• Nenhum resultado encontrado

SISTEMA CADASTRAL ONDE E QUANTO SISTEMA REGISTRAL QUEM E COMO

2.4 CARTOGRAFIA E GEOPROCESSAMENTO APLICADOS AO CADASTRO

Os países que utilizam a parcela em seus sistemas cadastrais demonstram a relevância do documento cartográfico como elemento de representação dos limites, a necessidade de inserí-lo em um órgão de cadastro territorial e a imprescindível participação de um profissional habilitado nos processos de levantamento, representação e registro (ERBA, 2005).

A identificação clara dos limites entre parcelas pode ser definida pela demarcação física sobre o terreno ou por uma descrição matemática, geralmente

baseada em um sistema de coordenadas, estabelecendo com isto o controle geodésico ou georreferenciamento das parcelas. Problemas como sobreposição de parcelas e confusão de limites podem ser sanados com a adoção de um sistema único de referência, que pode ser local ou nacional.

O georreferenciamento das parcelas, com a atribuição de coordenadas aos vértices das mesmas, tem um valor significativo pois permite sua locação, reposição de marcos ou modificações possessórias com com rapidez e segurança (ERBA, 2005, p. 24).

A representação do mundo real em uma planta cadastral pode ser feita por meio de pontos, linhas e polígonos. No caso das parcelas, estas podem ser representadas através de polígonos fechados, com determinado número de vértices.

O levantamento cadastral envolve o aspecto métrico / geodésico dos limites das parcelas mas também o aspecto legal que, através do Serviço de Registro, fornece a garantia jurídica sobre o domínio da parcela (BRANDÃO, 2003). O documento cartográfico gerado a partir destes dois aspectos é a carta, planta ou mapa cadastral, representando o limite legal da parcela.

O mapa é um instrumento que permite relacionar uma grande variedade de dados qualitativos e quantitativos para organização, interpretação, análise, apresentação e comunicação da realidade (PEREIRA, 2000). No entanto, a produção dos mapas era feita em papel, impedindo assim uma análise combinada entre os diversos mapas e dados.

O desenvolvimento tecnológico ocorrido no final do século XX, a exemplo da informática, das linguagens computacionais, do sensoriamento remoto e do processamento de imagens, tornou possível o armazenamento e a representação destes dados e informações em ambiente computacional, abrindo espaço para o aparecimento e disseminação, entre as instituições, do Geoprocessamento.

Para Câmara et al. (2001), o termo Geoprocessamento passa a significar a “disciplina do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica” e que vem influenciando cada vez mais as áreas de Cartografia, Análise de Recursos Naturais, Transportes, Planejamento Urbano e Regional entre outras.

A utilização de ferramentas de análise de dados georreferenciados, apresentam um enorme potencial, dando suporte ao ordenamento territorial e auxiliando, em grande medida, no planejamento das ações governamentais e não-

governamentais ligadas à questão agrária e ambiental, com resultados rápidos, precisos e com custo relativamente baixo.

Estas ferramentas, denominadas de Sistemas de Informação Geográfica -

SIG, viabilizaram a realização de análises complexas ao integrar dados de diversas

fontes e ao criar bancos de dados georreferenciados, tornando ainda possível automatizar a produção de documentos cartográficos.

Davis e Câmara (2004) definem SIG como sistemas que realizam o tratamento computacional de dados geográficos e recuperam informações não apenas com base em suas características alfanuméricas, mas também através de sua localização espacial. Estes sistemas oferecem ao administrador uma visão inédita de seu ambiente de trabalho, onde todas as informações disponíveis sobre um determinado assunto estão ao seu alcance, interrelacionadas com base na sua localização geográfica.

Dentre as inúmeras aplicações do SIG em nível nacional e internacional, destaque é dado ao planejamento, à agricultura, à análise ambiental, à análise sócio-econômica e mesmo ao ensino e à pesquisa (MENEGUETTE, 1994).

A funcionalidade e eficácia de procedimentos, integradas às informações produzidas pelas imagens de satélite e por aquelas contidas em cadastros, permitem a realização de diagnósticos e fornecem subsídios capazes de identificar e mensurar a ocorrência de conflito de uso da terra, fortalecendo as ações ambientais de monitoramento e dando suporte para os instrumentos jurídicos de controle e fiscalização desses ambientes.

Do ponto de vista dos planejadores urbanos e rurais, cientistas ambientais e muitos outros usuários de SIG, tais sistemas são ferramentas para realizar o inventário de dados geográficos, fundir dados de muitas fontes, monitorar e avaliar a condição de nosso ambiente e modelar ou predizer as conseqüências das alterações humanas no ambiente (FERRARI, 1997).

De acordo com Pereira (2000) os dados digitais são a chave para a plena utilização do potencial disponível com o uso do geoprocessamento. As informações, que provêm de fontes diversas, e as tecnologias de informação possibilitam a integração e manipulação destes dados geográficos, além de permitirem a análise visual dos mesmos sob diversas formas, das quais a mais evidente, mas não menos eficaz, é o mapa.

A base de dados digital substitui o mapa em papel, como o meio de armazenamento das informações geográficas, e as visualizações cartográficas em diferentes mídias satisfazem a função de auxilio ao entendimento, que era satisfeita pelos mapas impressos. Isto somente é possível se a geometria e os atributos dos dados num SIG estiverem georreferenciados, ou seja, localizados na superfície terrestre e representados numa projeção cartográfica.

O avanço da tecnologia de SIG estabeleceu novos paradigmas e conceitos de integração que foram gradativamente incorporados aos Cadastros, como pode ser observado atualmente nas recomendações da FIG para o Cadastro 2014 (FIG, 1995). Esta incorporação ocorreu devido à importância do SIG para o armazenamento, processamento, análise e apresentação de grandes conjuntos de dados georreferenciados.

Quando a tecnologia SIG passou a ser aplicada ao Cadastro, na década de 80, recebeu o nome de Sistemas de Informação Territorial – SIT ou Land Information System – LIS. De acordo com ERBA (2005, p.29), a característica básica de um SIT é ter a capacidade de tratar relações espaciais entre objetos geográficos.

Entre as principais funções de um SIT estão a integração de informações espaciais de dados cartográficos, censitários e de cadastro, de imagens de satélite, redes de pontos e modelos numéricos do terreno, utilizando uma base única de dados; cruzar informações através de algoritmos de manuseio para gerar mapeamentos derivados; consultar, recuperar, visualizar e permitir saídas gráficas da base de dados (CÂMARA et al., 1996, p.12).

Ainda de acordo com os autores acima citados estas funções, somadas à possibilidade de gerenciamento por meio de camadas (layers) de dados e facilitando desta forma sua organização e distribuição, reforçam a importância do georreferenciamento das parcelas e o uso do SIT na estruturação de um Cadastro.

O Cadastro é composto por um número muito grande de dados que podem ser alfanuméricos (atributos) e cartográficos (plantas) e precisam estar bem organizados em um sistema. No caso do Cadastro com múltiplas finalidades, são considerados dados econômicos (variáveis que levam a determinar o valor do imóvel e do imposto), geométricos (como a localização, forma e dimensões da parcela), jurídicos (que determinam a relação homem-parcela), sociais (que permitem delinear o perfil do proprietário ou possuidor) e ambientais.

De acordo com Erba e Loch (2007, p.30) nos sistemas analógicos de banco de dados (manuais) o armazenamento se dá em arquivos, organizados em pastas ou gavetas, e a geração e distribuição das informações a partir dessa base é bastante tediosa. Já nos sistemas digitais (computadorizados), os dados são arquivados em meios magnéticos e seu tratamento se realiza através de programas específicos.

Cada registro do banco alfanumérico de um sistema cadastral se refere a uma

parcela e contém, pelo menos, um identificador a partir do qual se realizam as

conexões com a cartografia digital estruturada em uma plataforma SIG.

A evolução dos bancos de dados digitais foi orientada para agilizar tarefas institucionais e facilitar o trabalho dos usuários finais. Foram levados em consideração fatores como segurança/confiabilidade, espaço ocupado em disco, volume de dados, dicionário de dados, produtividade e tempo de indexação/ordenamento, localização, atualização, etc. (ERBA; LOCH, 2007).

A popularização de novas tecnologias lançam, no entanto, novos desafios a serem superados no campo da informação territorial, sendo um deles o de padronizar processos e produtos. Muitas instituições utilizam formatos próprios de arquivos e softwares dificultando o intercâmbio de informações entre plataformas.

Erba (2005) afirma que as instituições interessadas em compartilhar informação territorial estão na busca constante de facilitar e acelerar o acesso aos dados, processo que é acompanhado pelas empresas que desenvolvem sistemas de armazenamento e tratamento de documentos cartográficos.

Contudo, problemas podem ocorrer no uso conjunto dos SIT por diversas instituições. A utilização de métodos e padrões distintos para a coleta e a manutenção dos dados inviabilizam sua utilização em conjunto. Exemplos disto podem ser encontrados no grau de exigência em relação à precisão cartográfica, diferenças de sistemas de projeção ou de datum, unidades de medida ou diferenças entre os conceitos utilizados por cada usuário na criação e manutenção de seus dados (DAVIS; CAMARA, 2004).

Dificuldades também ocorrem em relação às políticas de disponibilização dos dados adotadas por cada usuário como mídia de gravação, política de comercialização de dados, limitações quanto ao repasse dos dados para terceiros, etc. Para Davis e Camara (2004), estas dificuldades acontecem em todo o mundo e a solução encontrada foi a criação,em 1994, do Open GIS Consortium (OGC), a

partir da associação de representantes dos desenvolvedores de software, das universidades e dos diversos níveis de governo, provenientes de diversos países, especialmente os Estados Unidos e a Europa.

Apesar dos avanços no uso de gerenciadores de dados geográficos, a primeira geração de SIG possuía suporte limitado a banco de dados e utilizava principalmente arquivos para armazenamento e exportação. Atualmente é possível encontrar um acervo relevante em arquivos de diferentes formatos, próprios dos softwares que os geraram, disponíveis em bases de dados ou na Internet.

Segundo Candeias e Melo (2005), nota-se uma corrente migratória dos sistemas de informação para a Internet atribuindo o sucesso desta plataforma à simplicidade dos seus protocolos e à capacidade de distribuição da informação através de redes heterogêneas.

Eles afirmam que devido à popularidade da Internet o paradigma dos SIG está se deslocando para uma nova direção que é a de Serviços de Informações Geográficas. A idéia é que a computação passe a ser distribuída onde cada nó da rede tanto pode consumir quanto prover serviços aos outros nós.

Segundo Erba e Loch (2007) apesar da existência de instituições devidamente organizadas e dos métodos já desenvolvidos para padronizar dados, particularmente na área cadastral, o processo de ajuste não está sendo rápido na América Latina. Nela a incorporação de novas tecnologias não veio acompanhada das mudanças necessárias nos procedimentos e na legislação. Sugerem que, diante disto, o momento é de padronizar, antes de gerar volumes de dados de difícil acesso.