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CARTA CHEGA DE ESTUPROS

No documento JÉSSICA CAROLINA DE OLIVEIRA ARCA (páginas 64-68)

Rio das Ostras, 20 de fevereiro de 2013. Ao Gabinete do Prefeito de Rio das Ostras Aos Vereadores de Rio das Ostras Aos Secretários de Governo de Rio das Ostras À Coordenação da Casa da Mulher de Rio das Ostras 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo Macaé 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo Macaé Promotoria de justiça da infância e da juventude de Macaé Secretário de Segurança Pública do Estado, Jose Beltrame Chefe da Policia Civil do Estado, Marta Rocha Secretario de Saúde do Estado, Sergio Cortês da Silveira Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, Zaqueu da Silva Teixeira Subsecretária de Políticas para Mulheres, Angela Fontes NUDEM – Núcleo Especial de Direito da Mulher e de Vítimas da Violência (Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro) MP – Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro Comissão Geral PMERJ - Col. Erir Ribeiro Comissão dos Direitos das Mulheres da ALERJ Promotoria Rio das Ostras Nós da Campanha CHEGA DE ESTUPROS EM RIO DAS OSTRAS nos dirigimos aos representantes do poder público municipal de Rio das Ostras e estadual para chamar atenção sobre uma realidade que vem afetando a vida e o bem-estar da comunidade local: o aumento silencioso de estupros praticados contra mulheres em nosso município. O silêncio “riostrense” sobre uma das formas mais brutais de violação dos direitos humanos da mulher dramatiza suas causas: subnotificações dos casos; constrangimentos impostos às vítimas pelo medo, pela vergonha, pela violência institucional, pela banalização da violência contra a mulher, pela naturalização da desigualdade nas relações de gênero, pela ausência de investigação e pela impunidade. Estudiosos do tema e a própria Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), da Presidência da República, reconhecem que os dados oficiais e as pesquisas não revelam a magnitude do problema. No caso de Rio das Ostras, o aumento da incidência de estupros de mulheres pode ser comprovado tanto por dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro1 quanto pelos relatos de mulheres vítimas de estupro (ou tentativas) em locais públicos e privados. Relatos que, por inúmeros motivos, ainda não integram as estatísticas oficiais, mas que a cada dia estão mais presentes e próximos da rede de relações de muitos moradores do município. O movimento CHEGA DE ESTUPROS EM

65 RIO DAS OSTRAS, recusa com veemência esse silêncio e vem a público propor o debate sobre as formas de enfrentamento dessa violência e exigir providências das autoridades públicas municipais. A Política Nacional de Enfrentamento à violência contra as Mulheres3 (PNEVM), reconhece que “a violência contra as mulheres só pode ser entendida no contexto das relações desiguais de gênero, como forma de reprodução do controle do corpo feminino e das mulheres numa sociedade sexista e 1 No mês de setembro de 2012 foram registrados 14 casos de estupros na 128ªDP, conforme Indicadores de Criminalidade levantados pelo Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro. 2 Movimento organizado a partir da iniciativa do Programa de Extensão Universidade Itinerante, do Polo Universitário de Rio das Ostras, envolvendo a comunidade acadêmica e moradores de Rio das Ostras em defesa dos direitos humanos das mulheres e da cidadania, na perspectiva de combater as desigualdades nas relações de gênero, a violência contra as mulheres e a impunidade. 3 BRASIL. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Presidência da República, 2011. Disponível em Http://www.sepm.gov.br/ patriarcal. As desigualdades de gênero têm, assim, na violência contra as mulheres, sua expressão máxima que, por sua vez, deve ser compreendida como uma violação dos direitos humanos das mulheres” (PNEVM, p.22). Tal Política deve ser tomada como referência pelas autoridades públicas municipais para o efetivo enfrentamento da violência contra as mulheres, assegurando a implementação de ações e serviços que traduzam seus princípios, diretrizes e objetivos, no âmbito “da prevenção e do combate à violência contra as mulheres, assim como de assistência e garantia de direitos às mulheres em situação de violência, conforme normas e instrumentos internacionais de direitos humanos e legislação nacional”(PNEVM, p.9). Nesse sentido, “o conceito de enfrentamento, adotado pela Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, diz respeito à implementação de políticas amplas e articuladas, que procurem dar conta da complexidade da violência contra as mulheres em todas as suas expressões. O enfrentamento requer a ação conjunta dos diversos setores envolvidos com a questão (saúde, segurança pública, justiça, educação, assistência social, entre outros), no sentido de propor ações que: desconstruam as desigualdades e combatam as discriminações de gênero e a violência contra as mulheres; interfiram nos padrões sexistas/machistas ainda presentes na sociedade brasileira; promovam o empoderamento das mulheres; e garantam um atendimento qualificado e humanizado àquelas em situação de violência. Portanto, a noção de enfrentamento não se restringe à questão do combate, mas compreende também as dimensões da prevenção, da assistência e da garantia de

66 direitos das mulheres” (PNEVM, p.26). Além da Política, o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (SPM, 2011), a Norma Técnica de Padronização das Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres – Deams (SPM, MJ, UNODC,2010)4 , a norma técnica de Prevenção e Tratamento dos agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes (MS, 2005)5 , a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher – Convenção de Belém do Pará/ONU (1994) e a Lei Maria da Penha (Lei no 11.340/2006) são referências fundamentais para a organização das ações de prevenção, assistência social, saúde, educação, segurança pública e justiça no âmbito municipal. Desse modo, as (os) cidadãs (aos), organizadas (os) em torno do Movimento CHEGA DE ESTUPROS EM RIO DAS OSTRAS, após reuniões, debates e intervenções de prevenção junto à população local, apresentam um conjunto de reivindicações aos representantes do poder público que, de acordo com a Política Nacional e a legislação vigentes, são de caráter prioritário para assegurar os direitos das mulheres. As recomendações de atitudes preventivas no âmbito individual não têm sido suficientes para erradicar o estupro contra mulheres em nosso município, e outras formas de violência nas relações de gênero. É chegada, tardiamente, a hora do poder público, através da estruturação de políticas e serviços e da articulação com os demais entes da Federação, de assumir suas responsabilidades no enfrentamento dessa realidade violadora de direitos. Nesse sentido, o MOVIMENTO CHEGA DE ESTUPROS EM RIO DAS OSTRAS, apresenta suas reivindicações e coloca-se à disposição para o debate e para o exercício do controle social constitucionalmente assegurado aos cidadãos brasileiros. 4 Secretaria de Políticas para as Mulheres/Presidência da República; Secretaria Nacional de Segurança Pública/Ministério da Justiça e UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. 5 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher, 2005. Foram realizadas duas reuniões no Polo de Rio das Ostras, em 29/01 e 22/02/2013 e quatro intervenções de prevenção e educação junto à população e turistas, no dia 09 de fevereiro e durante o feriado do carnaval em fevereiro de 2013. Foram elaborados um panfleto e uma cartilha sobre o tema. REIVINDICAÇÕES PRIORITÁRIAS 1) Aumento de policiamento (aumento e capacitação do efetivo policial para rondas, atendimento, notificação e investigação das situações de violência de gênero, contra as mulheres e estupros); 2) Ronda policial sistemática em todos os bairros do município; 3) Implantação de Delegacia Especializada de Atendimento às Mulheres – DEAM; 4) Capacitação dos profissionais

67 de segurança pública, de saúde e de assistência envolvidos diretamente no atendimento às vítimas de violência de gênero e de violência sexual, visando a qualificação do atendimento e a superação do círculo vicioso de reprodução da discriminação, do preconceito, da violência institucional e da naturalização das diferentes formas de violência de gênero e contras as mulheres; 5) Implantação de serviços de atendimento às vítimas de violência de gênero e sexual, funcionando em horários alternativos aos já existentes, assegurando o atendimento durante a noite, finais de semana e feriados; 6) Presença de policiais femininas com preparo para abordar a questão em todos os plantões; 7) Assegurar de forma sistemática as notificações, a investigação e a prisão dos criminosos; 8) Divulgar cartazes pela cidade com retrato falado dos estupradores; 9) Assegurar de forma sistemática a divulgação pública de dados acerca da incidência das diferentes modalidades de violência de gênero e contra as mulheres praticadas no município; 10) Elaborar campanhas e programas educativos e de prevenção que interfiram nos valores e comportamentos sexistas, machistas, de intolerância à diversidade de orientação sexual e nas relações desiguais de gênero, tais como: Campanhas publicitárias para toda a população; inclusão do debate nos currículos das escolas municipais, programas de qualificação profissional aos trabalhadores da segurança pública, da saúde, da educação, da assistência, da cultura etc.; 10) Assegurar iluminação pública dos dois lados da rua em todos os bairros da cidade e sua sistemática manutenção; 11) Realizar limpeza sistemática de terrenos baldios e praças em todos os bairros da cidade; 12) Assegurar fiscalização sistemática coibindo a circulação de veículos sem placa; 13) Assegurar fiscalização sistemática das condições de trabalho, sobretudo daqueles trabalhos informais e realizados em condições de precariedade absoluta; 14) Promover o debate e a publicização de dados e informações sobre as violências de gênero e contra as mulheres nos diferentes veículos de comunicação: cartazes, jornais locais, rádio, TV. 15) Criar serviço específico para o município de atendimento telefônico 24 horas para casos de violência de gênero e contra as mulheres; 16) Criar Secretaria Municipal de Política para as Mulheres; 17) Implantar o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. 18) Criar Serviço Especializado de Abortamento Legal para assegurar o direito das mulheres vítimas de estupro que, de forma autônoma, queiram interromper a gestação. 19) Procedimentos em caso de estupros – divulgar amplamente as instituições e os serviços existentes; 20) Ampliar o transporte público à noite e proibir o transporte clandestino; 21) Notificação – Orientar profissionais para preenchimento de notificação compulsória em caso de violência de gênero, facilitando o levantamento de

68 dados e informações que orientem na elaboração de políticas públicas; 22) Ampliar e melhorar os mecanismos de segurança pública (iluminação publica, ronda, serviço de câmeras, etc.) Certos da legitimidade e viabilidade de nossas reivindicações, aguardamos providências.

No documento JÉSSICA CAROLINA DE OLIVEIRA ARCA (páginas 64-68)

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