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A cartografia é uma ciência única, e envolve também a técnica da elaboração e a arte da confecção. Dentre as várias vantagens de utilizar a cartografia, se encontra o campo da cartografia temática, onde os mapeamentos se dão de acordo com o tema desejado. Deste modo, a base da cartografia é conservada, adaptando-se algumas variáveis ao tema a ser trabalhado.

Das inúmeras temáticas que utilizam a cartografia, destaca-se aqui a inundação. Pelo número de ocorrências e pela magnitude dos danos, o estudo das inundações é justificado, e se torna interessante analisar formas de se trabalhar com o tema. A cartografia vem a contribuir com esta questão, elaborando mapas como os de risco de inundação, onde é realizado um trabalho de prevenção, e de áreas de inundação, onde se pode pensar em ações de resposta para ajudar a população.

O mapeamento de áreas de risco de inundação é uma ferramenta de fundamental importância na prevenção e controle delas (ENOMOTO, 2004).

As áreas de risco de inundação são locais passíveis de serem atingidos por este processo. A população deste local está sujeita a danos de integridade física e perdas materiais (IPT, 2007). Comumente essas áreas possuem núcleos habitacionais de baixa renda e estes não têm uma boa percepção do espaço urbano e o sistema de drenagem como um todo (ENOMOTO, 2004).

Devem-se identificar cenários de risco potencial de inundação presentes na cidade envolvendo assentamentos precários. Assim, deve-se focar a atenção em dois pontos cruciais, a planície de inundação e as margens que possivelmente estejam sujeitas a inundação, já que essas duas situações estão intimamente ligadas com o fenômeno de inundação. Deste modo verifica-se onde há habitações precárias ocupando extensas áreas de planície de inundação (IPT, 2007).

Também é interessante analisar os parâmetros e critérios de análise de áreas de risco de inundação, onde são levados em consideração os cenários de risco em função do tipo de

processo ocorrente e a vulnerabilidade da ocupação instalada. Dentre os critérios de análise estão frequência e magnitude do processo hidrológico e o alcance, extensão e impactos do processo (IPT, 2007).

Os parâmetros citados e muitos outros serão úteis na cartografia de inundações, pois os mapeamentos possuem um objetivo, indicação do número de áreas de risco existentes, escala ideal, identificação do nível ou grau de risco e um cadastro de risco. Primordialmente o mapa necessitará de uma identificação e delimitação da área de risco com fotografias aéreas ou imagens de satélite. Também é relevante a existência de imagens de baixa altitude para a identificação de áreas e setores de risco, além de levantamento de campo, para o conhecimento de particularidades e comprovação de dados in loco (IPT, 2007).

O mapa de área de risco é um dos instrumentos de análise de risco mais eficazes que existe. A partir dele podem ser realizadas medidas preventivas e trabalhar com situações de emergência estabelecendo ações, visando promover a defesa permanente de desastres naturais (MARCELINO, 2006).

Com a inserção da tecnologia à cartografia, uma gama de elementos foi agregada aos mapas, proporcionando um ambiente muito mais interativo e facilitando a visualização de temáticas (CÂMARA E DAVIS, 2001).

Na elaboração de mapas de inundação os materiais mais utilizados são imagens orbitais multiespectrais e de radar, Modelos Digitais de Elevação (MDE), dados hidrológicos e informações físicas da bacia, como declividade, hidrografia, vegetação, solos, etc. A utilização de imagens de satélite vem para realizar avaliações da ocupação do solo de áreas atingidas pelas inundações, e o modelo digital de elevação sendo útil na análise dos níveis de elevação da água (OLIVEIRA, 2010).

Para Silva (2011), o estudo de inundações em áreas urbanas pode ser realizado com dados hidrométricos, como precipitações e nível do rio, imagens de satélite com georreferência, digitalização em software de arte final, como o CorelDraw, ou próprios de SIG, e o uso de um receptor de GPS para auxiliar na localização. Para tanto se pode recorrer a imagens de satélite como as disponibilizadas pelo maior banco de imagens de satélite da América Latina, o DGI/INPE.

O mapeamento de áreas inundadas pode ser realizado em diferentes formas, tais como: mapas de planejamento, mapas de alerta e mapas emergenciais. Os mapas de planejamento definem as áreas atingidas por tempo de retorno (TR), os de alerta informam em cada ponto de controle o nível de régua no qual inicia a inundação, permitindo o acompanhamento da

evolução do fenômeno, e o mapa emergencial apresenta onde a inundação ocorreu, favorecendo possíveis atitudes com relação à população. Para a elaboração desses mapas são necessários alguns dados, como o nivelamento do instrumento de medida de lâmina d’água; topografia da região; probabilidade de inundações de níveis para uma seção na proximidade da cidade; níveis de inundação; seções batimétricas e cadastramento das obstruções ao escoamento ao longo do trecho determinado (TUCCI, 2002). Um sistema de alerta precoce pode ser de fundamental importância na criação de planos eficazes contra inundação em áreas onde o fenômeno pode ocorrer, além de ser capaz de monitorar e prever o comportamento da água de forma a gerar alertas locais, concedendo tempo de ação viável.

Quando é visada a apresentação dos mapas elaborados à população, deve-se atentar para alguns itens fundamentais, são eles: divisões para água, com referências que possam existir ao longo das partes mais altas; localização dos pontos mais conhecidos; áreas de alta declividade identificadas com progressão de cores; rodovias principais e secundárias e áreas de inundação (NASCIMENTO & ORTH, 1998).

SHIDARAWA (1998) apresenta o caso do Japão, que no ano de 1994 começou a incentivar as prefeituras a publicar um mapa de prevenção, que é um mapa baseado em áreas

de inundações, visando diminuir os prejuízos em casos de inundação, a partir da informação à população local. A partir de um questionário, obtiveram uma estatística positiva, ou seja, com boa receptividade da população. Assim, constaram no mapa as seguintes informações: contornos de possíveis profundidades de água de inundação; abrigos e seus telefones; abrigos para idosos, deficientes e crianças; abrigos temporários de emergência ou lugares para aglomeração; capacidade de abrigo e número de residentes em cada área; telefones de escritórios relacionados; modelos de sons de alarme de sirenes e seus respectivos significados; rota de transmissão de informações oficiais e avisos; sugestões de refúgios; lista do que levar quando tiver que fugir; cuidados com deslizes de terra; histórico das principais inundações da cidade; fotografias, hietogramas e hidrogramas de outras inundações; características do clima em outras inundações e história e natureza do rio.

Sobre a simbologia utilizada, cabe salientar que no Brasil a Defesa Civil possuía o “CODAR (Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos) Alfabético, Numérico e Simbologia”, até o mês de abril de 2012, que visava apresentar imagem, descrição, CODAR alfabético e numérico dos desastres naturais. A partir de então, passou a ser utilizado o COBRADE.

Assim, a imagem seria a representação por símbolo do evento, a descrição consiste em título que explica qual é o fenômeno e o CODAR servia como um cadastro, onde todos os símbolos estão ligados a letras (alfabético) e números (numérico).

Basicamente, no que tange o tema desta pesquisa, as alterações são referentes a mudanças conceituais, o que antes era chamado de inundação gradual ou enchente, passou a ser denominado apenas inundação, e o que era enxurrada ou inundação brusca, foi classificado como enxurrada.

Nota-se que as várias práticas ligadas à cartografia e a inundação requerem uma infinidade de investimentos e pesquisas. O fenômeno de inundação já é estudado há bastante tempo e cada vez mais surge avanços que colaboram para um equilíbrio entre ambiente e sociedade, que se postos em prática poderia solucionar uma gama de situações problemáticas. Os estudos voltados à cartografia se apresentam com um avanço tão ou mais significativo, com progressos relativos principalmente a imagens de satélite e mapeamentos em SIG, que permitem uma melhora na qualidade da informação.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Neste capítulo são descritos os materiais e o método utilizados para esta dissertação de mestrado.