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Carta dos Movimentos Sociais à Presidenta Dilma Rousseff

Presidenta da República do Brasil Brasília, DF

Brasília, 13 de Maio de 2013.

Dia Nacional de Luta Contra o Racismo!

Prezada Senhora,

Nós, da Comunidade do Quilombo Rio dos Macacos, movimentos populares, sociais e entidades da sociedade civil, abaixo assinados, vimos, através deste, solicitar que sejam tomadas todas as medidas cabíveis para o devido Reconhecimento da Comunidade Quilombola Quilombo do Rio dos Macacos, com a garantia do Território Quilombola e dos direitos previstos na Constituição Federal de 1988.

O Quilombo Rio dos Macacos é situado no município de Simões Filho – Bahia, há mais de 200 anos, sendo uma das mais antigas populações descendentes de trabalhadores escravizados no Brasil, e que resiste desde então, frente à barbárie e o racismo, historicamente patrocinados pelo Estado Brasileiro. A comunidade vive sob a ameaça de expulsão de seu território, pressionadas desde a década de 1950, pelo processo de construção da Base Naval de Aratu, quando a Marinha do Brasil se instalou na região praticando todo tipo de violência, consolidando o seu poder nefasto no período da Ditadura Militar.

Vimos denunciar, tal como comprova Dossiê organizado pela Associação dos

Remanescentes de Quilombo Rio dos Macacos – que a Marinha de Guerra do Brasil tem

cometido uma série de violações aos Direitos Humanos dos quilombolas. Os Quilombolas têm sofrido com agressões físicas e psicológicas, ameaças, impedimento de trabalhar na terra, cerceamento do direito de ir e vir, inviabilizando que as crianças da comunidade tenham acesso à escola, manifestações racistas contra as tradições e a cultura do povo negro, dentre outras atrocidades, típicas da sua visão elitista. Existem dois casos de assassinatos aos Quilombolas na localidade. Como pode o Governo Federal se calar frente à morte do povo negro?

As comunidades Quilombolas conquistaram na Constituição Federal, artigo 68, como resultado da sua luta histórica, que vem desde Zumbi dos Palmares, o direito aos territórios ocupados. Desta forma, a Marinha do Brasil desrespeita as leis e violenta a comunidade negra,

embora o Quilombo Rio dos Macacos já seja certificado pela Fundação Cultural Palmares, já tenha o Relatório de Identificação, Delimitação e Demarcação (RTID) do INCRA, o qual ainda não foi publicado em Diário Oficial. Portanto, exigimos a imediata publicação do RTID, para fazer valer os direitos dos quilombolas. Todos esses instrumentos legais comprovam a presença bicentenária da comunidade no território. Contudo, a Marinha mantém uma ação de despejo na justiça, baseada em argumentos falsos, tentando jogar a sociedade contra o povo quilombola.

A luta do Quilombo Rio dos Macacos se insere numa conjuntura em que as forças de direita, as elites dominantes no nosso país, altamente atreladas às classes dominantes internacionais, nos impõe um modelo de desenvolvimento que se limita a produzir commodities ao invés de satisfazer as necessidades da maioria da população, fortalece o agronegócio, que produz devastação ambiental e alimentos envenenados, repletos de agrotóxicos, retirando do povo trabalhador a possibilidade de viver da terra neste país e possuírem os seus territórios, os quais são espaços de trabalho, cultura, religiosidade.

Nesse momento, em que comemoramos em Luta o Dia Nacional Contra o Racismo, é fundamental que o Governo Federal demonstre compromisso com a população negra em nosso país ou estará passando por cima da história de luta do nosso povo. O dia 13 de maio é uma data de enorme significado popular que pôs fim à instituição odiosa da escravidão, porém, para a população negra em nosso país e para a Comunidade do Quilombo Rio dos Macacos o tronco, a senzala e o extermínio ainda persistem, ora de forma velada, ora explícita, como nessa situação. O Governo Federal não pode dá de ombros a essa situação e deve demonstrar que ajuda a combater o Racismo em nossa sociedade e defende os interesses daqueles que vivem da terra, dos seus territórios, daqueles que a “sangue, suor e santo” constroem esse país, para que ele seja Livre e Soberano.

Por isso, a Comunidade do Quilombo Rio dos Macacos veio à Capital Federal, depois de atravessarem mais de 1400 KM, para chamar atenção do povo brasileiro para essa injustiça que acontece no Estado da Bahia e falarmos em alto e bom som, em conjunto com inúmeros movimento sociais, movimento negro e sindicais: SOMOS TODOS E TODAS QUILOMBO RIO DOS MACACOS.

PELA GARANTIA DO TERRITÓRIO QUILOMBOLA DA COMUNIDADE DO QUILOMBO RIO DOS MACACOS!

PELA PUBLICAÇÃO IMEDIATA DO RTID ELABORADO PELO INCRA NO DIÁRIO OFICIAL.

MARINHA.

CONTRA O RACISMO E EM DEFESA DA VIDA DO POVO NEGRO.

VIVA ZUMBI, VIVA NEGRA ZEFERINA, VIVA TODOS OS QUILOMBOS DO NOSSO PAÍS. OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER!

Assinam:

Associação de Remanescentes de Quilombo de Rio dos Macacos. Movimento de Pescadores e Pescadoras (MPP).

Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB). Movimento Camponês Popular (MCP). Consulta Popular.

Levante Popular da Juventude (LPJ).

Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB). Marcha Mundial de Mulheres (MMM).

Movimento das Mulheres Camponesas (MMC). Conselho Federal de Psicologia – CFP.

Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia. Serviço de Apoio Jurídico – SAJU/UFBA.

Cimi - São Paulo.

Comissão Pastoral da Terra – Nacional.

Comissão Pastoral da Terra Regional da Bahia - CPT BA.

Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Via Campesina – Brasil.