p.87)

Naquele mesmo ano ele se envolveu novamente em uma discussão com a deputada Maria da Rosário. Na ocasião voltou a repetir que “não a estuprava, porque ela não merecia”, o que gerou vários protestos da sociedade e colegas parlamentares contra ele. A Procuradoria Geral da República o processou por apologia ao estupro e ele foi considerado culpado. No ano seguinte, 2015, Bolsonaro conseguiu aprovar pela primeira vez um projeto de sua autoria, que torna obrigatório à impressão do voto após o uso da urna eletrônica.

35O VERMELHO, 27 de mai. 2009. Em 2009, deputados do PCdoB fotografaram o cartaz no gabinete do deputado e entraram com representação no Conselho de ética. Disponível em : http://www.vermelho.org.br/noticia/53413-1.

36 Participação de Jair Bolsonaro no programa CQC, durante o quadro “O Povo quer saber”. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=9T5ZSAO1MVg

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2016 é marcado pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Durante a votação homenageou o coronel Carlos Brilhante Ustra, considerado como torturador durante a ditadura, e que inclusive foi o algoz da até então presidente quando ela foi mantida presa no DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna). “Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, o meu voto é sim37". Devido a essa fala, a OAB-RJ (Ordem do Advogados do Brasil) pediu a cassação do mandato do deputado.

O ano de 2017 é marcado por três polêmicas em sua carreira. A primeira é sua declaração em visita a Campina Grande (PB), onde defendeu o fim do Estado laico ao proferir a seguinte fala: “Deus acima de tudo. Não tem essa historinha de estado laico não. O estado é cristão e a minoria que for contra que se mude. As minorias têm que se curvar para as maiorias38”. O segundo foi devido a denúncia que seu irmão Renato Antônio Bolsonaro seria um funcionário fantasma na Assembleia Legislativa de São Paulo. De acordo com registros, ele estaria empregado há três anos e receberia um salário mensal de R$17 mil. Quando questionado sobre isso, Bolsonaro atacou o irmão e comentou que se seu parente realmente cometeu um crime, ele deveria ser julgado39.

A terceira polêmica ocorreu devido a uma gravação de uma palestra que realizou no Clube Hebráico de São Paulo. Na ocasião, ele fez ataques a quilombolas e indígenas. A mais repercutida foi uma piada de cunho racista onde dizia que havia ido em um quilombo e que “O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas (arroba é uma medida usada para pesar gado;

cada uma equivale a 15 kg). Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”40. Devido a tais declarações, o deputado foi condenado a pagar o valor de R$ 50 mil por danos morais coletivos a comunidades quilombolas e à população negra em geral.

37 Fala de Bolsonaro durante seu voto no Impeachment de Dilma Rousseff. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=SroqvAT71o0

38 PARAÍBA ONLINE, 8 de fev./2017. Bolsonaro discursa em Campina: “A maioria tem que se curvar para a

maioria”. Disponível em:

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