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1. DIREITOS HUMANOS: UM CONCEITO DIPLOMTICAMENTE MALEÁVEL

1.2 CARTER: O POLÍTICO DA RENOVAÇÃO

Após perder a eleição de 1972, os democratas decidiram reorganizar seu sistema interno de primárias. Jimmy Carter foi um dos líderes do movimento que clamava pelo uso do voto popular para orientar os delegados de cada estado sobre o apoio aos candidatos na convenção do partido.58 Carter finalizou seu mandato de governador da Geórgia em janeiro de 1975, e

decidiu usar aquele ano para dar início ao seu projeto de expansão de seu nome a nível nacional. Até a eleição de 1976, Carter era visto como um líder regional com forte potencial nos estados do sul, o que lhe dava créditos para ser um bom candidato à vice-presidência. Após servir na Academia Naval, Carter entrou para a política em 1963, já como senador, construindo sua campanha em torno da figura de John Kennedy. Após perder as primárias para governador da Geórgia em 1966, voltou-se aos negócios do campo e retornou ao cenário político em 1970, assumindo o controle do executivo de seu Estado.

O lançamento da publicação Why not the Best? foi o primeiro passo para tornar Carter uma referência dentro de seu partido. Considerando-se um “novo democrata”, ele pregava afastamento com a ala derrotada na eleição presidencial de 1972 (new politics) e com isso afastou-se de pautas progressistas. Ao contrário de nomes como Jerry Brown (governador da Califórnia) e Frank Church (senador de Idaho), Carter pregava a responsabilidade fiscal e visava um plano econômico com um governo enxuto e preocupado em reduzir a inflação e a taxa de

58 Aqui cabe uma breve nota de explicação sobre o processo de primárias do Partido Democrata. Tradicionalmente,

cada estado aponta um número de delegados – que firmam o apoio a um determinado candidato na convenção democrata, responsável pela indicação da chapa presidencial. Até 1968, as primárias tinham fundamental importância na escolha final do presidente. Teddy Roosevelt, por exemplo, aproveitou as primárias para testar a popularidade de suas propostas de governo. Harry Truman desistiu de concorrer a reeleição em 1952 após perder a primeira primária de Nova Hampshire para Estes Kefauver, da mesma forma como Johnson desistiu de sua campanha à reeleição após notar o crescimento das campanhas de Eugene McCarthy e Robert Kennedy, críticos de seu governo. No entanto, em 1968, o voto popular foi desconsiderado pelos delegados, que não aceitaram nomear McCarthy e optaram por nomear Hubert Humphrey, então vice-presidente dos EUA que mantinha a posição de Johnson em questões controversas como a da Guerra do Vietnã. O fato de Humphrey não ter participado de nenhuma primária fez com que a fórmula fosse alterada em 1972, quando o Partido decidiu nomear quase metade dos delegados para a convenção junto das primárias – o que obrigou a participação dos políticos interessados em disputar a presidência. Sob o comando de Jimmy Carter, em 1976 os democratas decidiram ampliar o processo de primárias para todos os estados dos EUA – e não apenas aos principais redutos democratas (12 estados e mais o distrito de Columbia, como em 1968) ou nos estados em que os democratas consideravam-se com chance de vitória (27, mais o distrito de Columbia, como em 1972). Para mais sobre este processo, ver Davis (1997).

desemprego. Na questão da política externa americana, Carter definia-se como um moralista, e se apresentava como um candidato que colocaria os valores americanos a frente dos interesses políticos:

Every concerned American has given thought in recent years to this nation's foreign policy, both its flaws and successes. Recently I met with about a dozen of our nation's top political writers for several hours of discussion about subjects of current interest and major importance. During a hearted exchange, one of the reporters exclaimed: 'there's no place for morality in foreign policy!" Although he later modified his position, he perhaps inadvertently described the feelings of many Americans about foreign policy. As it has relates to such areas as Chile, our government's foreign policy has not exemplified any commitment to moral principles. A nation's domestic and foreign policy actions should be derived from the same standards of ethics, honesty and morality which are characteristic of the individual’s citizens of the nation.59

A popularidade do livro de Carter fez com que sua campanha utilizasse o slogan ‘Why

not the Best?’ para se afirmar como um candidato humilde e com um discurso voltado ao povo,

tentando vender esse discurso como sua principal diferença quanto comparado com. Gerald Ford.60

A espera do Congresso de maioria democrata por um presidente de seu partido para colocar em prática as leis assinadas em 1975 e 1976, acabou no dia 2 de novembro de 1976, com a vitória de Jimmy Carter sobre Gerald Ford. Antes de assumir a presidência, Carter ainda renovou seu comprometimento com uma política externa baseada na moralidade americana,

59 Todo americano interessado (na política) tem pensado nos últimos anos sobre a política externa dessa nação

tanto suas falhas quanto seus sucessos. Recentemente, eu me encontrei com uma dúzia dos melhores escritores políticos deste país, onde discutimos por várias horas temas de interesse e de grande importância. Durante uma pesada discussão, um repórter exclamou: “não há lugar para a moralidade na política externa!” Apesar de ter modificado sua visão mais tarde, ele talvez tenha descrito o sentimento de muitos americanos sobre a política externa. Em áreas como o Chile, a política externa do nosso governo não se comprometeu com nenhum tipo de princípios morais. A política doméstica e externa de uma nação deve refletir dos mesmos padrões de ética, honestidade e moralidade que são característicos de seus cidadãos. CARTER, Jimmy. Why Not the Best? Fayetteville: University of Arkansas Press, 1975, p. 123.

60 O tema de campanha de Carter é um bom exemplo: I heard a young man speaking out just the other day; I

stopped just to listen to what he had to say; He spoke straight and simple—by that I was impressed. He said, "once and for all, why not the best?" He said his name was Jimmy Carter and he was running for President; And he laid out a plan of action—made a lot of sense! He talked about the government and how it used to be, for you and me; That's the way it ought to be, right now. Once and for all, why not the best?. He spoke plain and simple and I began to understand. I was listening to quite a man, talking to me. I began to see. We need Jimmy Carter! We can't afford to settle for less, America. Once and for all, why not the best? WHY not the Best? Propaganda de Televisão.

onde os direitos humanos se tornariam a prioridade nas discussões. Ao lançar seu segundo livro - A Government as Good as Its People – no ano de sua posse, Jimmy Carter pediu ao eleitorado americano para cobrar os resultados de suas propostas no final de seu mandato. O Chile foi o país latino mais citado pelo presidente americano, que mostrava-se preocupado com os abusos de Pinochet:

Of Course, we all know that liberty is sometimes denied in some non- communist countries, too. Many cases of political persecution in Chile and reports of brutal torture are to well documented to be disbelieved. Those governments openly violate human rights. 61

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