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95 pedido, de o tempo de prisão no Brasil ser computado, de haver a comutação da pena privativa de liberdade a pena corporal ou de morte, ressalvando-se, quanto a última, os casos em que a lei brasileira permite a sua aplicação, não entregar o extraditando a outro Estado sem o consentimento do Brasil e a impossibilidade de se considerar o motivo político para agravar a pena.

O artigo 78, da mesma lei, ainda define as condições para que a extradição seja concedida, requerendo-se que o crime tenha sido cometido no território do Estado que fez o requerimento ou esteja sob sua jurisdição em virtude das suas leis penais e que exista sentença final ou decisão que autorize a autoridade competente a realizar a prisão do indivíduo, excetuando-se apenas a prisão cautelar.

Por fim, há que se notar a competência do Supremo Tribunal Federal para a apreciação do caráter da infração, conforme estabelecido pelo §2º do artigo 77 da Lei nº 6.815/80.

Tendo em vista o afirmado, relevam-se as palavras de Fornazari Júnior (2016, p.23), que afirma que este instituto pode ser “considerado o de natureza mais gravosa, por envolver diretamente a liberdade do indivíduo”. Tal afirmação se revela em vista dos diversos requisitos para a sua concessão, devendo-se notar que não é toda e qualquer atividade criminal que pode ensejar a extradição.

Trata-se de uma hipótese extremamente específica em que se apresenta como uma forma extremamente custosa. Considerando as leis brasileiras com relação ao instituto, nota-se que esta modalidade não seria capaz de nos auxiliar, pois se requer que o judiciário local tenha conhecimento e julgue o acusado, sendo que, na situação anteriormente apreciada, não é possível que o Brasil possa exercer a sua jurisdição nestes casos.

Sendo assim, nota-se que a extradição não é um instrumento capaz de influenciar a situação, não só por este requisito, mas também pelas excessivas demandas que ele possui, ainda que justificáveis.

96 necessário para a “comunicação de que atos processuais precisam ser realizados fora do território de um Estado” (BECHARA, 2011).

Fornazari Júnior também se refere ao instituto em seu livro, assinalando:

A carta rogatória é meio tradicional utilizado por um Estado soberano, por sua Jurisdição, para solicitar que se produza atos processuais em outro território soberano, visando a produção e coleta de provas ou de qualquer outro ato de instrução processual. A solicitação é sempre expedida por uma autoridade judicial à outra equivalente de outro país. Destina-se (sic) à citação de réu ou investigado domiciliado no exterior (com endereço certo), oitivas, intimações, etc. (2016, p. 27).

Em vista desta afirmação, é possível classificar as cartas rogatórias, conforme Nádia de Araújo (2016) como atos ordinatórios (citação, notificação e cientificação), instrutórias (coleta de provas) e executórios (aqueles que preveem medidas que possuem caráter restritivo). A autora ainda assinala o erro comum de se utilizar a carta rogatória para adquirir informações sobre o direito estrangeiro, sendo que não há previsão para tanto.

A princípio, de acordo com Bechara (2011) o Brasil executava as cartas rogatórias diretamente, não se exigindo muitas formalidades. Entretanto, com a edição do Aviso Circular nº 1 de 1987, “estipulou-se o recebimento das cartas rogatórias pela via diplomática ou consular, por apresentação do interessado ou a partir da comunicação direta entre juízes”.

No dizer deste mesmo autor, nota-se que a competência para o juízo de admissibilidade só passou a ser do Supremo Tribunal Federal com a Constituição Federal de 1934, ainda que não se admitissem medidas de caráter executório.

Entretanto, em razão da Emenda Constitucional nº 45 de 2004, a competência “para a concessão do exequatur às cartas rogatórias passivas passou para o Superior Tribunal de Justiça”, sendo que o procedimento foi regulamentado pela Resolução nº 9 e, posteriormente, pelo Regimento Interno de 2014.

A análise por parte do Superior Tribunal de Justiça é chamada de juízo de delibação que, conforme Fornazari Junior (2016, p. 29), “restringe-se ao exame dos requisitos legais de admissibilidade da carta rogatória, sem a análise do mérito da demanda, a não ser que este se confunda com os requisitos de admissibilidade”.

Desta forma, será de competência deste a aferição do cumprimento das

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“formalidades exigidas no Código de Processo Penal, no Regimento Interno do STJ e no tratado internacional específico”.

Nádia de Araújo, no Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos, aprofunda um pouco mais na definição de juízo de delibação, devendo-se lembrar que ele é utilizado tanto na análise das cartas rogatórias como das sentenças estrangeiras a serem homologadas em território nacional. Ela assinala:

O modelo adotado no Brasil inspirou-se no italiano, chamado de sistema de delibação, pelo qual não se questionava o mérito da decisão a ser homologada, em sua substancia, senão para a verificação dos requisitos formais, além da ofensa à ordem pública, bons costumes e soberania nacional. Estabeleceu-se, assim, um processo de contenciosidade limitada, porque não é permitido discutir outras questões fora daquelas expressamente delimitadas (2014, p. 40)

Neste sentido, o artigo 784 do Código de Processo Penal estabelece a necessidade de que a carta rogatória não dependa de homologação e será atendida desde que o crime não exclua a extradição. Por sua vez, o artigo 216-P do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça impede a concessão do exequatur quando houver ofensa à soberania nacional, a dignidade da pessoa humana ou à ordem pública.

Dessa forma, as cartas rogatórias passivas são aquelas recebidas pelo Brasil.

Por sua vez, as cartas rogatórias ativas exigem, conforme Nádia de Araújo:

Nas cartas rogatórias ativas, há o envio direto do Tribunal rogante para o Ministério da Justiça (mais precisamente, para o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional), o que procederá ao seu envio ao exterior, cuidando, inclusive, dos trâmites especiais com os países com os quais mantemos convênios especializados, de caráter multilateral ou bilateral (2016).

Especificamente quanto às cartas rogatórias de matéria penal, o Código de Processo Penal determina, em seu artigo 222-A, que elas só serão expedidas quando for demonstrada a sua imprescindibilidade, devendo-se a parte requerente arcar com os custos, notando-se que este possui o objetivo de “evitar o uso das cartas rogatórias como manobras protelatórias,

98 prolongando desnecessariamente o inquérito policial ou o processo penal”

(FORNAZARI JUNIOR, 2016, p. 28).

O artigo 368 do mesmo códex estabelece, por sua vez, considerando o acusado que está em território estrangeiro, a suspensão do prazo de prescrição até que a medida seja concluída.

As cartas rogatórias, apesar de menos burocráticas do que a extradição, também não se apresenta como medida viável para atingir os acusados que praticam crimes cibernéticos contra brasileiros, tendo em vista que certos crimes não poderiam ser conhecidos pelo judiciário brasileiro.